Survival ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ

By bughcitou

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Cole Sprouse quer dar uma pausa em sua vida de CEO após perder a irmã caçula em um acidente de carro. Buscand... More

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By bughcitou

Cole

Pela primeira vez, resolvi fazê-la assistir TV. Não tinha certeza se era uma das poucas coisas que ela entendia, então resolvi testar. Lili ficou o tempo inteiro estática, suas pernas cruzadas e o olhar curioso enquanto assistíamos a um filme de ação. Ela me perguntou sobre várias cenas e eu expliquei pacientemente cada uma de suas dúvidas.

— O que eles estão fazendo? — ela perguntou quando os personagens se abraçaram.

— Estão se abraçando.

— Por que? — ficou confusa.

— Porque abraços são bons.

— E para que servem?

— Para muitas coisas. Você pode abraçar alguém para dizer olá, se despedir, parabenizar por algo, para confortar quando a pessoa está triste ou simplesmente para dar carinho a quem você gosta.

— Carinho? — franziu o cenho.

— É. — assenti. — Quando você gosta de alguém, você é carinhoso com a pessoa nos gestos, palavras, ações...

— Eu acho que eu nunca fiz isso.

— Claro que fez. — quem nunca recebeu um abraço? — Você só não se lembra.

— Você pode me abraçar? Eu gostaria de saber como é.

O pedido me pegou de surpresa. Ela não sabia que aquilo poderia ser algo estranho e mais íntimo do que deveria, já que mal nos conhecíamos e não havia um motivo concreto para o contato além da curiosidade dela.

— Eu não sou muito fã de abraços. — abaixei a cabeça.

— Por que?

— Os últimos que eu dei não foram por um bom motivo...

— Qual foi o motivo?

— As pessoas queriam me confortar. — expliquei sem olhar para ela. — Porque eu estava triste.

Lili tomou fôlego para mais uma pergunta, porém eu quis fugir daquilo.

— Mas eu posso te abraçar só pra você saber como é. — falei erguendo a minha cabeça.

Ela assentiu e ficou de pé. Eu levantei também, ficando de frente para ela. Lili colocou suas mãos em meus ombros e me observou antes de envolvê-las em meu pescoço e chegar mais perto. A abracei de volta e fechei os meus olhos.

Quando ela deitou sua cabeça na curva do meu pescoço, eu respirei fundo e senti o cheiro natural que vinha dela. Seu cabelo roçou em meu rosto e eu percebi o quanto estava macio. Nem me dei conta de que acabei prologando o contato, mas afastei-me ao notar e a olhei de maneira desconcertante, mesmo sabendo que ela não entenderia a minha expressão.

— Eu achei bom. — ela disse.

— O que? — franzi o cenho.

— O abraço.

— Ah, claro. — assenti e cocei a nuca. — Como eu disse, abraços são bons.

Ela balançou a cabeça positivamente e tornou a se sentar no sofá, continuando a assistir ao filme. Eu a observei por alguns segundos, soltei um suspiro e sentei ao seu lado. Ainda era confuso tê-la ali, mas de repente eu me vi começando a gostar disso. Decidi que iria ajudá-la a tentar recuperar as suas memórias, ou pelo menos fazê-la se sentir parte deste mundo de uma maneira mais tranquila e normal. Isso seria bom para nós dois.

[•••]

Mais um dia se passou e eu levantei naquela manhã sentindo o cheiro de bacon vindo da cozinha. Quando abri os meus olhos e olhei para o outro quarto, notei que Lili não estava mais lá. Levantei da cama, calcei os meus chinelos e fui para o andar de baixo.

Lá estava ela, mexendo nos ovos que fritava na frigideira. Notei que ela usava uma das minhas camisas, mas não me lembrava de ter dado aquela para ela. Seu cabelo estava um pouco desgrenhado e eu deduzi que ela não o penteou de novo desde a vez em que o lavou.

Observei ela manusear a panela e os talheres muito bem. Ela buscou um prato e colocou os ovos nele, o deixando no balcão em seguida. Sorri involuntariamente como se estivesse assistindo um bebê dar os primeiros passos.

— Cole! — ela me chamou ao me notar ali, afastando do rosto as mechas de cabelo que cobriram seus olhos. — Eu fiz café da manhã.

— Você se lembra de como cozinhar? — perguntei curioso.

— Não. Mas eu vi você fazendo e entendi.

— Sério? — franzi o cenho. — Tão fácil assim?

Ela apenas deu de ombros e arrumou o prato com bacon, ovos e duas torradas, assim como eu havia feito antes.

— Por que está usando a minha camisa? — fiquei curioso.

— É mais... bom? — ela pareceu não ter certeza se aquele era o jeito certo de dizer.

— Confortável. — a corrigi.

— Sim. — assentiu.

— As roupas que eu comprei pra você não são confortáveis?

— São, mas as suas são mais, então eu entrei no seu quarto e peguei na sua gaveta.

— Quando? — estranhei.

— Quando você estava dormindo. — falou com naturalidade. — Prove. — empurrou o prato na minha direção e me ofereceu um garfo.

— Sabe, Lili, algumas pessoas acham bizarro terem seus quartos invadidos enquanto elas dormem. — peguei o garfo e comi um pouco. — Ah, Deus! — exclamei em aprovação. — Isso está perfeito! Tem certeza de que não se lembra de cozinhar antes?

— Tenho. — ela pegou outro garfo e começou a comer no mesmo prato que eu. — Por que você guarda aquelas imagens de pessoas na sua gaveta?

— Fotos.

— Fotos. — repetiu.

— São a minha família.

— Família é de onde você vem, quem te protegeu, te ensinou coisas e formou o seu caráter. — ela disse repetindo as exatas palavras que falei na noite anterior quando ela me perguntou no meio do filme o que era família.

— Exatamente. — concordei. — Você aprende rápido. — a elogiei.

— Tinha uma garota com uma fita vermelha em uma das fotos. Eu gostei da fita, posso usar uma no meu cabelo?

— Não. — fui direto na resposta e posso ter soado um pouco grosso.

— Não? — ficou confusa.

— Não. — repeti no mesmo tom.

Seria habitual que Lili me perguntasse o porquê, mas ao invés disso ela apenas se afastou, largou o seu garfo na pia e se retirou da cozinha. Fechei meus olhos por um instante e respirei fundo, me sentindo idiota por ter falado naquele tom com ela.

Fui atrás dela e a encontrei na varanda dos fundos olhando para o jardim com um semblante de seriedade.

— Lili? — a chamei.

Ela olhou para mim e depois tornou a observar o jardim. Caminhei para mais perto e parei ao seu lado.

— Você ficou chateada?

— Não sei. Só sei que não gostei de ouvir você falar daquele jeito. Me deixou com vontade de me afastar e não olhar mais pra você.

— Você ficou brava. E tem razão em se sentir assim, eu sinto muito. Me desculpe. Não vou ser mais grosso com você.

— Como posso acreditar? — olhou-me de relance.

— É uma promessa.

— O que é uma promessa?

— Algo que é inquebrável. Significa que eu estou fazendo um compromisso com você. E eu prometo que não serei mais grosso.

Ela relaxou e deixou um pequeno sorriso desabrochar no canto de seus lábios. Prendi o meu olhar naquela pequena curva e soltei um suspiro involuntário. Ela era fofa de um jeito absurdo.

— Você não pode usar uma fita vermelha. — eu disse com mais tranquilidade dessa vez. — Mas eu posso prender o seu cabelo. — aproximei minha mão do rosto dela e afastei seu cabelo da testa. — E temos que refazer esse curativo. — me referi ao machucado em sua cabeça.

Retornamos para dentro da casa e fomos até a sala. Pedi que ela esperasse e subi até o andar de cima, onde puxei a pequena escada que dava para o sótão. Tinham várias coisas guardadas ali e entre elas eu poderia achar algum elástico ou prendedor de cabelo. Primeiro eu procurei pela caixa com as coisas da minha mãe, mas quando não encontrei fui até a caixa com o nome da Katy.

Ajoelhado no chão, observei a caixa por alguns instantes antes de tomar coragem para abrir. Aquelas eram as nossas coisas de verão, de quando íamos passar as nossas férias ali. Tudo o que ficava velho ou que não queríamos mais usar ia parar no sótão.

Abri a caixa e vi alguns brinquedos, acessórios, CD's, uma coleção de conchas, três diários e uma pilha de fotos polaroid. Meus dedos tremeram quando eu peguei as fotos e comecei a olhá-las uma por uma. Lembro-me de Katy andando para lá e para cá com a sua câmera, fotografando tudo o que podia. Havia fotos da minha mãe com as minhas tias fazendo o almoço do dia da independência, outras do meu pai com os meus tios no churrasco, algumas dos nossos primos na praia, no jardim e no vilarejo.

De repente, me deparei com uma foto dela. Aquela foi tirada por mim. Ela estava com um lírio atrás da orelha, tinha os braços abertos e os olhos fechados enquanto sorria. Era incrível o tamanho do amor dela pelos lírios.

Uma lágrima caiu sobre a foto e só então notei que eu estava começando a chorar. Um soluço escapou da minha garganta e eu coloquei aquela foto contra o meu peito, me deixando lamentar por alguns minutos. Era torturante pensar que a minha irmã se foi tão precocemente e por algo que eu poderia ter evitado se tivesse a colocado em primeiro lugar naquele dia.

— Cole!? — ouvi Lili chamar por mim.

Enxuguei as minhas lágrimas e tentei me recompor de alguma maneira.

— Já estou indo! — gritei de volta, voltando a procurar até encontrar um elástico para cabelo.

Deixei todas aquelas coisas no sótão e desci. Lili estava no corredor me esperando e olhou curiosa para o objeto vermelho que eu tinha em mãos.

— Para prender o seu cabelo. — expliquei.

— Vermelho como a fita. — sorriu fraco.

— Sabe, é bom ver que você se lembra de algumas coisas básicas como o nome das cores. Vamos lá pra baixo.

Nós entramos no banheiro e ficamos de frente para o espelho. Comecei a pentear o cabelo dela cuidadosamente para que não acabasse puxando. Eu fazia aquilo quando a Katy era mais nova, então sabia como era. Era estranho estar colocando as mãos no cabelo de alguém que não fosse a minha irmã. Prendi seu cabelo em um rabo de cavalo e sorri para o reflexo dela no espelho.

— Você gostou? — perguntei.

— Sim. — assentiu, sorrindo também. — Está melhor sem o cabelo no rosto.

— Se você penteá-lo todos os dias pode deixar solto sem problemas.

Ela virou de frente para mim e de repente me abraçou, o que me pegou de surpresa. A abracei de volta com cuidado e não evitei de sorrir. Olhei para o espelho e gostei da imagem de nós dois. Parecia o abraço perfeito, se é que isso existia.

— Usei o abraço da maneira correta? — ela perguntou depois de se afastar.

— Sim. Mas se não quiser dar um abraço, você pode só agradecer.

— Obrigada.

— Não há de quê.

— Acho que eu prefiro abraçar.

— Eu também. — falei no automático e em seguida estranhei aquela afirmativa. E aí eu notei que ainda estava com as mãos na cintura dela. — Ok... — afastei-me. — Você quer ir até o vilarejo? Talvez te ajude a se lembrar de algo.

— Não. — ficou séria. — Não quero sair daqui. É perigoso lá fora.

— Eu vou estar com você o tempo inteiro. E, não se preocupe, é seguro no vilarejo. Tem mais gente lá, pessoas que talvez você já conheça.

Lili desviou o olhar e pareceu pensativa sobre aquilo. Antes que ela me desse uma resposta, meu celular começou a tocar em meu bolso. Eu havia lembrado de carregá-lo na noite anterior, mas não esperava que ainda estivessem tentando se comunicar comigo.

— Eu preciso atender. — saí do banheiro com o celular na mão e ouvi Lili caminhar atrás de mim. — Oi, Cami.

— Lembrou que tem um celular? Onde você está, Cole? Estamos preocupados.

— Meus pais estão bem? — ignorei a pergunta dela.

— Claro que não. Matthew levou a Melanie para uma das casas de campo da família para distraí-la um pouco. Ficar na cidade é difícil. — soltou um suspiro. — E você? Não vai me dizer onde está?

— Saí da cidade pelo mesmo motivo, Camila. Preciso de um tempo.

— Nós só ficamos preocupados porque você saiu sem avisar.

— Não se preocupem, eu sou um adulto. Estou seguro.

— Você está sozinho?

Olhei na direção de Lili que olhava para mim o tempo todo com uma expressão curiosa.

— Sim. — menti. Não queria ter que explicar sobre a Lili porque nem eu mesmo sabia o que estava acontecendo.

— Não quer que Charles e eu façamos companhia? Ficar sozinho nesse momento pode não ser a melhor ideia.

— Agradeço a preocupação, mas eu quero continuar sozinho. — deixei claro. — Quando eu voltar para Boston aviso a vocês.

— Tudo bem. Amamos você.

— Também amo vocês.

Desliguei o celular e notei Lili olhando para o aparelho com o cenho franzido.

— Celular. — expliquei. — Serve para falar com pessoas que estão longe.

— Com quem você estava falando?

— Com uma amiga. Amigos são uma espécie de família que você escolhe ter. — expliquei antes que ela perguntasse.

— Camila. — afirmou.

— Isso.

— Você disse que estava sozinho, mas não está. Eu estou aqui.

— Eu sei. — cocei a nuca. — A minha família está passando por um momento muito difícil e eu não quero complicar as coisas tentando explicar sobre você. Eu mesmo não sei o que está acontecendo aqui, não quero que eles se preocupem comigo.

Ela assentiu positivamente. Era bom o fato de ela aceitar tudo o que eu dizia, assim diminuíam as preocupações que eu tinha e se tornava fácil cuidar dela.

Cuidar? Era isso que eu estava fazendo? Acabo de me dar conta disso.

— Que tal ir ao vilarejo agora? — tornei a dizer. — Vista algo que possa te aquecer e calce as botas que eu te comprei.

— Você vai me proteger? — franziu levemente a testa de uma maneira quase piedosa.

— Eu... — engoli em seco enquanto olhava para aquele rosto tão doce e inocente. — Sim, Lili. Eu vou proteger você.

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