Algumas horas depois
Dormia como um anjo até ouvir um barulho estrondoso do impacto de algo na janela de meu quarto. Meu corpo rapidamente se ergue e meus pés descalços tocam o chão frio. Meu coração batia acelerado, enquanto minha mente tentava processar o que estava acontecendo. Eu estava com medo, afinal, não é todo dia que algo bate na sua janela.
Eu tentava achar minhas pantufas azuis apenas com os pés, enquanto podia manter as pálpebras fechadas por mais um tempinho, porém não obtive sucesso.
Quando abaixei a cabeça para buscá-las, pude ouvir o barulho estarrecedor novamente contra o vidro da janela. Meu corpo se estremeceu por alguns segundos, enquanto tentava colocar as pantufas o mais rápido possível.
Ao me levantar, sinto a extremidade do cobertor, a qual antes estava sobre mim, tocar o chão. Caminho vagarosamente até a janela com meus olhos arregalados devido ao meu estado de alerta e minha mão arrasta uma pequena parte da cortina para o lado, com o intuito de fazer com que meus olhos conseguissem entender o que acontecia.
Olhava para baixo e a rua parecia calma, até eu perceber que havia uma pessoa de pé, na calçada do outro lado da rua. Ela usava um boné escuro, cuja aba tapava seu rosto, fazendo com que eu não conseguisse ver sua face. Uma de suas mãos se posicionava dentro do bolso da calça jeans preta e apertada, enquanto a outra mão chacoalhava algumas coisas, o que ao meu ver parecia um conjunto de pequenas pedras. O que eu menos esperava é que nesse momento ele estava sacodindo os pedaços soltos de asfalto para poder conseguir um bom posicionamento e tacar mais uma em minha janela.
Eu me assusto novamente, e após reunir forças de todos os cantos de meu corpo, abro a cortina com brutalidade mostrando minha face mais enfurecida. Minha mão livre abria o trinco da janela de vidro com rudeza, logo empurrando o vidro para o lado.
— O que diabos está acontecendo aqui? — gritava sem medo de receber uma reclamação vinda dos vizinhos moradores dos apartamentos do mesmo prédio.
— (S/n)? Eu te acordei? — eu conhecia essa voz, e certamente o rosto após sua cabeça se erguer. Namjoon, ninguém mais ninguém menos que Kim Namjoon.
— Namjoon? O que você está fazendo? — neste momento, não importava a distância, era possível ver meus olhos arregalados.
— Eu queria te chamar pra sair, a gente trabalha a semana toda, temos que ter um tempo pra curtir. — ele abre um sorriso inocente e larga as pedras de sua mão para colocá-las em seu bolso.
— Por que você não me ligou? Ou tentou usar a porta? — gesticulava minha mão enquanto falava, ainda estranhando tudo aquilo.
— Ah é, a porta....
— Você esqueceu que existe uma porta no apartamento? — não sabia distinguir se estava indignada ou impressionada com a capacidade de sua lentidão.
Agora ele coçava sua nuca, parecendo um pouco sem graça.
— Eu vou trocar de roupa e já desço. — falo revirando os olhos e percebendo um sorriso esperançoso brotar em seus lábios.
Fecho então a janela de vidro e depois a cortina. Sigo até meu armário pegando uma calça jeans qualquer, juntamente de uma camiseta e um casaco de lã que estavam jogados por ali.
Troco-me no quarto mesmo e ando até o banheiro. Meu cabelo hoje não estava bom, não mesmo. Junto os fios e os prendo em um rabo de cavalo, ajeitando-os, e para o penteado ficar mais natural e despojado, apenas puxo alguns fios da costeleta feminina.
Lavo suavemente meu rosto e passo meu protetor solar, fazendo movimentos circulares. Quando finalmente termino meu "ritual de beleza", saio do banheiro pegando meu par de coturnos no meio no caminho e calçando-os rapidamente.
Chaves, documentos importantes, celular e um pouco de dinheiro enchiam o interior de minha pequena bolsa.
Ao sair do apartamento, desço pelo elevador e, como sempre, lá estava o porteiro tirando seu famoso cochilo da manhã. Saio pela porta da frente e encontro Namjoon alternando o peso de seu corpo para a ponta dos pés e seu calcanhar enquanto me esperava.
— Você demorou bastante. — sua voz soava um pouco brincalhona quando cheguei ao seu encontro, aproveitando e já preparando meu corpo para um abraço.
— Para de palhaçada, senhor esquecedor de portas. — rio, abrindo meus braços e esperando que ele me envolvesse com seus longos braços, e assim ele fez.
— Eu estava passando por aqui e pensei da gente sair para conversar um pouco. — ele dizia já desfazendo o abraço.
— E você tem algum lugar em mente? — perguntava-o, repousando uma de minhas mãos sobre minha cintura.
— A gente pode dar uma volta, e quando escurecer, a gente passa em um bar pra distrair a cabeça. — ele se vira para o lado começando a andar e confirmo com a cabeça, passando a acompanhá-lo.
— Eu não consigo acreditar que amanhã já é segunda-feira. — sua voz parecia decepcionada, e sua mão seguia até seu rosto para bater na própria testa.
— Não fica assim, até que trabalhar na cafeteria não é tão mal, vai. — empurro seu corpo com meu cotovelo enquanto ria.
— Taehyung tem estado diferente. Normalmente, ele era bem tímido, agora ele parece não estar nem aí pra nada. A única coisa que permanece, é seu jeito reservado. — seus pés calçavam um tênis preto, que neste momento chutavam as pedras do caminho enquanto ele se locomovia.
— Não o conheço muito bem, então não posso falar muito, mas alguns dias depois de começar a trabalhar lá, ele realmente parecia diferente.
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Estava acompanhando os passos de Namjoon até a porta do bar. O dia havia dado lugar a negridão da noite. Os postes iluminavam os pontos importantes da rua e logo a frente já era possível observar o iluminado letreiro do bar.
Ao chegarmos, ele me deixa passar em sua frente e logo escolho sentar em um dos bancos virados para o balcão, como sempre fazia quando visitava o local.
Namjoon se senta ao meu lado e me olha, já que o atendente não estava ali no momento.
— E aquele rapaz do apartamento? Já resolveram alguma coisa? Ele vai morar com você? — sua feição demonstrava curiosidade.
— Um amigo dele foi ver o apartamento... — não pude controlar o sorriso que insistia em se revelar.
— E como foi?
— Ele disse que havia gostado muito do apartamento, que iria passar todos os detalhes para o Jungkook e que se dependesse dele, ele mesmo já estaria morand... — paro de falar ao perceber que Namjoon não parecia mais ter sua atenção em mim. Havia algo, ou alguém, atrás de mim que estava atraindo sua atenção demasiadamente, tanto que sua boca estava entreaberta. Não podia deixar de perder o que acontecia e então me viro.
Atrás de mim estava sentada uma menina de cabelos lisos e longos, o que fazia com que sua cor contrastasse com a coloração clara de sua pele. Em seu rosto posicionava-se uma armação de óculos redonda, que combinava muito bem com o formato angelical de seu rosto. Ela parecia desacompanhada, porém conversava com o atendente do outro lado do balcão, que havia surgido de não sei aonde.
Ao olhar bem, percebo que o atendente era Kim Seokjin, o menino que me atendera no dia em que fui despedida de meu antigo emprego. Permaneço observando-o e ele parecia não ter mudado nada, seja visualmente ou pela forma carinhosa e fofa de agir. Pouco tempo havia se passado e seu olhar se cruza com o meu, o que faz ele ficar surpreso. Suas mãos terminaram de colocar uma bebida no copo da menina e então ele se curva, provavelmente indicando que iria nos atender agora.
Um sorriso dócil se forma em seus lábios cheinhos e ele se curva duas vezes, uma para mim e outra para Nam.
— Boa noite! — ele diz olhando para nós dois. — Você por aqui, (S/n)? Aconteceu algo? — ele parecia um pouco preocupado, e eu apenas abaixo a cabeça, rindo.
— Está tudo bem, estou apenas acompanhando meu amigo... a propósito Namjoon, este é Kim Seokjin. Jin, este é Namjoon. – apresento-os enquanto gesticulava.
Namjoon permanecia parado, mas depois de um tempo, ele curva a parte de cima de seu corpo e Jin faz o mesmo.
— Eu vou separar uma bebida especial para vocês dois. — ele sorri colocando dois pequenos copos de vidro em nossa frente, e, antes de seguir para uma das prateleiras próximas a menina anterior, ele dá uma última olhada em nós dois.
— Ele é muito legal... Foi ele quem me aturou quando tinha acabado de ser despedida do emprego. — rio enquanto giro o copinho com uma das mãos.
— Ele parece realmente ser muito legal. — seu olhar voltou para a menina dos óculos, que em um ato repentino, passa a olhar para ele também. Nesse momento pude perceber o nervosismo de Nam.
Então quer dizer que ele estava paquerando a menina e quando chega o momento em que ele pode ter chances com ela, ele fica tímido? Que inusitado para um garoto com uma aparência tão ousada e perigosa.
Uma das coisas que eu, nem mesmo ele, poderíamos imaginar é que foi a menina quem deu o primeiro passo. Observava ela descendo de seu banco com um copo em mãos, seguindo em nossa direção com um sorriso conquistador estampado no rosto.
— Boa noite. — ela nos cumprimenta, mas logo se vira para Namjoon. — Você vem sempre por aqui? — ela olhava para ele de cima para baixo com um sorriso.
— N-Não, eu estou apenas com a minha amiga hoje. — seus olhos estavam esbugalhados ao máximo e ele parecia procurar ajuda sempre que seu olhar se cruzava com o meu.
— Talvez eu deva deixar vocês a sós... — disse olhando para Nam, mas no mesmo segundo sua mão repousa sobre a minha, a segurando com força.
— Fique com a gente, não precisa ir.
A menina agora me encarava com desprezo, o que fez com que meus pensamentos de que aquela menina era um ser amável fossem embora juntamente com sua expressão angelical.
— Então talvez eu fique. — sorrio fofamente e a tal menina revira os olhos.
— Qual seu nome? — ela repousa sua mão sobre o ombro de Kim, e pude perceber seu corpo tremer.
— K-Kim Namjoon... — ele responde rapidamente, querendo se livrar daquela situação.
Passo a olhar para o lado e percebo então o retorno de Jin com uma garrafa de Whisky.
— Não irá perguntar o meu? — a cabeça daquele ser se inclina, tentando achar a melhor forma de mostrar seu pescoço altamente vulnerável. Patético.
— Desculpe, mas eu não tenho interesse na senhorita. — eu e a menina agora parecíamos confusas.
— Jura mesmo, é? Então por que estava me olhando com aquele ar de desejo todo esse tempo por cima do ombro dela, hum? — ela parecia nervosa, estava prestes a explodir, e sua pele estava começando a atingir uma coloração avermelhada.
— Eu? Olhando para você? Desculpe, mas eu não estava lhe olhando, sinto muito se foi isso que deu a entender. — Jin apenas observava comigo, enquanto colocava o líquido nos copos de vidro. Uma coisa que até agora estava me deixando intrigada era: Se em todo esse tempo ele não estava olhando para ela, para quem ele estaria olhando?
— Se não era pra mim que estava olhando, para quem olhava? — sua feição agora era de vitoriosa, aparentava estar se sentindo superior por ter conseguido deixá-lo sem saída. Jin saíra do local, provavelmente para colocar a garrafa em seu devido lugar, como se estava anteriormente.
— Acho que não lhe devo satisfações. — agora ele parecia mais corajoso, mais confiante de si.
— Ficou sem resposta e por isso está mentindo? Eu já sei que olhava para mim. A não ser que você me mostre a tal "outra pessoa" — admito que estava curiosa, mas ao mesmo tempo estava com pena dele.
A única coisa que vi foi seu dedo indicador se erguendo e apontando discretamente. Automaticamente, nossos rostos se viraram e eu não acreditei no que vi: ele estava apontando para o garoto que colocava uma garrafa de Whisky na prateleira de bebidas.
Ele estava apontando para o Jin.