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CAP?TULO 10 - To Live, Just a Little

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Do lado de fora, o frio ainda cortava o ar, mas o sol começava a se arriscar entre as nuvens. Tudo parecia meio cinza. Meio vivo. Caminhamos em silêncio por um tempo, as botas pisando no chão molhado de sereno, o som dos nossos passos eram o único barulho.

— Ainda acho estranho quando tudo tá quieto assim.

— É....parece que está tudo em paz, mas nunca dá para confiar totalmente. — Carl respondeu, ajeitando o seu chapéu na cabeça.

Percebi quando ele olhou para o céu por um instante, como se estivesse procurando por algo. Talvez uma resposta. Ou só talvez estivesse cansado, assim como eu.

— Acho que nunca vai voltar a ser como era. — Soltei, sem pensar.

— E se voltar.... nunca será como era antes. Vai ser diferente. As regras não se aplicam mais.

O silêncio que se seguiu foi pesado, mas confortável. Aquele tipo de silêncio que se seguiu pesado mas confortável.

A brisa fria passou por nós, levantando um pouco de poeira do chão e balançando os fios rebeldes dos meus cabelos presos.

Era estranho como o mundo parecia tão quieto agora — como se estivesse esperando, segurando o fôlego, prestes a desmoronar de novo a qualquer instante.

Olhei em volta, reparando nos detalhes pequenos que o tempo não conseguiu apagar: o som distante das folhas farfalhando. O cheiro de terra molhada depois da última chuva de verão, o sol lutando para atravessar as nuvens. Havia beleza ainda, perdida entre os escombros.

Mas era uma beleza triste, solitária.....

Carl continuava parado, a mão descansando perto da arma, como se a paz fosse apenas uma pausa e não uma conquista. E talvez fosse mesmo. Nada era garantido. Nada permanente, nem lugares e muito menos pessoas.

A verdade era essa: a gente seguia em frente porque não tinha escolha. Um passo depois do outro, fingindo que sabíamos o que estávamos fazendo. Por que não tínhamos escolha.

Mas, por dentro, todo mundo carregava cicatrizes que o tempo não curava.

Só aprendemos a conviver com elas. Como fantasmas sussurrando no escuro. E mesmo assim... ali estávamos. Vivos. Por enquanto.

Porque viver nesse mundo não era sobre esquecer. Era sobre continuar, mesmo lembrando de tudo. Das perdas. Do sangue. Dos nomes que a gente não ousava mais dizer em voz alta. Cada passo era uma escolha silenciosa: seguir em frente ou se entregar ao peso do que ficou pra trás.

E naquele momento — com o sol nascendo tímido, com o gosto doce de abacaxi na boca e o frio batendo no rosto — eu percebi: sobreviver não era mais o bastante. Eu queria viver. Nem que fosse só um pouco. Nem que fosse só hoje.

Mesmo assim o medo era constante, medo de morrer, medo de perder....

— Annie.. tudo bem?

Demorei pra responder. Talvez porque não tivesse certeza do que dizer.

Talvez, porque "tudo bem" fosse algo que dizíamos por costume, não por verdade.

— Sim, tudo bem.

Eu menti, para não ficarmos conversando sobre isso, eu não tinha cabeça pra isso. Porque sobreviver já estava sendo bem complicado e exaustivo.

O garoto olha pra mim como se soubesse que eu estava contando uma meia verdade. Mas ele não insistiu em me perguntar mais sobre o assunto.

Caminhamos mais um pouco. O som das nossas botas ainda era o único a preencher o vazio entre uma frase e outra. Era assim com a gente. Silêncios longos, mas nunca desconfortáveis. A gente entendia o que o outro não dizia.

— Sabe... — ele começou, ajeitando o chapéu mais uma vez. — Eu também queria. Viver. De verdade.

Meu peito apertou. Olhei pra ele, mas Carl não me encarava. Estava com o olhar perdido nas árvores secas ao nosso redor.

— Às vezes parece errado querer isso. Como se... como se fosse desrespeitar quem não chegou até aqui.

— Eu sei. — murmurei olhando para as folhas secas. — Mas talvez seja justamente por eles que a gente deve querer.

— Eu vivo pensando nisso Annie. Chega a ser angustiante.

— É estranho não é ?

— Muito. As vezes eu me sinto perdida, não sei o que fazer.

Continuamos andando lado a lado, sem trocar mais nenhuma palavra. O silêncio entre nós era denso, mas não desconfortável — era como se carregasse tudo o que não conseguimos dizer em voz alta.

As árvores secas rangiam com o vento fraco, e o farfalhar das folhas sob nossas botas parecia contar uma história, de perdas e sobrevivência. De vez em quando, eu observava pelo canto do olho. O jeito que ele mantinha o chapéu firme na cabeça, os olhos sempre atentos, mas cansados.... era como se cada passo custasse mais do que deveria.

Senti o peso do cansaço nos ombros. Não era só o físico — era o acúmulo dos dias,das escolhas... da vida! Das pessoas que deixamos pra trás... das pessoas que morreram.

Eu só queria que tudo voltasse como era antes de tudo.....

Carl parou de repente, como se uma ideia o tivesse atingindo no meio do caminho. 

— Ás vezes eu fico imaginando... se a gente pudesse realmente recomeçar. Sem medo, sem olhar por cima do ombro o tempo todo.

Eu suspirei, olhando para o céu cinza.

— Um lugar onde o sol fosse só sol, e não um sinal de perigo.

Carl se virou para mim, com um meio sorriso triste.

— Talvez a gente nunca tenha um lugar assim Annie... talvez o que reste seja só a gente mesmo, tentando achar sentido ao caos.

Engoli em seco, sentindo o nó na garganta apertar.

— Então a gente se agarra ao que tem né ? Mesmo que seja pouco.

— Exato!! — Ela ajeitou o chapéu, desviando o olhar.

Por um instante, nossos olhares se cruzaram. Foi só um segundo, mas carregava uma tensão silenciosa, um reconhecimento mudo do que nenhum de nós tinha coragem de dizer em voz alta.

Ambos éramos sobreviventes. Ambos tinham perdido alguém.

O vento frio levantou os fios soltos do meu cabelo, por um momento eu me senti tão vulnerável.

— Eu estou com medo Annie. — ele finalmente falou quase num sussurro.

— Eu também.

E era isso. Dois corações cansadas, tentando não se afogar em um mar de medos.

E o sol ali, ainda lutando para atravessar as nuvens. Como a gente.

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Bem, esse foi o capítulo de hoje... não sei se desenvolveu muito, mas as ideias estavam martelando na cabeça e eu precisava colocar no papel. Às vezes a história anda em passos pequenos, né? Mas cada pedacinho conta. Espero que, mesmo assim, vocês tenham curtido esse momento com os personagens. Até o próximo!

Until the last breath - Annie & Carl Grimes Onde histórias criam vida. Descubra agora