Luiza Montti
Fui despertando, sem abrir as pálpebras de imediato, mas me remexendo e respirando fundo a cada sensação do meu corpo ganhando vida. A minha volta tudo era taciturno, levantei as pálpebras devagar, piscando demoradamente para me adaptar à luminosidade; bocejei involuntariamente e virando a cabeça de lado, tencionei-me, abrindo os olhos de uma vez e me sentei, soltando um resmungo ao sentir uma fisgada na cabeça.
— Aí — lamuriei, forçando os dedos em minhas têmporas que não paravam de pulsar. Encarei Riccardo, após notar sangue já parcialmente seco na ponta de meus dedos. — O-o que você fez?
Ele me lançou um olhar cínico dando-me um sorriso. Um sorriso que não acompanhou seus olhos, o que me deixou em alerta. Antes que pudesse questionar qualquer outra coisa, ele ergueu a mão, automaticamente fechei os olhos, esperando uma bofetada. Todavia, somente as costas dos dedos grosseiros alisaram minha bochecha, fazendo meu estômago tensionado rebulir. E sem que eu controlasse meu corpo balançou em um trepidar de puro pavor em ter seus dedos tocando minha pele.
— Sorte sua que eu não fiz nada. — Em um feixe rápido, relembrei a minha discussão como também a pancada que Guilhermo transferiu em minha cabeça. — Da próxima vez lembre-se de acatar minhas ordens, você pode se arrepender amargamente quando eu tiver que intervir.
Encarei Riccardo com meus olhos arregalados, sua expressão era enigmática.
Desgraçado!
— Sua ordem era não tentar fugir, eu não tentei... eu não ignorei sua ordem, assim como você diz.
Soltei a respiração e segurei o pavor, quando seu polegar traçou a minha mandíbula.
— Muito bem, ponto para você. — Debochou, criando uma distância entre nós, que eu dei graças a Deus. Ter suas mãos em mim exigia um nível de autocontrole absurdo para não surtar não só de pavor, como também de nojo. — Então vamos colocar dessa maneira, aceite as consequências dos seus atos. Isso é bem compreensível, não é? Ou quer que eu desenhe para você o que significa?
Pensei em repudiar, mas com Riccardo era inútil. Então, respirei fundo, olhando-o dentro dos olhos.
— Entendi perfeitamente.
Um silêncio desconfortável purgou todo automóvel, então olhei para os lados, através do vidro frontal, percebendo que não estávamos mais no cemitério, e sim em frente minha casa. Estava tão concentrada em Riccardo que não prestei atenção em nada que nos rodeava. Não sabia se ficava aliviada ou não, estava com receio de como seria a minha vida a partir desse momento. Medo e impotência misturavam-se em minha corrente sanguínea.
— Você vai entrar? — inquiri cautelosa, quando o mirei apertando o botão que destravava as portas do veículo.
— Por que não? — retrucou em um tom insondável. — Seria uma desfeita com sua família agora que vamos nos casar, não acha?
Eu nunca sabia o que esperar dele, tanto em palavras quanto ações. Por sorte, não precisei dizer nada, pois o meu olhar dizia tudo, repúdio.
Riccardo desceu do carro primeiro e, em seguida, abriu a porta para mim. Ele estendeu a mão e eu a ignorei, saltando para fora sem sua ajuda, no entanto, devido a pancada que levei na cabeça uma vertigem me atingiu me desequilibrando. Só não fui ao chão porque Riccardo envolveu suas mãos asquerosas em minha cintura.
— Me larga! Não me toque! — Brandeei, o empurrando pelos ombros, ele não apresentou resistência em me largar.
As mãos enormes do Riccardo tocaram levemente as minhas costas assim que comecei a me locomover, ele sussurrou em meu ouvido:
— Bem-vinda de volta ao lar, querida.
Arrepiei-me violentamente pela maneira fria como falou.
Olhei em volta, percebendo que todas as decorações colocadas para o meu aniversário já não existiam mais. E como se já não tivesse o bastante, aparentemente o número de seguranças, ou melhor soldados, triplicou. Como inocentemente julguei que esses homens faziam apenas a nossa segurança? Agora faz sentido toda essa contenção! Sou prisioneira dentro da minha própria casa.
Subimos os degraus até o saguão de entrada familiar. Seguimos para a sala principal e meus pais estavam sentados nos esperando. Assim que nos viram, levantaram-se.
O primeiro a me encarar foi Giuseppe, que me lançou um olhar indiferente, claramente não se incomodava nenhum pouco com sua filha. Segundamente foi Lucca, que permaneceu atrás de nossos genitores com as mãos atrás das costas e cabeça baixa, seu olhar quando encontrou o meu era de compaixão. E por último Andrea, seu olhar era insondável, mas no fundo havia um brilho, como se saboreasse uma vitória, claramente estava desfrutando da minha desgraça.
Riccardo não se deu ao trabalho de cumprimentar nem com um aceno e muito menos com palavras todos que logo que o viram fizeram uma leve reverência.
Que nojo!
Como se fizesse parte da minha casa, Riccardo cruzou a pequena distância da sala até o balcão de bebidas onde se serviu de uma dose generosa de uísque. Logo depois, voltou até o centro da sala, seus movimentos não era de maneira selvagem, caminhava lentamente, como um leão astuto.
Fiquei tensa e o oxigênio faltou na sala, quando Riccardo sentou-se em uma das poltronas que ficava bem no meio dos meus genitores e eu, e puxou sua arma por trás de suas costas e descansou a arma em sua coxa.
Por um mísero segundo me perguntei o que ele faria com aquilo, mas ele apenas ficou lá, sentado, apreciando sua bebida e aquela arma como uma ameaça, ou um aviso de quem estava no poder ali.
— Vão ficar calados até quando? Achei que ambos os lados estivessem com saudades. Afinal são um família, certo?
Andrea sorriu desconcertada antes de quebrar o silêncio:
— Como você some assim minha filha? Chegamos a cogitar a ideia de que você tivesse sido sequestrada, até que tivesse... — falou sem emoção, parecia que falava aquilo por obrigação. O que no fundo eu sabia que era, apenas doía admitir.
— Que eu tivesse o que? Hum? Morta? É isso? Vamos, continue o que ia dizer. De qualquer forma para sua infelicidade, eu estou viva. E bem aqui!
— Mas o que é isso, Luiza? Porque toda essa agressividade? Até parece que fomos nós que sumimos por dias sem nenhuma explicação.
— Ficamos desesperados a sua procura, Luiza.
Eu queria vomitar.
Eu não gostaria de acreditar no que estava ouvindo. Era muita falsidade.
— Desesperados? Chega de mentira! Chega!— falei, com desprezo — Vocês sabiam quem ele era e me entregaram em uma badeja de prata! Então por favor, sem teatro. Eu sei o monstro que todos vocês são!
Como se eu não tivesse dito nada, Andrea abriu os braços.
— Não fale bobagens Luiza — falou, ficando vermelha de fúria e sua postura elegante e de mãe preocupada começou a desabar quando suas mãos se fecharam em punhos. — Imagino o que deve ter passado e por isso todo esse estresse. Mas saiba que estou aqui e quero te abraçar, sentir o seu calor. Fiquei com tanto medo de algo ruim acontecer com você.
Lágrimas formaram-se em meus olhos, mas apenas um par delas deixou meus olhos e escorreu por meu rosto, com tristeza.
Eu sonhei muito com um momento assim, onde minha mãe me abraçaria forte, com amor e carinho. Mas esse ato dela, agora mais do que nunca eu sabia que era falso, apenas um espetáculo para esse show de horrores que estava minha vida.
— Você é louca. — acusei, com os lábios trêmulos. — Você se ouve? Vocês me venderam!
— Não fale do que não sabe, garota! — rebateu, aparentemente ofendida.
— O que é? Agora vão se fazer de sonsos? Eu vi tudo! — Lambi a lágrima ao senti-la molhar meus lábios enquanto. — Eu vi aquele contrato hediondo! Uma maldita compra e venda! Como se fosse um maldito objeto, um animal, qualquer merda, menos uma pessoa com uma vida, sonhos e sentimentos! Portanto chega de teatro!
— Isso não é nada. Tem uma explicação, se você nos der a chance de explicar...
A cortei antes que começasse a expelir lamúrias de inverdades.
— Não tem explicação para a covardia que fizeram e estão fazendo! — Continuei, limpando as lágrimas com fúria. — Eu era uma criança, Andrea! Uma criança! Vocês acabaram com a minha vida!
— Baixe a voz para falar com a gente. — Giuseppe intercedeu pela esposa, me olhando enviesado. Como se eu fosse um ser insignificante para ele. — Somos seus pais caso tenha se esquecido. Exigimos respeito!
— Quem são vocês para exigirem alguma coisa? — gritei, revoltada. — Quero que vão para o inferno, todos vocês! Não achem que eu vou aceitar tudo isso como uma cadela. Eu irei lutar pela minha liberdade nem que eu morra por isso!
— Não repita uma merda dessas outra vez, está me entendendo? — Andrea me segurou pelo queixo. — Não importa que você seja contra ou a favor, a sua liberdade já não existe a anos.
Eu já não sabia quem ali era o catalisador da minha raiva. Motivos não faltavam, mas Andrea, minha própria mãe, parecia ter um local especial no pódio.
— Vocês não sentem remorso pelo que fizeram? Com a filha de vocês? Afinal, o que eu sou pra vocês? E não precisam mentir, já passamos desse ponto.
— Chega de idiotices garota! Pare de agir com infantilidade e enfrente as coisas sem abrir a boca para chorar! Olhe para você, está patética!
O horror estampado em meu rosto não chegava nem perto daquele preenchendo meu peito. Nenhuma palavra que eu pudesse usar parecia o suficiente para descrever o tamanho da minha devastação.
— Vocês nunca me amaram, não é? Porque me tiveram? — Intercalei o olhar entre Giuseppe e Andrea. — Porque fizeram isso comigo? Porque? Porque... Deus... — Soluços frequentes e falas desconexas saiam da minha garganta. — Dói como dói ... — Me engasguei no meu próprio choro. O ar sendo asfixiado em minha garganta, e num instante não conseguia mais respirar. Minha visão escureceu e comecei a tremer.
— Luiza, respire. Respire, Luiza! — Um vulto surgiu em meus olhos, captando meus ombros enquanto sua voz soava ao fundo. Meu corpo foi balançado de trás para frente, uma e outras vezes. Aos pouquinhos, minha audição melhorou e eu já conseguia sentir o contacto de Andrea em meus braços. — Consegue me ouvir?
Quando minha visão clareou, a afastei bruscamente.
— Tire suas mãos de mim!
— Filha...
— Eu não sou sua filha! Cala a boca, eu não quero ouvir sua voz!
— O seu noivado já está marcado assim como o casamento que será daqui a dois meses. — Comunicou Giuseppe, friamente. Se aproximando da esposa.
O que?
Meus olhos se arregalaram e choque escorreu pelo meu corpo.
Dois meses?
Tampei a boca por alguns segundos, sentindo aquela ânsia de vômito subindo.
— Não... não...
Nesse momento, senti meu coração disparar e o sangue que corria pelas minhas veias gelou com a mera possibilidade de suas palavras serem reais.
Dois meses não!
Deus, não!
Ouvir isso foi uma sentença fatal para que eu surtasse.
Gritei usando toda a força que me restava. Gritei por todo tempo que almejei o amor de meus pais, enquanto eles me negociavam. A dor que estava sentindo no meu coração era insuportável.
Acreditava que só quem já foi apunhalado por uma pessoa que confiava tanto, sabia o que eu estava sentindo naquele momento. Não tínhamos afeto e muito menos aproximação, mas nada tirava o fato de sermos uma família!
— Você não tem escolha, por diversas razões como sabemos. Mas tem uma que você ainda não sabe. — Riccardo declarou friamente, de repente entranhado em meu campo de visão ao ficar em pé. Um sorriso malicioso moldou seus lábios, enquanto ele falava. — Você nasceu e cresceu dentro de uma organização secreta e silenciosa, a Cosa Nostra. Quando tiver a sós sei que procurará mais afundo sobre, não estou aqui para dissertar a respeito de algo que seus pais deviam ter falado. — Meus olhos se voltaram para Andrea. — Acontece que tudo que acontece dentro da máfia morri, literalmente, dentro dela. Assim como quem nasce dentro dela. Não há escapatória ou uma segunda alternativa. E como toda organização temos deveres e regras. Ser criada longe te fez conhecer outras culturas. Mas isso não diminui em nada seu papel dentro da sociedade. E o papel da mulher na máfia? Além de estátua e fantoche, é ser procriadora e dona da casa. Também precisa ser perfeita e submissa, e sua reputação até o casamento deve ser impecável.
O que disse era tão ridiculamente absurdo, que fiquei até sem palavras para rebatê-lo.
Eu sempre me imaginei como uma princesa, mas agora percebo que sou apenas uma peça em um jogo sujo de poder e interesses. Aqueles que deveriam me proteger, me entregaram para um homem que era conhecido por sua crueldade e falta de piedade. E agora, estava aqui, despedaçada, sem saber como juntar meus pedaços novamente.
— Você foi prometida à Riccardo quando ainda nem tinha nascido. Então, com ou sem contrato você se casará. Se resolver ir contra a organização seu destino será um bordel ou a morte. — A voz grave, fria e completamente ríspida de Giuseppe se dirigiu a mim com uma sombria força caótica.
Eu sentia como se meu coração estivesse sendo arrancado de mim, pisoteado e esquartejado diante dos meus olhos. Havia muito ódio em suas palavras, e eu queria muito entender porquê. Papai não gostava de mim, e obviamente mamãe também não.
Mas o que eu fiz?
Eu a odiava com cada célula, cada átomo, cada molécula do meu corpo.
— Eu odeio vocês!
Eu me sentia como uma borboleta presa em uma teia de aranha, sem saída, sem escolha a não ser aceitar. Eu estava prometida a um homem que eu mal conhecia, um homem que eu sabia que espalhava morte e destruição por onde passava, um assassino cruel e impiedoso.
Meu rosto deveria estar horrorizado, pois vi quando ele deu um sorriso contido, mas logo sua face mudou completamente dando lugar ao semblante sombrio de sempre.
— Se eu não ter você como minha esposa, será como uma puta. Irá trabalhar para mim, se deitará com os mais desprezíveis homens, para no final da noite me satisfazer até não aguentar mais. — grunhiu, baixo, olhando dentro de meus olhos fazendo-me enxergar tudo o que havia dentro dele: raiva, fúria.
Desespero era um monstro disforme consumindo os pensamentos, devorando meu autocontrole.
Eu não aguento mais.
Desesperada para tirar tudo para fora, eu abandonei a sala. Corri em busca de algum lugar que pudesse dar algum conforto a mim. Ignorei qualquer chamado de meus genitores e consequentemente, o olhar ameaçador de Riccardo. Eu só queria acordar do pesadelo que estava vivendo acordada.
Guilhermo Ferraro
Quando atravessei a porta da UTI que levava até Caterina, algo em minha alma vibrou. O que era esse sentimento de fato eu não saberia dizer. Mas, a pele tão pálida quanto papel e aqueles inúmeros tubos ligados a garota que parecia por um fio de vida, fez-me repudiar o ato de ter puxado aquele gatilho.
Era culpa minha.
Mais uma vez, eu fui o responsável pela desgraça em sua vida.
Agora talvez... para sempre.
Engoli o caroço que se instalou em minha garganta ao me aproximar de seu leito.
Foi inevitável não fechar os olhos ao erguer a mão e receber o frio de sua pele ao tocar sua bochecha com a ponta dos dedos.
Flashback
Encontrava-me sentado em uma das poltronas na área reservada exclusivamente para mim, no Clube Sensations, enquanto fumava meu cigarro e tomava mais um gole de meu uísque, juntamente com Vicenzo.
— O que fez nesses dias em que esteve longe?
Dei de ombros.
— O de sempre, negociações.
Havia chegado a pouco tempo de uma viagem do Brasil, onde fechamos mais um transporte de armas e drogas, onde claro, a organização sairia com percentual altamente lucrativo.
— Algo mais? Você está tão distante. Alguma coisa o perturba Guilhermo? — O consigliere perguntou, ele me conhecia o suficiente para saber onde meus pensamentos estavam.
Na vadia Rossi.
— Não há nada Vicenzo, nada.
— Você e Riccardo são iguaizinhos, até mesmo na mentira. — o desgraçado riu, soltando a fumaça do cigarro por suas narinas.
— Vá comer uma boceta, Vicenzo. Vá, você está precisando.
Bufei audivelmente e me levantei, seguindo até ao guarda-corpo de vidro, que me permitia observar as áreas VIPs e, também, tudo que acontecia na parte debaixo do clube.
A música pulsava e as pessoas enlouqueciam com as batidas frenéticas que saía pelos auto falantes, claro isso misturado ao grande teor alcoólico e até mesmo drogas que corriam por suas veias.
Debrucei-me no guarda-corpo, apoiando meus antebraços e perdi a noção de quanto tempo fiquei ali, perdido em meus pensamentos, fumando um cigarro atrás de outro.
— A garota chegará em uma semana. — Vicenzo se aproximou e comentou, enquanto se debruçava como eu.
Franzi o cenho, confuso.
— Quem?
— Luiza Montti — Suas sobrancelhas estavam franzidas e os lábios estavam firmemente pressionados, revelando seu descontentamento. — Ainda não consigo entender o porquê Riccardo esta seguindo com isso. É um tiro no próprio pé.
— Contestando a decisão do Don, Vincenzo?
— É o meu trabalho, apesar de vocês nunca ouvirem minhas colocações. Nem sei porque vocês tem um consiglieire.
— Concordo. Talvez tenha chegado o momento de dar um fim nessa sua vida medíocre. Não acha?
Ele soltou um riso curto por seus lábios.
— Ainda não é o momento, chefe! Tenho muito a apreciar nessa vida.
Encarei-o, sem dizer nada. Queria mais era que Vicenzo entendesse que eu desejava ficar sozinho. Mas o meu silêncio não o impediu de continuar falando.
— Desde que cheguei ao clube eu não a vi em lugar algum. E antes que pergunte quem, estou me referindo a Irina. — Nervoso, eu apertei um lábio no outro. Os olhos de Vicenzo ainda estavam fixos sobre mim, como se quisesse me dizer algo mais ou pior. Acenei para que prosseguisse com o que tinha a dizer. —Ela não veio trabalhar hoje, ao menos não aqui na dança.
Deixei que o ar saísse por meu nariz em um sopro forçado após essa observação. Meu objetivo ao chegar da viagem era ter Caterina em minha cama, me satisfazendo e dando prazer, mas a vadia não apareceu no horário que marcamos e pelo visto, nem no trabalho.
— Faça um trabalho para mim ao invés de ficar tagarelando. Procure a garota e a leve até o quarto cento e doze, se ela não quiser ir tem permissão para usar força física com ela.
Observei as putas no pole dance, mostrando sensualidade em cada um de seus passos, nenhuma me chamava atenção, o que queria delas era apenas uma coisa, lucro! Dinheiro e mais dinheiro.
Permaneci observando cada uma das mulheres até que Vicenzo, cerca de meia hora depois me informou pelo celular que Katerina estava em uma das salas VIPs atendendo a dois clientes.
O ódio que me causou ler aquilo era desumano.
Cheguei no quarto e fui logo me abastecendo com mais duas doses de uísque. Olhei em meu relógio de pulso contando os minutos que a vadia estava demorando.
Quando ela passou pela porta, algo em minha alma vibrou. Ódio, puro ódio. Seus passos eram um atrás do outro, contidos e vagarosos. Me remexi na poltrona quando o barulho da porta sendo fechada por Vicenzo que a trouxe soou altíssimo, fazendo-a sobressaltar de susto no meio do cômodo.
— Mandou me chamar?
Vaguei meus olhos por seu corpo, dos pés a cabeça, trincando o maxilar ao mira lá vestida apenas com uma camisola fina e transparente e nada mais, nada menos que uma calcinha fio dental.
— Se esta aqui é óbvio, não?
Ele esfregou a ponta do nariz, seus
movimentos exaustos.
— Muito bem, o que deseja Guilhermo? Eu estou trabalhando, não posso demorar. — Minhas sobrancelhas se levantaram com surpresa ao som de sua voz.
— Esqueceu para quem você trabalha, querida.
Ela me encarou, seus olhos penetrantes e frios, tão cortantes quanto uma lâmina afiada.
— Não tem como esquecer dos homens que acabaram com minha vida.
— Gosto desse seu jeitinho de menina sofrida. É encantador Caterina. Me excita sabia? — Dei mais um gole na minha bebida antes de pousar na cômoda, e chamá-la com meus dedos.
— É Irina pra você. — Cuspiu, dando dois passos para trás ao invés de sentar em meu colo como havia solicitado. — Fale o que quer, não posso ficar aqui...
— Se eu levantar para buscá-la, será pior como você sabe. Sente se aqui. — exigi, perdendo a paciência.
Como sempre acontecia quando eu dava uma ordem a Caterina, ela hesitou, porém mesmo contrariada resolveu usar o bom senso e se sentar em meu colo.
Com ela respirando de forma lenta, eu fitei o decote que cobria os seios redondos e o tecido fino, incapaz de esconder os mamilos duros de meus olhos. Esbocei um sorriso malicioso com a visão, mas logo este morreu quando ao subir a visão, morei alguns hematomas em seu pescoço.
— Que porra foi essa?
Fui possuído pela sensação de fúria descontrolada. Meu temperamento era quase impossível de ser governado.
Caterina permaneceu em silêncio.
— Eu te fiz uma pergunta porra!?
A vadia virou o rosto, a fim de evitar uma tragédia que não tinha como ser evitada... Quem a tocou iria morrer.
— Que diferença faz?
Enfiei a mão em sua nuca puxando seu cabelo bem na raiz, deixando sua cabeça em um ângulo de noventa graus, até que obrigatoriamente seus olhos estivessem nos meus.
— Quem? Eu quero um nome!
Lágrimas empoçaram suas vistas até que ela começasse a falar.
— Um cliente, assim como os vários outros que não aceitam somente a dança — Grunhiu baixo. — Sou como qualquer prostituta aqui que eles só comem, Guilhermo.
Minha mandíbula rangia tão alto, que conseguia ouvir o bruxismo dos meus dentes.
— Quem?
— Esteban Moretti. Ele pagou uma dança vip. Quando tirei a roupa ele avançou para cima de mim, e quando me neguei a deitar com ele o maldito me bateu e começou a me estrangular. — Sinto o vinco formar entre minhas sobrancelhas, fruto de uma preocupação indesejada. Seu olhar aflito causa uma sensação estranha em meu peito. — Se Vicenzo não tivesse chegado... Eu-eu não sei até onde ele iria. Não seria a primeira a morrer por negar a um homem.
— Farei ele se arrepender de tocá-la. Eu garanto.
— Não tente ser o herói que você nunca será, Guilhermo.
— E eu não tento querida. Apenas irei reforçar que você é minha! E de mais ninguém.
— Sua e de Riccardo? Esqueceu das vezes que me deixou para que eu tivesse que deitar com ele? Porque eu não! — Seu olhar pingava desprezo, seus lábios crispados, o olhar enojado e as narinas infladas, como quem busca por forças para falar. — Eu te odeio, Guilhermo. E nunca irei te perdoar por tudo que me fez.
Filha da puta!
Senti o peso de tudo que disse me fazer sofrer com uma pressão abismal.
— Cala a boca! A ideia que outro homem a queira ou a machuque não me
apetece, sendo ou não meu irmão. Quando digo que você é minha, não é mentira. Você é.
— Até quando? — perguntou em um tom de voz baixo, quase murmurado.
Sacudi a cabeça, porque a verdade é que eu não tinha uma resposta para a sua pergunta. E por isso, faço o impensado, não querendo mais um pedido, e a beijo.
Nossos lábios se movimentam furiosamente, com chupadas fortes e intensas. O beijo tornando-se avassalador a cada segundo.
Caterina arfou quando rocei o nariz em seu pescoço, sentindo-a tremer no instante em que alcancei sua calcinha. O calor que emanava do seu cerne em minha palma era uma flechada certeira na libido que inchava meu pau, pressionando o tecido da calça de alfaiataria. Apertei de leve, aprofundando o dedo do meio em sua intimidade molhada.
— Até o fim de seus dias, minha doce Caterina. — falei, recebendo um olhar confuso antes de joga-la em cima da cama e fazê-la se render mais uma vez em meus braços.
...
— ... Ela está instável.
Voltei a realidade ao ouvir Martina entrando na UTI.
Me afastei de Caterina, enfiando as mãos nos bolsos da calça ao encarar seriamente a enfermeira.
— Riccardo chegou a entrar aqui?
— Não, o senhor Ferraro ficou o tempo todo com a senhorita Montti, e quando vieram a UTI ficaram apenas do lado de fora. — Respondeu sem me olhar diretamente enquanto pegava a prancheta do leito e fazia algumas anotações.
— E Salvatore onde esta?
— Em uma cirurgia. Ele irá demorar, se resolver ficar posso arranjar um lugar para que espere. Mas como disse. Ela está instável.
— Martina?
A caneta em sua mão pairou no ar quando a chamei com um pouco mais de rispidez.
— Sim, senhor?
— Quais foram as ordens do Riccardo? Sei que ele não manteria Katerina viva.
— Me desculpe, mas eu não posso...
Me aproximei ameaçadoramente da mulher e
segurei seu queixo entre o polegar e o indicador, obrigando-a me encarar.
— Você pode e você dirá, caso contrário se considere uma pessoa morta. — Seu olhar arregalou sem delongas. — E então? Quais são as ordens?
— Fazer de tudo para mantê-la viva, mas assim que se casar com a senhorita Montti... É para... desligar os aparelhos. Ou caso tenha sé recuperado, aplicar algo nela que seja fatal.
— Saia daqui! — Ordenei, nervoso.
Encarei mais uma vez Caterina, quando voltei a ficar a sós.
— Até o fim de seus dias, minha doce Caterina.
Não há infeliz nessa terra que irá tirar você de mim. Seja ele meu irmão ou não. Você é minha e só eu, decido quando você irá ou não morrer.
Hello babys
Duas perguntas
1- O que fariam no lugar de Luiza?
2- O que vocês sentem por Riccardo?
Beijos e até o próximo 🖤