抖阴社区

48

43 6 0
                                        

Letícia 🍑

acordei com dor na bunda
Na bunda ao invés de na barriga

E uma dor insuportável na coluna

E uma vontade imensa de mija, levantei com esforço igual uma tartaruga virada, fui até o banheiro e nada.

Aí, do nada, veio uma dor. Uma dor que começou nas costas, desceu pra barriga e foi pra alma. Eu me apoiei na pia, com o cabelo grudado na testa, suando que nem porca no sol.

é agora.

Leh: Ryan — grito desesperada — seu comédia

Começo a gritar por ele desesperada, grito cada vez mais alto.

as 3 da manhã e o bebê resolve vir para o mundo, bem no carnaval.

Ryan veio correndo tropeçando na merda do ventilador, com a cara amassada de sono.

Falcão: qual foi ? Tá chapando

Leh: A BOLSA ESTOUROU, CARALHO! EU TÔ TODA MOLHADA, TÔ TENDO CONTRAÇÃO

Ele arregalou os olhos, e ficou mais branco que papel, parece até que vai parir no meu lugar

Só correu pra pegar a mochila que tava pronta há DOIS MESES (por insistência minha, óbvio, porque homem é um bicho que vive achando que vai dar tempo de tudo).

Comecei a sentir uma dor nas costas. Uma dor FILHA DA PUTA. Subia, descia, parecia que minha coluna tava sendo arrancada com um alicate.

Leh: vamo logo Ryan porra — grito — to sentindo o bebê descendo pelo meu cu.

ele aparece pálido, e colocou o dedo no meu cu
NO MEU CU

Falcão: vi esse bagulho numa série — diz pegando o celular e mandando mensagem pra alguém — mo fita bê.

Entramos no carro , e parecia uma eternidade para chegar no postinho daqui.

sinto sendo rasgada por dentro.

Chegamos no postinho, berrando dentro do carro.

me botaram numa cadeira de rodas e a enfermeira vem e solta a seguinte frase que meu cu trancou.

— tá com nove e meio, vai ser normal sem anestesia

Tá maluco.

Ai meu cu

Leh: como é que é ? Tá maluca — olho para o Ryan desesperada — faz alguma coisa falcão

falcão me olha, com um olhar preocupado e sem saber o que fazer. ele pega na minha mão, e alisa meu cabelo tentando em acalmar

Sinto minha alma deixando meu corpo, começo a me tremer inteira, olho para o teto e começo a chorar cheia de angústia.

ninguém me ouviu, gritava pedindo a anestesia e simplesmente me ignorava.

Ryan começa a ficar nervoso com as médicas, gritando com elas também e acabam tirando ele de lá.

eles abre minha perna numa maca, e tudo virou um barrão de dor, grito e desespero.

e Ryan entra nervoso ma sala indo segurar minha mão.

Entre uma contratação e outra.

Bateu.

minha mãe morreu no parto, me parido

Leh: será que eu vou morrer também ? — sussurro

ele me encarou sem entender

Falcão: não vai pô — beija minha mão — você é forte pra porra, pode pá que isso não é nada pela força que você tem. Tô aqui bê por nós

ele fala com a voz ronca, aperto a mão dele com força.

Comecei a empurrar.
A dor foi o inferno, sem exagero.
Parecia que tavam arrancando meu útero com a unha.

empurrei.

Com toda a força da minha alma.
Com a dor da saudade de uma mãe que eu nunca conheci.
Com o medo de morrer como ela.

E tudo para quando escuto o chorinho

Chorinho baixo e miado, que me desmontou inteira

Colocaram o bebê no meu colo, quietinho molhado e meio roxinho.

Falcão: moleque veio gatão pode falar pô — se gaba

e veio a cópia todinha do Ryan, igual no sonho.

Leh: ele é feio mas é meu — brinco admirando meu filho — tem meu nariz mas sua cara feia azedou tudo

a gente riu.
e nasceu uma vida  no meu do nosso caos.
e ele encarava o Ruan tudo bobão, com um sorrio surreal. Nem parecia o mesmo

Cresci sem mãe, e virei uma. 

Que ironia. 

meu coração se esquentou.

Um lance Onde histórias criam vida. Descubra agora