Disputa Acirrada ?Jikook?

(JEONGGUK POV)
🐇🐤

Jimin olhava de um jeito estranho para a  chave de fenda, parado por um tempo, analisando, depois olhava para a mão suja de graxa, limpando na calça capri azul, e eu quase fiquei com dó pela peça de roupa perdida, quando chegar em casa ele pode jogá-lá fora porque aquela mancha nunca mais vai sair. Mas Jimin não parecia ligar, o que tornava ainda mais engraçado ele estar tão engomadinho, com sapatos lustrosos e camisa polo Pier Nine enquanto meu pai vestia uma blusa com um vereador estampado — Toninho do Gás — e bermuda jeans suja de graxa.

Ele saiu debaixo do carro e limpou o suor da testa com a manga da blusa, estendendo o macaco de rodas para Jimin.

— Agora é a sua vez, filho.

Prendia a risada ao máximo para não denunciar minha presença na garagem, atrás de uma prateleira cheia de quinquilharias do meu pai, e observo Jimin arregalar os olhos, um pouco — lê-se muito — desesperado.

— Eu vou ter que entrar aí embaixo? — Ele encarou o monza vermelho como se fosse uma equação difícil de fazer.

E meu pai poderia dizer que não, mas ele estava se divertindo a beça em fazer o Jimin de palhaço. Eu sei disso porque quando eu era pequeno, ele me ensinou a trocar o pneu de um carro e não precisa entrar debaixo dele para isso.

— Olha, pra namorar meu filho precisa saber mexer com carro. — Ele maneou a cabeça. — Imagina se lá na capital…. — Meu pai falava como se Busan fosse uma roça. — A água do monza secar? Ou o pneu furar? Vocês perderem a embreagem? E aí? Quem vai ajudar? Essas oficinas hoje em dia só sabem mexer com esses carros frescurentos, digital não sei que lá...

Jimin tremeu na base e apertou a chave de fenda como se estivesse criando coragem, o meu pai ria escondido, mas o bluezinho estava tão concentrado que nem viu.

Passei as mãos pelos cabelos e sai de trás da prateleira, como se só estivesse passando por lá sem entender a cena que se desenrolava à minha frente. Vi o momento exato que meu pai arregalou os olhos e Jimin respirou fundo, salvo pelo gongo.

— Pai, você tá assustando o Jimin, de novo?

— Nããão, imagina... — É Jimin quem responde, mas seus olhos diziam “sim” em letras garrafais. — O senhor Jeon, digo, meu sogro, posso te chamar de sogro? Então, ele tava me ensinando a mexer no seu carro.

Meu carro, pois é, eu tinha ganhado um carro. Não era um posche, muito menos um uno, nem um corsinha, talvez eu fosse gastar mais de gasolina do que se resolvesse comprar um, mas cavalo dado não se olha os dentes. E o monza até que era bonitinho, tinha o banco de trás grande então era só jogar um pano por cima e eu e Jimin podíamos aproveitar o espaço pra… pra estudar, claro, e no fim, eu ainda estaria no lucro só por não ter que pegar condução.

— Mamãe tá chamando todo mundo pra comer.

Jimin suspirou aliviado, as bochechas coradas e os cabelinhos tão arrumadinhos, enquanto caminhava até mim com um sorriso grande demais por tê-lo salvo do meu pai. Ficamos um do lado do outro em uma distância segura, porque era o primeiro dia de Jimin em casa com meus pais sabendo que éramos namorados, isso mesmo, namorados que namoram, boyfriends, novios, copains, 男朋友, sentiu inveja, Anitta? Eu e Jimin éramos amigos mais que amigos e que beijam na boca, não era uma maravilha?

Encaro meu pai de soslaio assim que Jimin vira de costas, com os dois dedos na frente dos olhos aponto para ele, como se dissesse estou “de olho” e vejo meu pai sussurrar um “mas podia ter escolhido um menos mauricinho” antes de nos acompanhar.

O pior é que meu velho sempre foi assim, desconfiado e malandro demais, — não malandro sinônimo de bandido, credo, — acredito que vocês entenderam o que estou querendo dizer, isso que é: Jeon Seungwoo gostava de brincar com a cara dos outros e testar as pessoas só para saber antes se “está bem, você pode ter meu voto de confiança”. E, bom, o bluezinho não estava isento disto, até porque Jimin estava aqui nesse dia de feriado como o cara com quem eu estava tendo um lance, minha família sabia disso (o que era bem surreal a facilidade com qual eles levaram a informação) não permitindo que o Park se livrasse dos olhares afiados de meu progenitor.