Kihyun me encarava um tanto perplexo, talvez não esperasse que minha reação à sua aproximação fosse essa. Enquanto nos encaramos em silêncio, ouvimos o barulho da campainha. Não me movi e o Yoo também.
— Só me diz o que ele tem que eu não tenho? – Kihyun questionou, ele mantinha suas orbes negras focadas em mim e não desviou em momento nenhum. — Ele nem mesmo é uma pessoa boa Sooyoung.
— Eu não vou admitir que fale o que não sabe sobre ele na minha casa, Yoo Kihyun. – Kihyun estava passando do limite e eu nunca aceitaria que ele falasse qualquer coisa do Hoseok na minha casa ou na minha presença.
— Me admira que alguém como você, queira se envolver com alguém como ele – Kihyun balançou a cabeça negativamente e eu estava me controlando para não cometer um crime de ódio ali.
— Alguém como ele? – Soltei uma risadinha irritada. — Não fale o que não sabe, você sequer o conhece.
— Preciso conhecer? Não é como se ninguém soubesse quem ele é. Aliás, como alguém que fez o que fez, pode namorar e viver normalmente? Como ele pode ficar com você sabendo dos problemas que pode lhe trazer? Isso é ridículo.
— Já chega Yoo Kihyun! Ridículo é o modo como está agindo, você passou totalmente dos limites. Eu estou realmente decepcionada, pensei que você fosse diferente dos outros mas no fim, é igual. Por favor vá embora, Kihyun. – Eu só queria aquele garoto fora da minha casa, ele nem parecia o mesmo Kihyun que eu costumava achar que conhecia. — Por favor, saia da minha casa. – Aumentei o tom de voz, eu estava extremamente brava com ele, não queria vê-lo nem pintado de ouro na minha frente, nunca mais.
— Quando perceber a burrice que está fazendo, venha até mim – Ele ainda ousava continuar, estava prestes a arrastar ele até a saída, mas, não foi preciso. Ele se virou e saiu por conta própria, me deixando sozinha ali. Bufei me sentindo extremamente irritada e ainda estava surpresa pela atitude de Kihyun.
Caminhei até a entrada da cozinha para ter certeza de que Yoo tinha realmente ido embora, e me deparei com Hoseok. Ele estava parado e com os punhos cerrados, claramente irritado.
— Hoseok.. – Caminhei para mais próximo dele. — Você ouviu tudo? – Questionei me sentindo mal, não queria que ele ouvisse toda a besteira que Kihyun disse. Me preocupava como ele poderia se sentir. — Ele é um idiota, então, finja que não ouviu nada, ok? Desconsidere-o porque ele não vale a pena.
Shin não disse nada, somente se aproximou de mim e me envolveu com seus braços. Apoiei minha cabeça em seu peito.
— Como você está? – Indagou, mudando de assunto. Envolvi sua cintura com meus braços.
— Melhor agora e você? – Sorri enquanto o abraçava.
— Melhor agora por saber que você tá bem. – Não conseguia parar de sorrir enquanto estava nos braços dele, enquanto estava perto dele.
Me afastei um pouco, o suficiente para poder olhar em seu rosto.
— Eu preciso da sua ajuda.
— No que?
— Leva isso pra sala pra mim? – Hoseok assentiu, beijei sua bochecha em forma de agradecimento. Então peguei e entreguei o pote de biscoitos pra ele. — Eu vou preparar o suco e já levo, huh? – O maior assentiu e antes de se dirigir a sala de estar deu um beijinho na minha testa.
Fiz um suco natural de laranja, coloquei os copos sobre uma bandeja e levei até a sala. Quando cheguei no cômodo, Yerim não estava mais lá.
— Cadê a Yerim? – Indaguei, o trio parecia entretido com um programa qualquer que passava na tv.
— Ela foi atrás do idiota do Kihyun. – Changkyun respondeu e deixou um suspiro escapar de seus lábios.
Decidi deixar o fato de lado, coloquei a bandeja com os copos de suco em cima da mesa de centro.
— Precisamos começar o trabalho pra que a gente termine logo. – Seulgi expressou de forma tranquila e eu balancei a cabeça em concordância.
— Vou pegar o notebook – Proferi e Seulgi se levantou repentinamente.
— Deixa que eu pego, é ruim pra você ter que ficar subindo e descendo escada com essa coisa no pé. – A garota se referiu a bota imobilizadora. E realmente era péssimo subir e descer escada com isso.
Me sentei ao lado de Hoseok que se mantinha em silêncio, enquanto Seulgi ia até meu quarto pegar o laptop.
— Espero que não esteja pensando sobre o que o idiota do Kihyun disse – Comentei encostando minha cabeça em seu ombro. Changkyun mantinha seus olhos na TV.
— Será que eu posso bater nele? – Levantei a cabeça e o olhei perplexa.
— Claro que você não pode! Não deve resolver as coisas com violência, não seja como aqueles idiotas da escola. – Retruquei um pouco brava.
— Mas não é assim que todo mundo fala que eu resolvo as coisas?
— Não significa que tem que fazer assim só porque eles dizem que você faz. – Changkyun respondeu por mim, sem nem mesmo direcionar seu olhar a nós.
— Faço das palavras do Changkyun, as minhas – Voltei a encostar minha cabeça em seu ombro. — Eu não vou deixar que eles te transformem no monstro que querem que você seja. – Permanecemos em silêncio até que Seulgi voltasse.
Nos reunimos em volta da mesa de centro e começamos a discutir sobre o trabalho e como deveria ser feito.
• • •
Joguei meu corpo para trás sobre o tapete felpudo da sala, nós tínhamos – finalmente – terminado o maldito trabalho e minha mente implorava por uma pausa.
— Graças a Deus! – Seulgi expressou também se deitando sobre o tapete — Me deu fome, podemos pedir pizza? – O céu já estava em seu mais belo tom de azul escuro, com pontinhos brilhantes o iluminando.
— Vamos! – Concordei e me levantei com um pouco de dificuldade. — Minha mãe deixou o cartão de crédito e disse que podíamos comprar algo pra comer com ele. Vocês podem decidir qual pizza querem enquanto vou até o escritório pegar.. – Fui animada até o pequeno cômodo pegar o cartão.
Pedimos duas pizzas, uma de calabresa e outra de frango com mussarela. Esperamos chegar assistindo um filme qualquer que Changkyun havia escolhido na netflix. Só voltamos a ficar em volta da mesa de centro quando a pizza chegou.
Estávamos comendo quando Changkyun fez uma pergunta totalmente inesperada e aleatória:
— Quando você começou a gostar da Sooyoung? – Hoseok se engasgou com o refrigerante no mesmo instante em que o ouviu. Bati em suas costas para tentar o ajudar, mas na verdade, eu queria rir por ele ter ficado nervoso com a pergunta.
— Eu não sei exatamente quando. – Respondeu tímido quando já havia parado de tossir.
— Então quando você teve certeza? – Seulgi indagou e eu esperava atenta por sua resposta.
— Um dia antes de eu ser hospitalizado por ter caído de bicicleta
Por ter “caído de bicicleta”.
— Foi quando te abracei? – Recebi olhares curiosos quando o questionei, tinha me esquecido de que eles não sabiam disso.
— Sim. – Ele afirmou e eu comecei a pensar sobre.
— Espera, aquele dia no karaokê, aquela música, você não tava se declarando né? – Perguntei lembrando daquele dia e de como me senti enquanto ele cantava a música.
— Estava.
Dessa vez quem engasgou fui eu, Hoseok deu tapinhas nas minhas costas.
— Podemos saber do que estão falando? – Seulgi questionou, olhei para o casal que nos encarava sem entender nada.
— Por que você não me disse que gostava de mim? – Não me dei o trabalho de explicar aos dois sobre o que estávamos falando e só segui com a conversa.
— Porque você gostava do Kihyun. – Ele sabia que eu gostava do Kihyun? Inacreditável.
— Como você sabia disso? – Questionei, ele me olhou com uma expressão de “sério mesmo?” — Eu deixava tanto na cara assim? – Tanto ele quanto o casal acenou que sim. — Uau, inacreditável. – Estava realmente perplexa, achei que conseguisse disfarçar.
— Fiquei chocado quando você sussurrou que gostava de mim enquanto eu te carregava até em casa, porque você escorregou e virou o pé. – Fiquei boquiaberta, ele tinha me ouvido naquele dia e não disse absolutamente nada.
— Você ouviu?! – Assentiu. — Então por que não me disse nada? – Não acredito que ele tinha ouvido e não me disse nada.
— Porque eu pretendia dizer durante o nosso encontro.
— E eu achando que você não gostasse de mim. – Suspirei e acabei rindo nasal.
Tive tanto medo dele não gostar de mim.
— Vocês são dois idiotas mesmo. – Chang comentou e estalou a língua, Hoseok e eu olhamos pra ele.
— Olha quem fala né, por que não se declarou antes pra Seulgi? – Hoseok indagou, afrontoso. — Eu tive meus motivos, mas quais foram os seus? – Chang ficou totalmente sem jeito quando o foco mudou para ele.
— Fácil, eu realmente não tinha certeza se ela gostava de mim e tive medo de estragar nossa amizade. Next. – Respondeu e ainda debochou no final.
— Não deixa de ser um idiota – Retruquei, recebendo uma careta como resposta.
— Concordo. – Caímos na gargalhada quando Seulgi concordou. Changkyun murmurou insatisfeito com a namorada.
Deixamos as brincadeira de lado pra voltar a comer. Me recostei no sofá, me sentia cheia. Hoseok, Seulgi e Changkyun fizeram o mesmo.
— Nunca mais vou comer tanto. – Chang deitou a cabeça no ombro de Seulgi.
Assenti enquanto olhava pra tv, tinha um outro filme passando. Por um instante ficamos em silêncio prestando atenção na trama, mas, parei quando notei que Hoseok parecia um pouco inquieto ao meu lado.
— Algum problema? – Indaguei e ele me olhou sério.
— Acho que me sinto pronto.
— Pronto? Para o que? – Perguntei confusa, Changkyun e Seulgi também olhavam para Hoseok agora.
— Para finalmente contar a verdade por trás dos boatos sobre mim.