Henrique sabia que suas palavras eram apenas um desejo, algo incapaz de acontecer. Mesmo assim dizia para si mesmo que daria um jeito de torná-las real enquanto esperava Ágatha na casa de pedra abandonada.
O cheiro de seus cabelos de laranjeira delatou a aproximação dela, antes que ele pudesse ouvir seus passos. O coração disparou e um sorriso tolo surgiu em seus lábios quando ela por fim deixou a capa vermelha cair ao meio do caminho e correu para seus braços.
— Recebi seu bilhete — ela sussurrou ao mordiscar o lóbulo de sua orelha. — Será que podemos sonhar, Lang?
— Se não sonharmos, o que nos resta? — Henrique acariciou seu rosto. Ela deixou a cabeça escorada na mão dele e sorriu.
— Então, sonhemos juntos nesse momento.
Os lábios dela encontraram os dele com paixão e saudade. A pele quente de seu corpo compartilhou calor com a dele, enquanto sentiam um ao outro nessa noite agradável de outono.
Ágatha descansava a cabeça sobre o peito de Henrique. A capa vermelha envolvia seus corpos nus no chão de flores brancas. As respirações tranquilas se equilibravam uma na outra, como se fosse um único ritmo. Henrique pensou ser a música perfeita. Acariciou os cabelos dela apreciando cada toque.
— E se fugirmos juntos? — Henrique soltou em um suspiro.
— Isso é loucura. — Ela ergueu os olhos para ele ainda com a cabeça pousada em seu peito. Os dedos faziam cócegas suaves em sua barriga. — Não tem para onde ir, sempre nos encontrariam.
— Podemos nos tornar lobos solitários.
— Provavelmente não sobreviveríamos ao ritual. — Ela beijou seu peito de modo suave e voltou a olhá-lo com ternura. — Sabe que alguns tentaram, mas raros conseguiram sobreviver para se tornarem um lobo solitário.
— Eu sou um Guardião, tenho chances.
— Mas eu não. — Ela o olhou com tristeza, e ele soube que estava certa. A princesa pousou a mão no rosto dele e sorriu delicada. — E se continuássemos assim para sempre?
— Assim, escondidos?
— Sim, conhecemos muitas histórias de Nobres que tem seus amantes. — Ela sorriu, sincera. — As alianças de casamento são apenas políticas. Ninguém se importa se há fidelidade. Ninguém é morto ou expulso por isso.
Ele enrolou uma mecha do cabelo dela em seus dedos. A ideia de permanecer ao seu lado para todo o sempre era tentadora. Contudo, como aguentaria a espera e a angústia ao saber que ela se deitava ao lado de outro todos os dias? Que era outro que ela compartilharia seus filhos, suas conquistas, sua rotina? E depois não era verdade que não haveria mortes, se seu marido o descobrisse poderia mandar matá-lo para recuperar sua honra.
Henrique amava Ágatha, mas sabia que não conseguiria ser seu amante. No entanto, não era o momento de pensar sobre isso. Ele ainda encontraria uma forma de serem felizes juntos.
Envolveu-a em um abraço apertado e fechou os olhos, tinham algumas horas para sonharem juntos antes do amanhecer.
Um rosnado ecoou ao seu lado, ao abrir os olhos avistou um brutamonte segurando os pulsos de Ágatha ao tentar carregá-la para longe. As garras e os caninos se projetaram enquanto Henrique saltava nas costas do homem. O desconhecido gritou quando sua pele foi rasgada. E virou-se também com garras para contra-atacar. Enrolada no vestido, Ágatha correu para longe.
O homem era forte e maior do que Henrique, provavelmente um dos Guerreiros, vindos com os Nobres de outros territórios. Aquele ataque não fazia sentido, o que um guarda-costas fazia ali? Henrique não estava disposto a perguntar o motivo, só sentia a ânsia de manter sua amada protegida.
Seus dentes cravaram no ombro do inimigo, este urrou. Tombaram ao chão, Henrique sobre o lobo inimigo. Os meses de treinos mostravam seus resultados, ele conseguira dominar uma criatura maior e mais forte que ele.
Uma dor aguda lhe atingiu as costas, por entre suas costelas e atravessou sua barriga. Cuspiu sangue horrorizado quando observava a ponta ensanguentada de uma lâmina de prata em seu corpo. Ao erguer a cabeça para ver quem lhe atingira pelas costas, observou o sorriso de Lúcio ao puxar a lâmina de volta.
Henrique não teve forças para revidar, apenas caiu de rosto na poça viscosa de seu próprio sangue.
E agora será que Henrique e Ágatha vão conseguir escapar? Só eu tenho ódio de Lúcio desde o início?

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O Guardi?o e a Princesa
Werewolf"Henrique sorriu. Fora assim desde a primeira vez. ?gatha ia até a "ca?ada", mas nunca se transformava em lobo. Os Nobres n?o eram adeptos a se entregarem as suas formas de lobo, n?o por divers?o. Teoricamente nem os Guardi?es, mas Henrique gostava...