INESPERADAMENTE NÓS

By junggnnie

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(CONCLUÍDA) Jimin sempre sonhou em ser pai. Passou anos economizando para realizar a inseminação artificial... More

O ERRO
O CONFRONTO
O ACORDO
UMA NOVA VIDA
O GRANDE EVENTO
UMA NOVA CHAMA
CUIDADOS
FLORES
մÇ
FELICIDADE
ʴÃ
շÃ
PONTO FINAL
FINAL FELIZ

O JANTAR

167 31 16
By junggnnie


O silêncio da casa era quase ensurdecedor.

Fazia alguns dias desde a sua mudança, Jimin despertou com a luz natural invadindo o quarto por entre as cortinas semiabertas. Por um breve instante, teve a ilusão de estar em seu antigo apartamento - onde o som da rua o embalava e o cheiro do café da padaria vizinha preenchia o ar. Mas, ao abrir os olhos e encarar o teto alto e as paredes de tons neutros, a realidade caiu como um balde de água gelada: ele estava na casa de Jungkook.

No quarto de hóspedes.

Na prisão de luxo que havia assinado voluntariamente.

Se levantou devagar, ainda meio zonzo pela noite maldormida, e seguiu até o banheiro anexo. O espelho refletiu o rosto cansado, olheiras fundas e a expressão abatida de quem dormira com o peso de um contrato amarrado ao coração.

Desceu para a cozinha no andar térreo, onde foi recebido por uma empregada simpática - ou pelo menos treinada para parecer. O café da manhã já estava posto: frutas cortadas com precisão cirúrgica, pão fresco e suco natural. Luxo demais para um estômago revirado de ansiedade.

JungKook não estava ali.

Claro que não.

Ele provavelmente já havia saído para mais uma rodada de reuniões ou para manter a fachada do herdeiro perfeito diante do pai implacável.

Jimin sentou à mesa, mas pouco comeu. Só então percebeu que sua presença ali, mesmo contratualmente validada, parecia deslocada. Como uma mancha discreta em uma tela perfeitamente branca.

---

Mais tarde naquele dia, Jimin decidiu explorar a casa.

Era um lugar vasto, quase impessoal demais para se chamar de lar. Escadas em mármore, corredores silenciosos, quadros modernos pendurados como quem tenta fingir que tem bom gosto. Ele passou por uma sala de música - com um piano de cauda branco - e por uma biblioteca que parecia ter sido montada por uma empresa de design, e não por alguém que realmente gostasse de ler.

Subiu ao terraço e ficou ali por um tempo, observando a cidade lá embaixo, tentando se lembrar de por que mesmo havia aceitado tudo aquilo.

Ah, sim. O bebê.

Seu bebê.

Jimin levou a mão à barriga ainda discreta, mas já sensível. Era por ele que estava ali. Por ele que aceitaria esse circo, as aparências, o desprezo velado e os olhares frios.

Mas isso não significava que aceitaria calado.

---

À noite, Jungkook voltou tarde.

Como se estivesse ensaiado, apareceu no final do corredor, os passos firmes ecoando pelos azulejos. Jimin estava na sala de estar, lendo um livro só para não ter que encarar a própria inquietação.

- Você já está ambientado? - perguntou Jungkook sem preâmbulo, enquanto soltava o relógio de pulso e se livrava do paletó com uma naturalidade irritante.

- Estou tentando - respondeu Jimin, sem levantar os olhos.

Jungkook se jogou no sofá oposto, afrouxando a gravata. O silêncio entre eles era quase físico.

- Amanhã teremos um jantar - disse de repente.

Jimin ergueu o olhar.

- Jantar?

- De negócios. Meu pai virá pra cá. Vai ser a primeira vez que ele vai ver a gente juntos desde que anunciei o noivado.

Jimin arqueou uma sobrancelha.

- Você já anunciou?

Jungkook fez que sim com a cabeça.

- Hoje pela manhã. Saiu na imprensa agora à noite. Já estamos oficialmente noivos. Parabéns.

O tom de deboche foi sutil, mas cortante.

Jimin cruzou os braços, sentindo a raiva ferver sob a pele.

- E você nem pensou em me avisar?

- Achei que você não ligava para aparências. - Jungkook deu de ombros.

- Eu ligo para respeito. Mas talvez isso seja pedir demais de alguém que só me vê como um contrato.

Jeon o encarou por um instante, como se ponderasse se valia a pena responder. No fim, não disse nada.

Covarde.

Jimin bufou e se levantou.

- Só me diga que tipo de roupa devo usar e onde devo sorrir.

- Smoking. E sorria o suficiente para enganar meu pai, mas não tanto a ponto de parecer que está feliz.

Jimin o olhou por um longo momento. Um riso amargo escapou de seus lábios.

- Você é mesmo um cretino, Jeon Jungkook.

E saiu, o deixando sozinho no sofá.

---

Naquela noite, Jimin sonhou que estava correndo.

Correndo com o bebê nos braços, enquanto vozes distantes gritavam o nome de Jungkook.

Quando acordou, estava com o travesseiro molhado de suor e lágrimas. Mas, mesmo tremendo, murmurou para si mesmo:

- Eu não vou perder esse bebê. Nem por ele. Nem por ninguém.

------------

A mesa estava impecável. Louças de porcelana fina, taças de cristal perfeitamente alinhadas e um arranjo floral discreto no centro - obra de uma das funcionárias de Jungkook, claro. Jimin observava tudo em silêncio, com as mãos cruzadas sobre o colo, tentando ignorar o incômodo nó em seu estômago.

- Você está nervoso. - A voz de Jungkook cortou o ar como uma faca. Ele se aproximou com passos firmes, ajeitando as abotoaduras do blazer.

Jimin ergueu os olhos, o cenho levemente franzido.

- E você não está?

Jungkook parou ao lado da cadeira dele, olhando para a mesa como se estivesse diante de um projeto importante.

- Eu me acostumei a fingir.

- Que conveniente - Jimin murmurou, sarcástico.

- Vai ser só um jantar. Meus pais, alguns investidores, dois jornalistas. Ninguém vai arrancar pedaços.

- Só a minha dignidade.

Jungkook sorriu de canto, com uma calma que beirava o deboche.

- Achei que você já tivesse deixado ela na portaria quando assinou aquele contrato.

Jimin respirou fundo, segurando a vontade de atirar uma das taças nele. Ele não podia se dar esse luxo. Não agora.

A campainha tocou.

- Chegou a hora. - Jungkook ajeitou a gravata. - Lembre-se: estamos apaixonados.

- Ótimo. Espero que sua atuação seja tão boa quanto sua arrogância.

Jungkook riu de leve. - Você vai ver.

.
.
.

O jantar começou como se fosse uma peça cuidadosamente ensaiada. Os pais de Jungkook chegaram primeiro - o senhor Jeon com sua habitual expressão de pedra, e a senhora Jeon, que tentou sorrir, mas parecia mais preocupada com o número de garfos do que com o próprio "genro".

- Park Jimin - disse o patriarca, apertando sua mão com firmeza. - Espero que esteja à altura do meu filho.

- Estou tentando - respondeu Jimin, mantendo a compostura.

Jungkook, ao lado, colocou uma mão possessiva nas costas de Jimin, uma encenação que causou arrepios que nada tinham de românticos.

Os convidados chegaram em sequência, e as apresentações se sucederam. Entre brindes e palavras medidas, Jimin teve que sorrir mais vezes do que em todo o último mês. Mas o pior mesmo foi o momento em que um dos jornalistas - um velho conhecido da família Jeon - fez a pergunta que todos estavam esperando:

- Então, como foi que vocês se conheceram?

Jimin congelou por um segundo, mas Jungkook respondeu com uma naturalidade desconcertante:

- Foi no lugar mais improvável. Eu estava com a cabeça cheia, problemas no trabalho... entrei numa floricultura para respirar um pouco e acabei encontrando o que eu não sabia que procurava.

Todos riram. Jimin olhou para ele, surpreso com a facilidade com que mentia.

- E o que viu nele? - perguntou outra convidada, claramente curiosa.

Jungkook virou o rosto para Jimin, os olhos mais suaves por um instante.

- Alguém que não teve medo de me enfrentar. Alguém que não quis nada meu... só me viu como eu sou.

E aquilo, dito daquele jeito, doeu mais do que deveria.

Jimin disfarçou o incômodo com um gole de suco.

O jantar seguia seu curso com sorrisos polidos, elogios as bebidas e pequenas farpas disfarçadas de elogios. Jimin se sentia como um enfeite caro colocado à mesa - bonito, útil para parecer bem na foto, mas descartável assim que o evento terminasse.

Ele evitava encarar Jungkook por muito tempo. Cada vez que seus olhos se cruzavam, algo dentro dele se revirava. Não era exatamente raiva, nem medo - era a consciência incômoda de que, apesar de tudo, aquele alfa sabia como jogar.

- E os planos para a lua de mel? - perguntou a senhora Jeon, com um sorriso tenso. - Ou preferem manter tudo em sigilo também?

Jimin quase se engasgou com a suco.

Jungkook deu uma risadinha contida, lançando um olhar enviesado para Jimin, como quem dizia joga comigo ou estamos ferrados.

- Estamos decidindo ainda. A agenda anda complicada. Mas o mais importante agora é... - ele parou por um instante, como se buscasse a melhor forma de soltar a bomba. - Nos prepararmos para a chegada do nosso filho.

O silêncio que se seguiu foi tão absoluto que o som do garfo escorregando do prato de uma das convidadas soou como um trovão.

Jimin manteve os olhos fixos na taça, sentindo as bochechas queimarem.

- Filho? - A voz grave do senhor Jeon cortou o ar como uma lâmina. - Vocês vão... adotar?

Jungkook, calmo como se tivesse anunciado que o pão chegou quente da padaria, sacudiu a cabeça.

- Não. Jimin está grávido.

Outra onda de silêncio.

Dessa vez, todos encararam Jimin como se ele tivesse acabado de confessar um crime. O senhor Jeon, então, se inclinou ligeiramente à frente, os olhos estreitos.

- Grávido?

Jimin respirou fundo, erguendo o queixo com orgulho contido. Ele sabia que aquele momento viria. Só não esperava que doesse tanto ser observado daquela forma.

- Sim. Estou nas primeiras semanas.

- E é do Jungkook? - A pergunta da senhora Jeon caiu como uma pedra no vidro fino da noite.

O olhar de Jungkook escureceu.

- Sim, ele é meu filho - afirmou, firme, antes que Jimin sequer abrisse a boca. - E qualquer um que questione isso está duvidando da minha palavra.

A ameaça velada pairou como uma nuvem carregada sobre a mesa. Um dos investidores pigarreou, tentando aliviar a tensão com um comentário idiota sobre fraldas e noites sem dormir, mas ninguém riu.

Jimin manteve a compostura, mas por dentro estava em chamas. Não pelo constrangimento - isso ele já esperava - mas por ter sido jogado naquele palco sem aviso prévio. Aquilo devia ter sido uma escolha dos dois. E Jungkook decidiu sozinho.

- Parabéns - disse enfim o senhor Jeon, a voz dura como pedra. - Vamos torcer para que isso fortaleça ainda mais o compromisso de vocês. E que, pelo bem da empresa, a imagem da família continue impecável.

Jungkook respondeu com um aceno seco. Jimin, por outro lado, sentia o sangue pulsando nos ouvidos.

---

Mais tarde, quando os convidados já tinham ido embora e os empregados estavam recolhendo os restos do jantar, Jimin entrou na sala de estar, com os olhos faiscando.

- Você enlouqueceu?

Jungkook estava afrouxando a gravata diante da lareira, mas parou ao ouvir o tom da voz de Jimin.

- Você ia contar em algum momento. Eu apenas... antecipei.

- Antecipou? - Jimin se aproximou, o corpo inteiro tremendo de raiva. - Você jogou isso na mesa como se fosse um truque de marketing. Eu não sou seu slogan publicitário, Jungkook!

- E você acha que eu estou fazendo isso por diversão? - Jungkook rebateu, a voz começando a subir. - Meu pai só vai levar esse casamento a sério se acreditar que temos algo concreto. Nada convence mais do que um herdeiro a caminho.

- Isso é nojento.

- Isso é necessário.

Por um segundo, ficaram ali, frente a frente, as respirações pesadas, a tensão quase visível no ar entre eles.

- Nunca mais tome esse tipo de decisão por mim. - A voz de Jimin saiu baixa, firme, ameaçadora.

Jungkook o encarou, sério. E pela primeira vez, pareceu hesitar.

- Eu achei que estava protegendo vocês dois.

- Então comece a agir como se realmente se importasse.

Sem esperar resposta, Jimin virou as costas e subiu as escadas. Precisava se afastar antes que dissesse algo que se arrependesse. Ou antes que admitisse que aquela declaração, por mais fria e calculada que tivesse sido... o fez sentir, ainda que por um segundo, que talvez ele não estivesse completamente sozinho.

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CONTINUA????
GOSTARAM DESSE CAPÍTULO??

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