NÁDIA
O combinado
(Passado)
Dessand me lançou um olhar de dúvida. Eu devia ter imaginado; meu primo era um covarde por natureza.
Suspirei, tentando não demonstrar minha exasperação.
-Eles não vão saber - repeti, acrescentando: - isto é, se você não contar...
Ele continuou calado e eu finalmente explodi: - Como é, está dentro ou fora?
Ele baixou o olhar, hesitante. O que me deixou mais irritada do que já estava. Nesse meio tempo, Dora adiantou-se um passo, captando a minha atenção. Sempre destemida e de uma arrogância cativante, minha outra prima gostava de estar em meio à aventura. E se você oferecesse encrenca, ela era a primeira a topar.
-Eu estou dentro – disse, daquele seu jeito tranquilo de sempre, sorrindo de orelha a orelha.
-Ótimo – respondi, pousando os olhos em Dessand.
Além do parentesco, éramos melhores amigos. Nós nos entendíamos a perfeição, mas... Em momentos decisivos, como este, ele conseguia me tirar do sério. No mínimo, me levava a questionar intimamente o que tínhamos em comum... Penso que Dora tinha mais a ver comigo... Por outro lado, Dessand e eu tínhamos uma rara empatia, nascida da cumplicidade que nós reafirmávamos diariamente. Algo que eu não encontrava em Dora. Dessand ouvia os meus problemas e eu, os dele. Nós nos apoiávamos e era tudo o que importava.
O resto dava para administrar... Momentos como este!
-Ah, está bem – concordou ele afinal, como se me concedesse um grande favor.
Engolindo um suspiro cansado, eu me virei para os outros.
-E vocês? – perguntei aos gêmeos Kayed e Orínea, filhos do dignitário da Antusaca, em visita oficial à cidade. Eles estavam hospedados em nossa casa.
Eu não ia muito com a cara de Kayed, pois era mimado e levava uma vida de playboy. Já sua irmã, Orínea, apesar de se comportar como uma líder de torcida (deslumbrante, deslumbrada e perfeitinha), quando você a conhecia melhor, via que se tratava de apenas uma fachada. Ela era uma garota sensível, entusiasmada, e de bom coração.
No entanto, eu vinha percebendo que a garota andava estranha nos últimos dias. Toda aquela alegria dela (que me dava nos nervos) havia se evaporado. Orínea parecia até meio perturbada. Penso que a nossa pequena aventura serviria para animá-la.
Esperei pacientemente que os dois tomassem uma decisão.
Eles olharam para mim e acenaram com entusiasmo contido.
-Então, será hoje "à noite" – decidi, esfregando as mãos. E como não tínhamos noites, apenas dias perpétuos com uma luz ligeiramente atenuada, o período utilizado para dormir seria ideal para iniciarmos a nossa jornada. Quando a maioria das pessoas estivesse recolhida para dormir.
Nós iríamos nos esgueirar pelas construções desativadas - lugares proibidos, fechados por ordem do Parlatório. Mas não o faríamos pelo simples prazer de nos esgueirar. Queríamos conhecer o que existe além da cicatriz... O que pretendíamos, se fôssemos apanhados, poderia resultar em pesadas punições para nós e nossas famílias.
Considerando as lendas e suposições, nós seríamos os primeiros a realmente ir e voltar. Pelo menos era o que pretendíamos.
Tendo acertado os detalhes, eu bati palmas de alegria para espantar a irritante névoa de preocupação que eu via no olhar de Dessand.
Levantei da cama. Precisava correr se não quisesse me atrasar para a aula de ciências. Kayed e Orínea estavam de férias, mas os pais queriam que eles frequentassem algumas de nossas aulas, na qualidade de alunos ouvintes, a fim de acumular mais créditos para sua petição final¹. Dora, Dessand e eu, não estávamos, portanto, não poderíamos nos dar ao luxo de escolher as nossas aulas.

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A Guerra De O-Zaion | AMAZON COMPLETO
FantasyJá parou para pensar que nem sempre as vozes em sua mente s?o produto da imagina??o? E se você estiver sendo induzido ou induzida pela mente de uma criatura inumana? Poderia existir um stalker mental poderoso o suficiente para entrar e sair das ment...