Prometidos Por Engano

Liam White

"Surpresa..."

Nunca imaginei que uma total desconhecida pudesse mexer tanto comigo. A ponto de eu me oferecer para levá-la em casa depois da festa.

- Pode deixar, eu a levo para casa – digo. Vejo Mia e minha mãe confusas, uma olhando para a outra.

- Tem certeza? Não achei o clima muito bom entre vocês... – Mia me pergunta, com um risinho.

- Tenho, e vai ser bom para tirar essa primeira impressão ruim que ela teve de mim. Vocês só precisam fazer com que ela aceite a carona – peço. E realmente quero levá-la, para poder conversar com ela...mesmo sem entender muito bem por que tanta curiosidade da minha parte.

- É, filha, o Liam vai levá-la. Fico até mais aliviada do que deixá-la pegar um Uber ou táxi a essa hora – decreta a senhora White. Já consigo até imaginar as coisas doidas que estão passando pela cabeça da minha querida mãe só porque me ofereci para levar Victoria em casa.

- Não sei se ela vai aceitar – Mia diz, balançando a cabeça negativamente. Mas, quando olhamos para Victoria, já vemos nossa mãe indo até ela para comunicar que serei eu quem a levará. E é nítido o desconforto dela...mas preciso tentar me redimir.

Enquanto Mia se despedia da nova amiga, minha mãe me chamou de canto para conversar e pedir minha ajuda sobre Victoria aceitar o emprego na nossa empresa. Ela alegou que seria ótimo para a Mia, e eu até concordo um pouco, mas sei que, no fundo, não é só por isso.

Notei que, quando Mia se afastou de Victoria, ela passou a nos observar ali no canto, perto da saída; onde, com certeza, dava para ouvir o que estávamos conversando. Não resisti e acabei provocando, dizendo que ela não fazia o meu tipo. Quando olhei discretamente para ela, vi a cara fechada que fez.

Depois de finalizar a conversa com a minha mãe, me dirijo até o hall dos elevadores e vi Victoria já esperando. É impossível não ficar vidrado nela. Ela tem um olhar e um magnetismo que...sei lá, é estranho pra cacete como me atrai. Respiro fundo para afastar esses pensamentos e entro no elevador com ela. Assim que entramos, me posiciono no canto do fundo; Victoria fica em frente ao painel. Nessas posições, tenho uma visão privilegiada dela de costas; e que visão...de tirar o fôlego.

Decido acabar com o silêncio absoluto entre nós e pergunto se ela vai à tal festa no novo apartamento da Mia, torcendo para que diga sim; embora eu nem saiba por que quero tanto isso. Ela não confirma, mas também não nega a possibilidade de comparecer.

Entramos no carro. A cada parada no sinal, faço questão de olhar para ela. Sei que parece obsessão, mas minha mão até formiga de vontade de se apoiar na coxa dela. Observo enquanto ela olha pela janela, mordendo a boca de forma pensativa, e fico imaginando o que pode ter acontecido para ela não querer voltar para o Brasil.

Não consegui mais ficar calado ao lado dela; e, claro, também não consegui deixar de provocá-la.

Mesmo após a minha provocação, ela conseguiu conversar mais abertamente comigo, confesso que gostei de poder falar com ela sem que trocássemos farpas a cada duas palavras.

Após me explicar o que torna a decisão de ficar aqui difícil, eu a compreendi. Quando fui morar de vez em Londres, depois de terminar meu noivado, também senti esse medo da solidão. Mas, no fim, ficar sozinho me rendeu bons frutos; e é por isso que evito me envolver demais com outra pessoa.

Chegamos ao apartamento onde ela está hospedada. Desço do carro e a ajudo a sair, por causa do salto alto. Quando nossas mãos se tocam, sinto um choque, um choque que me causa um arrepio até a nuca. Ela desce, e conversamos brevemente.