Meu Colega de Quarto - Imagin...

By aanacarenn

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🥇 Primeiro lugar na categoria Hoseok do concurso Magic Shop (11/06/2020) (S/n) havia sido despedida de um bo... More

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LX - Capítulo Final

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By aanacarenn

29 de dezembro de 2019

Nosso Apartamento, 19h14.

Minha calça jeans. Aonde diabos ela foi parar?

Minhas pernas sentiam até demais a temperatura de 1° grau que permeia a Coreia em um dezembro comum. Meus braços já estavam devidamente cobertos com camadas e camadas de roupas, enquanto os pés escorregavam para lá e para cá com meias fofinhas e confortáveis.

— O que você está fazendo?

Quando meus olhos pousam sobre Hoseok agarrado ao batente da porta, acabo retribuindo o sorriso engraçadinho.

— Eu não acho minha calça jeans. Combinei com os meninos 19h30. — Minhas mãos acabam agarrando ambas as laterais de minha cabeça. O frio junto da pressa não eram bons companheiros, não quando suas pernas nuas ficam arrepiadas de 6 em 6 segundos.

— Não está na mala?

E era óbvio que estava na mala. Porque, definitivamente, minhas melhores roupas foram para ela devidamente passadas e dobradas, afinal, as boas impressões sempre são trazidas pelas roupas, certo?

— Fantástico! Eu te amo — apontei meus dedos indicadores em sua direção enquanto corria para a lateral da cama de casal improvisada, agarrando a mala vermelha de tamanho médio com um adorável ursinho de pelúcia marrom preso ao puxador do zíper.

Talvez fosse melhor tirar esse ursinho dali, passa uma imagem muito infantil, não? Ou quem sabe interpretem como uma pessoa forte e corajosa o suficiente para usar um ursinho de pelúcia na mala de viagem sem ligar para o que os outros poderiam pensar a respeito. Quem sabe eu só esteja pensando demais? Eu posso ser apenas uma pessoa que gosta bastante de ursinhos de pelúcia. Aish... que difícil.

— Eu já tinha visto essa calcinha antes? — Era perceptível que Hoseok falava enquanto ria, se referindo a que estava em meu corpo naquele momento em que finalmente encontrei a calça jeans que tanto estava procurando.

— Você repara nas minhas calcinhas agora? — Comecei a rir, e uma das pernas da calça se embolou enquanto estava colocando-a.

— Não é como se isso fosse muito absurdo, somos namorados, né?

E ele estava falando uma verdade. Bom, talvez duas. Sim, somos namorados, muito felizes a propósito, e talvez não seja tão estranho seu namorado reconhecer algumas de suas calcinhas.

— Eu tenho que ir amor, você vai estar acordado quando eu voltar? — questionei abrindo o armário na mesma velocidade em que me sentava ao chão para calçar meu par de tênis de cano médio.

— Isso depende da hora que você voltar.

Ergui meu corpo e agarrei minha bolsa preta, que antes estava largada sobre a cama.

— Vou tentar chegar cedo, prometo — deixei um breve selinho sobre os lábios de meu homem, mas antes que pudesse atravessar pelo espacinho existente entre a porta e Hoseok, suas mãos agarraram minha cintura sem tanta força.

— Antes de você ir, tenho uma novidade pra te contar. — Ele ficou uns poucos segundos quieto até retornar a falar. — Ou melhor, eu conto quando você voltar. — Ele sorri.

— O quê? Por que você não fala agora? — Meu cenho se franziu. Em hipótese alguma as pessoas deveriam falar que tinham algo para dizer quando na verdade não podiam falar sobre tal no momento.

— Acaba até sendo uma boa jogada para te fazer voltar mais cedo. — Ele me lançou uma piscadela e começa a me empurrar suavemente em direção à sala de estar.

— Eu já tenho um ótimo motivo para voltar cedo para o apartamento, não preciso dessa sua jogada.

— E qual seria esse motivo, hum? — Hoseok parou de me guiar pelo caminho, possivelmente curioso com minha cartada surpresa.

— A minha cama quentinha, não é óbvio? — encarei-o séria antes de começar a rir e lhe dar um forte abraço. — É você, seu bobão. Agora para de enrolar e me conta logo.

— Você deveria estar no bar às 19h30, mas são 19h20 e você ainda está aqui, no apartamento. Não é melhor você ir? — Agora suas mãos seguravam meus ombros, entretanto meus braços ainda rodearam seu corpo.

— Eu não me importo de me atrasar mais alguns minutos, já estou atrasada mesmo. — Com minha cabeça pendendo levemente para um lado, insisti com o olhar para que ele me contasse logo.

— Cada coisa com seu tempo, hm? Agora você tem que ir, os meninos estão te esperando.

>>>

— Eu trouxe isso aqui para você. Na verdade, para você e Hoseok. — Taehyung direcionou para mim duas caixas enquanto sorria abertamente. — Interprete como um agradecimento por tudo que vocês fizeram por mim e pela minha mãe.

Meus olhos estavam levemente arregalados. Em uma noite de comemoração de final de ano, o que você menos espera é receber um presente do seu amigo que tem passado por certas dificuldades. As caixas estavam decoradas com papel de presente dourado, e as fitinhas verdes que formava um laço no topo de ambas deixavam-nas bonitas, mas acima de tudo, comuns. E talvez o comum seja a principal característica a se pensar na hora de embrulhar um presente, porque dessa forma o enigma se mantém altamente impossível de ser descoberto caso você não abra para descobrir o que há dentro.

— Taehyung-ssi... não precisava. — Minha cabeça balançou de um lado para o outro em uma tênue negação.

— Esperamos que vocês gostem, mas agora é melhor você pegar, não quero que Namjoon apareça e fique sem falar comigo só porque eu não comprei nada para ele. — Ele estende mais ainda os braços para que eu finalmente pegasse as caixas, e então eu as pego.

Uma delas estava consideravelmente pesada, o que me fez pensar na possibilidade de talvez ambos os presentes serem frágeis. Enquanto colocava-os com cuidado na minha bolsa, comecei a divagar em minha mente sobre qual seria o meu e qual seria o de Hoseok. Taehyung não citou nada a respeito, mas talvez fosse proposital.

O dia está repleto de coisinhas misteriosas, e pelo visto só vou desvendá-las quando voltar para o apartamento.

— Obrigada, Tae — sorri para ele, desviando meu olhar para algo que era capaz de intensificar o sentimento de preocupação que começava a florescer aos poucos dentro de mim: meu relógio, mas não o aparelho em si, e sim a hora. Namjoon estava atrasado. — Namjoon falou que iria demorar? Já são 19h42.

— Ele já deve estar chegando, não se preocupe.

Era bonito ver Taehyung despreocupado. Na verdade, foram poucas as vezes que consegui vê-lo tão calmo e sorridente, mas havia uma justificativa para isso: as coisas haviam melhorado. Taehyung merecia essa vida desde sempre. A vida feliz, onde ele pode ter a oportunidade de experimentar a sensação de sentir saudade de casa enquanto estiver servindo um cappuccino para um cliente, saudade do ambiente acolhedor que caracteriza um lar. A vida tomou uma outra cor, uma cor mais alegre, que abraça e que é justa com quem merece, e uma coisa eu posso dizer, Taehyung merece, e merece demais.

— Agora me conta, como vai passar o ano novo? — Tae ergue a garrafa de soju que estava parada sobre a mesa havia alguns minutos e enche meu pequeno copo, me entregando em seguida para que eu o sirva.

— A irmã de Hoseok me chamou para passar uns quatro dias na casa dos pais deles em Gwangju, incluindo o dia da virada. A gente deve ir amanhã.

Apenas em pensar nisso senti meus lábios secos. Sem que antes houvesse percebido, meus dedos inventaram movimentos, como uma tentativa falha de aliviar a ansiedade que se acumulava desde o dia em que Dawon ligou para Hoseok. Eu precisava beber alguma coisa, e ainda bem que Taehyung havia acabado de encher o meu copo.

— O quê? Sério? Isso é muito bom! — A felicidade de Taehyung era engrandecedora, inspiradora, mas eu não conseguia ficar sossegada quando o assunto era passar a virada do ano com, praticamente, toda família de Hoseok. Certos receios comandavam minhas sensações e reações corpóreas até que um estalo qualquer me lembrou dessa circunstância, e agora, eu havia acabado de me recordar.

— Isso é bom quando toda a família do seu namorado não sabe que você está namorando ele. Pode acreditar, eu acho que até os vizinhos deles devem saber que Hoseok está namorando comigo. — Meus dedos cercam minhas têmporas. Estava ficando aterrorizada.

A questão é, não que seja um problema família ter ciência sobre um relacionamento sério de algum integrante dela, mas sim a responsabilidade que tudo isso acaba carregando por consequência. Eu amo Hoseok, e talvez isso devesse ser o suficiente para eu apenas balançar as cercas e passar por cima de qualquer insegurança, mas o medo sempre encontra uma forma de reencontrar a gente, não é?

Já tentei pensar milhões e milhões de vezes em como eles foram receptivos e completamente educados comigo no dia em que havia os conhecido, mas algo pequeno, como uma minúscula faísca ainda dizia pra mim que as coisas poderiam mudar. Quando os conheci, era apenas uma amiga, a menina com que Hoseok dividia um apartamento, mas agora, namorada? Existem muitas coisas envolvidas que podem se unificar para resultar em algo tremendamente horrível a partir disso.

Como nas histórias de romance, sempre existe a mãe superprotetora que não conseguia suportar a ideia de que seu filho estaria supostamente trocando seu amor por o de outra mulher —ou então um parente qualquer, podendo variar do pai ao tio —, dizendo que talvez a garota não seja suficiente. Afinal, que expectativa de vida eu tenho? Continuar trabalhando como uma atendente em uma cafeteria local para sempre? Ou quem sabe a irmã ameaçadora que seria capaz de mais do que apenas dilacerar o meu ursinho de pelúcia marrom caso eu fizesse algo errado. Céus, e se uma ex-namorada surgisse dos confins do inferno a fim de destruir qualquer mísera conquista de felicidade minha? Eu estou surtando.

— Ei, por que você está tão preocupada? Eu sei que é um climão conhecer a família do namorado, mas talvez não seja tão ruim quanto pensa. — Tae dá uma leve bebericada em sua bebida, enquanto eu ainda me mantinha atolada na poça de lama dentro da minha cabeça.

— Eu já os conheci, mas não como namorada dele, sabe? Talvez as coisas fiquem diferentes. — O centro de minhas sobrancelhas se curvaram para cima sem que eu mesma tivesse consciência disso.

— O que pode ser diferente? Você é uma garota educada e responsável, além de ser um partidão. Não é à toa que já foi minha namorada.

E ele conseguiu me arrancar um sorriso, um sorriso sincero e até doce.

Eu não deveria deixar de pensar que havia realmente uma possibilidade de Tae estar certo. Dawon pareceu animada com a ideia de nós dois sermos namorada e namorado. A mãe dos dois me tratou com tanta simpatia no aniversário de Dawon que podia jurar que estava dentro da família há anos. Além do mais, se talvez qualquer parente de Hoseok tivesse algum problema com o meu emprego, então talvez não haja muito que fazer. Eu agora tinha muitos motivos para ficar naquele estabelecimento, e isso não diz respeito apenas ao salário.

O cheirinho de café todos os dias era extremamente agradável, mas não forte o suficiente para apenas isso me segurar no trabalho. As vivências intensas que vivi naquela cafeteria diziam respeito não somente às relações de amizade que havia construído com Namjoon e Taehyung, mas também ao dia em que conheci Jungkook, quase meu cupido sem asas, arco e flecha — e ainda bem que ele não andava pelos lugares de fralda, imaginando estar invisível. Talvez isso fosse um desastre completo —, que mostrou ao meu destino que eu deveria reencontrar o cara pelo qual hoje estou perdidamente apaixonada.

Talvez nem tudo desse errado. A preocupação e o medo são inevitáveis, mas as palavras de Tae direcionadas para mim foram suficientes para refletir, mesmo que por meros e quase insignificantes segundos, e conseguir perceber que mergulhar de cabeça no problema não iria me trazer a solução. Quem sabe até acabasse me trazendo mais problemas.

— Acho que pensar um pouco positivo não dever fazer mal não é? — falei esticando novamente meus lábios em um sorriso envergonhado, mas que agora não mostrava mais os dentes. — E a sua virada? Como vai passar?

— Estou pensando em levar minha mãe para ver o sino de Bosingak. — Ele finalmente terminou a bebida em seu copinho e o pôs novamente na mesa. — E o Yoongi também.

Isso sim era uma surpresa e tanto.

— Yoongi? Você nunca falou mais dele, como ele está? — Estava realmente curiosa. Além do rapaz nunca mais ter frequentado o Kopi House, não ouvia há muito tempo seu nome sair pelos lábios de Taehyung.

— Ele fez uma viagem, acho que passou um mês fora do país. — Seus olhos caíram. Passou a encarar a mesa por uns segundos. — A gente ficou um bom tempo sem se falar, mas já estava tudo previsto para ser assim... — Em um momento inesperado, ele acabou por abrir um sorriso bobo e voltou a me olhar. — Mas ele voltou... e... a gente tá junto.

Com toda a certeza, meus olhos deveriam estar brilhando. Meu peito palpitava de orgulho. Lembrei-me por alguns segundos do momento em que havia divagado nos pensamentos de que Taehyung merecia uma vida nova e feliz, e agora talvez eu tivesse a confirmação de que Tae teria carinho proveniente de todos os lados.

— Tae-ssi! Isso é... Ah, céus, eu não consigo nem falar! — agarrei uma de suas mãos, enquanto meus olhos soltavam risadas de alegria junto de meus lábios. — Como foi tudo isso?

Antes que Tae pudesse falar, seus olhos se direcionaram sem compromisso até a porta do bar onde estávamos, e logo fez questão de apontar para o local com o queixo.

Meu rosto virou-se na direção indicada e pude reconhecer Namjoon parado à porta enquanto parecia falar com alguém no telefone. Ergui brevemente uma de minhas mãos para que ele nos avistasse, mas quando notei que não obtive sucesso algum, abaixei-a um pouco sem jeito.

— Deve ser alguma coisa importante, pelo menos ele já está aqui — falei enquanto virava novamente meu rosto em sua direção. — Continuando...

— É, bom, foi assim que ele voltou de viagem. Ele ficou esse tempo na Austrália depois de surgir uma oportunidade de se juntar a uns outros arquitetos para trabalhar em um complexo hoteleiro, projeto bem legal na verdade. Ele já tinha previsto que precisaria ficar um bom tempo por lá, mas assim que voltou, a gente se encontrou. — Os dedos da mão de Tae que eu não segurava tamborilavam sobre a superfície da mesa. — Foi meio difícil esse tempo, mas eu também tinha outras coisas para me concentrar, toda a história com meu pai, você sabe.

Ambos suspiramos, e eu apenas o respondi com um acenar de cabeça.

— Na verdade acho que tudo se pagou com a forma como ele me perguntou se eu queria namorar com ele. — As sobrancelhas erguidas serviram como um show de abertura para o sorriso de realização. — Ele me entregou uma cartinha, sabe? Era um envelope branco com um adesivo vermelho, mas eu só podia abrir quando a gente chegasse aonde ele tinha planejado. — Os sorrisos já tinham se transformado em risadinhas contidas. — A gente foi andando até lá, mas o envelope acabou abrindo no caminho. Estávamos na frente de um colégio no centro de Seul.

— Você quis dizer que você abriu, não? — semicerrei os olhos, totalmente desconfiada enquanto tentava segurar o riso.

— O quê? Não, foi o vento! — Sua confirmação com a cabeça falhou completamente na missão de me convencer do que saía de sua boca.

— Tinha um adesivo, Tae.

— Então talvez eu tenha esbarrado o dedo, não sei.

Ambos começamos a rir quase que desesperadamente. A presença de um terceiro corpo próximo da mesa fez com que eu previamente tomasse um susto, mas os risos não se foram completamente.

— Do que vocês estão rindo tanto? — Namjoon, que agora estava sentado junto a nós dois, chegou em uma tentativa de se ater ao assunto.

— Sobre como o Taehyung não sabe enganar ninguém. — Meu dedo indicador se encarregou de secar uma lágrima sorrateira que escapava pelo canto de meu olho direito.

— É claro que eu sei, você que talvez seja muito espertinha. — Uma careta esfarrapada tomou conta de suas feições e tudo o que me atenho é rir mais ainda.

— Será que eu posso interromper um pouco a sessão de stand-up? — Nam intercalou sua atenção entre eu e Tae, e sem muita demora direcionamos nossos olhares para ele, sem deixar que uma gargalhada escapasse vez ou outra.

— Você tá bem sério hoje, foi por causa do telefonema?

Nam olha por um tempo para Tae, parecendo digerir suas poucas palavras. Ele realmente parecia um tanto sério, mas provavelmente não ao ponto de estar de mau humor.

— Pode se dizer que sim. — Seus braços se cruzaram sobre o peito e as costas se apoiaram por completo no encosto da cadeira. — Era Jimin no telefone.

Como uma pancada nas costas, a sensação que estava sentindo agora não era agradável, ao ponto de não conseguir dizer se ela assemelhava-se a um soco ou a uma bigorna que poderia ter acabado de cair sobre mim.

Por qual motivo Namjoon estava conversando com Jimin? Logo ele? As coisas não haviam ficado claras o suficiente no dia em que peguei os dois em uma mesa qualquer desse mesmo bar? Céus Namjoon, por que você está fazendo isso?

— O quê?

— Ele me ligou, mas eu disse que não queria mais contato. — O olhar parado sobre a mesa estava pesado. — Jin está aqui hoje?

Por que diabos ele está perguntado a respeito de Jin? O que isso tinha a ver com o fato de ele estar conversando com o cara que planejou friamente o fim do meu relacionamento?

— Jin está no balcão, não trabalha como garçom hoje. — Taehyung respondeu ao seu questionamento fora de hora, e eu por pouco não o repreendi com os olhos.

— Ótimo, porque ele não tem que escutar o que eu tenho para falar. Bom, eu conheci Jimin no boliche, naquele dia em que você saiu com ele. — Um de seus dedos apontou para mim enquanto falava. — E ele não estava feio, digo, ele estava muito bonito. — Agora ele já olhava para uma das paredes do bar. — Eu vi nele a oportunidade de fazer uma coisa pela qual hoje eu acho completamente errada e sem sentido.

Meu cenho a esta altura já estava franzido. Não estava assimilando suas palavras, precisava de mais informações.

Namjoon subitamente descola suas costas da cadeira e aproxima o rosto da mesa, começando a cochichar sua próxima fala.

— Eu combinei com Jimin de fingirmos um encontro nesse bar para tentar fazer algum tipo de ciúmes em Jin. — Os olhos do mais velho se fecham e ficam levemente apertados. — Péssimo, detestável e completamente imaturo, eu sei, mas acho que a única coisa que eu queria era provar para mim mesmo que o cara que eu gosto não é hétero... mas ele é, e a única coisa que eu tenho que fazer é respeitar. — Namjoon já não sussurrava mais, e quando as costas voltaram a se achegar ao encosto da cadeira, o pescoço acabou por pender para trás.

Olhar para o teto costuma ser uma boa alternativa quando você precisa pensar demais ou quando na verdade não precisa pensar em nada.

Talvez eu também devesse olhar um pouco para o teto e repensar mais de uma vez em como havia acabado de agir como uma péssima pessoa. Julguei as atitudes de Namjoon antes mesmo de saber para qual fim elas estavam sendo destinadas, porque apesar de tudo, não fui capaz de sequer pensar que não tinha como ele saber de todos os mal bocados que estavam acontecendo antes mesmo que eu tivesse lhe contado. Estava me sentindo exatamente como as palavras que Nam havia acabado de citar: péssima, detestável e completamente imatura.

— Sinto muito. — Minha mão esquerda se pôs sobre a de Nam, que estava um tanto inquieta na mesa. — Eu acho que o que você precisa mesmo é de uma bebida, hoje é dia de alegria, não de angústias, ok?

Taehyung prontamente ergueu a garrafa de soju e encheu o copo que estava seco e parado por um tempo sobre a mesa.

Hoje era dia de comemoração, sem exceções para tristezas e pesares. Choi Min-Sik não havia nos dado a noite dos empregados há poucos dias do ano novo apenas para bebermos e nos consolarmos por problemas inconvenientes. Hoje era dia de risadas e cheiro de álcool, luzes alaranjadas bem fracas e bancos de madeira, que depois de um certo tempo se tornam desconfortáveis.

Com os três copinhos erguidos, todos nós ouvimos o tilintar dos vidros se chocando e logo em seguida o gosto da bebida que contornaria a folia de jovens complacentes.

>>>

Nosso apartamento, 22h31.

— É um presente duplo! Céus, incrível — ri, observando Hoseok abrir a segunda caixa de presente.

Duas taças e uma garrafa de vinho tinto. Taehyung e Yang-Mi jamais conseguiriam ter nos dado um presente que conseguíssemos apreciar mais do que este.

— Você já bebeu demais hoje, não? Melhor deixarmos para outro dia. — Hoseok se sentou ao meu lado no sofá, agarrando uma de minhas pernas para colocá-la estrategicamente sobre seu colo.

— Acho que não seria legal a gente fazer uma desfeita dessas, hum? — Meu biquinho provavelmente deixou um pouco claro o quanto eu deveria ter bebido junto dos meninos, mas, afinal, qual seria o problema de beber mais um pouco?

— Você escolhe, a gente bebe ou eu te conto a novidade que fiquei de falar mais cedo. — Seus dedinhos se encaixaram entre os meus dedos do pé, fazendo com que eles ficassem bem entrelaçados, mas por muito pouco, se não tivesse traiçoeiramente feito cosquinhas em meu pé.

— Isso, além de injusto, é extremamente cruel, sabia?

— Você quer ou não saber? — Alguns fios de cabelo do mais velho tombaram para um lado assim que seu rostinho havia se curvado a fim de me olhar melhor.

Foquei minha atenção por um tempo nas curvas que as pontas de seu cabelo faziam naturalmente. Sentia meus olhos cansados. Era possível que a bebida alcoólica ingerida tivesse influenciado em certos efeitos no meu corpo, e um deles com certeza fosse o sono.

Era engraçado essa dualidade de querer dormir assim que fechava meus olhos, mas ainda assim lutar arduamente para continuar olhando para os detalhes de Hoseok o máximo que pudesse.

— É claro que eu quero saber — ergui minhas mãos na mesma velocidade em que as bati nas próprias coxas, ato que gerou um estalo um tanto alto.

Sem muita pressa, ele pôs minha perna de volta ao sofá e se ajoelhou no chão, deixando nossos rostos bem próximos.

— Você se lembra da promoção que eu tinha recebido? De ser o dançarino principal em uma apresentação? — Seus olhos pareciam esperançosos, como se estivesse esperando que apesar de todo o álcool dentro de mim, eu ainda conseguisse lembrar daquilo.

— Claro que lembro — pisquei meus olhos fortemente. Eles ardiam como se alguém tivesse ficado horas os assoprando ou como se eu não tivesse piscado nenhuma vez.

— Eu tinha desistido dela, mas minha equipe conseguiu uma oportunidade inigualável para mim. (S⁄n)-ssi... Eles conseguiram entrar em contato com uma empresa que me fez a oferta de criar uma coreografia para uma música. Se todos gostarem, eu serei oficialmente um coreógrafo.

Agora eu definitivamente, nem se quisesse, conseguia piscar. Meu coração começou a bater tão forte que eu estava ciente da possibilidade dele explodir em milhares de papéis coloridos, assim como confetes de festa.

O sorriso de Hoseok era imbatível, e não havia nada no mundo que pudesse me impedir de dividir o calor do meu corpo com o dele em um abraço extremamente apertado. A gravidade, inclusive, havia me ajudado em alguma coisa. Não que cair sobre Hoseok fizesse parte do meu plano de sobrecarregá-lo com meu carinho, mas ao menos agora estávamos mais juntinhos.

— Hoseok-ssi! Você vai se tornar o melhor coreógrafo de Seul! Ou melhor, da Coreia! Não, não... do mundo!  — ri empolgada, enquanto tentava arrumar diversas formas de conseguir enchê-lo todo de beijinhos.

— Sua animação me faz achar que eu sou o rei do mundo.

Quando eu estava para deixar um beijinho em um cantinho de sua bochecha, o rosto do de cabelos castanhos se vira em minha direção. O selinho inesperado acabou fazendo com que ambos ríssemos e eu lhe desse mais alguns milhões com um intervalo de tempo bem curto.

— Você é o rei do mundo! — falei com certa dificuldade entre decidir se iria falar, sorrir ou continuar lhe dando beijos rápidos.

— Sou o substituto do Leonardo DiCaprio?

— Você assumiu o reinado assim que o Titanic afundou.

— Tá bom, isso foi meio mórbido. — Ambos rimos, e desta vez ele quem avançou para me dar alguns selinhos.

Ficamos trocando carícias no chão da sala, e por sorte o tapete conseguiu nos proteger da frieza do piso. As pontas de meus dedos delineavam seu rosto delicado, enquanto eu não conseguia deixar de mostrar meus dentes como um comprovante de felicidade.

— Por que você tinha desistido da outra promoção? — retirei de meu rosto alguns fios de cabelo que cismavam de se debaterem por cima de minha pele.

— Eu não estava em um bom momento... tinha acontecido toda aquela confusão entre a gente. Sempre achei que se eu tenho que fazer algo, tenho que fazer direito, e minha cabeça estava em outro mundo naqueles dias.

Senti uma leve pontada de culpa. Pensar que Hoseok havia sido prejudicado por minha causa me machucava e me colocava sobre uma posição horrível, sendo responsável por destruir um pedaço da vida dele. E se nada daquilo tivesse acontecido? Hoseok já poderia estar em outro estágio da carreira, mas eu tirei dele esse pedaço de felicidade. Não adiantava o quanto eu me esforçasse, no fundo algo sempre iria dar errado, era inevitável, mas fazia parte da minha essência como ser humano.

— E o que aconteceu quando você desistiu? — Acabei deixando minha bochecha cair sobre seu peito. Ele subia e descia conforme o ritmo de sua respiração, mas a sensação de ter minha bochecha levemente esmagada não era tão desagradável.

— Ofereceram a vaga pro Jimin.

Minha garganta quase se fechou. Se houvessem bolinhas vermelhos pelo meu corpo, eu com certeza acreditaria que estava tendo uma reação alérgica ao nome de Jimin, a imagem dele e a tudo que pudesse remeter ao garoto.

Sem exceções, quando alguém pronunciava seu nome imagens rodeavam minha cabeça como uma mistura de flashes de lembranças chatas e inoportunas. Mas dessa vez, estava sendo diferente. Talvez o álcool fizesse algo diferente com minha cabeça e me fizesse enxergar as coisas de uma forma na qual não havia feito antes.

"— Eu precisava fazer isso. Acho que descobrir que você era a namorada de Hoseok fez a coisa toda valer a pena. — O sorriso com o dentinho torto bem na frente de toda a arcada me arrepiava em indignação, me fazendo refletir sobre o que poderia se passar por sua cabeça.

— Eu não vou ficar com você, se é isso que você está pensando.

— Eu não quero você, por mais que fosse a minha maior vontade desde aquele dia que te vi na Kopi House.

Meu cenho se franziu, e suas mãos pequenas fizeram com que a minha mão se desencaixasse vagarosamente do tecido azul escuro de sua camisa.

— Mas eu não tenho que te falar meus motivos. — A frase soou simplória."

Jimin tinha motivos, e motivos muito específicos para que eu e Hoseok terminássemos. Quando toda essa situação rondava com frequência por minha cabeça, eu não descartava a ideia de que talvez Jimin gostasse de Hoseok, e por mais que a primeira vista ele tivesse sentido algo por mim, ao descobrir que eu namorava com a pessoa que ele gostava há mais tempo, ele fez o pior para que a relação acabasse e por fim ele saísse ganhando.

Mas afinal, ele ganhou, ganhou a promoção. Como alguém que conhece Hoseok, Jimin sabia que ele era sensível e que qualquer situação que o abalasse por alguns dias, seria suficiente para que ele pudesse se apossar de sua vitória. Jimin não é um garoto apaixonado que faria de tudo para ter quem gosta ao seu lado, ele é um sádico. Nada mais nada menos que um oportunista que não é capaz de suportar que alguém esteja à sua frente, nem que seja a poucos passos de distância.

— Eu sei que você está pensando no que aconteceu... esquece isso. Tá tudo bem agora, não está? — Hoseok começou a fazer um carinho em meus cabelos, deixando seu outro braço por cima de meu corpo, como se quisesse me confirmar de que estava ali para me proteger, tanto de qualquer desastre físico ou qualquer pensamento doído que surgisse em minha cabeça.

— Ele queria a promoção.

— O quê?

Eu deveria apenas esquecer, deixar isso tudo de lado e voltar a dar beijinhos em Hoseok como fazia há alguns minutos, mas eu queria falar. Queria que Hoseok entrasse em minha cabeça e enxergasse com clareza o que eu até então havia desvendado.

— Jimin queria separar a gente para ter a promoção que deram pra você. — Meu rosto estava erguido novamente. Ainda tinha a sensação de seu peito esmagando minha bochecha, porém sabia que em alguns segundos ela já estaria normal.

Hoseok ficou me olhando até que franziu o cenho.

— Não faz sentido. Separar nós dois não daria garantia alguma de que ele teria a promoção.

E havia uma pequena parcela de chances de Hoseok estar certo. Além dele e Jimin, haviam mais dançarinos no local de trabalho dos dois, então certamente nada podia afirmar com certeza que Hoseok desistindo, as oportunidades seriam cedidas a Jimin.

— Se bem que... Jimin é bom, isso é incontestável. Ele dança com uma leveza e um sentimento muito único.

Além de toda a imagem já formada de Jimin em minha mente, a ideia de que ele se trata de um egocêntrico, que tinha noção de que já tinha tudo sobre controle, me deixava enojada. Ele sabe disso, sabe que é bom, e isso só confirma que queria uma chance de mostrar para todos que poderia ser melhor que Hoseok. Mas no final, quem recebeu a segunda promoção?

— Céus, Hoseok-ah... Jimin é tóxico em tantos nív... — Minha fala foi interrompida pelo som característico do toque de meu telefone.

Rastejei uma de minhas mãos por ambos os bolsos traseiros de minha calça jeans até encontrar no último vasculhado. Meus olhos bateram na tela e fiquei poucos segundos encarando o nome do chamador.

Chung-Ho – Cabinet's Restaurant

— C-Chung-ho? — Meu corpo se ergueu até que eu ficasse sentada sobre o chão e não pude deixar que o nome escapasse por meus lábios em forma de sussurro.

— Quem é?

— Ah, esse é o meu antigo chefe. Antes de eu trabalhar na Kopi House, eu costumava trabalhar como entregadora no restaurante dele. — Continuei a olhar com um pesar para a tela do aparelho em minha frente.

O celular continuava a chamar, mas eu me mantinha paralisada. Fazia tanto tempo.

— E você não vai atender? — Hoseok pôs-se a ficar sentado ao meu lado.

— Estou bêbada, acho melhor não falar com ele agora — desvio meu olhar para o rosto que me encarava ao meu lado.

— Você não parecia bêbada quando tirou todas aquelas conclusões sobre Jimin. — Ele tornou a erguer as sobrancelhas como se quisesse mostrar que tinha toda a razão da situação.

— Se eu não estou bêbada, por que você não me deixou beber o vinho? — Agora era minha vez de erguer as sobrancelhas.

— Só atende, (S⁄n). Você não vai saber o que ele quer se não atender.

E nisso ele tinha razão.

— Alô?

— (S⁄n)! Já faz quase um ano! — Dava para sentir que ele falava com um sorriso no rosto. — Como você está?

Quando ele falou aquilo, foi quando eu realmente percebi o quanto minha vida havia mudado em apenas um ano. Era estranho, mas ao mesmo tempo muito bom.

— Estou ótima! E o senhor? Como tem andado o restaurante? — tentei me distrair um pouco da minha timidez com um remexer de dedos, mas logo fui surpreendida com a mão de Hoseok segurando-os e me lançando um sorriso.

— As coisas têm sido bem tristes aqui sem você. Era a alma do restaurante. A senhora Kim sempre que aparece por aqui e pergunta por você.

Soltei uma risadinha. A senhora Kim era uma cliente recorrente, e sempre que eu podia, colocava alguma coisa extra para que ela levasse quando nos encontrávamos.

— Sério? Eu sinto falta, sinto mesmo. — Estava um tanto cabisbaixa, e quem sabe isso tivesse feito com que meu sorriso desaparecesse por um tempo.

— Você tem seguido bem? Disse que se precisasse de algo podia entrar em contato comigo, mas você nunca mais ligou.

— Eu consegui um emprego em uma cafeteria, e me desculpe por isso. Estive cheia de coisas, minha vida virou de cabeça para baixo — permiti-me a olhar para Hoseok e rir um pouco, deixando um carinho em sua mão. — Mas está tudo bem, minha vida deu um salto para melhor em muitos aspectos.

— Ah isso é tão bom, (S⁄n)! Venha nos visitar quando puder, todos sentimos muito sua falta... e me desculpe mesmo por todo o transtorno. — Ele ainda parecia se sentir culpado por ter me demitido, mas estava tudo bem, afinal, se não fosse por isso, talvez eu não tivesse vivenciado tantas coisas incríveis e conhecido pessoas tão especiais para mim.

— Não se preocupe, huh? Assim que puder, irei. Quem sabe uns dias depois do ano novo, tudo bem?

— Está ótimo, (S⁄n)! Ficaremos felizes em recebê-la. Inclusive, é sobre isso que liguei para a senhorita. Feliz ano novo, (S⁄n)! Espero que ele consiga ser melhor que este, você merece muito. — Ele falava animado e era quase impossível não imaginá-lo sorridente.

— Muito obrigada, senhor Chung, eu desejo muito sucesso para o senhor e ao restaurante no próximo ano. Mande um beijo para todos quando encontrá-los. Muito obrigada por todo o carinho.

Meus dedos ainda faziam um carinho na mão de Hoseok, e eu não conseguia para de sorrir. Sentia muita saudade dos meus dias de trabalho no Cabinet's, mas por mais que as horas maçantes de serviço na Kopi House me consumissem durante a maior parte do tempo, valia a pena estar ali, valia demais.

>>>

30 de dezembro, 20h12.

Antes de tocar a campainha, Hoseok ajeitava um pouco o sobretudo que usava, enquanto eu apenas tentava fazer com que as rodinhas da minha mala ficassem estáveis no chão da calçada, mas estava sendo um serviço quase impossível.

Assim que desisti, pensando que não valia a pena me esforçar tanto para fazer com que a mala ficasse direita já que logo estaríamos dentro da casa dos pais de Hoseok, escutei o soar da campainha, o que indicava que ele já havia terminado de arrumar um pouco suas roupas.

Ficamos mais algum tempo esperando que alguém viesse até à porta, e ela logo fora aberta.

Dawon abriu a porta com um sorriso radiante. Existia nela uma energia muito parecida com a de Hoseok. Ambos eram tão animados e apenas de vê-los sorrindo você sentia a necessidade de sorrir também.

— Vocês chegaram tarde, mal aproveitaram o dia. — Ela semicerrou os olhos desconfiada, como se estivesse prestes a dar um tapa no ombro de Hoseok. — Você é o responsável por esse atraso, não é, mocinho?

Noona, a gente está dentro de uma época festiva, vir pra Gwangju perto do ano novo não leva só 30 minutos.

Dawon continuou encarando-o, ainda suspeitando, mas quando se virou para mim, voltou a abrir um sorriso imenso.

— (S⁄n)! Que saudade! — Por consequência, ela acabou dando um empurrãozinho no irmão para conseguir me abraçar com força.

Eu estava surpresa. Por mais que já estivesse 100% ciente de que Dawon era uma mulher incrivelmente simpática e radiante, não estava esperando por uma recepção tão agradável.

— Nós deveríamos sair juntas — soltei em pouco tempo, depois arregalei um pouco os olhos.

Deveríamos?

— Ah, com certeza, acho que é importante você sair com pessoas inteligentes e não só com esse cabeça de batata. — Ela soltou uma gargalhada e eu acabei não conseguindo me segurar.

Noona... — Hoseok respirou fundo, provavelmente frustrado em me ver rindo dele com a própria irmã. — Aqui fora está frio, a gente não vai entrar?

Ela resmungou baixinho para então tomar a frente da entrada da casa.

— Vamos sim, seu chato de galochas.

— Eu não era o cabeça de batata? — Ele cruzou os braços, certamente confiante de que teria quebrado suas piadinhas.

— Ter cabeça de batata não te impede de ser chato e usar galochas, agora entrem.

E mais uma vez eu ria, só que agora bem baixinho.

Todos nós três entramos na casa e quem quer que estivesse dentro dela, se virou para nos ver. Se naquele momento eu pudesse me olhar, com certeza estaria com um pouco de vergonha. Muita atenção em tão pouco tempo. Apesar de ser algo que eu deveria esperar, não estava lá muito preparada.

— Hoseok, meu filho! — A mãe dele se levantou do sofá ao qual estava sentada e seguiu em nossa direção para abraçá-lo com força.

Omma, senti saudades. — Os dois de abraçaram com tanto carinho que fiquei até um pouco mexida. Lembrei-me de meus pais que estavam a uns bons quilômetros dali. Meu corpo se contraiu em um sentimento de saudade, mas as circunstâncias fizeram com que esse final de ano nós não pudéssemos ficar unidos como de costume.

— Você é a namorada de Hoseok, certo? — Um menininho que aparentava ter uns 9 anos apareceu ao meu lado.

Quase não consegui segurar a risada. Isso era até um pouco engraçado, admito. Apenas confirmei com a cabeça e ele sorriu, saindo correndo logo em seguida. O segui com meus olhos e assim que os desviei, percebi que a mãe de Hoseok vinha para me cumprimentar.

— Como você está, querida? Hoseok tem cuidado bem de você? Ele costuma ser um pouco perdido às vezes.

Omma! Agora é você também? Por que ninguém acha que eu posso ser um bom namorado? — Seus braços estavam cruzados e eu pude sentir um leve arrepio ao ouvi-lo pronunciar a palavra namorado na frente de sua família.

— O que foi? Eu só queria confirmar que você sabe que é sua obrigação tratá-la melhor do que qualquer outra pessoa. — Enquanto ela falava olhando para Hoseok, senti algo em meu peito.

Meus olhos brilharam. Instantaneamente me vi sendo acolhida, e senti na pele as palavras de Taehyung se concretizando. Apesar das minhas leves descrenças, ele tinha razão. Não existiam motivos para que não gostassem de mim, afinal eu sempre dava meu máximo para ser a melhor versão de mim mesma — e quem sabe isso tivesse sido suficiente para causar uma primeira impressão boa —, mas apesar de qualquer conclusão minha, era impossível não levar em consideração que cada pessoa naquela sala havia sido dadivada com um grande coração.

A união de cada alma presente ali representava o real significado de família, e consequentemente suas ações me faziam sentir como uma nova integrante da família Jung.

>>>

31 de dezembro, 23h52.

— Você vai trocar de roupa? Já está quase na hora, (S⁄n). — Hoseok me olhava enquanto seu ombro estava encostado sobre o batente da porta de onde, há alguns anos, era o quarto dele.

Verifiquei em meu relógio de pulso o horário indicado. Tinha tempo. 8 minutos para ser exata.

— Eu não quero trocar de roupa, só a blusa.

Minha mala estava aberta sobre a cama de casal que aparentava ser grande demais para o quarto — talvez ela tivesse sido posta ali depois de Hoseok ter se mudado para Seul. Eu vasculhava dentro da minha mala, procurando a blusa especial que havia colocado junto das outras, mas talvez tivesse colocado peças demais na mala mediana vermelha.

— Tem certeza? Você tá linda nessa blusa,amor. — Para se aproximar de mim, seus pés praticamente rastejaram pelo chão com os chinelos específicos para se locomover dentro de casa.

— Achei!

Estiquei a blusa verde escura de mangas longas e gola em formato de V. Não era como se eu fosse uma pessoa muito ligada em superstições, mas achei que talvez esse ano merecesse algo singular vindo de mim, e quem sabe as energias da roupa não pudessem me guiar para um ano ainda mais repleto de surpresas e alegrias do que este.

— Blusa verde? Qual significado? — Como uma mistura de carinho e vontade de se manter próximo de mim, Hoseok dispôs seu braço por cima de meus ombros, como se me abraçasse de lado.

— Harmonia e esperança. Vai ser interessante que as forças do universo possam trazer um equilíbrio pras coisas, inclusive para o nosso relacionamento — tombei meu rosto em sua direção para dar-lhe um beijinho na bochecha, e acabei quebrando nosso contato cuidadosamente para que pudesse retirar a blusa que usava.

Hoseok se mantinha olhando para mim. Quase como um instinto brincalhão, lancei em seu rosto a blusa que havia acabado de retirar. Assim que ele a puxou do rosto pôde ter a visão de uma (S⁄n) risonha que já terminava de colocar a blusa verde escura.

— Você é uma fofa. — Ele ainda segurava a blusa em uma das mãos, mas isso não o impediu de segurar ambos os lados de meu rosto para me conceder um beijo que apenas ele poderia me dar.

— Quantos minutos agora? — terminei nosso beijo ainda deixando dois selinhos rápidos sobre seus lábios.

Hoseok nem sequer hesitou em olhar para o próprio relógio de pulso e falar em voz alta o horário indicado.

— Faltam 4 minutos, é melhor a gente ir. Meus pais deixaram a gente ficar com a sacada do quarto deles, assim a gente acaba tendo um pouco mais de privacidade.

Isso tudo era muito fofo, inclusive a atitude dos pais de Hoseok de abrirem mão de passarem a virada do ano bem perto do filho para que nós dois pudéssemos ter um momento nosso. Eles conseguiam ser incríveis, não era à toa que Hoseok era filho de pessoas tão extraordinárias.

Meus dedos se entrelaçaram aos de Hoseok e seguimos correndo na direção que ele mencionara. Hoseok guiou-me por entre os corredores da grande casa até chegarmos ao quarto de seus pais.

— Sua família vai ficar aonde?

— Tem uma varanda grande aqui, é até melhor para comportar bastante gente.

Concordei com a cabeça.

Andamos em passos calmos até uma porta de vidro, o de cabelos castanhos ficou encarregado de destrancá-la, e assim que a porta nos dera espaço para que conseguíssemos passar, pudemos apreciar a vista que a sacada nos agraciava.

— Aqui é lindo, Hoseok-ah... — fiquei encantada com as luzes das casas mais distantes, pontinhos de luz que se intercalavam entre mais próximos e mais distantes. Ficar ali, apenas observando a vista, já teria sido mais do que incrível, ainda mais com a presença do homem que roubou meu coração.

— Não é? Sabia que você ia gostar.

Era apenas eu e Hoseok na imensidão do céu negro, debruçados na balaustrada da sacada da casa de seus pais apenas esperando que o tempo fosse generoso conosco.

Olho para a tela do meu celular e percebo que já eram 23h59. É incrível pensar que um minuto era o que separava toda a humanidade de um novo ano. Extasiante, mas ao mesmo tempo angustiante.

Observar continuamente para os números na tela bloqueada do aparelho telefônico fazia com que o tempo parecesse estar ainda mais devagar, mas é quando você menos espera que o relógio muda, e finalmente você tem o que espera.

00h00.

É dia 1º de janeiro. Estávamos sozinhos, observando os primeiros fogos serem atirados para o alto. Diversos fogos de artifício, um atrás do outro, eram lançados em direção aos céus com um barulho que sempre considerei engraçado. Quando estouravam no alto, se assemelhavam a gotas de tinta das mais variadas cores que haviam sido espirradas, se misturando em uma espetacular obra de arte sobre o céu escuro. Era quase como observar um artista pintando uma tela em tempo real.

Em um breve momento de paz, apesar dos barulhos estrondosos, me permiti fechar os olhos, e poucos segundos depois senti um par de braços me enlaçarem de lado. Hoseok me abraçou, e pela posição extremamente aconchegante, deixei que minha cabeça ficasse apoiada em seu ombro.

— Eu te amo tanto, Hoseok-ssi. — Me permiti erguer minha cabeça, que havia acabado de deitar sobre o ombro do moreno, para olhar em seus olhos brilhantes com as cores espalhadas pelo céu.

— Eu também te amo muito, (S⁄n). — Agora era ele que se virava em minha direção.

Ficamos alguns poucos segundos nos encarando até que eu acabei falando mais alguma coisa.

— Posso te pedir uma coisa? — pergunto, deixando as pontas de nossos narizes bem próximas.

— O que você quiser.

Ainda era possível escutar os estouros ao fundo. Meu coração baita forte dentro do peito. Estava feliz, minha vida havia dado mais do que certo.

— Promete que vai ser para sempre o meu colega de quarto?

— Eu prometo.

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