抖阴社区

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{Moon}

Segunda-Feira. O despertador tocou, para me lembrar que irei ter o primeiro dia de aulas. Gostar da escola não é o meu forte, mas sempre me disseram «se te queres livrar da escola, estuda para passares e não para chumbares.» E, realmente, faz sentido. Quantas mais vezes chumbares, mais tempo lá ficas.

Apesar de já estar acordada antes do despertador tocar, deixei-me ficar na cama. Tirei o meu braço debaixo dos cobertores e peguei no meu telemóvel, para desligar o alarme. Sentei-me, espreguiçando-me. Saí da cama e tranquei a porta do meu pequeno quarto (que apesar de pequeno tem uma casa de banho privada). Dirigi-me até lá e tranquei a porta da mesma.

Deslizei o pijama pelo meu corpo, assim como as roupas interiores, causando-me leves arrepios de frio. O espelho mesmo à minha frente, mostrava a minha triste aparência. Grandes olheiras estavam por baixo dos meus olhos cor de mel, mostrando algum cansaço. Algumas nódoas negras estavam espalhadas pelo meu corpo pálido por causa de um rapaz lá da escola me ter empurrado, propositadamente, contra os cacifos. Oh, e se aquilo magoa.

Abano a minha cabeça, na tentativa de afastar estes pensamentos. Prendo uma toalha no topo do espelho, tapando o meu aspecto asqueroso.

Entrei dentro da pequena banheira e liguei o chuveiro. As gotas de água morna batiam nas minhas costas e escorriam pelo meu corpo, aquecendo-me. Pego no champô e ponho um pouco na minha mão e, em seguida, esfrego no meu cabelo. Deixo o champô um pouco no meu cabelo enquanto, com a esponja fofa, esfrego o gel de duche no meu corpo demasiado gordo, para o meu gosto.

Depois do meu duche tomado, passei a toalha pelo meu corpo, retirando as gotas de água que por lá ficaram. Enrolo uma toalha mais pequena em torno do meu cabelo, domando os pequenos frios de cabelo preto que insistiam em cair para a minha cara. Destranquei a porta e passei para o meu quarto.

O relógio em cima da minha mesa de cabeceira marcava as sete e vinte da manhã e eu soube que ainda tinha tempo suficiente de me despachar, calmamente.

Vesti o conjunto de roupa, preparado já no dia anterior. Umas calças de ganga claras, uma camisola interior azul escura, uma camisola de lã azul da mesma cor, larga e de mangas compridas era o que protegia o meu corpo do frio neste Inverno congelante.

Caminhei de novo para a casa de banho e arrumei as toalhas no seu sítio, deixando-as a secar. Retiro a toalha que tapava o espelho e guardei-a no mesmo sítio que as outras. Penteei o meu cabelo negro, deixando-o liso. Mais tarde, irá secar e ficar de novo ondulado.

Olhei para o meu rosto. Definitivamente, tinha de fazer algo. Não lhes iria dar mais um motivo para gozarem comigo. Decidi colocar um pouco de base e corretor de olheiras. Não gosto de utilizar maquilhagem, faz-me sentir outra pessoa. Faz-me sentir outra pessoa que não eu, e em certo sentido é bom, mas também é mau. As minhas olheiras continuam a notar-se um pouco, embora mais escondidas.

Saí da casa de banho e fechei a porta. Já no meu quarto, faço a cama e arrumo o pijama que tivera trago da casa de banho. Pego no meu relógio de pulso que os meus avós que ofereceram, na minha mochila, telemóvel e chaves. Destranco a porta do meu quarto e saiu de lá, fechando a porta.

Enquanto desço as escadas, em silêncio, rezo para que os meus avós ainda estejam a dormir. Não me levem a mal, eu gosto bastante deles (mesmo muito), mas não gosto que me incomodem de manhã.

Paço pela cristaleira, na sala, mas os meus olhos forçam-se para observar aquela fotografia. Nela estava eu, os meus falecidos pais e o meu irmão desaparecido.

Calum, o meu irmão, costumava viver comigo e com os meus avós depois do acidente de avião da minha mãe e do suicídio do meu pai. Passado uns meses Calum estava diferente, todos estávamos, mas ele, ele não era o mesmo, nem um pouco. Um dia, cheguei a casa e ele não lá estava. «Talvez foi sair com os amigos, para se distrair» pensei eu. Um dia, dois, três, uma semana, um mês, dois meses, meio ano e um ano se passou. E até lá, ele nunca mais voltou.

Costumavam dizer que nós éramos gémeos. Quando eu tinha seis anos e ele sete, tínhamos quase a mesma altura e, especialmente, as mesmas feições. Calum era mais moreno que eu, saindo ao meu pai. Nós crescemos e as feições foram-se alterando, assim como a altura e a nossa estatura. Calum ficou mais alto que eu e mais escuro. Os meus olhos eram mais claros que os seus e eu era branca como a calda da parede. No entanto, as diferenças eram apenas físicas. Eu adorava-o e ele fugiu.

Suspirei, pousando a moldura de novo no seu lugar. Caminhei até à cozinha e peguei numa maça verde da fruteira, decidida a comê-la pelo caminho. Saí de casa e tranquei a porta com as minhas chaves, guardando-as na mochila, em seguida.

Quando cheguei à escola eram apenas sete e quarenta da manhã, o que queria dizer que não estaria aqui cá quase ninguém. Agarro na alça da minha mochila, nervosa pelo primeiro dia de aulas do décimo segundo ano.

De cabisbaixa, caminhava em passos lentos até à porta que me levaria do recinto escolar para o edifício onde as aulas decorrem. Elevo a minha mão pálida, com a intenção de abrir a porta, mas logo a paro quando alguém o faz primeiro, do outro lado.

Por momentos, pensei que fosse algum dos meus agressores verbais e, por isso, logo recuei um pouco para trás. Comprimi os meus lábios sustendo a respiração.

Um rapaz de cabelos verdes estava parado à minha frente, talvez à espera que eu me movesse para ela passar. Andei dois passos para trás, para que ele se pudesse movimentar. Logo ele passou por mim e um «obrigada» saiu dos seus lábios finos, mas escuros.

Apenas murmurei um «de nada» quase em silêncio.

E durante o caminho para a biblioteca, o rapaz de cabelos verdes não me saía da cabeça. Talvez seja ele um novo aluno.

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Moon  || Michael Clifford Onde histórias criam vida. Descubra agora