James GanchoO universo tem um senso de humor doentio. Do tipo que te faz tropeçar de ressaca, cair de cara no chão e, ainda assim, te culpa por não ter amarrado o próprio cadarço.
E naquele dia, ele estava rindo da minha cara com gosto.
Acordei com a cabeça latejando e a boca seca como se eu tivesse mastigado areia. De novo.
O gosto azedo de uísque barato ainda grudava na língua, misturado ao amargor da noite anterior.
O vidro da garrafa vazia — minha companheira mais fiel — brilhava no criado-mudo, como um lembrete silencioso de que eu, mais uma vez, tinha feito as pazes com meu vício e mandado o resto do mundo se foder.
Sentei na cama, os cotovelos apoiados nos joelhos, e esfreguei o rosto com força. Minha cabeça parecia prestes a explodir.
Lá do outro lado do quarto, a voz do Morgie surgiu abafada, ainda enrolado no lençol.
— Teve uma guerra aqui ou você só bebeu o suficiente pra esquecer o próprio nome?
Revirei os olhos. — Cala a porra da boca, tô processando. Maldita dor de cabeça dos infernos.Ele riu, aquele riso debochado, a cara dele.
Morgie era o tipo de cara que parecia estar sempre chapado de sarcasmo, mas com um coração maior do que o cérebro — o que, convenhamos, não é lá grande coisa.
— Sério, Gancho. Você vai acabar desmaiando em cima de alguma menina e vai acordar pai de trigêmeos.
— Se forem parecidos comigo, vão ser lindos.
— Se forem parecidos contigo, o orfanato vai lotar, seu irresponsável.
Soltei uma risada arrastada e peguei a garrafa debaixo da cama — um restinho de alívio líquido ainda me aguardava. Trago seco.
Ardia. Me acalmava. Me matava devagar. Perfeito. Odiava as manhãs depois. Odiava a sobriedade. Ela era barulhenta, lembrava demais.
Lembrava da aposta. Lembrava da garota.
E o pior? Eu nem tinha feito nada ainda. Só olhado. Só testado. Só... existido do meu jeito. E ela já estava desmoronando por dentro.
— Vai mesmo continuar com essa palhaçada? —
Morgie perguntou, sentando na cama, com o cabelo desgrenhado e só de CUECA com uma estampa ridícula de mini cobrinhas. Era Patético.
— Qual delas? Ser lindo e gostoso?
— Essa aposta. Essa garota. Tá se divertindo com o circo?
— A plateia tá aplaudindo, não tá?
Ele jogou uma almofada em mim. Eu desviei sem nem olhar.
— Não é isso, porra. Eu só acho que ela não faz ideia do que tá acontecendo, James. E você também não.
Virei o resto da bebida. — Eu sei exatamente que tô fazendo.
Era verdade. Pelo menos para mim.
A verdade é que ela me irritava. Não pela boca desafiadora ou pelas respostas afiadas.
Mas porque me olhava como se esperasse algo bom de mim. Como se houvesse alguma parte em mim que valesse a pena.
Idiota.
Quebra de tempo
Mais tarde, na sala de limpeza, ela parecia um boneco prestes a quebrar.
Toca azul ridícula. Macacão branco que escondia tudo — e, por isso mesmo, deixava mais interessante. Ela tentava parecer altiva, controlada, mas os olhos... os olhos gritavam.

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A Perfeita Vingan?a
RomanceNa Academia Merlin, um renomado instituto onde her¨®is e vil?es coexistem em um fr¨¢gil equil¨ªbrio, Bridget, a princesa do Pa¨ªs das Maravilhas, luta para encontrar um lugar onde possa ser simplesmente ela mesma. Longe dos olhares cr¨ªticos da corte e d...