Letícia 🍑
acordei com dor na bunda
Na bunda ao invés de na barrigaE uma dor insuportável na coluna
E uma vontade imensa de mija, levantei com esforço igual uma tartaruga virada, fui até o banheiro e nada.
Aí, do nada, veio uma dor. Uma dor que começou nas costas, desceu pra barriga e foi pra alma. Eu me apoiei na pia, com o cabelo grudado na testa, suando que nem porca no sol.
é agora.
Leh: Ryan — grito desesperada — seu comédia
Começo a gritar por ele desesperada, grito cada vez mais alto.
as 3 da manhã e o bebê resolve vir para o mundo, bem no carnaval.
Ryan veio correndo tropeçando na merda do ventilador, com a cara amassada de sono.
Falcão: qual foi ? Tá chapando
Leh: A BOLSA ESTOUROU, CARALHO! EU TÔ TODA MOLHADA, TÔ TENDO CONTRAÇÃO
Ele arregalou os olhos, e ficou mais branco que papel, parece até que vai parir no meu lugar
Só correu pra pegar a mochila que tava pronta há DOIS MESES (por insistência minha, óbvio, porque homem é um bicho que vive achando que vai dar tempo de tudo).
Comecei a sentir uma dor nas costas. Uma dor FILHA DA PUTA. Subia, descia, parecia que minha coluna tava sendo arrancada com um alicate.
Leh: vamo logo Ryan porra — grito — to sentindo o bebê descendo pelo meu cu.
ele aparece pálido, e colocou o dedo no meu cu
NO MEU CUFalcão: vi esse bagulho numa série — diz pegando o celular e mandando mensagem pra alguém — mo fita bê.
Entramos no carro , e parecia uma eternidade para chegar no postinho daqui.
sinto sendo rasgada por dentro.
Chegamos no postinho, berrando dentro do carro.
me botaram numa cadeira de rodas e a enfermeira vem e solta a seguinte frase que meu cu trancou.
— tá com nove e meio, vai ser normal sem anestesia
Tá maluco.
Ai meu cu
Leh: como é que é ? Tá maluca — olho para o Ryan desesperada — faz alguma coisa falcão
falcão me olha, com um olhar preocupado e sem saber o que fazer. ele pega na minha mão, e alisa meu cabelo tentando em acalmar
Sinto minha alma deixando meu corpo, começo a me tremer inteira, olho para o teto e começo a chorar cheia de angústia.
ninguém me ouviu, gritava pedindo a anestesia e simplesmente me ignorava.
Ryan começa a ficar nervoso com as médicas, gritando com elas também e acabam tirando ele de lá.
eles abre minha perna numa maca, e tudo virou um barrão de dor, grito e desespero.
e Ryan entra nervoso ma sala indo segurar minha mão.
Entre uma contratação e outra.
Bateu.
minha mãe morreu no parto, me parido
Leh: será que eu vou morrer também ? — sussurro
ele me encarou sem entender
Falcão: não vai pô — beija minha mão — você é forte pra porra, pode pá que isso não é nada pela força que você tem. Tô aqui bê por nós
ele fala com a voz ronca, aperto a mão dele com força.
Comecei a empurrar.
A dor foi o inferno, sem exagero.
Parecia que tavam arrancando meu útero com a unha.empurrei.
Com toda a força da minha alma.
Com a dor da saudade de uma mãe que eu nunca conheci.
Com o medo de morrer como ela.E tudo para quando escuto o chorinho
Chorinho baixo e miado, que me desmontou inteira
Colocaram o bebê no meu colo, quietinho molhado e meio roxinho.
Falcão: moleque veio gatão pode falar pô — se gaba
e veio a cópia todinha do Ryan, igual no sonho.
Leh: ele é feio mas é meu — brinco admirando meu filho — tem meu nariz mas sua cara feia azedou tudo
a gente riu.
e nasceu uma vida no meu do nosso caos.
e ele encarava o Ruan tudo bobão, com um sorrio surreal. Nem parecia o mesmoCresci sem mãe, e virei uma.
Que ironia.
meu coração se esquentou.

VOC? EST? LENDO
Um lance
RomanceNosso lance sempre foi esse caos disfar?ado de amor, onde a gente se machuca tentando se consertar.