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Capítulo CIV

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(Heitor)


   
Este era um dia bastante importante para mim. Se bem que todos os dias vem sendo importantes ultimamente. A questão era que em tese eu faria uma coisa bem simples, que seria ir até minha antiga casa. Contudo, havia um pequeno contratempo, que era o fato de eu ter sido expulso de casa. Desde então, não tive notícias da minha avó, portanto, não tenho ideia de como ela está nesse momento, nem muito menos de como ela irá reagir a uma visita minha, por mais breve e casual que seja. 

   Embora fosse assustador pensar nas várias possibilidades que o futuro me reservava no meu retorno para casa, eu precisava ainda assim, pegar meus documentos e várias outras coisas que deixei para trás, coisas das quais necessito para que possa continuar minha vida longe da minha avó, como ela tanto deseja. 

   — No que você está pensando? —. Questionou Renan ao perceber que eu estava um pouco longe mentalmente daquela linda mesa de café da manhã.

   — No que eu vou fazer mais tarde! —. Respondi.

   — E o senhor vai fazer o que mais tarde? Se é que posso perguntar —.

   — Vou até a casa da minha avó buscar meus documentos e ver se alguma coisa mudou, mas não carrego comigo muita esperança. Creio que essa questão não se resolverá do dia para a noite —.

   — Posso ir com você se quiser, para que não se sinta sozinho —.

   — Acho melhor eu ir sozinho, amor. Não sei o que me aguarda, não posso fazer com que você corra riscos desnecessários. Além do mais, creio que eu seja capaz de lidar com minha avó melhor sozinho. Não me entenda mal, apenas quero que nenhum mal lhe aconteça —.

  — Você tem certeza? —.

  — Sim! Tenho. Além do mais, o senhor tem uma aula para ir e creio que não seja adequado chegar atrasado no primeiro dia —.

   Renan concordou. Ele tomou seu café, depois foi tomar seu banho, eu só iria trabalhar a tarde, por isso, iria aproveitar a manhã para resolver os assuntos da transferência de faculdade.

   Depois de deixar o Renan na sua aula, criei coragem e segui meu caminho, bastante pensativo, afinal, eu ainda estava muito machucado com as palavras que ouvi da minha avó naquela noite. Acho que esse é o sentido da vida, pessoas entram enquanto que outras vão embora e outras nos abandonam, não sei se possuo folego para resistir a uma vida de inconsistências e de tantas reviravoltas, e por ironia do destino, minha vida estava seguindo dessa maneira.

   Estacionei, fiquei um tempo dentro do carro, eu olhava o jardim da minha antiga casa, era muito difícil aceitar que eu não morava mais ali, e mais difícil ainda, era aceitar que fui expulso do lugar em que cresci e do lugar onde construí varias memorias, memorias das quais eu insistia bastante para preservá-las, assim como o tempo tentava a todo custo as corroer.

   Fiquei por minutos a olhar aquela casa, todas as janelas estavam fechadas, parecia deserta, como se ninguém morasse mais naquele lugar. Sei que as vezes tento passar essa imagem de corajoso e durão, mas lá no fundo eu sou medroso, por isso acho que ainda preciso mudar bastante. Queria ser como o Renan, destemido. Ele tem uma capacidade enorme de lutar pelas coisas que ele tanto deseja. Até mesmo no momento que mais pareceu que ele desistiria de tudo, ele foi lá e recomeçou. Portanto eu precisava ser corajoso também por nós dois, por todos os nossos sonhos, por toda nossa história, que embora curta já mudou minha vida profundamente, para muito melhor.

                              (Renan)

   Eu havia acabado de chegar no teatro, e estava bastante nervoso com o fato de ser o meu primeiro dia. Caminhei pelos corredores, procurando pela minha sala. Caminhando, passo por um garoto que me despertou minha curiosidade, não pelo fato dele ser bonito, mas sim pelo fato de ele possuir um brasão estranho no seu collant.

  — Está perdido novato? —. Questionou ele ao se levantar. Ele possuía cabelos pretos e longos, muito bonitos por sinal e brilhantes. Possuía também um par de olhos azuis, que se combinavam com o seu nariz fino.

  — Não. Quer dizer, um pouco —.

  — Christian, Christian Le Roux, muito prazer —. Ele estendeu sua mão, fiquei olhando aquilo por um tempo, até que apertei sua mão. Christian era muito gentil, além de elegante.

  — Meu nome é Renan Donatello, muito prazer —.

  — Soube que você vai dançar conosco. Finalmente alguém interessante nesse lugar —. Christian tinha um ar de sedutor, mas eu não me importava com isso

  — Bem, meio que isso é verdade —.

  — Soube que você é muito bom nos palcos, já até causou a inveja de certas pessoas, e a admiração de outras —.

  — Mas eu mal cheguei aqui —.

  — Pra você vê. Relaxe, aqui todo mundo é do bem, vez ou outra temos desentendimentos, mas nunca ultrapassa uma simples discussão.

   Christian me conduziu até o local onde receberíamos nossas aulas, era um lugar muito bonito, todo iluminado. Fui ao vestiário me trocar. Notei que estava mais magro, com certeza devido aos meus dias sem comer direito. Arrumei meu cabelo, ele estava bem grande, já estava com vontade de cortar, mas acho que ele podia crescer mais um pouquinho.

  Naquela manhã, ensaiamos um pouco a peça que seria apresentada no teatro da cidade, porém em um evento privado e bastante exclusivo. Acho que eu precisava abandonar um pouco a minha ideologia sobre dança democrática, para o bem da minha carreira.

   A direção da peça me deu um papel secundário, eu não questionei, afinal eu não tinha acompanhado os ensaios desde o início. Porém pude perceber seus olhares de satisfação pela minha habilidade e segurança em interpretar o personagem.

   — Se dançar assim vai tomar o papel de protagonista de mim —. Christian sorriu para mim. Ele era muito engraçado, ao que parece queria rivalizar comigo, mas eu não sentia nenhum pouco de ameaça vindo dele, bem ao contrário da rivalidade que eu tinha com o Cassiano.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

 

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