Vitória 🌺
Minhas mãos suaram ao encarar o Benício. Engoli o seco e me senti desconfortável diante do olhar dele. Não sabia o motivo daquilo, mas devia imaginar. Eu não fui visitar ele no hospital. O motivo? Me faltou coragem.
Vitória: E-eu... me desculpa por não ter ido te visitar. Quando meu pai me contou que você estava a salvo, eu chorei de muita alegria, mas não sabia se queria me ver.
Benício piscou os olhos e sua expressão era séria. Senti um arrepio por todo o meu corpo e me sentei no outro sofá, mesmo não recebendo um convite.
Benício: Eu quero terminar. - anunciou. Franzi a testa e esperei ele continuar, mas não disse nada.
Vitória: Porque?
Benício: Eu não estou bem. - admitiu, cansado. - Quero te poupar da confusão que estou.
Vitória: Mas eu não quero isso. - protestei. - Quero te ajudar, Beni, eu sofri longe de você e agora que já está aqui, não quero ficar separada. Quero te ajudar, te amar, cuidar de você e juntos podemos superar tudo e...
Benício: Para, Vitória. - me interrompeu e o olhei, já com lágrimas nos olhos. - Estou quebrado. - disse sem me olhar. - Eu não quero te afogar no meu mar... no mar de trauma. Você é uma menina delicada e frágil demais, não quero te causar problemas estando neste estado. - franzi a testa.
Vitória: Frágil? - me encarou. - Está me tratando como se eu ainda fosse uma criança. Me doeu tudo que aconteceu com você e dormia chorando todas as noites pensando em como estava. Fiquei dias trancada no quarto com medo de te perder, angustiada de não poder te ajudar. Minha vida perdeu o sentindo, Benício.
Benício: É isso que não quero mais. Que fique triste por minha causa, porque sei que sofrerá mais do que eu. Não te trato como criança porque sei exatamente que você não é, mas só quero poupar você e todos ao meu redor do caos que estou. O destino foi bom comigo quando me aproximou de você de uma forma diferente, mas foi totalmente cruel me fazendo passar pelo que passei. - seu tom de voz era frio. - Olha pra mim, Vitória, olha como estou. - ele apontou para todos os ferimentos e meu coração se apertou. - Me lembro de como ganhei cada cicatriz do meu corpo. Cada uma. - repetiu. - Eu não sou mais o mesmo, eu sei disso. E você não será a mesma se permanecer ao meu lado e a única coisa que menos quero é que perca sua essência por causa de mim.
Vitória: Isso não vai acontecer.
Benício: Não pode garantir isso. - engoliu o seco. - Não... não tenho mais como te dar o amor que merece, eu sinto muito. A única coisa que reina em mim é o poder da vingança. - Benício me lançou um olhar frio. Mortal. Um olhar que jamais vi saindo dele e aquilo me deixou totalmente arrepiada. - E para o seu bem, fique em casa bem longe do perigo.
Vitória: Não sou uma menina indefesa, eu sei me cuidar.
Benício: Eu também achei que eu era, até passar por tudo que passei. - se levantou. - Na boa, Vitória, vai embora e segue tua vida. Eu não vou fazer isso com você.
Vitória: Eu não vou! - disse decidida e me levantei. - Quero te ajudar.
Benício: Eu não quero sua ajuda! - falou firme e alto.
Meu coração acelerou.
Esse realmente não era o Benício que eu conheço. O Benício amoroso, carinhoso, que fez tudo por mim, me ajudava quando mais precisava e estava ao meu lado quando me sentia sozinha. Aquele Benício que eu contava tudo da minha vida, me aconselhava sobre como lidar com o meu irmão, aquele que confiava a minha vida. O homem por quem me apaixonei loucamente.
Esse não era o Benício que estava em minha frente. Esse era uma versão assustadora, a qual, eu desconhecia. Alguém que falava frio, sem amor, compaixão, sem compreensão e sem vida. Era um homem com olhar possessivo e cheio de amargura. Ele não queria ajuda e não adiantava de nada entrar nessa guerra.
Vitória: Tudo bem. - minha voz falhou um pouco. - Se você quer assim, será. Mas isso não tem volta. - falei, firme. - Se você me deixar sair por aquela porta, Benício, nunca mais olho para a sua cara e nunca mais vai tocar em mim. - o encaro seriamente. - Não estou brincando.
Benício: Espero mesmo que não. - respondeu, seco. - Vai ser melhor assim, pequena. - aquilo cortou meu coração.
Vitória: Você quer tanto me proteger, mas não se dá conta que vai me afundar cada vez mais. Você é o homem da minha vida, era contigo que sonhava em casar, formar uma família, essas bobagens. Mas está destruindo esses sonhos por egoísmo.
Benício: Não é merda de egoísmo... - interrompi ele.
Vitória: É egoísmo sim! Está pensando somente em si, na sua dor, mas esquece que todos nós aqui sofremos juntamente com você. É claro que não faço descaso pelo que passou e do fundo do meu coração, Benício, se eu pudesse voltar no tempo eu jamais teria te convidado para sair naquele dia. Mas aconteceu, infelizmente. Eu também estou sofrendo e mais ainda com esse término porque achei, eu acreditei, que quando você voltasse estaríamos juntos nessa e agora, vem você com esse negócio de terminar.
Benício: A decisão já está tomanda você aceitando ou não. - disse, apenas.
Nada o convenceria. E quer saber? Esgotei minhas forças. Me rendi.
Vitória: Tudo bem. - comecei a caminhar pela porta. - Faz um favor? - o olhei por cima do ombro. - Não se arrependa, será tarde. - abri a porta e por um segundo, eu vi uma sombra em seus olhos. Era tristeza? Arrependimento?
Desviei meu olhar dele e sai de sua casa, esperando que ele me impedisse, era só um "não vai embora", mas não houve, o Benício não fez isso. Ele me deixou ir. E assim fiz.
Fechei aquela porta e, naquele dia, fechei a porta do meu coração também.
Nada voltaria para o eixo. Infelizmente.
E eu, com certeza, não era mais a mesma Vitória de quando entrei naquela casa.
_____________

VOC? EST? LENDO
Destino
RomanceApós crescerem Renato, Benício, Clarice e Vitória encaram a vida adulta com vários conflitos tanto internos quanto externos. Renato ver seu sonho de se tornar dono da Penha por um fio, por outro lado, Benício questiona suas escolhas de vida. Vitória...