HAWKINS HIGH SCHOOL
12/11/1983
O SILÊNCIO PRESENTE NA QUADRA DAQUELE colégio só ressaltava a apreensão de todos ao observar El dentro daquela piscina, em busca de contato interdimensional.
Em meio àquilo, ainda segurando a mão da mais nova, senti a curiosidade crescer dentro de mim. Eu queria entender mais sobre o que conseguia ver, por que isso acontecia comigo e como eu poderia controlar. Sentia que, com El, esse conhecimento poderia se aprofundar. Nós duas poderíamos nos ajudar.
Cortando aquela tensão, uma voz baixa ressoou, chamando atenção para a garota.
― Bárbara... - Murmurou a mais nova.
Assim que percebi a reação instantânea de Nancy ao ouvir o nome da amiga, senti meu corpo reagir como se aquilo fosse um gatilho.
De forma repentina, pontadas fortíssimas tomaram conta da minha cabeça, me forçando a fechar os olhos por causa da dor. Em seguida, senti o sangue escorrendo pelo meu nariz. Aquele combo de sensações estava de volta.
Sem conseguir controlar o que eu sentia ou o que estava acontecendo comigo, ouvi algumas vozes ao fundo.
As palavras podiam não ser claras, mas jamais deixaria de reconhecer o tom daquela voz. O desespero palpável na voz de Hopper apertou meu coração, e infelizmente foi como se isso tivesse contribuído para que eu fosse brutalmente puxada para outra realidade.
Sem muita demora, ao abrir os olhos, percebi que estava praticamente cara a cara com El, que parou de caminhar pela escuridão assim que me avistou.
Saber que, de alguma forma, eu tinha conseguido chegar até ali e poderia caminhar com ela naquela escuridão me deixava mais aliviada. Naquele momento, só me importava com o bem dela.
― Klara!? - El tinha o tom confuso, quase em sussurro. ― Como chegou aqui?
Minha audição foi invadida por um chiado ao longe; talvez fosse o walkie-talkie interferindo na minha visão.
― Disse que estaria com você. - Dei breves passos até El e segurei sua mão em um gesto de proteção e conforto. Sem hesitar, ela apertou minha mão com força, enquanto encarava fixamente um ponto à frente.
Lembrei das sensações que senti quase de imediato ao ouvir El sussurrar o nome da garota e, rapidamente, presumi que ela estava olhando para onde Bárbara estava.
Seguimos de mãos dadas naquela direção e, assim que nos deparamos com a cena à frente, um choque percorreu meu corpo.
Bárbara estava com o corpo atacado. Estava morta.
― Bárbara es... - Gaguejei, sentindo minha respiração falhar.
Antes que eu pudesse continuar, o grito desesperado de Nancy ecoou na minha cabeça.
― O que está acontecendo, Klara? A Bárbara está bem, não está? Me diga que sim, por favor! - Gritou, a voz embargada.
― Morreu, morreu, morreu... - El gritou em meio ao choro, e foi aí que percebi o quanto ela estava abalada ao ver o corpo de Bárbara. Sem perder tempo, ela se afastou o mais rápido possível daquela situação.
Mesmo em choque com a visão que acabara de ter, apressei o passo até a garotinha. Ela ainda era uma criança e, com certeza, já estava traumatizada o suficiente para sua idade. Sem hesitar, rapidamente a abracei.
― Estou aqui. Estamos aqui, querida. Vai ficar tudo bem. - A voz reconfortante de Joyce ecoou ao fundo de nossas mentes.
Em pouco tempo, foi perceptível o acalmamento de El ao ouvir a voz da mais velha. A questão é que o efeito foi contrário em mim. Percebendo os olhos dela se moverem, pude ouvir algo que me causava desespero.
― Eu sei que você lembra de minhas palavras, Klara. O fato é que você nunca consegue salvar ninguém. Will, Bárbara, seu pai. Até quando vai aguentar o peso da inutilidade? - Uma voz rouca e grave proferiu aquelas palavras que doeram no meu peito.
Com um grito de ódio preso na garganta, fechei os olhos na calada daquela escuridão, tentando evitar perder o controle. Estava buscando uma saída daquilo. Não podia ser tão inútil a ponto de não conseguir controlar minha própria mente.
Assim que consegui abrir os olhos, vi El se aproximar e segurar minha mão de imediato. Franzi a testa em surpresa, consciente de que eu havia conseguido chegar aonde queria.
― Para onde foi? - A garota perguntou, me fazendo perceber que apenas eu tinha ouvido aquela voz aterrorizante.
― Isso não importa, certo?! - Apertei sua mão, vendo-a olhar para algo atrás de mim em seguida.
― Castelo Byers... - Meus olhos se arregalaram ao ouvir a mais nova murmurar aquilo, me fazendo virar o mais rápido possível para encarar na mesma direção que ela.
E então, sem que eu questionasse qualquer coisa, El me guiou até onde estávamos encarando e, ao nos aproximarmos o suficiente, entramos sem qualquer hesitação.
Quando finalmente consegui ver, um sorriso seguido de lágrimas de alívio surgiu no meu rosto.
Will estava lá. Estava vivo.
― Will? - Rapidamente me agachei ao lado do garoto, que parecia amedrontado e prestes a congelar.
― Klar? - Suspirei aliviada e acariciei o rosto dele ao ouvir meu apelido sair da sua boca.
― Ei, estou aqui agora. Me desculpa por não ter vindo antes.
Sabendo que, de algum jeito, os que acompanhavam nossa busca poderiam estar escutando e cientes de que havíamos encontrado Will, levei em conta que logo ouviríamos algumas palavras. E assim aconteceu. Joyce foi quem começou.
― Fala pra ele... fala pra ele que estamos indo. Diz pra ele ficar onde está! - A voz desesperada de Joyce soou no fundo da minha mente.
― Joyce está vindo, ok? Aguenta mais um pouco. Sei o quão forte você é! - Antes que eu pudesse acariciar seu rosto novamente, Will começou a desaparecer em uma espécie de névoa, me fazendo franzir a testa e olhar ao redor.
― Rápido... - Sua voz trêmula partiu meu coração. Ao olhar ao redor, percebi que tudo estava desaparecendo em forma de fumaça. Agora, só eu e El permanecíamos ali. Rapidamente, a vi fechar os olhos, e fiz o mesmo, tentando sair dali.
A questão é que, querendo ou não, eu ainda não tinha total controle sobre aquilo. Não sabia como funcionava, nem para onde minha mente poderia me levar caso eu falhasse. Resumindo: eu estava rodeada de ingenuidade.
Quando me permiti abrir os olhos após minha tentativa de sair daquela escuridão, percebi que havia falhado.
― El? - Gritei, não recebendo nenhuma resposta. ― El!
Com o silêncio sendo quebrado, a voz que invadiu minha audição foi a mais provável naquele momento. Chegava a ser questionador tamanha perseguição. Era algo que eu não aguentava mais.
― Por que acha que teria alguém pra te salvar aqui? Alguma vez eles já estiveram, Klara?
Pude sentir algo ameaçando sair de dentro de mim após ouvir tais palavras. Era uma sensação desconhecida, mas aterrorizante, como se as sensações de libertação e pertencimento estivessem me consumindo por dentro. Porém, antes que isso acontecesse, tentei escapar daquela escuridão o mais rápido possível, como se a sensação de pertencimento quisesse impedir a saída daquilo que estava em mim.
Ao abrir os olhos após minha tentativa, vi Hopper se aproximar e me abraçar com toda a sua força.
― Ei, estou com você. Seu pai está aqui.
- Ao ouvir a voz reconfortante de Hopper, tentei acalmar minha respiração ofegante.
― Will... - Sussurrei, quase sem fôlego, por causa do choro preso na minha garganta. ― Precisam buscar o Will.
- Troquei um olhar com Hopper, que parecia entender o quanto eu precisava de Will conosco.
Com a ajuda dele, consegui me levantar e assim caminhamos até as arquibancadas, onde El e os garotos estavam. Ao chegar, a primeira coisa que fiz foi limpar o sangue na região de meu nariz.
Antes que eu pudesse focar minha atenção na garotinha, Hopper me chamou, com um olhar preciso, mas preocupado.
― Cuide deles, que nós voltamos logo. Vamos atrás de Will. - Citou Hopper.
― Assim que voltarmos, cuidarei de você e você tentará me contar tudo o que não tive a oportunidade de saber nessa última semana.
Ao ouvir, assenti brevemente com a cabeça, sentindo um beijo vindo do mais velho ser depositado em minha testa.
O observei sair da quadra junto de Joyce, fazendo meu foco voltar para El.
Ao me agachar à sua frente, segurei levemente sua mão. ― Você foi muito bem.
― Eu não teria conseguido sem você, Klar. - Os olhos de El brilhavam enquanto falava.
― Eu sempre estarei aqui. Com você.
- Falei, sorrindo brevemente.
Segundos após dizer aquilo, pude ouvir o som de uma porta se abrindo ao longe, me fazendo focar a atenção na direção do barulho. Ao avistar Jonathan e sem sinal da presença de Nancy ali, presumi o que poderia estar acontecendo.
Nancy devia estar abalada após a notícia da morte da melhor amiga. Nesses dias em que estive com ela, era perceptível sua determinação para conseguir resgatar Bárbara, e, depois disso, a sensação de fracasso devia estar esmagadora.
Suspirei ao erguer meu olhar para as crianças, já me levantando.
― Cuidem dela. Eu volto logo.
Após isso, apressei meus passos até determinada direção, abrindo a porta da quadra e avistando, ao chão, Jonathan e Nancy conversando sentados. Estava claro que eu havia chegado a tempo de ouvir a última parte da conversa dos dois.
― Eu quero terminar o que começamos.
- Disse Nancy, enquanto olhava de forma determinada para Jonathan.
Não precisei raciocinar muito sobre sua fala para entender do que se tratava. Era sobre o plano para matarmos o monstro.
Me aproximando, depositei uma das mãos no bolso da calça, vendo Nancy me observar.
― Sinto muito. - Vi seu assentir de cabeça, com um olhar à beira do choro presente nela. ― Mas, depois do que aconteceu, você precisa ter certeza de que quer fazer isso mesmo.
― Perdi minha melhor amiga, Klara.
- Ela se levantou, cruzando os braços levemente. ― Ainda tenho algo a buscar. Acabar com o que a levou. Vamos ou não? - Nancy me encarou, como se precisasse da minha presença para onde quer que fosse.
Ao ouvir suas palavras, meus pensamentos se voltaram apenas às crianças. Deixá-las sozinhas era ruim, mas, levando em consideração que estávamos indo atrás do monstro, nada deveria conseguir chegar perto delas.
Olhando para Nancy e Jonathan, assenti com a cabeça. Estávamos determinados a concluir nosso plano.
{...}
Após sairmos do colégio, voltamos para a delegacia. Já era tarde, o que significava que, quando chegamos lá, o local estava vazio, facilitando o processo. Ao entrarmos, percebemos que Florence não estava na recepção e havia poucos guardas, todos distraídos. Nos dirigimos até a sala do Hopper e pegamos o que precisávamos e que nos pertencia: a caixa que havia sido apreendida no carro do Jonathan, contendo tudo que tínhamos comprado. E um extintor que estava por ali.
Quando finalmente saímos da delegacia, seguimos direto para a casa dos Byers. Ao chegarmos, demos início ao nosso plano. Acreditávamos que conseguiríamos matar aquela coisa, o que ajudaria a Joyce e o Hopper na busca pelo Will. Começamos reinstalando todas as luzes de Natal, armamos a armadilha de urso, espalhamos gasolina pela casa, recarregamos as armas e improvisamos um taco com pregos.
Com base na pesquisa que eu e a Nancy havíamos feito, o plano era o seguinte: atrair o monstro com sangue; as luzes avisariam quando ele estivesse se aproximando, assim como foi no dia em que a Joyce entrou em contato com o Will; levaríamos o monstro até a armadilha de urso e então tacaríamos fogo.
Quando tudo estava pronto, trocamos olhares, facas próximas de nossas mãos. Estávamos prestes a iniciar a primeira fase do plano. Esfaquearíamos as mãos, jogaríamos sangue pela casa e esperaríamos.
― Prontas? - Jonathan levou a faca à própria mão, nos encarando.
― Pronta. - Nancy respondeu, e eu apenas assenti, olhando para a faca perto da minha mão. ― Um... Dois...
- Nancy começou a contagem.
― Olha, vocês sabem que não precisam fazer isso. - Jonathan disse, me fazendo perder a paciência.
― Cala a boca, Byers. Três! - E então, cortei minha mão, sendo logo acompanhada pelos dois.
Após isso, e um breve momento depois, quando já havia sangue suficiente espalhado pela casa, pegamos os materiais para fazer os curativos.
Nos sentamos no sofá, apreensivos, começando a cuidar dos cortes enquanto ficávamos atentos a qualquer barulho. Talvez estivéssemos até um pouco paranoicos.
― Ouviram isso, né? - Nancy olhou para a porta.
― É só o vento... - Jonathan disse, e então os dois trocaram olhares.
― Não se preocupe. As luzes vão avisar quando ele estiver próximo. - Comentei.
― Certo... - Ainda apreensiva depois de me escutar, Nancy continuava olhando ao redor.
Depois de terminar o curativo, ela voltou o olhar para Jonathan. ― Está muito apertado?
― Não... está bom. - Respondeu brevemente.
Antes que Nancy pudesse dizer mais alguma coisa, batidas fortes foram escutadas na porta da casa, nos deixando em alerta imediato.
Ao nos levantarmos, uma voz familiar ecoou do lado de fora da casa.
― Jonathan! Você tá aí, cara? É o Steve! Só quero conversar!
Franzi a sobrancelha ao trocar um olhar com Jonathan e Nancy. Vi quando a Wheeler caminhou até a porta e a abriu, determinada a resolver a situação.
A conversa entre os dois parecia contida, como se estivesse prestes a se resolver. Mas, assim que a porta foi levemente empurrada, não hesitei em caminhar até lá para verificar o que estava acontecendo.
Nancy percebeu minha aproximação. Então, abri a porta o suficiente para que meu rosto ficasse visível também. Ao ver a expressão surpresa de Steve, comecei a falar:
― Você precisa sair daqui.
― Klara? - Disse ele, surpreso, como se estivesse ligando os pontos. ― Deveria ter imaginado que você também estava aqui.
Antes que eu pudesse responder, notei que seu olhar caiu para a minha mão e, em seguida, para a de Nancy. Sua expressão mudou imediatamente, franzindo a testa.
― O que é isso? É sangue? - Ele segurou minha mão, mas eu a puxei de volta no mesmo instante.
― Foi um acidente, Steve. - Declarei, tentando manter a calma. ― Você precisa ir embora, sério.
― Ele fez isso com vocês? - Perguntou, ignorando completamente qualquer explicação.
Mas afinal, havia alguma forma de explicar que estávamos nos ferindo para atrair um monstro? Mesmo se disséssemos isso, ele iria embora? Era tudo o que eu queria. Quanto mais tempo ele ficasse ali, mais perigo corria. E eu não ia permitir que algo acontecesse com ele.
Em um momento de distração nossa, Steve usou toda a força e entrou na casa. Sua expressão de choque foi clara ao ver o estado da residência.
― O que está acontecendo aqui?
- Perguntou, visivelmente perturbado.
― Você tem que ir embora! - Jonathan se aproximou dele e tentou empurrá-lo para fora.
Steve travou o corpo, impedindo que fosse expulso, e me encarou. ― Que cheiro é esse? Gasolina?
― Como você é teimoso! - Me aproximei, irritada. ― Jonathan mandou você ir, então você vai, Steve.
Foi então que ouvimos um estalo seco, fazendo todos na sala se virarem ao mesmo tempo. O motivo era claro: Steve estava correndo perigo. Ele não sabia o que estávamos enfrentando, mas mesmo assim insistia em ficar. Nancy encontrou uma solução. Ameaçá-lo.
A Wheeler segurava a arma, apontando diretamente para Steve, que arregalou os olhos.
― Steve, vai embora! Você tem cinco segundos pra sair daqui! - Ordenou Nancy.
― Isso só pode ser uma piada! - Steve praticamente gritou, à beira de um surto.
E se eu conheço meu irmão, ele estava prestes a perder o controle.
― Sai daqui agora! - Coloquei as mãos com força nos ombros dele, vendo Jonathan se afastar, atento ao redor.
― Nancy!
― Vai embora, Steve!
― Klara!
― Caralho, vaza, Steve! - Tentei empurrá-lo para fora da casa, mas fui interrompida pelo grito desesperado de Jonathan.
― Gente! As luzes! Ele tá aqui! - Avisou.
Meus olhos se arregalaram. Olhei ao redor, trocando um olhar rápido com Nancy. Parte do plano estava funcionando. O monstro estava chegando.
Corri até a mesa e agarrei a arma que restava, voltando para perto de Steve, mantendo ele atrás de mim. ― Vê se presta pra alguma coisa pelo menos uma vez na vida e fica atrás de mim, Steve.
― Onde ele está? - Nancy olhou ao redor, atordoada.
― Eu não sei! - Jonathan respondeu, sem fôlego.
― Mas onde está o quê?
― Cala a boca, Steve!
De repente, segundos após minha fala, ouvimos um estrondo vindo do teto da sala.
Assustados, olhamos para cima e vimos a parte decepada da mão do monstro. A mão que ele havia perdido por minha culpa.
Nancy começou a atirar sem hesitar, mas sabíamos que o objetivo não era atacá-lo ainda, e sim conduzi-lo para a armadilha. Não podíamos irritá-lo a ponto de sermos mortos.
Jonathan gritou por Nancy e a puxou, indicando que iríamos seguir pelo corredor. Era a próxima etapa do plano.
― Steve, corre! - Gritei, puxando-o pelo braço. Ao passar pelo corredor, sabendo que ele não fazia ideia da armadilha, o alertei. ― Pula!
Chegamos no quarto de Jonathan e fechamos a porta brutalmente. Estávamos assustados com tudo o que tinha acabado de acontecer.
― Mas que merda era aquela? - Steve gritou. ― E por que ele só tem uma mão?
― Cala a boca! - Jonathan, Nancy e eu gritamos ao mesmo tempo, focados na porta.
Passos pesados podiam ser ouvidos, mas logo cessaram, como se o monstro tivesse desaparecido.
― O que houve? - Franzi a testa, abaixando a arma.
― Não sei. - Jonathan respondeu, caminhando até a porta. Seguimos logo atrás.
Andamos em silêncio pela casa, voltando para a sala e olhando em volta.
― Isso é loucura, isso é loucura. - Steve repetia, claramente surtando, enquanto corria até o telefone.
Arregalei os olhos e corri até ele, arrancando o aparelho de suas mãos.
― Ele vai voltar, Steve. Então vai embora. Você mais do que qualquer pessoa sabe que eu não posso perder mais ninguém. Então vai! Agora! - Gritei.
― E você acha o quê? Que eu vou deixar você lidar com aquilo sozinha? - Ele me encarou. ― Tá fora da realidade há quantos dias, caramba?
― Porra, para de ser teimoso e sai dessa casa logo! - Empurrei ele, que segurou meus braços. Não com força, mas o suficiente para me impedir.
― Eu não vou te deixar aqui, Klara!
Antes que eu pudesse continuar, os gritos de Jonathan e Nancy chamaram nossa atenção. As luzes começaram a piscar descontroladamente de novo.
― Onde ele está? - Jonathan procurava ao redor, aflito.
― Estão vendo ele? - Perguntei, repetindo seus movimentos.
― Não! - Nancy respondeu, com o tom visivelmente assustado.
E então, de uma vez, todas as luzes se apagaram.
― Mas que droga! - Gritei, tentando enxergar algo.
O silêncio durou pouco. Logo, o grito de Nancy cortou o ar.
― Jonathan!
O desespero na voz dela foi o suficiente para nos alertar. Quando vimos o que estava perto de Jonathan, entendemos o motivo. O rugido da criatura ao avançar contra ele nos fez reagir imediatamente.
Atirei desesperadamente no monstro, mas isso só parecia irritá-lo ainda mais. Ele não demonstrava dor. Em poucos segundos, ele se virou e veio em minha direção.
Senti suas garras penetrarem minha barriga, e um grito saiu do fundo da minha garganta.
― Klara! - O desespero de Nancy foi nítido ao ouvir meu grito.
Minha visão ficou turva. As pernas cederam. A arma caiu da minha mão, escapando por entre meus dedos. Estava perdendo força.
Droga, eu estava morrendo?
Quando o monstro estava prestes a me atacar novamente, foi arremessado para o outro lado da sala, à vista de todos nós.
Steve, sem hesitar, agarrou o taco com pregos que havia na sala e correu na direção da criatura, partindo pra cima sem pensar duas vezes.
Em um momento de esperteza, ele o atacou com brutalidade até levá-lo até a armadilha que havíamos preparado.
― Ele caiu na armadilha! - Gritou.
Ao ouvir meu irmão, coloquei a mão sobre o ferimento na minha barriga e caminhei, mesmo sentindo a dificuldade, até o corredor. Uma dor aguda percorreu todo o meu corpo, acompanhada de calafrios que me deixavam cada vez mais fraca.
― Jonathan, agora! - Nancy gritou, e a próxima coisa que vi foi o monstro sendo consumido pelo fogo.
Jonathan havia jogado o isqueiro que carregava, e com toda a gasolina que havíamos espalhado próximo à armadilha, o efeito foi imediato: o monstro começou a se queimar por inteiro.
Após alguns segundos, Jonathan pegou o extintor que havíamos trazido da delegacia e apagou o fogo. A fumaça densa invadiu o corredor, impedindo qualquer visão clara.
Quando a fumaça começou a se espalhar, a tosse me atingiu com força. Foi nesse momento que realmente percebi o quanto meu corpo estava debilitado. A dor do ferimento na minha barriga parecia só aumentar, pulsando em ondas.
― Droga... - Murmurei, tentando focar a visão embaçada em Nancy, Jonathan e Steve.
― Que merda! - Vi Nancy correr até mim, e antes que eu desabasse no chão, ela me segurou.
Em desespero, Steve correu até mim e ajudou Nancy a me sustentar. ― Klara, fica acordada!
― Eu já perdi a Barb, Klara! Eu não posso te perder, então continua acordada. Vamos trazer ajuda. - A voz trêmula da Nancy deixava claro o desespero dela.
Presumi que, ao não ouvir Jonathan, ele estivesse tentando buscar ajuda. Talvez usando o telefone da casa, procurando por uma ambulância.
Sem conseguir emitir nenhuma palavra ao ouvi-los, minha visão se tornou completamente turva, como se estivesse sendo engolida por um vazio. Eu estava prestes a apagar.
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