A mensagem foi enviada.
Isa manteve os olhos na tela por um instante, o polegar ainda suspenso como se pudesse cancelar o impulso.
Mas não podia.
Nem dois minutos depois, a resposta chegou:
"Perfeito. Quer que eu passe no seu hotel? Me manda o endereço. 20h funciona?"
Ela soltou um riso curto. Um daqueles que não chegavam nem perto dos olhos. Era charme, e ela reconhecia — até quando não queria reconhecer.
Mas naquele momento, o que ela mais sentia era raiva.
Porque Max tinha sido um idiota.
Um idiota frio, prático, com aquele olhar impassível e o tom controlado demais quando disse:
"Talvez você devesse ir."
Como se estivesse fazendo um favor. Como se ela fosse uma distração fácil de dispensar. Como se não tivesse sido ele quem começou essa bagunça.
Isa respondeu a mensagem e guardou o celular com força contida, jogou dentro da bolsa e ajeitou a prancheta digital sob o braço. O crachá balançava no pescoço, o coque já se desfazia e ela precisava estar na sala de imprensa em menos de quinze minutos.
Mas tudo o que conseguia pensar era:
Max Verstappen quer que eu saia com outro homem.
E tudo bem. Que ótimo. Ela ia sair.
Porque se ele queria distância, ela sabia muito bem como manter.
Era especialista nisso.
Aprendeu com os melhores.
E agora, ia mostrar que também podia jogar.
Isa chegou ao hotel antes das sete. Precisava de tempo para não parecer que estava se arrumando de propósito.
Porque não estava. Só estava... apresentável. Neutra.
Entrou no quarto e jogou a bolsa na poltrona, ligando a luz lateral. A sensação de normalidade do lugar contrastava com o nó apertado no fundo do estômago. Não era nervoso. Era cansaço de pensar demais.
Foi direto para o chuveiro, e a água morna caiu sobre os ombros com um alívio que ela não sabia que precisava. Lavou os cabelos, prendeu em um coque molhado depois. A maquiagem foi leve. Um vestido solto, preto, decote discreto. Secou os cabelos e decidiu por usar um babyliss, deixando-o em ondas.
Enquanto passava um hidratante nos braços, o pensamento voltou — inevitável.
Charles era piloto. Assim como Max. Estava no mesmo ambiente. Era, tecnicamente, o mesmo perfil de problema.
Mas... não era.
Porque Charles não era seu problema. Não trazia risco. Não dividia equipe. Não cruzava olhares na sala de estratégia. Não fazia parte do universo minado que ela e Max haviam criado sozinhos.
Charles era simpático, bonito, educado. Uma distração segura.
E, naquela noite, era tudo o que Isa queria.
Às 19h58, o telefone do quarto tocou.
— Tem um cavalheiro esperando na recepção — disse a recepcionista, em tom quase cúmplice.
Isa sorriu. Pegou a bolsa, passou um batom leve e desceu.
E ali estava Charles: blazer claro sobre uma camiseta simples, mãos nos bolsos e um sorriso que parecia sempre à beira de virar piada.
— Boa noite — disse ele, abrindo a porta do carro com um gesto exagerado, Isa riu — Mademoiselle.
— Boa noite, Charles.
O restaurante era discreto, longe do circuito, com varanda voltada para o mar e um cardápio que misturava pratos mediterrâneos com nomes pretensiosos demais para serem ditos em voz alta. A mesa já estava reservada, é claro.
— Estava difícil te convencer — disse Charles, depois que se acomodaram. — Achei que ia precisar de um pedido formal por escrito.
— Talvez devesse ter tentado — Isa brincou, aceitando a taça de vinho branco que o garçom serviu.
— Boa ideia. Mas não sei se minha caligrafia impressionaria tanto quanto meu desempenho em Baku.
— Então vamos falar de Baku — ela respondeu, cruzando os braços na mesa. — Expectativas para amanhã?
Charles fingiu pesar a pergunta com seriedade exagerada.
— Bem, se o carro colaborar e eu não for explodido em alguma curva aleatória, acho que temos chances. Top 5 seria ótimo. Podium, perfeito. Vitória... um milagre.
Isa riu. Pela primeira vez no dia, riu de verdade.
— Você é mais cínico do que eu esperava.
— É porque não convive comigo no paddock. Eu guardo meu bom humor para jantares elegantes com mulheres difíceis.
Ela o observou por um segundo. Não era o tipo de comentário que a faria se derreter — e ele sabia disso. Não era bajulação. Era leve. Inteligente. E, talvez, propositalmente distante o suficiente para deixá-la à vontade.
— E como tá o ambiente na Ferrari?
— Mais calmo que na Red Bull, aposto — disse ele, mexendo nos talheres. — Quer dizer... não sei como você atura o Verstappen. O cara tem um talento absurdo. E o dobro de mau humor.
Isa ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa.
— Jura?
Charles riu.
— Só estou dizendo... admiro sua resiliência.
— Obrigada — Isa respondeu, erguendo a taça num brinde discreto. — Eu treino com café, sarcasmo... e fones de ouvido com cancelamento de ruído.
Charles riu, genuinamente. Era fácil conversar com ele. E aquilo a surpreendia mais do que gostaria de admitir.
O garçom se aproximou com o menu, e Charles agradeceu em francês antes de traduzi-lo para Isa com um exagero proposital no sotaque, como se fosse um guia turístico improvisado, fazendo ela rir.
O vinho era bom, o restaurante tinha uma música ambiente discreta e a mesa deles dava vista para o mar negro, salpicado por luzes tênues de barcos ao longe. Isa permitiu-se respirar. Pela primeira vez naquele fim de semana, sentia que o mundo estava... desacelerando.
Eles comeram devagar. A conversa foi da temporada atual até as gafes dos novos patrocinadores, passando por filmes que ambos odiavam e as músicas que fingiam gostar pra manter a pose no paddock. Em algum momento, Isa percebeu que estava relaxada. De verdade.
Charles sabia conduzir um jantar como quem lê o ambiente em tempo real: sabia quando provocar, quando escutar, quando mudar de assunto com leveza. Não pressionava, não forçava piada, não preenchia o silêncio à força.
No fim, enquanto ela brincava com a borda da taça e ele chamava o garçom para a conta, Isa se deu conta de que não havia checado o celular nenhuma vez.
— Eu te deixo no hotel — disse Charles, depois de pagar.
Na saída, ele abriu a porta com naturalidade e segurou para ela entrar, sem pressa, como se aquele tipo de gesto fosse parte do reflexo. Durante o trajeto, colocaram uma playlist retrô no rádio e riram com as traduções improvisadas de algumas letras francesas.
Ao chegar ao hotel, Charles estacionou e se virou, mantendo o olhar nela por um momento.
Isa já estava com a mão na maçaneta quando ele falou:
— Foi uma noite boa — disse ele, num tom baixo, sem pressa. — Melhor do que eu esperava, pra ser honesto.
Ela virou o rosto em direção a ele, uma sobrancelha arqueada.
— Porque você esperava o quê, exatamente?
Charles sorriu de canto, um daqueles sorrisos que ela já conhecia — tinha visto na pista, em entrevistas... e naquela noite antiga que ambos fingiam não lembrar com detalhes.
— Eu não sei. A gente nunca passou de uma conversa entre drinks e uma cama emprestada — respondeu, direto, mas sem vulgaridade. — Hoje foi diferente.
Isa manteve os olhos nele. Não havia tensão. Nem surpresa. Só uma constatação.
— E você achou que eu ia continuar sendo só uma distração conveniente?
— Achei que você nem lembrava da nossa noite direito — ele disse, num meio sorriso. — Ou que preferia fingir que não.
— Eu prefiro fingir muitas coisas — ela respondeu, seca. — Mas não sou boa em esquecer.
Charles inclinou-se para a frente, devagar. Não havia urgência, nem charme barato. Só uma aproximação pensada, com a segurança de quem já conhecia a linha entre provocação e respeito.
— Então, se eu te beijar agora... não vai ser novidade — disse ele, a voz mais grave. — Mas talvez seja a primeira vez que realmente faça sentido.
Ela não disse nada.
E ele a beijou.
Não era um reencontro de almas. Não era saudade. Era só um gesto calmo, com o peso exato do que aquilo era: dois adultos, conscientes, testando o limite entre o passado casual e a possibilidade de um presente leve.
O beijo foi mais firme do que delicado. Familiar, mas não íntimo. E quando ele se afastou, com um breve toque no queixo dela, Isa manteve os olhos fechados por um instante.
— Voilà — ele sussurrou. — Sem promessas, sem planos. Só uma boa noite.
Ela assentiu. E abriu a porta do carro.
Não havia perguntas nem promessas em nenhum dos dois.
Entrou no saguão com passos firmes, como se o beijo tivesse sido só um detalhe — mas, por dentro, havia aquela vibração residual que só um certo tipo de caos bem-vindo deixava.
Quando as portas do elevador se fecharam, Isa soltou o ar devagar.
Foi então que o celular vibrou.
Ela olhou a tela.
1 nova mensagem de Max.
O nome pareceu brilhar mais do que devia. Como se o aparelho soubesse exatamente onde apertar.
Isa ficou olhando por um segundo. Só um.
Depois, clicou o botão lateral e guardou o celular na bolsa. Sem abrir.
Naquela noite, ela não devia explicações a ninguém.
E muito menos a Max Verstappen.
_______
Isa havia acordado com o som irritante do alarme do celular e a sensação persistente de que a noite tinha sido mais longa do que realmente fora. Não havia ressaca, mas havia resquícios — de pensamentos embolados, de perguntas que ela fingia que não queria responder, de beijos que deixaram mais dúvida do que certeza.
Assim que abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi a notificação não lida na tela do celular.
1 nova mensagem de Max Verstappen.
Ela não abriu. Não naquela hora.
Porque se abrisse, ia ter que pensar. E pensar em Max naquela manhã significava reviver o tom frio com que ele sugeriu que ela saísse com outro homem. Significava lembrar que, de todas as opções, ele escolheu empurrá-la para longe.
Então ela preferiu ignorar.
Tomou banho, vestiu a calça preta de alfaiataria, camisa branca sem mangas e um par de tênis confortáveis que não comprometessem o figurino. Um coque baixo, maquiagem leve, café preto amargo na mão. O dia ia ser longo.
Chegou ao paddock antes das oito. Já havia feito uma reunião com a equipe de estratégia digital, uma call com um dos patrocinadores europeus e liberado os ajustes do conteúdo de bastidores para o pós-corrida. Estava agora revisando pela quinta vez a pauta de perguntas para o briefing da Red Bull quando ouviu passos firmes entrando na sala de imprensa.
Não precisou levantar os olhos para saber quem era.
Max tinha um tipo de presença que atravessava parede. Ele não era o único piloto que transitava por ali antes da corrida, mas era o único que conseguia encher a sala com o próprio silêncio.
Isa continuou digitando no tablet, como se não tivesse notado.
Ele parou ao lado dela, as mãos nos bolsos da calça do uniforme, o cabelo ainda meio úmido da ducha rápida no motorhome.
— Você ignorou minha mensagem — disse ele, direto.
Isa fechou o aplicativo, travou a tela e o olhou pela primeira vez.
— Bom dia pra você também, Verstappen.
— Não era uma pergunta — ele respondeu, com aquele tom baixo e controlado demais. — Eu percebi que você ignorou. Só queria saber por quê.
Ela bufou, jogando o corpo para trás na cadeira com a prancheta apoiada sobre as pernas.
— Porque não tenho obrigação de responder tudo que você pergunta. Nem ontem. Nem hoje.
— Eu só queria conversar.
— Depois de sugerir que eu saísse com outro cara? De verdade, Max?
Ele encarou Isa com a mandíbula travada, mas não respondeu. A tensão entre os dois era densa, quase visível, e parecia crescer como vapor sob pressão. Isa cruzou os braços, firme.
— Vai me perguntar se eu saí com ele? — desafiou.
Max hesitou. Não porque não queria saber. Mas porque, naquele momento, ele já sabia.
— Não vou — disse ele, por fim. — Não é da minha conta, certo?
Ela assentiu lentamente, sem tirar os olhos dos dele.
— Exato.
Antes que qualquer um dos dois pudesse acrescentar mais uma palavra, a porta se abriu com o estrondo típico de Maya — que parecia sempre entrar nos lugares com a energia de um furacão simpático.
— Você não vai acreditar nisso! — ela disse, sem nem perceber o clima carregado.
Isa franziu a testa, confusa.
Maya ergueu um buquê de flores na altura do rosto, girando como se fosse uma apresentadora de programa de TV. As flores eram brancas, com folhagens esverdeadas e um laço elegante.
— ENTREGARAM ISSO PRA VOCÊ AQUI! — ela cantarolou, teatral, enquanto atravessava a sala.
Isa piscou devagar. Max ficou imóvel.
— Você tem um admirador secreto? — Maya provocou. — Ou não tão secreto assim? Porque se isso aqui tivesse chegado pra mim no meu trabalho, eu já estava com vestido de noiva comprado.
Isa sentiu o estômago apertar. Pegou o cartão do meio das flores e leu sem pressa.
Não era longo.
"Eu adorei nosso encontro.
Espero que possamos repetir.
— C."
Ela engoliu seco.
O coração acelerou por motivos que ela não conseguia organizar: surpresa, afeto, vergonha... e a sensação desconfortável de ser observada. Porque ela era. Max não disfarçava.
— Você não vai dizer quem é? — Maya cutucou, sorrindo. — Eu tô morrendo aqui!
— Não tem ninguém — Isa mentiu, mas a voz saiu fina demais.
Maya cruzou os braços, desconfiada.
— Ah, por favor. Um homem manda flores com bilhete assinado só com a inicial, e você quer me convencer que é um engano?
Antes que Isa tivesse tempo de formular uma resposta plausível, outra figura entrou na sala.
— O que tá acontecendo aqui? — Luke parou, semicerrando os olhos para a cena. — Isso é... um buquê?
— UM BUQUÊ COM BILHETE! — Maya respondeu, empolgadíssima. — Aparentemente, nossa Isa aqui tem um flerte secreto com algum galã misterioso.
— Como assim!?
Isa estava vermelha. Literalmente. Do pescoço às bochechas, o rubor era óbvio.
Ela tentou esconder o rosto com uma das mãos, mas Maya já estava dançando pela sala com o buquê em mãos, imitando um musical.
Max observava tudo em silêncio. O cartão estava virado, mas ele nem precisava ver. Sabia. Cada detalhe, cada gesto, cada hesitação no rosto de Isa.
Sabia.
E foi justamente por isso que falou:
— Tenho uma reunião com o Gianpiero.
O tom era neutro. Mas o olhar era tudo, menos calmo.
Ele saiu da sala sem esperar reação. E Maya e Luke, tão alheio como estavam, sequer perceberam.
Maya finalmente parou a performance e virou-se para Isa, ainda sorrindo, mas agora com um pouco mais de cuidado.
Isa soltou o ar devagar, o coração ainda correndo em descompasso. Pegou o cartão de novo. Leu mais uma vez.
Não tinha nada de muito elaborado ali.
Mas tinha algo real. Algo leve. Algo que ela não esperava — e, por isso mesmo, a tocava.
Ela abriu o celular.
Digitou, simples:
"Obrigada pelas flores.
Eu também gostei muito do nosso jantar."
E dessa vez, apertou enviar com um sorriso pequeno, mas verdadeiro.
______________
O pódio no Azerbaijão brilhava com o dourado agressivo do fim de tarde refletindo nos troféus. Max estava no degrau mais alto, sem grandes sorrisos, mas também sem disfarçar o domínio. Ao lado, Checo erguia o segundo lugar com o bom humor de sempre, enquanto o terceiro piloto — George Russell — parecia satisfeito por aproveitar a queda da Ferrari.
Isa assistia tudo da sala de imprensa com visão direta para a área do pódio, ao lado de Luke e Maya. Os dois comentavam animadamente os detalhes da corrida, mas Isa mal registrava. Ainda que mantivesse o rosto composto, havia algo inquieto nos ombros, nos dedos que se apertavam levemente contra os braços cruzados.
— Ok, a corrida foi incrível. Max voou. Checo foi sólido. Charles... evaporou — comentou Luke, rindo.
— A Ferrari tá parecendo novela mexicana. Emoção toda semana — emendou Maya.
— Mas o que eu realmente quero saber... — Luke se virou teatralmente para Isa. — Quem é o admirador misterioso.
Isa soltou um suspiro impaciente.
— De novo isso?
— Claro! — Maya apoiou o queixo na mão, olhando para ela com olhos de quem fareja fofoca. — A gente ficou o dia todo tentando adivinhar. Luke acha que é algum executivo da Aston Martin. Eu apostei em algum francês charmoso...
Isa não conseguiu conter o olhar de exasperação. Revirou os olhos, largou os braços ao lado do corpo e falou, seca:
— Foi o Charles. Pronto. Feliz agora?
— Uuuuh lá lá! — Maya colocou a mão no peito, teatral. — A união das escuderias vem aí!
— Vocês são dois idiotas. — Isa já se afastava. — Crianças. Vou preparar o espaço pras entrevistas.
Ela os deixou rindo atrás dela, a cruzou os bastidores até a entrada do espaço reservado às coletivas, onde já havia deixado as credenciais da imprensa posicionadas. Ali, a temperatura era mais fresca, o silêncio maior.
Max entrou no espaço das coletivas com o uniforme fechado até o pescoço, ainda com o cabelo molhado da comemoração. Tinha uma garrafa de água na mão, e o troféu do primeiro lugar havia ficado para trás.
Ele não disse nada de imediato. Só se aproximou.
Isa permaneceu em silêncio, o que só serviu de convite.
— O encontro não deu muita sorte pra ele, né? — Max comentou, casual, com os olhos fixos no crachá pendurado no pescoço dela.
Ela parou o que estava fazendo e o encarou, sem disfarçar a irritação.
— Você pode parar?
— Parar com o quê? — ele deu um meio sorriso, tão irritante quanto condescendente.
— Com esse joguinho passivo-agressivo — Isa retrucou, mais baixo. — Com essas indiretas.
Ele deu de ombros, como se estivesse discutindo previsão do tempo.
— Tudo bem. Eu posso mencionar algo diferente na coletiva. Algo leve. Tipo: "Acho que o clima romântico de Baku afetou o desempenho da Ferrari."
Isa cerrou os dentes.
— Max... se você quiser manter essa conversa em um nível minimamente profissional, eu fico. Senão, eu saio agora e mando o Luke fazer as entrevistas.
Ele a olhou por um segundo. Depois, ergueu as mãos em rendição.
— Tá bom. Profissionalismo. Como você quiser.
— Não comenta do problema de motor da Ferrari. Não reforça comparações. Fala sobre o desempenho do carro, o equilíbrio nas curvas médias.
Max riu, virando o rosto.
— Entendido, chefe.
— E se tiver que mencionar a Ferrari, diz que sente pelo abandono. Nada de piadas.
Ele não respondeu de imediato.
— Você não quer que eu fale nada porque ele ficou fora da corrida ou porque você não quer que eu zoe o seu... o que mesmo? Encontro da sábado à noite?
Isa respirou fundo. Mantinha os olhos no tablet com firmeza.
— Não quero que você fale porque você é o rosto da Red Bull. E porque eu sou responsável por esse rosto.
— Claro. Deve ser difícil proteger a imagem da equipe e do namorado ao mesmo tempo.
Ela deu um passo para trás, o suficiente para manter distância.
— Acabou a conversa?
Max deu de ombros.
— Pra mim? Nunca começou.
Virou-se e foi em direção ao próximo compromisso. Isa ficou, com o maxilar travado e a raiva borbulhando por dentro. Mas não se moveu.
Porque se havia uma coisa que ela fazia melhor do que qualquer um naquele paddock, era manter o controle.
____________
Isa saiu do paddock mais tarde do que gostaria. Já não havia público, nem barulho de coletivas, nem câmeras ligadas. Apenas o vaivém de mecânicos desmontando estruturas, os últimos ajustes nos equipamentos da transmissão e o céu de Baku começando a escurecer em tons dourados e rosados sobre o mar.
Ela caminhava para fora do paddock com o tablet preso sob o braço e o casaco jogado sobre os ombros. Os passos estavam mais rápidos do que o necessário, como se o corpo inteiro quisesse sair dali antes que Max resolvesse reaparecer.
E foi justamente quando cruzava a área externa, perto dos motorhomes das equipes, que ouviu a voz.
— Isa?
Ela parou. E se virou.
Era Charles.
Isa se aproximou devagar.
— Oi — disse, com um aceno discreto. — Eu... sinto muito pelo resultado.
Charles assentiu, com um suspiro resignado.
— Obrigado. Não foi o melhor dos domingos.
Ela ficou ali, parada à frente dele, por um segundo longo demais. Não havia pressa, mas também não havia nada fácil naquele momento. Ela sabia disso. E ele também.
— Você merecia mais — disse ela, por fim. — O carro te deixou na mão.
Charles deu de ombros, como quem já estava acostumado a ser deixado na mão por mais do que apenas o carro.
— Faz parte — disse ele, sem amargura. — A gente aprende a engolir de cabeça erguida. Depois tenta de novo.
Isa assentiu, os olhos ainda nele.
— Obrigada pelas flores. - ela aproveitou para agradecer pessoalmente.
Ele sorriu. Pequeno, mas sincero.
— Você gostou?
— Gostei.
Charles não disse nada por um instante. Apenas a olhou, como se quisesse guardar o momento antes que ele acabasse.
— Fico feliz. Mesmo.
Isa deu um passo atrás.
— Preciso ir. Tem um relatório para revisar antes do embarque.
— Claro.
Mas quando ela se virou para ir embora, ele a chamou mais uma vez.
— Isa.
Ela parou, mas não virou o rosto.
— Sim?
— Você sabe que agora que tive um encontro com você vou te chamar para o próximo, né?
Isa fechou os olhos por um segundo. O sorriso veio rápido, escapando antes que ela pudesse conter — discreto, mas genuíno. E, por um instante, mais leve do que qualquer coisa que havia sentido naquele dia.
Virou levemente o rosto, só o suficiente para lançar um olhar por cima do ombro.
— Boa sorte com isso, Leclerc.
E continuou andando.
O som dos próprios passos no asfalto, o barulho abafado dos últimos containers sendo lacrados ao longe, e o eco residual de tudo o que ela sentiu naquele fim de semana vibrando em silêncio sob a pele.
Max ainda estava em algum lugar por ali.
Mas Isa não procurou.
Naquela noite, sair do paddock foi como sair de um campo minado — com o coração inteiro, o ego intacto e um lembrete perigoso de que, às vezes, o caos vinha com flores e sotaque francês.
____________
Eu sou uma mãe mesmo, trouxe mais um capítulo enooooorme para vocês.
Eu sei, eu sei... foi muita coisa para um capítulo só — tensão, buquê, provocação, jantar, beijo, Max surtando e Charles? Charmoso demais pro próprio bem.
Me contem nos comentários:
— Vocês torcem pra Isa e Max, ou acham que o Charles tem chance real?
— Quem ganhou essa rodada no jogo de provocações?
— E qual foi a parte favorita de vocês?
Ah, e se você leu até aqui: obrigada. De verdade.
Deixa um comentário, um emoji, uma teoria maluca — eu leio tudo com o maior carinho e repondo também 💙
Nos vemos no próximo capítulo, porque... o caos só está começando 😉