⤿ FESTA DE HALLOWEN,
CASA DA TINA
31/10/1984
𝗠𝗘 𝗘𝗡𝗖𝗢𝗡𝗧𝗥𝗔𝗩𝗔 𝗘𝗡𝗖𝗢𝗦𝗧𝗔𝗗𝗔 𝗘𝗠 𝗨𝗠𝗔 𝗗𝗔𝗦 paredes daquela casa enorme, entre Nancy e Steve, observando todos aqueles adolescentes bêbados e impulsivos.
Sim, Steve me convenceu a vir para essa festa.
Eu nunca fui fã de festas, nunca mesmo. E agradeço que esse lado da família tenha ficado só com o Steve, porque estou contando os segundos para ir embora.
Me sinto deslocada aqui. Pode parecer ridículo, mas é a verdade.
Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, vi Tommy e alguns outros garotos caminhando em nossa direção.
― Parece que temos um novo rei do barril, Harrington. - Disse Tommy, fazendo-me trocar um olhar com meu irmão e perceber que Nancy se afastou para longe depois disso.
― Isso quer dizer que eu vou ter que parar de te chamar de Rei Steve? - Sorri sarcasticamente para Steve, recebendo um revirar de olhos em resposta.
― E quem é essa gata? - Um garoto loiro perguntou, me fazendo bufar. Até então, ele era um completo desconhecido para mim.
― É a caçula dos Harrington, tão babaca quanto. - Tommy respondeu.
― Mas com certeza mais sensata que você! - Retruquei, piscando para Tommy, o que fez o loiro rir.
― Billy. - O garoto falou, estendendo a mão para mim. Steve, no entanto, me impediu de ao menos pensar em retribuir o gesto.
― Quando eu falei para você conhecer alguém, me referia a alguém legal...
- Ele sussurrou, fazendo-me arquear uma sobrancelha.
Quem disse que eu queria conhecer esse cara?
― Qual é, Harrington? Vai privar a própria irmã? - Billy sorriu de maneira provocativa, claramente aproveitando a situação.
Suspirei e levei a mão até o cigarro que estava entre os dedos de Billy.
― Vá pro inferno, obrigada! - Falei, dando uma tragada antes de caminhar em direção ao lugar onde a Wheeler poderia estar.
― Vaca... - Ouvi Billy murmurar, mas apenas levantei o dedo do meio sem olhar para trás.
Quando vi Nancy esvaziando um copo cheio de bebida, percebi Steve se aproximar.
― Ei, vai com calma, Nancy. - Ele disse, tirando os óculos.
― Não era para sermos adolescentes bestas hoje? - Nancy respondeu antes de se dirigir para a pista de dança, me deixando confusa.
― Adolescentes bestas? - Perguntei, me apoiando na mesa e olhando para Steve.
― É uma longa história... - Ele suspirou.
― É melhor eu ficar de olho nela. Vai, vem aqui. - Steve falou, pegando em minha mão.
― Está ficando louco se acha que eu vou para a pista de dança. - O encarei.
― Te trouxe aqui para se divertir! Tente uma vez, vai ver que não é nada ruim!
- Steve ironizou, me fazendo revirar os olhos antes de acompanhá-lo até a pista de dança.
Ao nos aproximarmos da Wheeler, notei o sorriso que surgiu em seu rosto enquanto ela me entregava um copo de bebida.
― Valeu, Wheeler! - Exclamei, virando o líquido de uma vez na boca.
― Nossa, ela bebe. - Steve ironizou, me fazendo revirar os olhos novamente, mas dessa vez com um sorriso de canto no rosto.
― Onde pegou isso? Não é nada mal.
- Olhei para Nancy.
― Por ali. - Nancy disse, dando de ombros e começando a dançar.
― Vou ver se encontro mais. - Disse para Steve, vendo-o assentir com a cabeça.
Enquanto a música alta da festa reverberava em minha mente, comecei a caminhar no meio daquela multidão, erguendo o olhar em busca de qualquer pote ou mesa que pudesse ter bebida.
Antes que me desse conta, meus passos acabaram me levando para perto da porta da casa. Ao olhar para frente, uma expressão surpresa tomou conta do meu rosto ao me deparar com alguém que eu nunca esperaria ver ali.
Jonathan Byers.
― Jonathan? - Minha surpresa era evidente.
― Klara? Klara Harrington em festas? Isso é inesperado. - Ele disse, enfiando as mãos nos bolsos.
― Eu que te pergunto. Jonathan Byers em festas? Essa é nova! - Comentei, vendo um sorriso tímido surgir em seu rosto, embora seu olhar logo desviasse até... Nancy?
― Ah, entendi tudo. - Abaixei a cabeça.
― O quê? - Jonathan perguntou, confuso.
― Nada. - Balancei a cabeça. ― Aliás, do que você tá fantasiado? - O olhei de cima a baixo.
― De cara que odeia festas. - Ele sorriu, me fazendo rir.
― Claro. Deveria ter aderido isso.
― Você tá legal assim. Mortícia Addams, não é? - Ele apontou para mim.
Antes que eu pudesse responder, algo aconteceu que parou a festa. Steve, por algum motivo, derramou bebida em Nancy.
― Ah, que droga... - Murmurei, passando a mão pelo cabelo enquanto via os dois caminharem em direção ao banheiro.
Depois de um tempo, pude ver Steve passar por mim e Jonathan, claramente irritado.
― Steve? - Chamei, mas ele seguiu em frente sem dizer absolutamente nada.
Troquei um rápido olhar com o Byers.
― Eu só... - Comecei, mas ele apenas assentiu, indicando que havia entendido.
Fui para o lado de fora da casa, vendo Steve acelerar o passo em direção ao carro.
― Steve? Espera aí! - Segurei seu braço.
― O que houve lá dentro?
Num movimento rápido, ele o puxou de volta.
― Não é da sua conta! - Ele exclamou, e meu espanto foi tão evidente que vi a culpa em seus olhos logo em seguida.
― Desculpe...
― Tá tudo bem. - Falei, pousando a mão em seu ombro. - Só quero entender o que aconteceu lá dentro.
Percebi a tristeza em seu rosto enquanto ele hesitava.
― Segundo Nancy, nós somos todos culpados pela morte da Bárbara, você só pensa em si mesma, eu sou um idiota, e...
- Steve parou, claramente abalado.
― Ela disse que não me ama. É tudo besteira.
― Ah, meu Deus. - O puxei para um abraço, sentindo suas lágrimas caírem em meu ombro.
― Só... pede para o Jonathan levar a Nancy para casa, ok? - Disse Steve, olhando para mim. Eu assenti.
― Fica bem. - Murmurei, vendo-o acenar antes de entrar no carro e partir.
- ★
⤿ HAWKINS HIGH SCHOOL
01/11/1984
Estava nos fundos da escola, fumando e ouvindo música enquanto tentava ignorar a leve dor de cabeça que ainda latejava por causa da festa de ontem. Quando menos esperava, vi Dustin parar bem na minha frente, ofegante e parecendo ter corrido um longo caminho. Desliguei o Walkman rapidamente e o encarei, intrigada.
― O que aconteceu? - Meu semblante preocupado era evidente.
― Eu preciso... nós precisamos de ajuda!
- Ele disse, ainda ofegante. ― Como você é uma nerd, talvez possa me ajudar.
Levantei uma sobrancelha, surpresa com a afirmação.
― Eu não sou nerd! - Fiz uma careta.
― E aquela conversa do ano passado?
- Ele cruzou os braços.
― Eu só expliquei algo óbvio e usei o termo "nerd", só isso. - Agora fui eu quem cruzei os braços.
― Que se dane. Ainda assim, preciso de você. - Disse ele, segurando meu braço e me puxando para correr ao seu lado.
Dustin me levou até a escola do ensino fundamental, e entramos na sala do clube de audiovisual, onde várias expressões confusas nos aguardavam.
Lá estavam Mike, Lucas, Will e... quem era aquela garota ruiva?
― Fecha a porta! - Dustin ordenou, passando por mim, e eu obedeci sem hesitar.
― Por que você a trouxe aqui? - Lucas perguntou, levantando uma sobrancelha.
― Eu que pergunto! - Repliquei, me aproximando da mesa. ― Você eu não conheço... - Disse, olhando para a ruiva. E, se eu fosse sincera, ela era uma das garotinhas mais bonitas que já tinha visto.
― Max... - Ela respondeu com um breve sorriso tímido e desconfiado.
― Klara. - Retribuí o sorriso e voltei minha atenção para Dustin. ― O que você quer, afinal?
Dustin abriu uma espécie de armadilha, e um barulho estranho, como um grunhido, veio de dentro. Aquilo parecia vagamente familiar.
― Encontrei isso no meu lixo e, até agora, não sei o que é. - Explicou Dustin, enquanto todos olhavam para a armadilha. ― O nome dele é Dart! - E ele tirou o bicho de dentro.
― Dart? - Levantei uma sobrancelha.
― É só um apelido. - Ele deu de ombros.
― E ele estava no seu lixo? - Perguntou a ruiva.
― Procurando comida! - Dustin parecia empolgado. ― Quer segurar? - Ele ofereceu para Max, que recusou rapidamente, mas já era tarde demais.
― Que nojo! Que bicho gosmento! - Disse Max, passando o bicho para Lucas.
― Ew, parece uma meleca viva! - Lucas me passou a criatura em seguida.
― O que é isso? - Inclinei o olhar, notando que o bicho se aconchegou na minha mão, ao contrário do que aconteceu com os outros.
― Ele gostou de você! - Dustin sorriu, e eu franzi o cenho.
Era como se aquilo me lembrasse algo, mas minha mente parecia bloquear a lembrança.
― Pensei que você pudesse descobrir o que ele é... - Dustin disse, enquanto eu colocava a criatura de volta na armadilha.
― Já falei que não sou nerd.
― E o papo do... - Mike começou a falar, mas eu o interrompi.
― Vamos deixar essa conversa no passado, ok?
Dustin pegou alguns livros da mochila e começou a ler.
― Primeiro pensei que fosse um filhote de anuro... - Disse ele.
― Anuro? - Max franziu a testa.
― Um girino. - Expliquei para ela, que assentiu. ― Claro.
― A maioria dos girinos são aquáticos, mas Dart não precisa de água.
- Continuou Dustin.
― Só existem dois tipos de girinos terrestres, e nenhum deles é desta região. - Comentei, percebendo que todos me encaravam.
― Você disse que não era nerd... - Dustin lançou um sorriso sarcástico.
― Cala a boca. A questão é: como diabos ele foi parar no seu lixo?
― Talvez algum cientista tenha trazido ele para cá, e ele escapou? - Sugeriu Max.
― Vocês estão vendo? - Mike disse, apontando para a criatura. ― Parece que algo está saindo de dentro dele.
Quando Mike direcionou a luz para o bicho, ele reagiu e começou a correr. Antes que caísse da mesa, Dustin o pegou.
― Quase esqueci disso... - Disse Dustin, acariciando o bicho. ― Répteis são ectotérmicos, certo? Dart não. Ele detesta calor.
Tentei processar as informações, mas minha mente continuava bloqueando algo.
― Eu não sei... acho que já vi algo assim antes... esse barulho... - Aproximei-me da criatura, mas antes que pudesse tocá-la, o sinal da escola tocou, nos deixando alertas.
― Hora das crianças irem para casa!
- Eu disse, me afastando. ― Só tomem cuidado com isso. Tenho um péssimo pressentimento.
{...}
Atravessando o gramado da escola, segui tranquilamente após inventar mais uma desculpa qualquer para ser liberada mais cedo. A verdade é que encarar os estudos como um conforto deixou de fazer sentido há muito tempo, por conta de tudo o que aconteceu. Não era a primeira vez que fazia isso, e os responsáveis da área sempre pareciam acreditar nas minhas histórias.
No meio do caminho, o som de um motor se destacou. Olhei na direção da estrada e reconheci o veículo que se aproximava rapidamente. Era o carro da... Joyce?
― Joyce? O que aconteceu? - Perguntei, me aproximando. Seu semblante preocupado era claro.
― Você viu o Will por aí? - Ela perguntou, ofegante, e uma compreensão silenciosa surgiu entre nós.
― O que houve com o Will? - Nossos olhares se encontraram, e rapidamente apressamos o passo em direção à escola.
Entramos na sala do clube de audiovisual, onde achávamos que eles estariam, mas não havia ninguém.
Enquanto caminhávamos pelos corredores, ouvimos alguém gritar.
― Dustin? - Nos aproximamos rapidamente. ― O que está acontecendo? Onde está o Will?
― Klara? Tia Joyce? O que vocês estão fazendo aqui? - Dustin perguntou, e Max logo apareceu atrás dele.
Nesse momento, Lucas surgiu pela porta do gramado, ofegante.
― Ele está no gramado! - Disse Lucas, e todos saímos correndo.
Ao chegar ao gramado, encontramos Will em um estado de transe, os olhos revirados.
Isso é preocupante. Muito preocupante. Ele estava tendo uma visão. E se fosse como as que eu tenho, isso seria terrível. Ele é só uma criança, não merece isso.
Joyce correu até Will, tentando acordá-lo.
― Will, acorda! Sou eu, a mamãe!
Me aproximei dele, estendendo a mão para tocá-lo, mas me arrependi quase que imediatamente.
A atmosfera ao redor mudou de forma assustadora. O ar parecia mais pesado, difícil de respirar, e um frio estranho começou a se espalhar pela minha pele. A escuridão tomou conta de tudo, densa e inquietante, trazendo uma sensação desconfortável que eu conhecia bem.
Eu estava lá de novo.
Diante de mim, uma figura gigantesca e sombria começou a se formar, e então ouvi uma voz familiar. Meu estômago se apertou, e um arrepio percorreu minha espinha enquanto eu tentava processar o que estava acontecendo.
― Você. - O som era tão forte que me fez cair de joelhos, a dor era insuportável.
Mas, de repente, eu voltei à realidade. E, pelo jeito, Will também havia despertado.
{...}
― Certo, aquilo me assustou de verdade. Não assustou vocês? - Max trocou um olhar conosco.
― Dois surtos desses, em dois dias...
- Lucas comentou, preocupado.
― Ele teve outro surto? Achei que tinha sido só no fliperama. - Olhei para as crianças.
― Ele teve um surto no fliperama? A visão verdadeira está pior do que pensávamos! - Lucas disse.
Se eles estavam falando da mesma visão que eu, isso era muito, muito ruim.
― Visão verdadeira? - Max nos encarou.
― Não é nada! - Lucas tentou desconversar.
― Não, ela está certa. De que visão verdadeira vocês estão falando? - Olhei para Mike, que me lançou um olhar de aviso. Ele não queria que falássemos disso perto de Max, que não tinha ideia do que estávamos enfrentando.
― É besteira. - Dustin disse, e eu assenti. Trazer mais gente para isso seria perigoso.
-★