XL
A semana passou rápido. Entre ir para as aulas escoltada sempre por um dos Marotos, comparecer às reuniões do Comitê do Baile e cumprir sua detenção com o Professor Slughorn — porque Regulus estava fugindo dela como o diabo foge da cruz — o sábado finalmente chegou e, com ele, a festa de Halloween em Hogsmeade.
A animação de todo mundo era evidente. No meio disso, Scarlett conseguiu devolver o diário de Lily. Ela continuou bastante desconfiada de todo mundo, mas parecia bem mais calma agora que tinha seu caderno em mãos. Ainda assim, Scarlett não conseguia tirar da cabeça o que Snape lhe disse na Floresta Proibida. Tampouco abafar a raiva de Sirius quando ele viu Avery e Mulciber entrando no Salão Principal naquela manhã, pois não tinham sido expulsos, apenas afastados alguns dias de Hogwarts.
— O que está acontecendo? — James sussurrou, passando geléia em sua torrada. — Eu achei...
— É, eu também. — Sirius os escaldou com o olhar. Então, virou-se para Scarlett que fingia quebrar seu ovo cozido com uma colher. — Por que eles ainda estão aqui?
Scarlett engoliu em seco, soprando seu chá de jasmim. Deu de ombros.
— Tem alguma coisa a ver com Snape? — Sirius perguntou, baixinho, em seu ouvido.
— Snape?
— É, eu sei que você não quer falar sobre o que aconteceu quando Avery quebrou seu braço, mas Snape estava com a sua varinha. Ele também estava lá, não estava?
Scarlett contraiu o maxilar.
— Por que você mentiu sobre ele? — Os olhos de Sirius viraram duas adagas prateadas.
— Porque eu queria chantageá-lo. — Scarlett revelou sua meia-verdade.
— Chantageá-lo? — Sirius estendeu a mão para pegar uma porção de peixe. — Para quê?
— Não sei, Sirius, caso precisássemos... — Scar suspirou, bebericando o chá. — Era só para garantir.
— Scar... a gente sabe se cuidar. — Ele acariciou sua bochecha e ela se sentiu mal por estar mentindo. — Não precisa se preocupar com o Ranhoso, sempre demos conta dele.
Scarlett olhou para a mesa da Sonserina, para Snape. Ele olhava para ela. Um calafrio percorreu seu corpo.
Não deixe a Lily sozinha na festa de Halloween.
— É, foi um vacilo meu... — Scar admitiu com um sorriso incômodo.
E Sirius lhe respondeu com um beijo na bochecha, que a fez corar e olhar para ele com surpresa. Ele apertou sua cintura e Scar roçou os lábios nos dele; um toque rápido que atiçou seu desejo e o fez rir baixinho quando ela apoiou a mão na gola da capa da Grifinória. Sirius tinha ficado bastante carinhoso naquela semana, dormindo com ela todos os dias.
E, sempre antes de dormir, ele pedia para ficar deitado em seu colo. Ela lhe fazia cafuné enquanto lia O Grande Gatsby. Podia ser estranho, mas Scarlett sentia-se mais íntima de Sirius do que antes, um tipo de exposição que não tinha a ver com nudez... pelo menos não fisicamente. Era como se ele despisse sua alma de todas as suas travas para vê-la quem ela realmente era e não quem ela se deixava transparecer.
Sirius conseguia atingir a garotinha ferida em seu interior, assim como a mulher impetuosa e determinada que foi vítima de um crime imperdoável. E, por mais que se sentisse vulnerável com ele... também sentia-se confortável com isso. Porque ela também viu todas as camadas dele, inclusive as mais obscuras. O Sirius alegre, brincalhão, desequilibrado e vingativo. O Sirius da Grifinória e o Sirius da Sonserina. E ele parecia confortável com isso também.
Ao terminar o desjejum, Scarlett e os Marotos se dirigiram até a Galeria Subterrânea. Era sábado, não tinha muita coisa para fazer e a festa começaria às seis da tarde, então tinham bastante tempo livre até lá. Remus e James se ocuparam em fazer as inúmeras dissertações da semana e a logística da ronda dos monitores da semana seguinte enquanto Peter colocava Ziggy Stardust no toca-fitas e conjurava um tapete felpudo para que ele pudesse se sentar e ler suas revistas em quadrinhos.
Sirius trabalhava em seu casaco de lantejoulas que combinava com a calça e as botas vermelhas.
— Você acha que... — Ele apertou o lábio inferior ao fitar Scarlett. — Eu deveria usar um feitiço e pintar o cabelo de ruivo? Para ficar igual a ele.
— Acho que sim. — Scarlett concordou, pegando a revista que ela usou para tonalizar seu cabelo de preto. — Acho que tem um feitiço que faz isso... bem... aqui. — Ela folheou até encontrá-lo, apontando nas instruções.
— Beleza, então usa no meu cabelo. — Ele cruzou os braços, lhe lançando um olhar divertido. Scarlett ergueu uma sobrancelha.
— Almofas deixando outra pessoa tocar no cabelo dele? O mundo vai acabar. — James comentou, ajustando os óculos no rosto.
— Chama-se Scarlett Gaunt. O fenômeno. — Remus explicou para ele, fingindo que estavam estudando sobre isso.
— Ahh, faz sentido. Scarius, heh. — James deu uma piscadela para eles e Sirius lhes deu dedo.
— Tá bem, eu nunca usei esse feitiço antes então pode dar errado. — Scarlett o alertou, lendo os passos.
— Eu confio em você. — Sirius puxou a cadeira na frente dela e se sentou ao contrário, apoiando o queixo no espaldar.
Scarlett moveu a varinha e proferiu o encantamento. A primeira reação foi a de James, que colocou a mão na boca para segurar uma risada, seguido de Remus que pigarreou e engasgou. Peter, notando a movimentação, encarou Sirius e começou a gargalhar.
Sirius arregalou os olhos lentamente. Scarlett apertou os lábios.
— O que aconteceu? — Ele pegou no cabelo, desesperado.
— Scarlett mirou no Bowie e acertou no Coringa... — Peter riu, virando a revista dele e apontando para um personagem de maquiagem exagerada e cabelos verdes.
Sirius levantou em um pulo e correu até o espelho de corpo todo, o queixo caiu e o cenho franziu.
— Scarlett. Verde? — Ele olhou para ela, desesperado. — Conserta isso!
Scarlett, cuja tentativa de abafar uma risada foi em vão, andou até ele e passou os dedos pelas mechas tão verdes quanto musgo.
— Agora você vai ter que ir de Coringa, Sirius! — Peter ironizou, rolando no tapete.
— Cala a boca, Rabicho! — Sirius sibilou, voltando a encarar Scarlett pelo espelho. — Scar...
— Calma, eu vou arrumar! — Ela também ria, ainda mais pela reação exasperada de Sirius.
— Anda logo! — Ele reclamou, impaciente.
Scarlett rolou os olhos e moveu a varinha novamente, agora o cabelo dele ficou ruivo em um tom acobreado. Sirius soltou todo o ar dos pulmões, aliviado, passando as mãos por seus cabelos com medo de que mais algo desse errado.
— Pronto. Não precisou disso tudo. — Scar lhe deu um tapinha no ombro, voltando à mesa.
— Não precisou disso tudo? O meu cabelo é sagrado! — Sirius revirou os olhos.
— É verdade. Tem um grupo de quartanistas que veneram o cabelo do Sirius. — Peter fez uma careta.
— Claro que veneram, elas me amam. — Sirius deu um sorriso condescendente.
Scarlett crispou a boca em desgosto, emitindo um som de nojo.
— Mais alguma coisa? — Scarlett não escondeu seu tom irritado.
— Maquiagem? — Sirius arqueou uma sobrancelha.
— Sirius, são dez da manhã. Você já quer se maquiar agora?!
— É, realmente, depois do almoço. É que já tem uma fila para você arrumar... — Ele apontou para os amigos.
— Ahh, ele tá chateado porque não é exclusivo... — Remus fez bico para Sirius. — A gente te ajuda a entrar na Joan, Scar, não precisa se preocupar...
— Não, eu já vou fazer a maquiagem dela, Aluado. — Sirius o cortou. — E o cabelo.
— Você já... passou maquiagem antes? — Scarlett estava impressionada.
— Não. — Sirius respondeu, como se fosse óbvio. — Mas você ia seguir o tutorial da revista, não é? Se for o que tá falando aqui... — Ele puxou a revista e abriu na página. — É bem fácil.
— Então tá bom. — Scarlett começou a lixar as unhas. — Vai querer que eu pinte suas unhas?
Sirius a olhou. As mechas ruivas caiam em seu rosto como se fossem labaredas de fogo beijando suas bochechas e queixo. Ele era lindo, Scar o preferia moreno, mas, continuava lindo ruivo; a cor dos cabelos refletiam em seus olhos lhe dando a impressão de que as estrelas estavam em brasa. Ele sorriu e assentiu.
Era quase hora do almoço quando ela terminou de pintar as próprias unhas e a de Sirius, ambas de preto. Ele quis colocar brilhos no dedo médio, para quando fosse levantá-lo aos amigos, ele cintilasse. Scarlett bufou uma risada com a ideia, fazendo o que ele lhe pediu.
Ela adorava o jeito que Sirius não ligava para as convenções sociais — usar maquiagem e pintar as unhas sendo homem era um tanto estranho, mesmo para ela. Já Sirius não dava a mínima. O desgraçado sabia que era bonito e gostoso, e parte disso se dava ao fato de que ele não prendia nas amarras sociais. Lembrou-se de quando ele deitou em sua cama e se assumiu bissexual, o que a fez sentir um pouco de ciúmes antecipado naquela festa.
Nunca discutiram o relacionamento. Não era um namoro, ao menos não consideraria enquanto ele não a pedisse. Mas eles agiam como se fosse, todo mundo de Hogwarts sussurrava entre eles no castelo e até mesmo os sonserinos desconfiavam, embora não dissessem nada sobre o assunto. Scarlett ignorava os olhares que recebia toda vez que eles andavam por aí juntos, de mãos dadas, ou com Sirius segurando-a pelo ombro ou pela cintura.
Sabia o quanto ele era popular. Não só ele; James, Remus e Peter também. Mas viver essa popularidade, recebendo olhares tortos e julgamentos ácidos era estranho. Quer dizer, ela era uma sonserina, não devia se dar tão bem assim com quatro grifinórios. A pouca amizade do tipo conhecida ali era entre Snape e Lily e esta não parecia estar em seus melhores momentos.
Depois do almoço, Scarlett começou a maquiar o rosto de Sirius. Não era tão difícil assim fazer aquele raio onde Bowie apareceu na capa do Aladdin Sane, mas ela não tinha tempo para ficar acertando e errando.
— Fecha os olhos. — Murmurou para ele, quando aquelas duas estrelas estavam olhando para ela. Sirius dedilhou suas costas, repousando as mãos em sua cintura ao puxá-la para perto, fazendo os joelhos se colidirem. — Sirius, eu não tenho tempo...
— Eu sei, só quero você pertinho de mim. — Ele murmurou, com aquele sorriso travesso. Scarlett soltou o ar dos pulmões, balançando a cabeça.
Sirius fechou os olhos. Scarlett passou a base em todo o rosto dele e começou a pintar. Atrás dela, James e Remus estavam de braços cruzados, como se avaliassem o resultado.
— Tá ficando muito bom. — Remus comentou, comendo um feijãozinho de todos os sabores. — Muito mesmo.
— Ele realmente parece o Bowie. — Completou James.
Scarlett deu uma risada anasalada. A pele de Sirius era aveludada e ele quase não tinha espinha alguma — o que lhe causou um pouco de inveja. Os enormes cílios acariciavam suas falanges enquanto ela cruzava o raio no rosto dele, a respiração calma resvalando em seu pescoço.
— Pronto. — Scarlett colocou o pincel de lado. — Pode abrir os olhos.
Sirius abriu devagarinho, como se temesse estragar algo. Suas íris cinzas chamavam mais atenção ainda ao ser circundada pelo raio vermelho e azul. Scarlett entregou a ele um espelho de mão, observando suas belas características serem franzidas em espanto.
— Cacete, tá igualzinho! — Ele deu um sorriso fazendo menção de tocar no raio, tomando um tapa de Scar. — Ai!
— Espera aí, você vai borrar. — Scar sibilou. — Fecha os olhos. — Ela pegou um spray.
— De novo? — Sirius reclamou, mas acatou a ordem. Scarlett balançou e borrifou nele o spray que cheirava a algo tóxico e Sirius tossiu, abanando o rosto.
— Pronto, só deve sair quando você tomar banho. — Scarlett sorriu, dando-lhe tapinhas no ombro. Sirius voltou a se admirar no espelho, fazendo várias caras e bocas como se fosse o próprio David Bowie.
Scarlett o entendia. Se fosse tão bonita quanto ele, faria a mesma coisa. Sirius saiu da cadeira e disparou para o banheiro para trocar.
— Tá, quem é o próximo? — Scarlett olhou para os meninos.
James e Remus se entreolharam, antes de correr para ver quem chegava na cadeira primeiro. No caso, Remus. Ele abriu um sorriso e tirou sua capa da Grifinória, passando a mão nos cabelos cor de areia.
— Só crescer o cabelo, senhor Plant? — Scar perguntou, como se fosse uma cabeleireira.
— Sim, senhorita. — Ele sorriu, coçando a cicatriz no queixo.
Arrumar Remus foi bem rápido. Ela só precisou lançar o feitiço da revista até que o cabelo ficasse do mesmo tamanho do de Robert Plant, que era um pouco abaixo dos ombros. Então, usou um encantamento para dar volume e ondulações e mandou ele mexer a cabeça para ver se estava bom.
— O que vocês acham desse Plant, Jamie e Pete? — Scarlett jogou as madeixas longas de Remus para o ar e Remus balançou os cabelos.
— Magnífico. — Peter bateu palmas e James parecia tão impressionado que não conseguiu dizer nada.
— Eu tô com medo. — Remus admitiu ao se ir atrás de suas roupas. — E se ninguém mais estiver tão fantasiado quanto a gente?
— ... foda-se?! — James deu de ombros, sentando na cadeira. — O negócio vai ser encher a cara e ficar louco, Aluado. Ninguém nem vai lembrar dessa festa...
— Encher a cara? — Scarlett vincou a testa, passando a mão nos cabelos desordenados de James, tentando ajustá-los num topete como Elvis usava, mas os fios eram arredios; obrigando-a a usar um spray fixador de cabelo que quase matou James sufocado.
— É... vai ter muita bebida lá. E... não só bebida. — Remus gesticulou.
— Pó de fada? Erva do bosque? — Scar penteava o cabelo de James até que ele ficasse parado no topete.
— ... e ácido. — James completou, pigarreando.
— O que é isso?
— É uma parada que te deixa maluco... alucinado. — Remus apoiou o cabide de suas roupas no ombro. — Nunca usei e não recomendo.
— Espera, vocês já usaram as outras duas? — Scar lançou a eles um olhar inquisidor.
— Não... — Os três responderam ao se entreolhar de maneira nada sugestiva.
— Drogas? Que isso, nunca... — James deu uma gargalhada exagerada. — Nunquinha.
Sirius saiu do banheiro, completamente vestido de um casaco e uma calça de lantejoulas, cuja cor vermelha e azul combinava com o raio do rosto.
— E aí, como eu estou? — Ele empinou o nariz e se jogou no sofá ao lado de Peter.
— Nada mau. — Scar zombou, terminando de arrumar o cabelo de James.
— Nada mau? — Sirius colocou as mãos na cintura. — Eu esperava um perfeito, incrível, fabuloso.
— Perfeito. — Peter deu uma joinha ao amigo.
— Incrível. — Remus cantou ao ir para o banheiro.
— Fabuloso, Almofadinhas. — James deu uma piscadela para ele, apalpando seu topete.
— Viu, Scar, isso é que é amizade! — Sirius disse, com a mão no peito ao fingir estar afetado.
— Desculpa, Sirius... como nós falamos na Suíça, você está um pitelzinho... — Scarlett riu.
— O que isso significa? — Sirius passou a mão nos cabelos.
— Um gostoso. — Scarlett admitiu, o coração acelerando-se com o sorriso genuíno que abriu no rosto dele.
— Ah, certo. Aceito o elogio. — Ele realmente parecia feliz, o que só fez as mãos de Scarlett suarem e as borboletas voejarem em seu estômago.
— Peter... vai querer que eu faça seu cabelo crescer mais um pouco? Para você combinar melhor com o Ozzy? Ou tá de boa assim?
Peter encostou a caneta de açúcar nos lábios ao pensar.
— Nah, tô de boa. — Ele decidiu, ao morder o doce.
— Tá bem... — Scar foi atrás das próprias roupas.
Após todo mundo se vestir, Scarlett tomou banho e foi a vez dela ser maquiada por Sirius; o garoto não parecia ter ideia do que estava fazendo.
— Tá horrível, Almofas. — James resmungou. — Você deixou ela parecendo o cara do Kiss...
— Cala a boca, Pontas, eu ainda não acabei! — Sirius ralhou, voltando a maquiá-la.
Scarlett, de olhos fechados, apenas suspirou. Não sabia em quem acreditar, ao mesmo tempo que ter a mão de Sirius apoiada em seu rosto ao passar a sombra em seus olhos era um tanto... enervante. Não ter ideia do que acontecia a deixou incomodada e ansiosa e as dúvidas em sua mente estouraram como bolhas de sabão quando Sirius deu um risinho e beijou seus lábios, causando um som de nojo nos outros três.
— Nada de saliência, tem gente aqui! — Remus ironizou.
— Ah, não precisa ficar com ciúmes Aluado, é só um beijo! — Sirius debochou, estalando a língua. — Tá, acho que acabei. — Ele jogou o pincel para o lado e Scarlett abriu os olhos. Sirius espremeu os lábios e segurou um riso ao dar o espelho para Scarlett.
James estava certo. Ela parecia o Paul Stanley, com os olhos pintados completamente de preto e o resto do rosto excessivamente branco.
— Achei apropriada pro halloween, bem assustadora. — Remus caçoou, lambendo os lábios.
— Se eu visse a Scar assim na Casa dos Gritos eu provavelmente me cagaria... — James acrescentou e os cinco caíram na gargalhada.
— Foi mal, Scar, esse tutorial é uma merda. — Sirius deu de ombros, tirando a responsabilidade dele.
— Eu consigo arrumar, relaxa. — Scarlett sorriu, ainda com borboletas no estômago.
Quando todos ficaram prontos, se cobriram em suas capas negras e enigmáticas; embora os cabelos denunciassem suas fantasias, ao menos não passariam frio nas carruagens.
Sirius estendeu a mão para ela ao entrar e ela sentou em seu colo, como haviam feito na última visita a Hogsmeade. Os braços dele a enlaçaram e ela não pôde deixar de sentir aquele frio na barriga antes da festa.
Esperava que tudo fosse ocorrer bem.
Mas só para garantir, Scarlett levava a chave múltipla de portal no bolso mágico da saia.
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O Três Vassouras estava completamente decorado para a festa. Abóboras mágicas flutuavam, iluminando o ambiente com um brilho laranja e suave. Os rostos esculpidos nelas mudavam de expressão, passando de sorrisos maliciosos para caretas assustadoras.
Teias de aranha pendiam do teto, com aracnídeos que sumiam e reapareciam; morcegos voavam para lá e para cá e os lustres dos andares de cima eram encantados para parecer um enxame de fantasmas.
O bar estava transbordando com todos os tipos de poções e elixires temáticos. Caldeirões fumegantes de ponches que mudavam de cor, cerveja amanteigada, fogo líquido e todo o tipo de bebida que se pudesse comprar na Zonko's.
Mesas cobertas com toalhas negras e laranjas exibiam uma variedade de doces e petiscos. Dedos de bruxa, diabinhos de pimenta, delícias gasosas, uma dezena de sabores de sorvete e caldeirões de chocolate quente estavam dispostos para quem quisesse se servir.
Mais ao fundo um feitiço de aumentar espaço foi lançado para que a pista de dança coubesse no térreo, onde no chão havia um círculo que mudava de cor no ritmo da música.
Todos estavam fantasiados, até mesmo Madame Rosmerta e o corpo docente. Dumbledore não estava por ali, mas Scarlett avistou McGonagall, Sprout, Kettleburn e até mesmo Hagrid na mesa dos professores.
Ainda não havia chegado muita gente, então eles conseguiram pegar uma das melhores mesas — onde caberia todo mundo. Scarlett avistou Pandora com as amigas de seu ano. A garota estava fantasiada de Aurora, com um vestido rosa que mudava de tom de acordo com o brilho e óculos rosa-choque.
Lily foi a próxima, aparecendo com Mary e Marlene; que logo sentaram na mesa deles. Ela estava vestida com um capuz, uma capa e roupas que pareciam de um filme de ficção científica, com uma coisa estranha no nariz.
— Chani Kynes. — Ela explicou quando James lhe perguntou sobre a fantasia. — De Duna, sabe? A série de livros?
— Não... — James deu um sorriso constrangido.
— É, eu não esperava que soubesse. — Ela gargalhou e lhe deu um tapinha.
Ao lado de Lily, Mary estava com os longos cabelos escuros caindo nos ombros, fantasiada de Cher. Já Marlene estava de Carrie, o filme daquele ano, toda coberta de sangue. Era assustador vê-la de início, mas logo Scarlett se acostumou a sentir o cheiro de groselha vindo dela.
— É tudo suco. — Ela explicou, lambendo parte do sangue para provar.
Scarlett não era amiga de Mary e Marl, para ser sincera apenas tolerava a presença delas ali. Primeiro, porque Mary era um empecilho na relação de James e Lily. Segundo... ela era uma adolescente, e como tal, não gostava muito da ex de seu... ficante. A incomodava os olhares que eles trocavam, as piadas internas e os sorrisos.
E, sobre isso, Scarlett preferia não fazer ou dizer nada.
Logo a gangue da Sonserina chegou e Scarlett levantou para falar com Regulus — enfezada de ter que aguentar Marlene assustando os alunos do terceiro ano com suas caretas.
— Uau, o que temos aqui? — Rosier perguntou, com as mãos nos bolsos. Ele estava com o rosto pintado de caveira, usando trajes trouxas: um casaco aberto, camisa preta e calça jeans. Os cabelos, penteados para trás. — Do que você está fantasiada, Gaunt?
— Joan Jett. — Scar gritou, tirando a capa ao revelar a fantasia. — É a guitarrista de uma banda trouxa.
— Ah... — Ele murmurou, sem metade do entusiasmo que Scarlett demonstrava.
— E vocês? — Scar desviou o olhar para Red e Bartô.
— Como é o nome mesmo? — Bartô deu um tapinha em Regulus. Ele usava um terno e um sobretudo marrom, nem parecia fantasiado.
— Doctor Who. — Regulus respondeu, olhando para Scarlett. As abóboras dançavam no olhar dele.
— Ah, isso! Estou de Doctor Who. — Bartô abriu um sorriso exagerado, encarando Evan.
— E você? — Scarlett fitava Regulus, cuja fantasia era composta de um sobretudo de gola alta preto, blusa preta, cinto preto e luvas pretas. Ele ficava bonito com aquela cor; contrastava com sua tez pálida e os olhos cinzentos... mas não parecia muito uma fantasia.
— Paul Atreides. — Ele não esboçou nenhuma reação. — De Duna.
— Duna? A Lily também... — Scarlett apontou para a mesa dela.
— Hum. — Ele grunhiu com monotonia.
— O que acha da gente ir na Casa Mal-Assombrada mais tarde? Ou na Casa dos Gritos? — Evan propôs, enfiando as mãos nos bolsos.
— Tá bem. — Scar forçou um sorriso, sem saber o que responder.
A festa foi cada vez se enchendo mais de gente, de modo que Scarlett voltou para sua mesa; encontrando Sirius já um pouco alterado pela quantidade de cerveja amanteigada que bebeu ao conversar alegremente com Marlene e Mary sobre as festividades de família que ele presenciava.
Scarlett não gostava nadinha do jeito que Marl ria, jogando a cabeça para trás apenas para segurar na gola do casaco de lantejoulas de Sirius, aproximando-se cada vez mais. E ele não parecia perceber, ocupado demais com a atenção da mesa toda nele.
Com um aperto no coração, ela desviou o olhar para um grupo de corvinos que entravam em uma das atrações da noite, chamada: Labirinto Encantado. Também havia a Casa Mal-Assombrada, onde uma fila gigantesca de sonserinos e grifinórios brigavam para entrar.
— O que acha da gente ir ao Labirinto Encantado? — Scarlett perguntou para Lily, que assentiu com entusiasmo.
— Eu também vou! — James se alistou, sem ser chamado.
— Então vamos! — Scarlett lançou um olhar afiado para Sirius, antes de girar nos calcanhares.
— Ei, onde vocês vão? — Ele gritou.
— Labirinto Encantado! — Respondeu James, acenando para que Sirius o acompanhasse.
Ao adentrar no labirinto, a noite estava excepcionalmente fria e as estrelas cintilavam acima deles como um véu de diamantes. Scarlett cruzou os braços, sentindo a mão de Sirius crispando em seu ombro logo quando ele entrou.
— Ei! Por que você não me chamou? — Ele a puxou para perto, a respiração condensando naquele frio.
— Você estava ocupado. — Scarlett titubeou, encarando as lanternas mágicas que flutuavam e iluminavam o caminho; cujas sebes escuras se estendiam infinitamente. Um arco de pedra marcava o início do percurso.
— Você está com ciúmes, Scar? — Sirius tinha zombaria em seu tom de voz, mas também presunção. E isso só a deixou mais irritada.
— É claro que não! — Ela suspirou, encarando-o.
Sirius parecia bastante confortável com seu ciúmes, exibindo aquele sorriso cheio de covinhas que derreteu toda e qualquer raiva que pudesse sentir dele.
Desgraçado.
— Tá bom, vou fingir que acredito. — Ele passou o braço em seu ombro, puxando-a para mais perto ainda. — Eu já disse que você está linda essa noite? — Murmurou em seu ouvido e Scarlett sentiu o corpo arrepiar.
— Olha ele, todo galanteador... — James gargalhou, atrás deles.
Sirius e Scarlett olharam por cima do ombro. Não se lembravam que James e Lily estariam com eles no percurso.
— Ah, olá, Evans. — O sorriso de Sirius ficou capcioso. — Então, prontos para uma atração que nos promete muita diversão? — Perguntou, entediado.
— O Labirinto é a melhor de todas, senhor Bowie! — Lily colocou as mãos na cintura, tomando a dianteira do grupo.
— Claro, vai lá senhorita sabe-tudo... — Sirius resmungou, tomando um tapão de James.
— Se controla, Almofadinhas! — Ele repreendeu o amigo.
— Tá, foi mal... — Sirius coçou onde James estapeou. — Que tal uma competição? Vocês dois contra nós dois... — Um sorriso malicioso cruzou seus lábios.
— Fechado! — Lily pegou James pelo cotovelo, puxando-o com ela. Ele estava tão atordoado que só a seguiu.
As paredes do labirinto se fecharam assim que eles cruzaram o arco, como se o jardim estivesse vivo. Eles caminharam por alguns minutos, seguindo por várias curvas e cruzando pequenas pontes de pedra. Alcançaram uma clareira onde uma esfinge os esperava.
— Resolvam meu enigma e poderão prosseguir. Uma resposta errada e serão comidos.
— Uau. — Sirius fingiu animação. — Perigoso.
— Qual o enigma? — Lily cruzou os braços com desdém.
— Ocorre uma vez a cada minuto, duas vezes a cada momento, mas jamais a cada quinhentos anos. — A esfinge disse, fazendo os quatro trocar olhares.
Scarlett coçou a nuca. Não tinha nem ideia. Fitou Sirius, esperando que ele pudesse dar alguma dica, entretanto ele parecia tão perdido quanto ela. James, então, nem se fala. Lily era a única que pensava, com o indicador no queixo.
— Ah, fácil. — Ela deu um sorriso prepotente. — A letra m.
— Correto. — A esfinge abriu caminho para a próxima seção do labirinto.
— Tem certeza que está na Casa certa? — Sirius cutucou Lily, que o fitou com os olhos semicerrados.
— Claro que sim, não precisa ser da Corvinal para ser inteligente. Um a zero para a gente! — Ela abanou a mão na direção deles, subestimando-os.
O próximo desafio era um espelho que só os deixaria passar se eles confessassem um segredo que ninguém mais sabia. Sirius, como o bom exibicionista que era, deu um passo ao ver o próprio reflexo; suas bochechas estavam coradas pelo álcool ingerido mais cedo.
— Terceiro ano, final da Taça de Quadribol... Grifinória contra Sonserina. Eu joguei uma azaração de confusão na vassoura de Heitor Selwyn quando ele a esqueceu no vestiário um dia antes do jogo.
O espelho se dissolveu, abrindo o caminho para eles.
— O quê? — Lily praticamente gritou, sob a gargalhada de James e um olhar abismado de Scarlett.
— Sirius Orion Black... você é sujo! — Scar anunciou, atravessando as sebes ao lado dele.
— Eu te disse... que eu jogo para ganhar. — Sirius lhe atirou um olhar pervertido, lambendo os lábios demoradamente.
— Éééé, mas ninguém fora daqui precisa ficar sabendo! — James comentou, nervoso.
O próximo era um bule falante, cujo pedido era que cada um confessasse algo que os outros três não fizeram e ele sim. James foi o primeiro.
— Eu nunca... li livros trouxas fora do currículo escolar! — Ele riu, como se isso fosse super radical.
— Eu nunca fiquei na detenção. — Lily foi a próxima.
— Eu nunca, hã... — Sirius coçou a ponta do nariz, encarando Scarlett. — Eu nunca... fui virgem no sexto ano. — Ele sorriu, como se o que ele disse fosse genial.
— Nojento. — Lily resmungou e Scarlett rolou os olhos.
— Claro, transudo. — Scar jogou os cabelos para trás, pensando. — Fácil. Eu nunca fiz o quinto ano escolar em Hogwarts.
O bule deixou eles passarem.
— A culpa não é minha se vocês dormem no ponto! — Sirius declarou, depois de um momento silencioso. Ele tomou a frente, andando de costas com as mãos na cabeça, as lantejoulas brilhando entre as sebes.
Scarlett tinha que admitir, ele estava incrível de Bowie. Mais bonito que o original.
— Meu nome é Sirius Black, olhem como eu sou não sou virgem! — Scarlett o imitou andar de costas e colocar as mãos na cabeça.
— Ei, eu não falo assim! — Sirius riu, junto com Lily e James.
— Eu sou o mestre do sexo. Amo uma felação. Atos carnais... — Scarlett enfiou o indicador no meio dos dedos para Sirius enquanto mordia o lábio inferior.
— Tá com inveja, Scar? — Ele parecia se divertir tanto quanto ela. — Quer que eu arranque seu cabaço hoje?
A risada de Scarlett virou uma tossida nervosa. James riu mais alto ainda e Lily não sabia onde enfiar a cara.
— Quê? — Scarlett sentiu os olhos umedecerem com o vento gelado, o coração bateu dolorosamente contra o peito. Ouviu certo?
— Que foi, agora você ficou sem graça?! — Ele provocou, maldoso. — A proposta está de pé, se você quiser...
— Não quero! — Scarlett o cortou, apressando o passo no meio das sebes.
— Ah, merda, ela vai apelar... — Sirius resmungou consigo mesmo. — Scar, era brincadeira!
Scarlett não o ouviu. Estava com vergonha e irritação demais para ter que lidar com ele, James e Lily. Então ela se enfiou no meio daquele labirinto até se perder no meio dos arbustos intermináveis, ofegante e farta daquele lugar idiota.
Conseguiu sair pouco tempo depois, deparando-se com o Três Vassouras lotado de gente. Atravessou o mar de bruxos de volta para sua mesa, onde Marlene trocava fluidos corporais com Dorcas e Remus sussurrava alguma coisa no ouvido de Mary. Ela suspirou e sentou um pouco afastada deles, pegando uma enorme caneca de cerveja amanteigada.
A música já havia começado, a pista de dança se encontrava cheia de bruxos fantasiados e suados. Na mesa dos professores, McGonagall observava os bruxos dançando com uma expressão horrorizada. Flitwick arriscava mover a cabeça no som da música e Hagrid parecia bastante deslocado.
Scarlett apertou os lábios, vendo a cabeleira ruiva de David Bowie nadando entre os bruxos até a mesa dela, seguido de Lily e James.
— Achei que você tinha se perdido! — Sirius sorriu, mas Scarlett o ignorou, bebendo sua cerveja. — Ah, pára com isso...
— Eu estou ocupada com a minha bebida nesse momento. — Scarlett se queixou.
Sirius, no entanto, tomou a caneca da mão dela e virou a cerveja de uma vez, batendo-a na mesa em seguida.
— Pronto, não está mais. — Ele insistiu, segurando na mão dela. — Scar...
[Música: Toto — Hold the Line]
Quando os primeiros acordes da música começaram a tocar, Sirius não hesitou, respirou, sequer pensou. Apenas deu um olhar decidido a Scarlett e a puxou consigo para a pista de dança sem pedir permissão. O brilho do globo de luz a cegou por alguns instantes, sentindo-se um pouco sufocada no ambiente abafado, nos bruxos suados, no grave da música vibrando em seu corpo.
It's not in the way that you hold me
It's not in the way you say you care
It's not in the way you've been treating my friends
It's not in the way that you stayed till the end
It's not in the way you look or the things that you say that you do
Scarlett resistiu um pouco, mas era bastante difícil opor-se a música de sua banda favorita, sobretudo quando era Sirius Black a puxando para o meio daquela bagunça. Ainda estava irritada, porém, o sentimento arrefeceu assim que Sirius a beijou e sugou seu bigode de espuma da cerveja.
— Por que você tem que ser... assim? — Ela virou o rosto, fingindo ainda estar irritada.
— Por que você tem que ser tão irresistível?! — Ele respondeu, com aquele olhar meio brincalhão e meio sério, puxando-a para mais perto.
Hold the line
Love isn't always on time, oh oh oh
A música crescia no momento em que Sirius a envolveu em seus braços, girando-a consigo em movimentos desajeitados e ridículos. Scarlett gargalhou, a cabeça pendendo para trás quando ele passou as mãos em sua cintura. Ela agarrou nos ombros dele, subindo de uma vez, encolhendo a distância entre o rosto deles.
Scarlett se afundou naquelas íris prateadas, que refletiam uma miríade de cores e rodopiavam num caleidoscópio confuso e ofuscante; que apenas Sirius compreendia. Ele girou Scarlett mais uma vez, pegando-a com habilidade, encostando a testa na dela. Scar arfou, segurando-se na gola de lantejoulas. Sirius esfregou o rosto no pescoço dela, levantando-se de uma vez e a puxando consigo.
It's not in the words that you told me, girl
It's not in the way you say you're mine
It's not in the way that you came back to me
It's not in the way that your love set me free
It's not in the way you look or the things that you say that you do
As mãos dele escorregaram por suas costas, até encaixá-las em suas nádegas. Ele impulsionou Scarlett para cima e ela inspirou todo o ar que podia de surpresa, o corpo suado e o coração batendo nos ouvidos. Sirius a olhava; fascinado, obcecado, extasiado. Como se ela fosse tudo o que ele enxergava no meio daquela multidão; a Joan Jett de blusa de couro apertada e saia rodada.
Sirius foi descendo Scarlett devagarinho, o olhar fixo no dela. Scar se apoiou em seus ombros, inclinando o rosto para baixo até que seus lábios se convergiram; o gosto de cerveja amanteigada, suor e uma bebida amarga que Scarlett não identificou foi mesclado em suas línguas, enquanto ela corria os dedos pelos cabelos ruivos de Sirius, traçando o raio que ela desenhou em seu rosto.
Hold the line
Love isn't always on time, oh oh oh
Hold the line
Love isn't always on time, oh oh oh
Ele sorriu em meio ao beijo, apalpando cada pedaço de pele que não estava envolvido por roupa que conseguia encontrar. As coxas de Scarlett, a cintura, o decote nas costas e na clavícula. Sirius estava faminto, desesperado, implorando por ela como se sua vida dependesse disso. E Scarlett intensificou o beijo ao roubar o fôlego dele, mergulhados num oceano de luzes, cores e dança.
Scarlett sentia o corpo dele contra o seu, as lantejoulas roçando em seus ombros desnudos quando Sirius puxou seu lábio inferior num chupão obsceno, trilhando um caminho fervente por seu queixo até o pescoço, lambendo e beliscando cada porção de tez que ele conseguia alcançar. Scarlett trepidou nos braços dele, as unhas afundando nas pedrinhas coloridas de seu casaco.
Estava quente. Não só por causa do lugar cheio e abafado, mas Sirius acendia uma centelha que faiscava por todo o seu corpo; concentrando-se em seu ventre. Ela gemeu quando as mãos dele ousaram em se enfiar no meio de suas pernas; apenas para que ela lhe desse um tapa. Sirius riu contra seu pescoço, uma risada baixa e perversa.
It's not in the words that you told me
It's not in the way you say you're mine
It's not in the way that you came back to me
It's not in the way that your love set me free
It's not in the way you look or the things that you say that you do
Ele a olhou com aqueles olhos de estrela tingidos de devassidão e desejo, voltando a beijá-la com avidez. Como se beijá-la fosse a resposta de todas as suas perguntas, a soma de todos os seus anseios. Os lábios dele estavam insatisfeitos naquela noite, sorvendo-a com precisão; lhe fazendo uma centena de indicações indiretas e Scarlett queria repetir sim para todas.
Estava hipnotizada por Sirius Black, pelos lábios dele, pelo aperto intenso em sua cintura e bunda, pelo choque que perpassava seus corpos colados; pela ereção bastante volumosa que ele fazia questão de esfregar no meio de suas pernas. Ele lhe perguntou por que ela era tão irresistível, mas era Scarlett quem deveria estar fazendo essa indagação.
Sirius Black era um demônio e Scarlett estava pronta para lhe entregar sua alma.
Hold the line
Love isn't always on time, oh oh oh
Hold the line
Love isn't always on time
Love isn't always on time
E eles se moveram nos acordes caóticos de Steve Lukather, sem separar do beijo, sem ar e sem fôlego. Concentrados apenas em se mover no ritmo da música recheada de melismas de Bobby Kimball.
Sirius passando a mão por suas costas enquanto serpenteava o corpo nela, o calor que ondulava no interior de Scarlett se tornando cada vez mais intenso, os lábios devassos de Sirius chupando sua língua até mordê-la propositalmente.
Hold the line
Love isn't always on time
Scarlett não conseguia fazer muita coisa, pois havia um magnetismo entre eles que a impedia de se afastar. O toque dele era vicioso, ardente, obsceno e ela não queria que acabasse. Scar afundou as mãos nos cabelos ruivos e separou o beijo em busca de ar, sentindo Sirius espalhar chupões na curva de seu pescoço; como se tudo aquilo ainda não fosse o suficiente.
Love isn't always, love isn't always on time
Hold the line
Ofegante e ruborizada, Scarlett empurrou Sirius, ainda nos braços dele. Ela foi engolida pelos olhos de estrela, o rosto úmido de suor, a pele impregnada por sua presença. Ele riu, a maquiagem ainda intacta em sua bela face; os dentes brancos e perfeitamente alinhados morderam sua bochecha.
Love isn't always on time
Love isn't always on time
— Eu sei que você prefere a Georgy Porgy, mas Hold the Line é a minha favorita deles... — Ele murmurou em seu ouvido, puxando-a para fora da multidão.
— Hold the Line é mais hard rock... — Scar respondeu, sendo recebida pelo vento frio do lado de fora quando Sirius a trouxe consigo até uma saída do Três Vassouras. — E a Georgy Porgy é mais soft rock.
Scarlett encheu os pulmões com uma lufada de ar, estremecendo ao ser atingida pela brisa gélida da noite. Eles se encostaram na parede de pedras do restaurante e Sirius sacou um cigarro de sua caixa metálica. Ofereceu um a ela, mas Scar negou com a cabeça.
A euforia da dança foi se esvaindo aos poucos; os batimentos ainda acelerados. Scarlett ergueu o rosto, observando as estrelas enquanto Sirius fumava ao seu lado, com uma mão enlaçando sua cintura.
— Sobre mais cedo... — Ele começou, soltando a fumaça pelo nariz. — Era só uma brincadeira.
— É, eu sei. — Scar sorriu, olhando para ele. Sirius semicerrou os olhos ao tragar o cigarro, os longos cílios emoldurando a prata cintilante de seu olhar. — Eu só... eu não sei como eu vou reagir.
Sirius lambeu os lábios e bateu o cigarro com o polegar, derrubando as cinzas no chão. Ele ainda estava ofegante.
— Como assim?
Scarlett piscou, o álcool subindo-lhe à cabeça.
— Com... com o que aconteceu com o Dimitri, eu não sei... como eu vou reagir. Eu não quero surtar no meio... do negócio. — Ela desviou o olhar para as estrelas, com um sorriso envergonhado.
— Ah, relaxa, é só sua primeira vez. — Sirius soprou a fumaça.
— Eu sei, mas eu queria que... sei lá, fosse perfeita. É algo que eu nunca vou esquecer. E... não sei, depois do que aconteceu... é difícil... — Ela passou a mão no rosto, respirando fundo para se preparar com o que diria em seguida. — Não sei se eu consigo te chupar, por exemplo.
Sirius riu, um pouco constrangido. Não esperava por isso.
— Tá tudo bem. — Ele tentou acalmá-la, apertando sua cintura. — Sexo é mais sobre você se sentir confortável do que o contrário. E se você não se sentir bem, é só me falar e a gente para. — Sirius explicou aquilo com uma calma enervante. — A primeira vez da maioria das pessoas é uma merda.
— Uma merda? — Scarlett arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços. — A sua primeira vez foi assim?
— Uma merda? — Ele jogou a bituca do cigarro na lixeira próxima, comemorando ao acertá-la. — Foi. Hoje eu lembro e dou risada.
Scarlett não teve oportunidade de perguntar o motivo, pois James e Remus saíram da mesma porta que eles, trazendo copinhos com bebidas alaranjadas.
— Eu falei que eles estariam aqui... — Remus comentou, dando um copo para Scarlett e o outro para Sirius. — Vamos lá, shot de comemoração.
— O que é isso? — Scar cheirou o líquido açucarado.
— Rum de groselha. — James disse, levantando o copo. Remus e Sirius fizeram o mesmo e todos olharam para ela. — Um brinde aos Marotos e a Scarius.
— Se você falar Scarius mais uma vez... eu vou te dar um soco. — Scar ameaçou com um risinho ao erguer seu copo.
Remus pigarreou.
— Um brinde ao encontro entre Robert Plant, Joan Jett, Elvis Presley e David Bowie. — Ele riu, balançando as franjas de seu casaco.
Scarlett virou o líquido doce, que desceu rasgando sua garganta, provocando-lhe uma careta. Sirius balançou a cabeça e James arregalou os olhos. Remus foi o único que não reagiu.
— Mais um? — Lupin passou os dedos por seus cabelos longos e ondulados.
— Tá doido? — James balançou a cabeça negativamente.
Scarlett riu, até ficar séria ao ser atingida como um tiro pelas palavras de Snape.
Não deixe a Lily sozinha na festa de Halloween.
— Onde está Lily? — Ela olhou para James, que limpava seus óculos no casaco de Remus.
— Ela está na pista de dança com a Marl. — Ele falou. — Por quê? Tá afim de pegar ela?
— Hã? Não, claro que não! — Scarlett respondeu, a voz duas oitavas mais alta que o normal. Ao mesmo tempo, aliviada por ela estar bem.
Os quatro ficaram apoiados por um bom tempo na parede, rindo e conversando em tons baixos, saboreando a brisa fria que soprava através do beco estreito. Tiraram várias fotos antes que as fantasias ficassem arruinadas.
Então, um grito agudo cortou o ar, causando um sobressalto em Scarlett. Os sorrisos sumiram, transfigurados em expressões de alerta. James já empunhava sua varinha e Scarlett pegou a sua, o coração acelerando vertiginosamente naquele silêncio suspeito.
Uma mão fria e suada segurou seu ombro, Sirius lhe lançava um olhar preocupado. Scarlett apenas assentiu, sem saber o que ele queria lhe dizer com isso, avançando cautelosamente pelo beco.
Ao virar a esquina, seu coração pareceu parar: Mary MacDonald estava sendo arrastada por uma figura encapuzada e vestida em túnicas negras. A máscara metálica foi tudo o que Scarlett precisou ver para agir em um impulso.
— Estupefaça! — Ela lançou no bruxo, pulando a mureta que estava escondida. O feitiço empurrou o Comensal para trás, livrando Mary. Ela olhou para Scar, atônita.
— Impedimenta! — Ouviu Remus usar o feitiço turquesa em um Comensal do outro lado da rua. — Petrificus Totalus!
Scarlett não tinha percebido que havia mais figuras encapuzadas nas sombras, de varinhas prontas. Ela fez menção de recuar, mas no instante seguinte ela disparou na direção de Mary.
— Diffindo! — Scarlett atirou nos Comensais mais próximos de Mary, estourando uma vitrine e fazendo os bruxos recuar. — Você está bem?
— Não, Gaunt, não... eles são muitos! — Ela titubeou, tentando se levantar.
— Protego! — Scarlett conjurou o escudo, defendendo-se de três maldições. Sentindo a magia à sua volta reverberar diante de sua movimentação, Scarlett invocou a magia ancestral e a difundiu no próximo feitiço. — Confringo!
A explosão acertou três Comensais de uma vez e empurrou mais dois, causando um estrondo e o início de um incêndio. Scar recuou, puxando Mary consigo, obtendo a cobertura de James, Remus e Sirius que atiravam uma dezena de maldições nos numerosos Comensais; ripostando o beco com flashes de luzes vermelhas. Eles eram bem treinados, isso ela tinha que admitir.
Remus passou o braço nos ombros de Mary ao puxá-la consigo.
— Vai, rápido, volta para dentro! — Ele ordenou, sob os ataques faiscantes dos Comensais.
— Avada Kedavra! — Scarlett ouviu um raio verde centelhar, cegante, na direção deles. Sentiu mãos puxando-a desesperadamente para trás e ela caiu de bunda no chão, as faíscas cintilando ao acertar a mureta de pedra.
— Caralho, caralho, caralho... — Sirius, que estava com ela nos braços, repetiu. — Precisamos sair daqui...
— Bombarda! — Eles ouviram uma voz feminina do outro lado da rua. Debaixo dos robes roxos e do chapéu cônico, a Professora Mills os olhou com estranheza. — Voltem para dentro! — Ela gritou.
— Ah, não, você não vai atrapalhar essa noite! — Um dos Comensais gritou, rindo.
Scarlett não recuou, mesmo com a tensão vibrando em seus ombros e o coração indo à boca. Apoiou-se na mureta e voltou a atacá-los para criar uma distração; dando a oportunidade de Mills para acertá-los.
E a Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas era uma duelista habilidosa. Derrubou uma dezena com feitiços não-letais, dançando como uma tempestade raivosa em encantamentos sibilantes.
— VOLTEM. PARA. DENTRO! — Mills gritou para eles.
Scarlett teria continuado, mas Sirius a agarrou com força e começou a puxá-la.
— Vamos, Scar, rápido! — James berrou.
Eles correram, dobraram a esquina e...
— AVADA KEDAVRA! — Uma voz rugiu e o feitiço verde lampejou, iluminando as ruas vazias de Hogsmeade e o beco estreito, atingindo rapidamente a professora. Ela mal teve tempo de reagir ao ser atingida, o corpo despencando no caminho de pedras encaixadas com um baque surdo; os olhos arregalados e sem vida.
Scarlett tropeçou perante a cena. Sirius agarrava seus cotovelos, tentando levantá-la, até que mais um grito irrompeu no silêncio mórbido da vila.
— MORSMORDRE! — O Comensal que matou a professora levantou sua varinha e conjurou a Marca Negra.
Uma nuvem de fumaça verde-acinzentada começou a tomar forma, os contornos se clareando; esculpindo-se em uma caveira, os olhos brilhando em um verde sinistro, seguida de uma serpente que se enrolava e saía pelo maxilar cadavérico.
Sua luz espectral foi refletida no rosto de Scarlett, Sirius, James e Remus; cujos corpos estavam paralisados. Scarlett sentia cada fibra de seu ser rugir para que ela se levantasse e corresse de volta ao Três Vassouras, mas tudo o que ela conseguia pensar era que Mills foi assassinada por Comensais na frente deles.
Então, ouviu-se um estalo, Sirius e James gritaram algo que ela não entendeu e tudo afunilou quando eles foram desaparatados.
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