抖阴社区

twenty nine

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Sam on

Meu corpo inteiro coça. Pinica e arde por tudo que ainda posso sentir.

Não consigo me mover, e as cordas que me prendem a cadeira estão tão apertadas quase ao ponto de prender a minha circulação. Não sei bem quanto tempo passou desde o galpão. Não me avisam bem que horas e que dia são quando aparecem para me dar uma surra. Não importa a hora do dia que eu possa estar, o galpão sempre tem a mesma iluminação. Estou com alguns cortes pelo rosto e pelo corpo, mas não consigo me importar. Tento identificar qualquer coisa ao meu redor que me dê uma dica de onde eu possa estar mas nada me dá essa luz. Tenho toda a minha fé em que Jason está me procurando e que vai me achar, porque eu sei que vai. Só preciso me manter firme por mais um tempo.

- Acordou?! - tenho imediatos calafrios assim que ouço a voz estridente. Estou em algum galpão mal iluminado e fedido. Como será que o mercado imobiliário de Gotham funciona para sempre conseguirem esses lugares?! - Você tem um rosto extremamente comum para alguém tão importante. - a figura assustadora ergue meu rosto com a bengala e eu o encaro. Todas as cores nele são extremamente saturadas, o verde vibrante do cabelo, o branco brilhante da pele, os olhos insanos que algum dia deviam ter pertencido a um ser humano, e a boca vermelha igual sangue. Ele solta meu rosto e eu sinto uma dor vinda do pescoço quando tento manter minha cabeça em pé. - Não fomos apresentados devidamente. Coringa! Ao seu dispor. - Ele faz uma reverência teatral. E eu balanço a cabeça. - Eu sei quem você é, claro. Não é muito do meu feitio espancar pessoas que eu não conheço, por mais divertido que seja.

Ele anda mais um pouco e eu o acompanho com o olhar. Perto de nós, consigo ver uma bandeja com apetrechos médicos sujos de sangue e um cilindro metálico de oxigênio enorme ao seu lado. Tento não pensar que aquele sangue seja meu, por mais que não me faça bem pensar que pode ser de outra pessoa.

- Impressionado?! - ele bate com a ponta da bengala no cilindro produzindo um ruído. Fecho os olhos tentando não pensar no que poderia ser aquilo. - Ah, vamos lá. Eu sou fã de um bom monólogo, mas é mais divertido se você e eu conversarmos.

Abro os olhos e vejo que o Coringa achou um lugar para sentar. Suspiro.

- O que você quer comigo?!

Uma risada histérica escapa pela boca do Coringa e eu sinto um calafrio subindo pela minha espinha.

- Oh, boa pergunta. Que tal uma historinha?! - Ele se posiciona como se fosse criar uma fábula. - Havia um homem mau e um bom. O bom via um futuro para o lugar onde morava, mas o homem mau sempre atrapalhava os seus planos, entrando no caminho e destruindo a prosperidade que o homem bom era capaz de proporcionar...

- Deixa eu adivinhar, você é o homem bom? - Me arrependo da minha pergunta assim que vejo a bengala do Coringa vindo em direção ao meu rosto com toda a força que ele pode ter. Mantenho meu rosto abaixado por uns segundos assim que a pancada acerta seu destino, cuspindo uma bolota de sangue no chão.

- Odeio que me interrompam. Que coisa mais indelicada. - Ele se ajeita voltando a posição inicial. - Mas não. É óbvio que não. Eu sou o homem mau. Aquele morcego idiota e os passarinhos são os homens bons. Veja só. Não faz sentido, faz?! Eles estão tentando salvar um pedaço do inferno! Um lugar que já se degradou e desistiu da salvação há muito tempo! Então por quê? Por que eles continuam lutando e tentando escalar em um poço de paredes sujas de limo? - ele parece colocar apelo em cada palavra, como se houvesse senso em cada coisa que diz. Como se fosse óbvio. - Você viu Gotham?! Acha mesmo que alguém vai tirar aquele lugar do buraco?! - Ele ri. - De nós, eu e o morcego, quem você acha que é mais maluco?! Eu, que vejo a verdade por entre os becos sujos e bueiros entupidos?! Ou ele, que quer salvar o que já se perdeu?! Que quer que o inferno na terra se torne um pedaço do paraíso?! - Coringa junta as mãos na frente do corpo, se apoiando na bengala que segura. E por um milésimo de segundo sinto que ele tem razão, que seus argumentos talvez façam sentido. - Vamos, Samuel. Você acha que ainda tem esperança em uma terra de bandidos?! Você acha que ainda tem esperança alguma de sair daqui vivo?! - Volto a mim mesmo com a última frase, sentindo uma gota de suor escorrer pelo meu rosto. - Quanto tempo acha que já passou?! Duas horas?! Três dias?! Quatro semanas?!

Não olho para ele, e essa parece ser a resposta errada. Sinto mais um golpe da bengala no meu rosto, dessa vez do lado contrário em que ele havia acertado antes. Não faço esforço nenhum para manter o meu rosto em pé dessa vez.

- Com você, eu não quero nada. Mas, atravéz de você, eu vou provar algo maior. - ouço o barulho do cilindro rolar. - Com a sua ajuda, eu e meus amigos conseguimos algo que estava faltando. - levanto o olhar e vejo coringa ajeitar uma máscara em um tubo. - Um amiguinho meu tem um apetrecho um tanto interessante. Toxina do medo. Nome alto explicativo. Mas eu sempre tive uma dúvida sobre. - ele trás tanto o tubo quanto o cilindro mais perto de mim. - E se deixássemos a toxina tão poderosa que não seria absorvida só pelo sistema respiratório e sim se impregnando nos poros?! E se ela durasse mais do que uma ou duas horas?! E se não mexesse só com uma parte do seu cérebro mas alterasse toda a química dele?! É claro, nossas cobaias não voltaram para responder essas perguntas. Mas depois da planta que você nos ajudou a pegar, até que avançamos. E eu tenho a impressão de que você é a cobaia perfeita para esse teste.- ele para e eu sinto o pior que pode estar por vir. Vejo toda minha ruína naquela máscara e toda minha vida até aqui passando pelos meus olhos. Tento me mexer desesperadamente mas não consigo. Coringa segura meu rosto e um sorriso macabro se abre. Continuo sacudindo o rosto tentando não deixar que a máscara suja se aproxime de mim, por mais que todas as dores do meu corpo me peçam que eu pare. - Vamos, fique quietinho. A festa vai começar!

Sinto um soco atravessar meu rosto e logo em seguida a máscara é colocada. Um puro desespero está dentro de mim e eu só queria conseguir me mover. Antes que eu possa fazer qualquer coisa ou até mesmo gritar, ouço o cilindro ser aberto e sinto um gás vir em meu rosto.

É como se pura cola estivesse tocando a minha pele. Minha visão se mescla e meu pulmão começa arder. Quero procurar por ar puro mas a cada vez que tento parar de respirar o gás, mais o ar dentro de mim parece que vai romper do meu peito. Quero arrancar a pele do meu rosto e cuspir meus pulmões fora para tentar me livrar do gás que eu sei que está entrando no meu organismo. Cada vez que puxo o ar sinto veneno puro no meu corpo.

A risada do Coringa faz uma combinação macabra para o momento e cada vez que a percebo, fica mais alta e estridente. Meus olhos ficam pesados, e minha cabeça que já não se segurava bem, acaba pendendo para frente. Antes que meus olhos se fechem, eu só consigo ver um par de coturnos negros se aproximando de mim, coturnos militares pesados com calças beges dentro deles. Coturnos que eu reconheceria em qualquer lugar.
Jason.

When It Breaks || Jason ToddOnde histórias criam vida. Descubra agora