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Capítulo 6 - Entre a Determina??o e a Saudade

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Após o café da manhã com Cassidy e Caroline, Miranda as deixou na escola com um sorriso raro, mas genuíno. A conversa com suas filhas naquela manhã a deixara esperançosa, quase animada, algo que não sentia há tempos. Estava decidida a fazer algo diferente, algo que unisse sua família e talvez desse um novo passo em direção ao que ela realmente desejava. Durante o caminho de volta ao carro, a ideia surgiu em sua mente como um raio: incluir Andrea em um passeio em família.

As meninas sempre gostaram de Andrea. Desde antes de se envolverem, Andrea tinha um jeito especial de lidar com Cassidy e Caroline. Miranda se lembrou de quando Andrea não mediu esforços para conseguir o manuscrito do próximo livro de Harry Potter, um feito que ela mesma considerava impossível, mas que a assistente realizara com brilhantismo. Essa dedicação genuína às suas meninas era algo que Miranda nunca havia esquecido – nem poderia.

Durante o breve relacionamento que tiveram, Andrea havia se tornado uma presença constante e querida em suas vidas. Passeios ao parque, visitas ao museu e até mesmo tardes de brincadeiras simples em casa: Andrea participava de tudo com entusiasmo, como se estivesse destinada a fazer parte daquela pequena família. Pensar nisso aqueceu o coração de Miranda, mas também a encheu de um certo nervosismo. Andrea vinha se esquivando dela desde o reencontro, algo que Miranda sabia que precisava mudar.

Ao chegar à Runway, Miranda estava cheia de determinação. Com passos firmes, atravessou o corredor principal, cumprimentando Emily com um gesto rápido e seco, e entrou em sua sala. Nem se deu ao trabalho de tirar o casaco; pegou imediatamente o telefone e discou diretamente para o departamento onde Andrea agora trabalhava no The Mirror. Ela sabia que Andrea vinha recusando suas ligações no celular pessoal, mas Miranda Priestly não era alguém que desistia facilmente.

Do outro lado da linha, a recepcionista atendeu com uma simpatia mecânica:
— Departamento de Cultura do The Mirror, em que posso ajudar?

— Quero falar com Andrea Sachs. Imediatamente — Miranda exigiu, o tom frio e autoritário de sempre.

Houve uma breve pausa, seguida pela resposta:
— A senhorita Sachs não está no momento.

Miranda apertou os lábios, sua paciência já escassa.
— Então, informe-me onde ela está e quando estará disponível.

A recepcionista hesitou, mas respondeu educadamente:
— Andrea está em viagem internacional. Ela foi ao Brasil para entrevistar a atriz Fernanda Torres. Ficará fora por duas semanas.

Miranda congelou por um momento. Brasil? Duas semanas? Aquilo era completamente inesperado. Ela desligou o telefone sem dizer mais nada, deixando a recepcionista atônita do outro lado da linha. Sentou-se na cadeira de seu escritório, encarando a mesa com um misto de frustração e... saudade.

Era difícil admitir até para si mesma, mas a ideia de Andrea tão longe, em outro continente, a incomodava profundamente. Não era apenas a questão do trabalho ou do fato de que Andrea estava se esquivando dela. Era o vazio que Andrea deixava em sua vida, algo que Miranda tentava mascarar com sua rotina exaustiva e seu controle absoluto.

Ela se levantou e foi até a janela, observando a vista da cidade. O que Andrea estaria fazendo agora? Será que já havia começado a entrevista? Estaria pensando nela? Miranda não conseguia se livrar dessas perguntas, e a angústia de não ter controle sobre a situação era quase insuportável.

Miranda voltou à sua mesa e pegou o telefone novamente, dessa vez ligando para Emily.
— Emily, adie minhas reuniões da tarde. Preciso de um momento para reorganizar a agenda.

Emily tentou protestar, mas Miranda a interrompeu sem piedade.
— Apenas faça o que estou pedindo. Agora.

Ao desligar, Miranda se permitiu um raro momento de vulnerabilidade. Sentou-se novamente, passou a mão pelo rosto e respirou fundo. Andrea estaria fora por duas semanas. Duas semanas em que Miranda teria que lidar com a ausência da mulher que tanto mexia com ela.

Por fim, decidiu que precisava ocupar a mente. Pegou um bloco de notas e começou a planejar o final de semana com as meninas. Se Andrea não poderia estar com elas nesse momento, Miranda faria o possível para se concentrar no que estava ao seu alcance: ser a melhor mãe para Cassidy e Caroline. Contudo, no fundo de sua mente, o pensamento de Andrea no Brasil, vivendo aventuras e momentos que Miranda não podia compartilhar, a acompanharia como uma sombra constante.

Miranda tentou, em vão, focar no trabalho. Os compromissos do dia estavam lá, implacáveis como sempre, mas sua mente parecia ter vontade própria, desviando-se constantemente para o mesmo assunto: Andrea Sachs no Brasil. A ideia de Andrea estar cercada de pessoas interessantes e sedutoras, vivendo novas experiências em um país conhecido por sua paixão e beleza, era como uma ferida latejante que ela não conseguia ignorar.

Sabia que o Brasil tinha fama de ser o lar de homens e mulheres incrivelmente bonitos, donos de uma confiança e carisma que poderiam deixar qualquer um encantado. E Andrea, com sua naturalidade e sorriso contagiante, certamente chamaria atenção onde quer que fosse. Miranda mordia o lábio inferior enquanto revisava mentalmente tudo o que sabia sobre o país. Os brasileiros tinham a reputação de serem hospitaleiros, afetuosos e apaixonados por estrangeiros. Andrea, com sua sensibilidade e capacidade de cativar as pessoas, seria um alvo fácil para esses encantos.

A notícia de que Andrea estava lá para entrevistar Fernanda Torres só tornava tudo pior. Fernanda era uma atriz de prestígio, conhecida por sua inteligência, humor afiado e elegância natural, além do seu nome estar mundialmente estampado em todas as mídias sociais, após ganhar o Globo de Ouro e o Oscar de melhor atriz. Miranda não podia evitar imaginar as duas conversando, rindo, talvez compartilhando confidências durante a entrevista. Seria tão fácil para Andrea se encantar por alguém tão carismático, ainda mais em um ambiente descontraído e envolvente.

Miranda sentiu um nó apertar em seu peito, e seu humor azedou de vez. A ideia de Andrea se interessar por outra pessoa, de começar a construir memórias novas que não envolvessem ela, era insuportável. Uma chama de ciúmes ardia dentro dela, algo que Miranda raramente permitia se manifestar. Não era do tipo que perdia o controle de suas emoções, mas naquele momento, a ausência de Andrea era um peso que ela não conseguia carregar com a mesma graça com que lidava com os desafios do trabalho.

Com isso, seu dia se transformou em um verdadeiro inferno. Miranda se pegava repassando mentalmente cenários fictícios em que Andrea era cortejada por alguém: um garçom charmoso em um restaurante à beira-mar, um colega de trabalho encantador que a acompanhava durante a viagem, ou até mesmo Fernanda Torres. Ela se odiava por isso, mas não conseguia evitar. Andrea era sua fraqueza, e agora, estava a milhares de quilômetros de distância, fora de seu alcance, fora de seu controle.

A tensão acumulada começou a transparecer em pequenos gestos. Miranda, sempre meticulosa, derrubou um copo d'água em sua mesa, algo que não fazia há anos. Suas respostas para Emily e Nigel foram ainda mais curtas e ácidas do que o habitual, deixando ambos ainda mais inseguros sobre como proceder. Até mesmo as flores recém-colocadas em seu escritório pareceram perder o frescor diante de sua energia carregada.

Ao final do dia, Miranda, exausta emocionalmente, parou em frente à janela de sua sala, olhando a cidade que começava a escurecer. Seu reflexo no vidro era de uma mulher aparentemente no controle de tudo, mas por dentro, estava em pedaços. Ela sabia que precisava superar essa fraqueza, essa obsessão. Porém, ao mesmo tempo, Miranda também sabia que Andrea era diferente de tudo o que já havia experimentado antes. Andrea não era apenas uma assistente, uma amante ou alguém passageiro em sua vida. Andrea era a mulher que, sem permissão, havia roubado seu coração – e Miranda não sabia se algum dia conseguiria tê-lo de volta.

ENTRE O DESEJO E O MEDOOnde histórias criam vida. Descubra agora