Kospi {yoonmin}

Onze Mil Dólares

Já era tarde quando ele saiu do escritório, tão tarde que Yoongi já devia estar dormindo se ele quisesse acordar bem no dia seguinte. Trancava as portas enquanto assobiava e tentava afastar a sensação chata da irritação correndo em suas veias, mas nada parecia funcionar, o nome de Jimin sempre voltava em sua mente e suas palavras ecoavam de maneira insuportável. Comporte-se, não quero decepcioná-la. Ele se sentia como uma criança que estava sendo obrigada a fazer algo que a mãe queria que fizesse. Jimin não era nada seu, mas tinha o controle de sua vida na palma de suas mãos. Por causa de uma conversa maldita que Yoongi teve em seu próprio escritório. Porque ele não conseguiu prever que Jimin não era só um fã, e não queria só transar com ele.

Sabia que não devia dirigir, o álcool em seu sangue podia não estar fazendo nenhum efeito, mas ainda era algo que podia gerar uma multa, ou fazer com que perdesse pontos em sua carteira de motorista. O problema é que Yoongi sentiu a necessidade de espairecer de alguma forma, e ele encontrou alguns minutos de paz dirigindo. Ele só precisava se preocupar com as regras do trânsito, com os outros motoristas ao seu redor, e também com a música que tocava baixo na rádio. Não pensou no futuro, não pensou em Jimin. Viveu o momento e ficou rodando por horas e horas em Seul, visitando lugares que nunca tinha visto antes e pedindo informações de como sair dali para pedestres que andavam rápido na rua durante a noite silenciosa.

Ajudou. Yoongi ficou mais calmo, e conseguiu colocar seus pensamentos no lugar. Foi só quando estacionou seu carro na garagem, às duas da manhã, que recebeu uma notificação no celular – e ele desejou muito que não tivesse a visto, porque toda sua calma foi embora em questão de segundos.

Número Desconhecido [02:13]: vá dormir. Você não terá tempo de descansar no fim de semana, esqueceu?

Esqueceu. Pior que Yoongi esqueceu, mas foi rudemente lembrado de mais outra coisa que seria obrigado a fazer contra sua vontade, tudo porque Park Jimin estava o forçando. Soltou um suspiro depois de desistir da ideia de acionar a buzina àquela hora. Seria um longo sábado, assim como havia sido o do canil.

Yoongi decidiu que não levaria Jungkook, mesmo que o tal do Namjoon fosse com Jimin para o orfanato. Não era justo com seu guarda-costas, e se ele precisaria fazer aquilo por tempo indeterminado, era melhor que se acostumasse a fazer sozinho, sem a presença de alguém que ele gostava ao seu lado. Considerou levar Taehyung consigo apenas porque sabia como o amigo gostava de crianças, mas ia contra sua ideia de começar a lidar com seus problemas – sem contar que colocar Taehyung no meio de toda aquela loucura faria com que ele fizesse perguntas, e quando ele ficava curioso, não descansava até ter respostas, ou até uma briga séria acontecer. Seokjin aceitaria ir sem pensar duas vezes, tanto porque gostava de crianças quanto porque gostava de ajudar o amigo, mas Yoongi não queria isso. Ele queria mais era que Seokjin saísse em um encontro com o tal do Hoseok e fosse feliz por conta própria.

Esperou calmamente que sábado chegasse. Deixou as cortinas abertas na noite de sexta-feira porque queria observar as estrelas enquanto tentava pegar no sono, sabendo que sua mente não o deixaria descansar até que a exaustão física o vencesse. Yoongi soltou uma risada nasalada, deitado de lado na cama enorme que caberia uma centena de pessoas se todo mundo conseguisse se organizar, e ficou triste ao reparar que o céu estava escuro, como sempre era, e como sempre seria. Até mesmo a lua estava escondida por trás das nuvens carregadas, e ele já sabia que o dia seguinte seria nublado como a noite estava sendo.

Seu celular começou a vibrar em cima da cama, e, ao mesmo tempo, gotas finas d'água começaram a cair do céu. Yoongi viu o número que agora era conhecido na tela e fechou os olhos, preferindo ignorar a dor de cabeça que estava o ligando naquele exato instante. Quando parou, a vibração voltou poucos segundos depois. Ele xingou Jimin por ser tão insistente, torcendo para que ele estivesse lendo sua mente na hora. Pegou o aparelho, deslizou o dedo para o lado e o grudou em seu rosto, ouvindo a respiração pesada do garoto do outro lado, junto com o barulho da chuva que caía.