Postei e saí correndo...
I kept everything inside
And even though I tried
It all fell apart
-Linkin Park, "In the end"
Harry POV.
Anos antes...
Eu estava deitado em minha cama quando ouvi batidas na porta.
-Harry? - chamou Rosa, a mulher que trabalhava na casa dos meus pais desde que nasci.
Na verdade ela havia sido minha babá e da Gemma quando éramos mais novos.
Ela abriu a porta e encarou minha cama.
-Quem é essa? - ela perguntou.
Eu olhei para o outro lado da cama e encarei a garota nua em baixo dos lençóis que dormia profundamente.
-Boa pergunta. - eu respondi. - Acho que ela se chama Liana ou Lana, algo do tipo.
Rosa sorriu e virou os olhos.
-Você não tem jeito mesmo, não é?
-Claro que não. - eu sorri de volta.
Rosa tinha quase cinquenta anos, era baixinha e tinha cabelos escuros. Ela era carinhosa, alegre e fazia os melhores brownies do mundo.
Eu gostava da Rosa. Depois da minha irmã, ela era a pessoa que eu mais gostava naquela casa. Ela foi a segunda pessoa a saber da minha orientação sexual, a primeira foi a Gem. Ela não me julgou ou apontou o dedo na minha cara com o típico discurso de "você não sabe o que quer e se diverte com os dois", como meu pai. Ela me acolheu e protegeu como minha mãe deveria ter feito.
-Bem, seu pai mandou eu te chamar. É melhor você se vestir e descer logo, ele não parece feliz. - disse Rosa seriamente.
Merda, o que eu tinha feito dessa vez?
Tirei os lençóis de cima de mim e saí da cama.
-Harry! - Rosa exclamou.
Eu estava completamente nu.
-Ah, pelo amor de Deus Rosa, você costumava trocar minha fralda. - eu disse indo em direção ao meu armário.
-É, mas antes você tinha meses e muita coisa mudou desde então. - ela disse ainda de olhos fechados.
Eu sorri e ela saiu.
A morena que estava em minha cama pareceu resmungar alguma coisa durante o sono e eu achei melhor sair dali antes que ela acordasse.
Depois de colocar algumas roupas eu desci as escadas e fui em direção ao escritório do meu pai, mas ele estava me esperando na sala com minha mãe ao seu lado.
-Harry. - ele diz coma voz gave.
Eu entrei na sala e me aproximei.
-Pai, mãe. - eu cumprimentei olhando para os dois.
-Sente-se. - ele ordenou.
-Eu estou bem. - eu disse me mantendo de pé.
Meu pai me lançou seu olhar gelado e autoritário e por mais que eu quisesse desafia-lo eu sabia que não era uma boa ideia. Não naquele momento que ele já estava estressado.
Me sentei.
-Você sabe por quê está aqui? - ele perguntou se sentando em uma poltrona.
Bem, na semana passada eu tinha saído escondido duas noites seguidas e havia dado uma festa na casa enquanto meu pai e minha mãe estavam viajando a trabalho.
Mas eu havia feito tudo bem escondido então não achava que eles havia descoberto.
-Não. - eu respondi.
Meu pai foi até uma pequena mesinha e abriu a gaveta.
Ele pegou algo nas mãos e me mostrou.
Merda, ele estava com um baseado nas mãos.
Meu baseado.
-Eu achei isso aqui na garagem. - ele se aproximou de mim. - Não é meu, nem da sua mãe e tenho certeza que não é da sua irmã.
Eu apenas o encarei em silêncio.
-Você tem noção do que isso pode fazer em relação ao seu desempenho nos jogos? - ele perguntou me encarando.
Eu sabia que ele não queria realmente uma resposta. Nada que eu dissesse o agradaria, então eu apenas me mantive em silêncio.
Ele bufou e sentou novamente na poltrona.
-Por quê você não pode simplesmente ser mais como sua irmã?
Eu quis rir.
Meu pai daria tudo para que eu fosse como Gemma, o filho perfeito.
Acontece que eu não era Gemma, eu nunca seria. Eu nunca facilitaria as coisas para o meu pai como Gem fazia. Eu nunca daria esse prazer ao meu pai.
A garota que estava em minha cama desceu e passou ao lado da cama. Ela tinha os cabelos bagunçados e a maquiagem borrada. Ela olhou para nós e nós para ela.
Um segundo constrangedor se passou até que ela sorriu envergonhada e disse:
-Senhor Styles, senhora Styles. - ela virou o rosto para mim e corando disse: - Harry.
Eu sorri levemente e meus pais a cumprimentaram da melhor maneira possível apesar da situação constrangedora.
Ela saiu em direção à porta e quando encarei meus pais eles pareciam pasmos.
Meu pai me olhou irritado.
-Você dormiu com Lisa West? A filha de um dos meus sócios? - ele perguntou me encarando ameaçadoramente.
Merda.
Por quê aquela garota tinha que descer as escadas bem naquele momento?
-Você já tem dezessete anos e ano passado eu te emancipei, de acordo com a lei você já tem praticamente todas as responsabilidades de um adulto. Mas você continua fazendo as besteiras como um adolescente inconsequente! - ele exclamou.
Apesar de estar encrencado, eu não conseguia evitar de notar a pequena pontada de prazer que crescia dentro de mim ao ver meu pai tão irritado.
-Você tem noção de como isso pode te prejudicar? Você é tão irresponsável!
Ele bufou e me encarou.
-Você está proibido de correr daqui pra frente. - ele disse finalmente.
-O quê?! - eu exclamei me levantando.
Ele não podia ter dito aquilo, eu tinha que ter escutado errado.
-Você não vai mais participar de corridas. - ele disse me encarando com um olhar frio e decidido.
-Você não pode fazer isso! - eu exclamei.
-Ah, posso sim. Acabei de fazer. - ele disse e um pequeno sorriso cresceu em seu rosto.
Meu pai nunca havia aprovado minhas corridas, afinal tecnicamente era algo ilegal.
Mas ele nunca havia me proibido de correr.
Desde que eu aparecesse nos jogos, treinasse os suficiente para ser o melhor do time e comparecesse as aulas que ele mandasse, ele não se importava que eu corresse.
Ele não dava a mínima em relação ao que eu fazia no meu tempo livre.
-Eu não posso parar de correr! - eu exclamei.
Aquilo era uma das coisas mais importantes pra mim. E ele sabia disso.
-Pode sim, e você vai.
Meu coração batia cada vez mais rápido e eu queria socar alguma coisa.
Queria socar o meu pai.
Eu estava começando a entrar em pânico.
Ele não podia tirar aquilo de mim.
Eu encarei minha mãe pedindo ajuda. Ela tinha que fazer alguma coisa. Pela primeira vez na vida ela precisava se impor ao meu pai e me ajudar. Mas como sempre, ela ficou apenas lá, sentada em silêncio. Ela parecia triste, mas ainda assim não moveu um dedo para fazer alguma coisa.
Eu precisava fazer alguma coisa.
-Se você me fizer parar de correr, eu paro de jogar. - eu disse finalmente.
Meu pai me encarou com uma mistura de surpresa e raiva. Eu havia tocado em seu ponto fraco.
Ele ficou me olhando em silêncio por vários segundos, até que disse:
-Você não vai querer fazer isso.
-Por quê?
-Porque se você parar de jogar, sua irmã vai ser proibida de sair com o Niall e de escrever.
E então ele havia tocado em meu ponto fraco.
Minha irmã.
Eu me calei e o encarei incrédulo. Ele não podia fazer isso com a Gemma. Gemma amava escrever tanto quanto eu amava correr. Era sua paixão.
E a alguns meses ela havia começado a namorar o Niall e eu nunca tinha a visto tão feliz.
Eu quis gritar e manda todo mundo ir a merda, mas eu não podia.
Cada célula do meu corpo gritou e se rebelou quando eu disse quase em um sussurro:
-Tudo bem.
Correr pra mim era importante, mas minha irmã era mais.
Muito mais.
(...)
Já era quase uma da manhã quando eu resolvi que se eu ficasse mais tempo no meu quarto, eu enlouqueceria.
Eu estava com raiva do meu pai, da minha mãe e da vida em geral.
Eu odiava o fato como meu pai conseguia me controlar como uma marionete.
Peguei minhas chaves e saí silenciosamente de casa para não acordar meus pais. Passei em uma loja de bebidas e graças a minha identidade falsa consegui comprar algumas garrafas.
Abri a garrafa de uísque e dirigi em direção ao local no qual eu costumava correr. Eu não iria participar da corrida, mas eu queria pelo menos assistir.
Talvez aquilo me acalmasse.
Além do mais, Gemma provavelmente estaria lá, já que ela não estava em seu quarto.
Gemma não corria, mas ela gostava de ficar lá com alguns amigos e as vezes me assistia correr.
Acabei de beber a primeira garrafa e a joguei no chão do banco do carona.
Quando cheguei na corrida já estava quase na metade da segunda.
Eu estava achando um lugar para estacionar, quando um colega de time me parou.
-E aí Styles, vai correr hoje? - perguntou Josh, um dos atacantes.
Eu abri a janela do carro e respondi.
-Não. Você viu minha irmã por aí?
-Vi. Ela tá bem ali, na verdade. - disse Josh apontando pra frente.
-Valeu. - respondi e andei um pouco com o carro até chegar à Gemma.
Como era sábado, o lugar estava bem cheio.
Carros por todo lado e adolescentes rodando todo o lugar.
Gemma estava ao lado de Niall, sendo abraçada pela cintura.
Fiz uma careta.
Eles eram tão insuportavelmente grudentos.
Parei ao lado deles e abaixei o vidro.
-Ué, você vai correr hoje? - minha irmã perguntou logo que me viu.
-Não. Entra aí. - eu disse abrindo a porta.
Gemma franziu as sobrancelhas e olhou para Niall.
-A gente está meio que num encontro agora, cara. - Gemma disse me encarando.
Eu rolei os olhos.
-Eu prometo te trazer de volta. - eu disse com cara de tédio.
Gemma olhou para Niall como se perguntasse se estava tudo bem.
-Desde que você volte, tudo bem. - disse Niall sorrindo e dando de ombros.
Apesar de sempre zoar Gemma e de seu relacionamento com Niall, eu realmente gostava dele.
Ele era simpático, risonho e não era um babaca como a maioria dos garotos, e fazia minha irmã realmente feliz.
-Tudo bem. - ela deu um selinho em Niall e entrou no carro. - Até daqui a pouco. - ela disse a ele.
Eu bufei e arranquei com o carro.
-Que merda aconteceu? - Gemma perguntou se virando pra mim.
Eu era realmente muito bom em esconder as minhas emoções dos outros, mas nunca consegui fazer isso com Gemma. Não sei se era porque tínhamos alguma ligação estranha de gêmeos, mas ela sempre sabia como eu estava me sentindo.
E eu odiava isso.
Mas eu também conseguia ler as suas emoções, só que a diferença é que Gemma nunca fazia questão de escondê-las de mim ou de mais ninguém. Se algo a incomodava, ela simplesmente sentava e conversava sobre isso.
Mas eu não. Comigo as coisas eram um pouco mais complexas.
-Nada. - eu respondi.
Gemma revirou os olhos e sorriu.
-Por quê você ainda faz questão de negar toda vez? Eu sei quando tem algo errado com você e eu tenho certeza que aconteceu alguma coisa.
Eu suspirei e disse:
-O merda do nosso pai me proibiu de correr.
-O quê? - Gemma se virou pra mim chocada. - Por quê?
-Ele achou um baseado meu e logo depois descobriu que eu dormi com a filha de um dos sócios dele.
-E o que você disse para ele? Você tentou se desculpar e prometer não cometer o mesmo erro novamente ou algo do tipo?
Eu ri.
-Claro que não. Além do mais, você sabe que se eu fizesse não funcionaria do mesmo jeito.
-Você simplesmente aceitou isso então? - minha irmã perguntou com as sobrancelhas franzidas. - Não parece algo que você faria.
Eu dei de ombros. Não contaria que meu pai havia ameaçado fazer com que ela parasse de escrever e ver Niall. Gemma se sentiria culpada e eu não queria arrastá-la para aquela confusão só por causa da porra de um baseado e uma garota qualquer.
-Ele disse alguma coisa ou te ameaçou? - minha irmã perguntou.
-Não.
-Harry, eu não acredito que você de todas as pessoas aceitaria isso. Você nunca o obedece quando se trata desse tipo de coisa, eu tenho certeza que ele disse alguma coisa. Só me fala o que foi...
-Não foi nada, porra! - eu gritei irritado e bati no volante.
Eu achei que conversar com minha irmã iria me acalmar. Mas eu me enganei, aquela conversa só estava me fazendo ficar mais perto de perder o controle.
Eu estava irritado com toda injustiça, com meus pais de merda e pelo fato de uma das minhas maiores paixões ter sido tirada de mim.
Correr era uma das únicas coisas que me fazia relaxar e esquecer da família desetruturada que eu tinha.
Eu peguei a garrafa de uísque que estava ao lado da porta e dei um gole.
-O quê você está fazendo? - Gemma perguntou horrorizada.
-Bebendo. - eu respondi sarcasticamente.
-Você ta maluco? Você está dirigindo.
-Relaxa aí, senhora certínho. Essa é apenas a segunda garrafa.
-Segunda? - Gemma exclamou.
Eu rolei os olhos.
-Para o carro. - Gemma ordenou.
-Não, eu não vou parar o carro. Eu não estou bêbado.
-Claro que está! Para o carro, Harry. - Gemma pediu mais um vez.
-Por quê? Você está com medo? - eu perguntei com um sorriso malvado nos lábios.
Eu comecei a brincar com o volante fazendo vários zig-zags na estrada.
-Porra Harry, para com isso! Nós vamos bater! - Gemma gritou enquanto o pânico tomava seus olhos.
Eu sorri com diversão e a adrenalina bombeando meu corpo. Eu estava me sentindo altamente destrutivo naquela noite. Eu queria esquecer minha família e todos os problemas que vinham com ela.
O álcool parecia estar fazendo cada vez mais efeito sobre mim e eu estava perdendo totalmente a razão.
-Por quê você está com tanto medo? Estamos apenas passeando. - eu disse sorrindo quanto brincava com o volante.
Aumentei a velocidade e Gemma gritou.
-Para Harry, isso não é brincadeira!
Ela colocou as mãos no volante e nós dois começamos a brigar pelo controle dele.
-Tira as mãos do volante, porra! - eu exclamei.
Gemma ignorou o pedido e continuou tentando pegar o controle de minhas mãos.
-Harry! - Gemma gritou mais alto e eu me assustei.
Quando olhei para frente estávamos a alguns centímetros de colidir com uma parede.
Não havia nada que eu pudesse fazer naquele momento.
Estávamos muito perto.
Era tarde demais.
Batemos com tudo.
Tudo aconteceu muito rápido.
Me lembro de ter sido impulsionado com força para frente. Lembro de ter ouvido barulho de vidro se estilhaçando. E também lembro que a primeira coisa que eu fiz foi abrir os olhos e olhara para o lado.
Para minha irmã.
Ela tinha os olhos fechados e sua cabeça sangrava.
Me virei em sua direção e gritei seu nome.
Gritei seu nome uma vez.
Duas vezes.
Três vezes.
Perdi as contas de quantas vezes.
Ela não respondeu.
Eu peguei sua camisa e sacudi algumas vezes. Chamei seu nome mais algumas vezes enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Me lembro de ter pensado por um momento que aquilo não podia estar acontecendo.
Não podia ser real.
Por quê ela simplesmente não abria os olhos?
Eu comecei a gritar por ajuda.
Eu estava no meio da rua e não havia ninguém ali, mas eu gritei mesmo assim. Eu gritei tanto que eu quase podia sentir o gosto do sangue em minha garganta.
Chequei seu pulso e não tinha nada. Ela não tinha nenhum. Chequei se ela estava respirando. Eu só precisava de um suspiro. De um sinal de que talvez eu não tinha acabado de perder a única coisa que eu amava em toda minha vida.
As lágrimas caiam descontroladas enquanto eu a segurava em meus braços e torcia para que seus olhos abrissem.
-Abra os olhos, Gemma. Não faça isso. Porra, só abra os olhos. - eu pedi baixinho.
Acontece que ela nunca mais abriu.
Eu chorei como um menino indefeso naquela noite.
Eu havia matado minha própria irmã.
Eu era um assassino.
Mas o que eu não sabia naquela época era que minha irmã foi a primeira pessoa que eu matei, mas não a última.
*Tradução da música "In the end":
Eu guardei tudo dentro de mim
E embora eu tenha tentado
Tudo desmoronou
---------------- NOTAS FINAIS
Oioi! Espero que estejam todos vivos depois desse tiroteio em forma de capítulo. Eu avisei que agora o negócio começa a andar...
Capítulo não revisado, então sinalizem os erros por favor.
Comentem, votem e compartilhem com os amigos.
All the love, N
Xoxo