抖阴社区

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Aquilo não podia ser verdade!

- Quem é você? - O olhei, ainda assustada, de modo que minha voz se tornara apenas um sussurro.

Ele começou a rir.

- Está com medo? - Ele perguntou, sem rodeios, com cara de que se divertia. - Não sinta medo, não há motivos para te machucar. - Seu tom de voz não me acalmava; na verdade, senti mais medo.

- De todas pessoas que minha cabeça criou, você é, sem sombra de dúvidas, a mais inusitada. - Apesar de Jace agir como se soubesse das pílulas, eu sabia, ou pensava que sabia, que, na verdade, ele deveria ser apenas fruto de minhas alucinações, assim como aquele homem.

Não, ele não podia ser o mesmo cara me entregou as pílulas, aquilo seria estranho demais.

- E quem disse que sua cabeça criou tudo isso? - Ele riu com desdém. - Francamente, não acho que você seja tão criativa.

O olhei, confusa, com o divertimento sumindo cada vez mais.

- Quem é você?

- Meu nome é - ele se corrigiu, pigarreando várias vezes, antes de falar com a voz um tanto rouca. - Eu não tenho nome, e isso não é importante. A única coisa que você precisa saber é o motivo de estar aqui.

Me sentei no chão, olhando para o homem que estava começando a me assustar.

- Você não está imaginando tudo isso - ele continuou -, é tudo real. Quer dizer, é real e, ao mesmo tempo, não é.

- Isso não pode ser real, sr. Sem Nome - sorri, constrangida, ao ouvir o apelido idiota. - Se fosse real, eu não acordaria.

- Você só acorda porque tem dois corpos. Aqui, seu corpo é do jeito que você sempre desejou que fosse. Lá... Você já sabe.

De todas as minhas alucinações...

- Nada disso faz sentido.

- Eu nunca disse que fazia sentido - ele fez uma longa pausa. - Criei tudo isso para que fosse bom, não para que tivesse algum sentido. - Ele suspirou, e, depois de outra longa pausa, voltou a me explicar. - Boa parte de seus desejos se realiza aqui - franzi as sobrancelhas, tentando entender como aquele homem havia tomado conhecimento de todos os meus desejos. - Antes de te dar as pílulas, sondei sua vida, tentando descobrir se era a escolha certa - ele me olhou, respondendo a pergunta que eu não havia feito em voz alta. - Soube que não tinha muitos amigos, que não tinha namorado, que não gostava da sua etnia... e decidi ajudar.

Eu não sabia ao certo o que sentir, mas a emoção predominante foi o medo, sem dúvidas.

- Como você fez isso?

- Isso não é importante - ele baixou os olhos, continuando mais uma vez sua narrativa. - Queria ter certeza de que estava fazendo a coisa certa, e pelo visto acertei.

" Tenho procurado por muito tempo por pessoas merecedoras daqui. Você não sabe o quão difícil é achar alguém que... - Ele arregalou os olhos, e logo se corrigiu - É muito difícil achar alguém que realmente precise deste lugar. Que realmente se sinta tão perdido lá fora que, aqui dentro, se sinta em casa. - Seus olhos ficaram levemente desfocados. - Se você soubesse o quão.. difícil... saberia que... aqui.. nã...- Seu corpo começou a tremer levemente, e logo ele havia deixado de lado seu discurso e concluído com uma voz um tanto grossa. -Mas não importa, agora você está aqui.

Minha expressão deveria estar estranha, porque logo seu corpo se retesou e seus lábios se abriram irritados.

- Então - o ouvi voltar a falar, com a voz baixa -, considere-se especial, Nomi Cage, pois você conseguiu entrar em um lugar exclusivo.

Não pude evitar sorrir, apesar de ainda estar meio intimidada. 

- Por que quase todas as pessoas daqui são iguais? - acabei soltando a pergunta que estava entalada em mim há tempos.

- Porque é mais fácil para elas conviverem. Fica tudo mais fácil quando ninguém é diferente.

- Então, por que Cassie, Jace e eu somos assim?

Sua voz mudou de novo, mas pue ver um breve sorriso antes de ele se virar para as sombras novamente.

- Isso não é importante. Agora você deve ir, já sabe o suficiente. No caso de dúvidas, só me procure se for realmente necessário.

Assenti, me sentindo mal com aquela súbita mudança, e comecei a me afastar.

Saí, ainda um tanto curiosa, mas parei abruptamente quando uma dor lancinante me acometeu. Me lembrou vagamente da dor que eu sentia quando tomava as pílulas coloridas, apesar dessa dor ser mil vezes mais forte. Continuei andando, ainda sentindo meus músculos tensos, me perguntando quando aquilo iria passar.

- Ei, onde você estava? Te procurei por todos os cantos! - Jace me segurou pelos ombros, falando com uma pequena dose de violência. Assim que ele me sacudiu, a dor passou, me deixando aliviada e confusa.

- Com licença - murmurei, saindo correndo, extremamente curiosa e assustada, parando de correr apenas quando cheguei na casa, onde procurei pelas pílulas freneticamente.

Olhei debaixo da cama, desesperada, procurando pelas pílulas azuis que me levariam para um lugar onde eu poderia enxergar as cores.

- Oh, meu Deus! - Quase gritei ao ver o frasco parado, como se estivesse me olhando, debaixo da cama.

Angustiada, tomei uma pílula, aliviada por poder voltar.

Senti aquele alívio extremo, que as pílulas azuis escuro me proporcionavam, enquanto sentia meu corpo mudar suavemente.

Não havia tempo para refletir, pois logo eu estava de volta ao meu corpo real.

Apesar de quase sempre evitar me olhar no espelho, corri para o banheiro, olhando fixamente meu reflexo, quase aliviada por ele não ter mudado ou se transformado em algo medonho.

Ainda evitando pensar no que havia acontecido na casa - porque, de certa forma, não havia acontecido nada, eu é que deveria estar pirando - decidi ligar para Frederick, pensando se era ou não uma boa ideia contar-lhe o que estava acontecendo.

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