A sala comunal estava quase vazia, com alguns alunos cochichando em sofás distantes, mas a maioria já havia subido para os dormitórios. A lareira crepitava com suavidade, espalhando uma luz dourada pelas paredes de pedra.
Harry estava sentado no sofá mais próximo ao fogo, com a cabeça ligeiramente inclinada para trás, e um pedaço de pano encantado preso ao nariz. A camisa por baixo da túnica estava manchada de sangue seco, mas ele parecia mais incomodado com o silêncio do que com o ferimento.
Black ajoelhava-se à sua frente, concentrada, a varinha em mãos.
— Para de se mexer, Potter — disse, num tom firme, mas baixo.
— Já parou de sangrar. — Ele respondeu, sem muita convicção.
— Ainda tá feio. — Ela passou a varinha com cuidado sobre o osso do nariz. — E torto.
— Sempre foi um pouco torto — ele disse com um meio sorriso.
Black ergueu os olhos para ele, não riu.
— Isso não é uma competição de cicatrizes.
— Então por que tá me tratando como se eu fosse de vidro?
Ela respirou fundo, terminou o feitiço de cura, e tirou o pano do rosto dele devagar. O sangramento havia parado, o nariz estava alinhado mas os olhos de Harry ainda ardiam com raiva.
— Porque você apareceu sangrando no saguão da escola e eu achei que tivesse acontecido de novo — disse ela, mais suave.
— De novo?
— Que alguém tivesse me tirado mais uma coisa.
Ele baixou os olhos. O silêncio entre eles foi mais pesado que antes. A luz do fogo tremeluzia sobre o rosto de Moon, revelando algo tenso nos olhos, uma mistura de medo, raiva e dúvida.
— Você acredita em mim? — ele perguntou.
— Sobre Malfoy? Sim. — Ela se sentou ao lado dele, jogando o pano encantado de lado. — Mas não é só sobre ele, né?
— Eu sei que tem algo grande vindo. Eu senti no trem. Era como se alguém tivesse me empurrado pra fora do tabuleiro antes do jogo começar.
Moon respirou fundo. Não queria mentir. Mas não podia dizer a verdade. Sirius tinha sido claro. E se ela não obedecesse, ia perdê-lo. Não só Harry, Hermione, Rony, Hogwarts e o pai que acabara de recuperar também.
— Eu preciso conversar com você — disse, firme. — E quero que ouça até o fim.
