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~ Uma semana depois... ~

Eu e Nick não nos desgrudamos há uma semana.

Todos os dias nós ficamos juntos na aula, no almoço, na hora da saída ele me trazia para casa, e a tarde nós tínhamos mais um encontro, já quê seis horas juntos não era suficiente.

Meus olhos... Na verdade, eu toda brilhava por dentro da pura felicida- de de um amor recíproco.

Até um mosquito entrar no meu olho enquanto Nick me levava pra sua casa depois da escola e acabar com a vibe romântica.

ー Olha para mim ー Nick ria ajoelhado no tapete a minha frente, ao tentar tirar o mosquito do meu olho.

ー Nick, e se eu ficar cega? ー ele riu mais.

ー Você não vai ficar cega ー assegurou assoprando meu olho.

ー Viu? Saiu ー me mostrou o bichinho intrometido, e nós dois fomos à cozinha fazer um lanche antes de começar a nossa maratona de filmes.

"A fuga das galinhas", passava na seção da tarde e nós nos acomodamos no sofá para assistir.

Passamos tanto tempo sentados vendo o filme, que o céu azul lá fora se trans- formou em um aguaceiro inesperado.

ー A sua avó já não devia ter voltado a essa hora? ー perguntei lembrando que a vó de Nick saiu para vender seus bolos, e não voltou.

ー Vou ligar pra ela ー ele falou preo- cupado.

Algumas ligações perdidas depois, Nick já estava tão atordoado que resolveu sair em baixo da chuva para procura-la.

Eu não podia deixa-lo sozinho então insisti para ir junto.

E foi assim que nós dois começamos a caminhar no temporal forte, em dire- ção a barraca da Dona Maria.

ー Vó! ー Nick exclamou ao vê-la caída na calçada.

ー VÓ! ー ele se ajoelhou ao lado dela, e tentou acorda-la enquanto eu ligava para a ambulância com as mãos tre- mendo e os olhos quentes de lágrimas mesmo no tempo frio.

🌷🌷🌷

Meia-hora depois nós estávamos do lado de fora da sala de operação assistindo tudo através da parede de vidro.

Se você me perguntar para descrever exatamente como aconteceu, acho que não vou saber responder.

Tudo parecia um borrão, as sirenes da ambulância, os médicos correndo de um lado para o outro, Nick tão apreensivo ao ponto de quase ter um ataque.

O barulho incessante do monitor das batidas do coração... Parou.

A linha se tornou reta e Nick caiu no chão como se tivesse acabado de ver o mundo despencar diante de seus olhos.

Eu me abaixei para abraça-lo, fornecer conforto, segura-lo em meus braços enquanto o mundo caia em pedaços.

Eu não conseguia acreditar que ela tinha morrido.

🌷🌷🌷

Três dias depois, algumas coisas não mudaram.

Eu continuava segurando Nick em meus braços, a chuva ainda caia sobre nós e a ficha também não havia caído.

Mesmo assistindo o funeral, mesmo parada em frente ao túmulo. Eu ainda tentava acreditar que tudo estava bem, e Nick não estava sozinho no mundo.

Minha mão acariciava o braço dele, e a outra segurava um guarda-chuva.

"Eu não vou deixar ninguém machuca-lo, e nunca vou sair de seu lado" fiz uma promessa sussurrada enquanto encarava o rosto atormen- tado do meu amor.

ー Já faz um tempo que os criminosos da nossa periferia mandam os vende- dores darem dinheiro para poder vender no lugar, nunca imaginei que fossem tão longe ao ponto de assus- tar uma senhora que não pôde pagar e só queria vender os seus bolos, o susto realmente foi fatal, não consigo acreditar que ela teve uma parada cardíaca ー o pai de Nick falava, mais para ele mesmo, como se estivesse recontando os fatos.

Ele nem se importou em colocar uma roupa preta em sinal de respeito ao comparecer no cemitério.

No entanto, seus olhos se inundaram ao perceber que não era uma brinca- deira, ela não voltaria mais.

ー Realmente garoto, você conseguiu, matou e afastou todos os que se impo- rtam com você, deve ser amaldiçoado ou algo assim... ー ele se aproximou de Nick, e em um piscar de olhos o agar- rou pela gola da blusa.

ー Por que você é assim?! ー gritou.

ー Deixa ele em paz! ー exclamei o puxando pra longe do meu namorado, e criando uma barreira entre eles.

Eu tinha vontade de gritar umas boas verdades na cara dele, mas aquela não era a hora e nem o lugar.

Nick estava destruído por dentro, era com isso que eu tinha que me preocu- par agora.

Meu namorado se virou indo embora, e eu o deixei ter o seu espaço o assis- tindo cruzar a rua e desaparecer.

🌷🌷🌷

Mais tarde, eu decidi que já tinha dado espaço o suficiente para Nick e fui atrás do mesmo.

Fiquei assustada quando notei que ele não parecia estar em lugar algum.

Até lembrar do prédio onde nós tivemos uma briga da última vez, e ir até lá rezando para encontra-lo.

Subi até o décimo-terceiro andar, e fiquei sem fôlego ao exclamar: "Nick?!", Olhei para o lado e lá estava ele.

Sentado no chão, com as costas en- costadas na parede, as roupas pretas do velório, e olhos inchados de choro.

Só sei que corri até ele, e o abracei como se ele estivesse afundando e eu fosse sua única chance de sobreviver.

Ele me agarrou de volta e escondeu seu rosto na curva entre o meu pescoço e meu ombro deixando as muralhas da indiferença caírem, e me mostrar o que estava sentindo.

Limpei o máximo de lágrimas que conseguia da sua face, e as joguei longe.

ー Ela era tudo o que eu tinha, Tulipa... Não só por ser minha tutora, ela era minha única família, amiga, símbolo de amor e carinho eterno e eu a perdi, ela sempre queria cuidar de mim, mas eu não consegui cuidar dela... ー a sua voz quebrou ao pronunciar a última frase.

ー Você não teve culpa nenhuma, amor, fez tudo o que pôde ー assegu- rei fazendo carinho em seu cabelo es- curo.

Nós dois choramos juntos nesse dia.

Quase pude ouvir as raízes do nosso amor ficando mais profundas, mais fortes ao passar por isso juntos.

ー Você ainda me têm, eu ainda estou aqui e nunca vou sair do seu lado ー repeti a promessa em seu ouvido, para garantir que ele se lembraria.

Algum tempo depois, os criminosos responsáveis pela morte da dona Maria, receberam o que merecem e vão ter que pagar na cadeia.

A promessa que eu fiz a ela e a Nick ecoa em meus ouvidos todas as manhãs.

Eu nunca fui do tipo de garota que tenta salvar garotos tristes, anjos caídos.

Mas sinto que atravessaria o fogo do inferno, toda a extensão da terra, iria até o céu, faria o possível e o im- possível diariamente para garantir que ele ainda se lembre, de como é ser amado.

"Dear Lord, when I get to heaven, please let me bring my man."