Chamas Do sangue | Capítulo: Papai do ano
O pergaminho chegou nas mãos de Daemon Targaryen de uma maneira que parecia predestinada. Não era comum para ele se preocupar com as mensagens enviadas de Porto Real — mas o selo verde quebrado no lacre tinha um significado distinto. O brasão, com suas linhas intricadas e desgastadas, fez seu coração bater mais forte. Algo estava errado, ou talvez fosse exatamente o que ele esperava.
Estava sozinho na sala de mapas de Pedra do Dragão, seus olhos vagando pelas rotas navais, ainda distante de tudo que poderia trazer verdadeiramente significado para o momento que estava prestes a viver. O som suave do vento batendo contra as janelas de pedra parecia distante, enquanto ele abriu o pergaminho. As palavras que surgiram diante de seus olhos cortaram o ar como um estilete.
"A bastarda Targaryen chegou à Fortaleza Vermelha. A garota foi recolhida do sul por Aemond e agora está sob a tutela da Rainha Viúva. Cabelos de prata. Olhos de aço. Dentes de lobo. O nome é Cateline. E ela é sua."
Daemon ficou parado, o pergaminho ainda entre as mãos, suas mãos tremendo levemente, não pela surpresa de ser pai, mas pela gravidade da situação. Ele sabia, desde a juventude, que algo como isso poderia acontecer. Um amor fugaz, uma mulher no meio de uma noite, uma semente plantada na escuridão que agora gerava frutos inesperados.
Mas o que isso significava? A questão nunca foi sobre a criança, mas sobre quem estava guardando esse segredo. Alicent Hightower. A mulher que sempre foi o epicentro dos jogos políticos em Porto Real, estava com sua filha. Isso não era uma coincidência. Cateline não era apenas uma criança bastarda. Ela era uma peça poderosa, um símbolo, algo que Alicent poderia usar como uma arma. E Daemon não sabia se ele deveria se desesperar ou preparar-se para o que estava por vir.
O som de passos interrompeu seus pensamentos. Rhaenyra entrou na sala, seu olhar focado e sempre curioso. Ela percebeu o ambiente pesado e a aura de incerteza que pairava sobre o marido.
— Daemon? — ela perguntou, a voz suave, mas carregada de uma tensão mal disfarçada. — O que houve?
Ele permaneceu imóvel, sem dizer uma palavra. Apenas estendeu o pergaminho para ela. Seu olhar estava fixo em algum ponto distante da sala, como se estivesse tentando enxergar algo além dos mapas e das velhas tradições. Rhaenyra o pegou com mãos firmes, a leveza de seus dedos contrastando com o peso da situação.
Ela leu em silêncio. O silêncio entre eles era tenso, como uma lâmina afiada prestes a cortar. A expressão de Rhaenyra passou por diversas fases: de curiosidade, para incredulidade, depois raiva. As palavras sobre sua enteada, uma filha que Daemon sequer sabia que existia, causaram um impacto direto nela.
— Você tem uma filha bastarda? — Sua voz era baixa, mas a lâmina cortante estava presente, clara. O veneno nas palavras não escondia o choque e a frustração.
Daemon se virou, finalmente olhando-a nos olhos. Ele estava calmo, mas a raiva de Rhaenyra era um fogo que ameaçava consumir qualquer resquício de controle.
— Sim. — A palavra saiu seca, como se estivesse lidando com algo que já sabia, mas não queria enfrentar. — Tive... uma mulher, anos antes de nós. Era só uma noite. Nunca soube o que aconteceu depois. Pensei que estivesse morta.
Rhaenyra, como sempre, não escondeu sua indignação. Ela apertou os punhos, o rosto endurecendo.
— E agora Alicent a tem como se fosse um troféu. — A raiva se misturava à percepção de que, mais uma vez, Alicent estava manipulando todos ao seu redor, incluindo uma criança que provavelmente não sabia o que a aguardava. — Isso é o que ela queria. Mais um nome, mais uma peça para jogar contra nós. Já não basta ela tentar por as garras em Rhaena e Baela. Agora temos essa outra preocupação.
Daemon se levantou e começou a caminhar pela sala. Cada passo parecia carregar o peso de anos de segredos e escolhas erradas. A tensão se acumulava, as palavras de Rhaenyra se afundando em sua mente.
— Não sabemos o quanto Cateline sabe. Talvez ela nem saiba que sou o pai. Alicent vai usar isso contra mim, e contra você. Vai manipulá-la. Vai corromper o que quer que exista nela.
Rhaenyra não cedeu, sua postura rígida como uma rocha que resiste ao mar. Ela o encarava com um olhar duro, sem abrir mão de sua posição. Sua boca se abriu, as palavras saindo como estilhaços de vidro.
— E o que exatamente existe nela, Daemon? — Ela falou de forma cortante, sua voz carregando a frustração de quem sabia que a guerra estava se aproximando. — Uma filha bastarda, criada em cativeiro, moldada pela dor. Você acha que ela vai correr para os seus braços?
Daemon parou e a encarou com uma sinceridade brutal.
— Não. — Ele disse sem hesitar. — Mas ela precisa saber a verdade. Precisa saber que eu não a abandonei. E por quê.
Rhaenyra riu, uma risada amarga e gelada.
— Por quê? Porque você é um homem imprudente. Porque se deita com qualquer mulher em qualquer lugar como se o mundo fosse seu. Porque acha que os filhos que você faz são moedas para a guerra.
As palavras dela cortaram como navalhas, mas Daemon não cedeu. O fogo de Rhaenyra queimava mais forte do que qualquer outra coisa naquele momento.
Ele respirou fundo, tentando manter a calma.
— Você quer resgatar essa garota? — ela perguntou, os olhos ferozes, desafiadores. — Você quer tirá-la das mãos de Alicent? Muito bem. Mas não finja que é por amor. Não a você.
Daemon se aproximou dela com uma calma assustadora, como se os ventos de Pedra do Dragão soprassem para dentro da sala. Ele olhou para ela, um olhar firme, como se fosse impossível questionar a verdade que ele estava prestes a revelar.
— É por honra. — Ele disse, a voz grave. — Ou pelo que ainda posso salvar dela.
Rhaenyra se virou para ele, os olhos cheios de fúria não mais disfarçada.
— Se essa garota nos trair, se for usada contra mim, contra meus filhos... será culpa sua. Cada gota de sangue, cada palavra envenenada.
Daemon não recuou. Ele se aproximou mais, ainda mais firme, os olhos ardendo com a intensidade de sua missão. Ele já havia perdido tanto e estava disposto a ir mais longe ainda.
— E se ela for como eu? Se for feita de fogo e guerra? Vai matá-la também?
A voz de Rhaenyra veio baixa, quase um sussurro.
— Se ela for como você... então já está condenada.
Daemon olhou para ela, por um longo momento, e suas palavras vieram com uma frieza calculada.
— Ninguém é condenado enquanto tiver um dragão por perto.
Com isso, ele virou-se, a capa negra esvoaçando por trás dele como uma sombra de um futuro incerto. O rugido de Caraxes ecoou do lado de fora, como se o próprio dragão soubesse que algo grande estava por vir. Daemon estava resoluto. Ele tinha uma filha para resgatar. E não importava o que tivesse que destruir para fazer isso.
Porto Real estava prestes a conhecer o fogo de seu próprio inferno.

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Chamas do Sangue ? AEMOND TARGARYEN
FanfictionCateline Tully nasceu à sombra de um segredo. Bastarda de Daemon Targaryen, criada longe da corte, ela cresceu entre mares e ventos salinos, sem saber que o sangue do drag?o ardia silenciosamente em suas veias. Doce, atenciosa e leal, Cateline jamai...