Almas Criptogradas

                                                                                                     Capítulo 1

      "My weed'll hit your chest like a double-barreled gaugean
 I'm a black grenade that'll blow up in your face"

        Under The Influence - EMINEM

                                                                                                    Arya Müller

   Tive que aprender a viver com demônios.

   Não me lembro a última vez que acordei sem vontade de apenas me deitar novamente e nunca mais acordar. É assim desde os meus dez anos, quando minha vida de merda virou o próprio inferno.

   Arya Müller. Nunca pensei que sentiria tanto nojo de um sobrenome como sinto do meu. Sobrenome esse que me foi passado do meu pai, o ser que mais repúdio no universo.
  
    Um homem que espanca a própria filha pra descontar a raiva não tem o direito de ser chamado de homem, muito menos de pai. Bom, pelo menos é o que eu penso.

   Mais um dia, uma nova batalha. Não vejo problemas em ficar na cama até que meu corpo apodreça e se decomponha lentamente, restando apenas minha ossada espalhada pelos lençóis.

   Mas ainda encontro um resquício de motivação em meu interior, movida pela única pessoa que ainda se importa se estou respirando nessa vida de merda.

   Sento-me na cama, o som de vidros se quebrando alcançando meus ouvidos. Aquele filho da puta já está quebrando tudo de novo, já deve estar bêbado em plenas...08:45 da manhã?! Puta merda, atrasada pro colégio de novo?! Já devo ter perdido a primeira aula. Ótimo, obrigada, maconha!

   Salto da cama, já tirando a roupa velha que usava como pijama, trocando-a pelo uniforme cafona, porém obrigatório, da Cooper Gray School, apelidada pelos alunos de CG.

   Ainda tenho certeza de que mandam as garotas usarem essa saia ridícula porque aquele fim de mundo é repleto de velhos que amam uma jovenzinha estudiosa, pobrezinha e indefesa. Eca!

   Abro a porta do quarto, ajeitando a gravata, mochila pendurada nos ombros e camisa amassada, só para encontrar Benjamin Nolan, capitão do time de basquete da CG, saindo do quarto da minha mãe. Aquela puta, além de aceitar "trabalhar" com os garotos do colégio, ainda teve o mau gosto de aceitar dar para esse cara? Decepcionante, mãe.

   Com um sorriso nojento, Benjamin cumprimenta:

   - Bom dia, Anna.

   - Arya. Meu nome é Arya.

   - Anna, Arya, que seja! - ele me olha de cima a baixo - Já está atrasada pra escola, não acha?

   - Isso também serve pra você, não acha? - retruco, o sorriso dele se alargando ainda mais.

   - Vale a pena depois da noite que tive ontem. Aliás, sua mãe tem uma boceta do caralho, e nossa, que sentada ela...

   - Tô pouco me fodendo pra sentada da minha mãe, babaca!

   Não espero nenhuma resposta, descendo as escadas e saindo pela porta da frente, ignorando os cacos no chão, os gritos do meu pai...espero que essa casa exploda com todos eles dentro!

   O caminho até o colégio é monótono como sempre. Pessoas fazendo caminhada, passeando com cachorros, carros indo e vindo em um fluxo interminável e repetitivo. Continuo andando tranquilamente, já estava atrasada mesmo, não adiantaria correr.