Scarius | Sirius Black (Ato I)

XII

Em todos os seus dezesseis anos, Sirius Black nunca tinha andado de carro. Quando o pai de Scarlett tirou o seu da garagem, ele e James observaram o automóvel de olhos arregalados. O motor fazia um ronco característico e ele só precisava mover o volante e passar a marcha para que funcionasse.

Era parecido com as motos, só um pouco mais complicado.

— Querido, estaciona mais para cá. Eu vou usar um feitiço de espaço para caber todo mundo. — Nyx acenava para Morfeu.

O trio saiu do meio da calçada; James puxou Orfeu consigo enquanto Morfeu manobrava o carro. Sirius observou James e Remus cochichando enquanto lhe lançavam olhares sugestivos. Semicerrando os olhos, Sirius suspirou.

Sua atenção mirou na porta da casa dos Gaunt, onde Scarlett saía com um vestido preto longo, um enorme chapéu de sol e um óculos escuro. Seu rosto era uma máscara enrijecida, causando um nervosismo esquisito no pé da barriga dele.

— Tá indo pro clube ou pro velório? — James perguntou, encaixando suas lentes de sol nos óculos.

— Cala a boca, James. — Ela deu dedo a ele, aproveitando-se que seus pais não prestavam atenção.

Sirius só percebeu estar andando na direção de Scar quando sentiu a barra do vestido preto acariciar suas pernas com o vento. Notou que ela o olhava disfarçadamente através das lentes escuras.

Ele pegou seus óculos de sol aviador de dentro da mochila e deixou as mãos nos bolsos, esperando Nyx lançar o feitiço. Os Potter despediram-se do filho, depois de Remus e, por último, de Sirius. Fleamont lhe deu um tapinha no ombro e pediu para que tivessem juízo.

Na hora de entrar no carro, Remus e James imediatamente se jogaram no banco traseiro, puxando Orfeu para o meio. Sirius arqueou as sobrancelhas pela artimanha dos amigos. Nyx alongou o assento de trás, para que coubesse cinco pessoas. Sirius seria obrigado a ir com Scarlett de um lado e James do outro.

Sentou-se e jogou sua mochila para trás, no porta-malas. James propositalmente abriu as pernas para ocupar mais espaço.

— Fecha essas pernas! — Sirius reclamou, dando uma cotovelada nele.

— Ai, Almofadinhas! Para de ser espaçoso!

Scarlett esperava os dois brigarem com os braços cruzados, sentando quando eles finalmente se aquietaram. Os pais de Scar logo entraram no carro. A vibração no banco causada pelo motor era muito estranha. Sirius se encolheu.

No momento em que o Morfeu acelerou, Sirius agarrou em James e Scarlett num sobressalto.

— Calma, cara. É assim mesmo. — James deu um sorriso irritante, puxando a mão dele de sua camisa. — Nunca andou de carro antes, né.

— Você também não... — Sirius resmungou, olhando para Scarlett.

Ela pegou seu pulso com a ponta dos dedos, como se estivesse com nojo. Sirius não tinha percebido ter agarrado a coxa dela. Soltou-a como se a mão estivesse pegando fogo. Scarlett bufou, colocando os fones e olhando a paisagem metamórfica da janela.

De perfil, a delicadeza das características de Scarlett tornavam-se mais nítidas. O nariz era do tamanho ideal, entre o pontudo e o arredondado. A pele, tão pálida quanto a dele. Quiçá, mais. Os lábios eram perfeitamente desenhados, médios, não muito volumosos e nem finos. Ela tinha o formato de rosto de coração, o queixo era delicado. E os olhos...

Sirius suspirou, sentindo os cabelos de Scarlett escorregando em seu braço numa cócega não-intencional. Focou no pescoço curvilíneo, fino, onde o resquício da sua mordida ainda estava ali. Bem sutil, mas ainda estava ali.