MARATONA 2/2
_"Não estou brincando", falei.
Vinnie pareceu pensar no que fazer, passou a mão pelos cabelos mil vezes, parecia desesperado.
_"Eu preciso fazer uma ligação", Vinnie disse e levantou rápido saindo pela porta de vidro a fechando atrás dele e se afastando o suficiente pra que eu não escutasse.
'Desgracado', pensei, deveria estar ligando pra amante dele pra contar que iria abrir o jogo.
Analisei a ligação de longe e Vinnie andava de um lado pro outro, parecia nervoso, a ligação deve ter demorado 5 minutos ou mais, Vinnie desligou de costas pra mim e passou a mão no rosto e se virou, Vinnie limpava um choro, só podia ser brincadeira.
'Por que aquele garoto estava chorando?'.
Vinnie respirou e voltou pra onde eu estava abrindo a porta de vidro devagar e olhei pra ele querendo uma resposta.
E ele me olhou ainda não querendo me dar nenhuma.
_"Sarah, será que você pode esperar um pouco?", Vinnie perguntou e eu o olhei pronto pra perguntar se ele enlouqueceu, "Linda linda... espera...", Vinnie disse se aproximando pegando minha mão que eu tentei tirar dele mais ele segurou forte.
_"Vicent", falei tentando tirar os olhos dele.
_"Sarah você já vai saber de tudo, só espera um pouquinho amor, não é traição, não é coisa errada, eu juro", Vinnie falou e eu decidi dar um tempo, eu não iria a lugar nenhum, talvez alguém estivesse vindo pra esclarecer o quer que fosse.
Me levantei pegando Daisy e saindo com ela para o quarto e deixando Vinnie sentado na mesa.
Tomei banho com Daisy no carrinho próximo ao banheiro, eu deixava algumas lágrimas descer mais se perdiam em meio a água do chuveiro. Sai do banho indo ao closet e coloquei o moletom da Purg, após isso dei um banho em Daisy colocando uma roupa quentinha já que os últimos dias em LA não tinham sido dos mais calorosos.
_"Sarah", ouvi Vinnie chamar e me sentir gelar, após eu não responder Vinnie foi até a porta do quarto de Daisy aonde eu penteava o cabelo dela e parou na porta, "Vamos descer comigo?", Vinnie perguntou e eu olhei ainda quieta, "Por favor", Vinnie pediu e eu assenti pegando uma coberta e embrulhando Daisy.
Eu não entendi do por que ir lá em baixo mais não queria perguntar, desci com Daisy logo atrás de Vinnie que entrou no salão ligando o computador e digitando algo no celular, me sentei no sofá e Vinnie parecia apreensivo.
O computador iniciou normalmente e Vinnie se levantou apontando pra cadeira a frente do computador e eu bem queria perguntar o por que daquela palhaçada toda, num era mais fácil me falar, me levantei e ele abriu o Skype se colocando na minha frente e iniciando a chamada e pegando Daisy do meu colo e ficando em pé, lancei um olhar e Vinnie balançou ela nervoso meu cabelo estava me atrapalhando entao me virei pra frente pra prendê-lo e olhei pra tela reconhecendo pra quem diabos ele estava ligando.
_"Oi filha"
_"Pai? O que?", perguntei olhando pra Vinnie e ele não conseguia me olhar, olhava pro chão e virei pra frente, confusa, meu pai estava em casa, estava com os óculos, sentado ao lado da churrasqueira de casa, eu reconhecia.
_"Pai eu não tô entendendo nada", falei me virando pra Vinnie novamente, "Vinnie que porra é essa?", perguntei e ele mordia a lateral da boca.
_"Filha eu vou te explicar, preciso que você se acalme, Vinnie contou que você está um pouco nervosa", meu pai disse tirando os óculos colocando as mãos juntas como súplica e eu parei pra prestar atenção.
_"Eu queria ter conversado sobre isso com você antes, bem antes, mais por falta de coragem eu não consegui... Sarah a algum tempo atrás eu fui ao médico com algumas queixas...", meu pai estava enrolando até chegar no que deveria realmente me falar, "Sarah eu fui diagnosticado com câncer no pulmão a 2 meses e meio atrás, em estágio 3", meu pai disse e eu olhei como se ele me falasse algum absurdo, ele estava inventando aquilo? Não tinha graça.
_"Mais... o que? Como assim? Câncer? Estágio? Você...", falei pescando palavras aleatórias minha mente parecia rodar.
_"Sarah vou fazer assim eu vou te contar tudo você só me escuta e depois você fala, eu deveria ter contado pessoalmente, a comunicação seria mais fácil de ser feita, não nasci pra tecnologia", meu pai riu e eu olhava assustada, por que ele estava rindo?
_"Bom, filha, como você sabe eu fumava a sei lá 35 anos, ou mais sei lá, você sabe, eu sempre tive tossia", meu pai disse e eu sabia também, ouvia ele tossir quando morava com eles no Brasil, "mais são sintomas quase normais pra um fumante, mais há uns 3 meses notei que em meio a tosse com sangue quando escarrava, o que me fez procurar o médico, sua mãe foi comigo", meu pai parecia que contava uma história de dormir de tão calmo.
_"Apos uma série de exames o médico descobriu o câncer no pulmão e que ele já estava no estágio 3, logo após descobrirmos isso, eu fiquei na dúvida de como te contar já que você estava grávida, reta final da gravidez, eu não queria causar nada de ruim, e se você perdesse Daisy por ficar nervosa sei lá Sarah, a gente pensa em tanta coisa ruim que pode acontecer...", meu pai disse e minha cabeça doía.
_"Aí Daisy veio antes da hora e eu iria te falar aí, quando viajei pra sua casa, eu fui também com essa intenção, de te contar sobre o câncer, que iniciaria a químio, que não precisava se preocupar, mais foi tão bom estar aí, foi um dos melhores momentos da minha vida conhecer Daisy e estar perto de você e de Vinnie que eu não consegui, eu não tive coragem de despejar essa notícia e voltar pro Brasil, me parecia cruel, sua mãe brigou comigo por eu não contar", meu pai disse e me toquei que a briga que escutei quando eles estavam aqui era sobre isso e não sobre as compras da minha mãe, "Sua mãe achou um absurdo eu estar e aí fingir que estava tudo bem, sua mãe brigou comigo anti ontem então eu precisava contar Sarah, mais precisava contar a Vinnie primeiro pra você sabe, ele precisava saber antes pra te dar apoio caso você precise", meu pai disse e eu pisquei devagar, por isso Vinnie estava estranho, ele sabia do câncer e não podia me contar por isso ele nem me encarava e o vi chorando.
_"Eu falei mil vezes desde que voltamos para o Brasil pra sua mãe que iria contar, mais eu sempre desistia na hora, até ela me botar na parede dizendo que ela mesmo contaria e você sabe como sua mae é, ela é capaz de falar algo pior aumentar mil vezes as coisas, então você me ligou fez a chamada de vídeo pra mostrar o estúdio que ficou lindo a propósito, e disse que Vinnie não estava, nós desligamos e eu liguei pra ele né Vinnie?", meu pai perguntou e Vinnie deve ter assentido, mais eu estava paralisada.
_"Vinnie estava no carro, eu contei pra ele pra que quando eu fosse contar ele estivesse do seu lado pra dar forças já que eu estou tão longe, não seria bom eu contar pra vocês dois na mesma hora, os dois ficaram assustados com a notícia, como foi com Vinnie e como esta sendo com você", deduzi que Vinnie também ficou chorado quando meu pai contou a dois dias atrás.
_"Ai eu contei pra Vinnie mais não fiquei muito bem anti ontem e ontem eu tive que trabalhar o dia inteiro então fui adiando, até meia hora atrás quando Vinnie me ligou desesperado que não aguentava mais te olhar e não contar a verdade, então aqui estamos nós e é isso, eu tenho câncer de pulmão, em estágio 3 e começo a químio semana que vem", meu pai disse finalizando sua fala mais eu só olhava pra ele com os olhos cheios de lágrimas.
Por isso que ele falou tanta coisa, aproveitou tanto, estava tão feliz, por isso ele repetiu tanto o quanto me amava, como se estivesse cumprido seu papel de pai e morreria feliz, por isso os abraços demorados e cheios de carinho e amor, por isso a lista de coisas a fazer antes de morrer, por isso quando deu tchau meu pai me abraçou como se não fosse me ver mais, não era um tchau ele estava se despedindo de mim.
Por isso minha mãe se emocionava tanto, por isso que antes de meu pai chegar aqui em LA eu perguntava sobre ele e minha mãe só me respondia: 'esta bem'. Por isso que ele se cansou ao subir um lance de escada quando apresentamos o salão de jogos, por isso ele contou que tinha parado de fumar.
Lembrei algumas frases que meu pai falou pra mim 'Eu vou sempre estar com você, mesmo longe', 'Seja feliz filha', ele estava se despedindo.
_"Sarah?", ouvi meu pai falar eu já chorava em silêncio, "Filha fala comigo".
_"Qual o tratamento, eu posso pagar o melhor pra você, talvez se você vier se tratar aqui né?", perguntei me desesperando um pouco na cadeira de Vinnie que chorava atrás de mim e voltei pra meu pai.
_"Sarah", meu pai disse mais eu interrompi.
_"Eu posso pedir indicações de médico, as pessoas se curam de câncer o tempo todo", falei e ouvi meu pai sussurrar 'e morrem tambem' o que me fez parar de falar assustada.
_"Você desistiu? É por isso que falou tudo aquilo quando veio? Estava se despedindo? Veio me ver uma última vez antes de bater as botas?", eu perguntei e meu pai olhava para as mãos sem me encarar, eu odiava o fato de estar falando com uma tela de computador, "Então é isso, você tem câncer e agora só esperar a morte chegar?"
_"Sarah", ouvi Vinnie sussurrar atrás e me virei rápido e ele me lançou um olhar pra que eu pegasse leve.
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Ok, ok teve gente que sacou da doença logo quando o pai dela estava lá em LA, quero o nome dessas videntes na minha mesa já!
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