Morando com uma Vampira - Michaeng

Procura-se alguém para dividir apartamento espaçoso de terceiro andar em Lincoln Park

Olá. Estou procurando alguém para dividir meu apartamento. É um imóvel espaçoso para os padrões modernos, com dois quartos grandes, sala de estar aberta e uma cozinha semiprofissional que também se faz às vezes de sala de jantar. Além disso, janelões na parede leste, que fornecem uma vista impressionante do lago. O apartamento está totalmente mobiliado, em um estilo clássico e com muito bom gosto.
Raramente fico em casa depois do pôr do sol, de modo que, se você trabalhar no horário tradicional, em geral terá o apartamento só para si.

Valor do aluguel: $200. Nada de animais de estimação, por favor.
Todas as dúvidas podem ser enviadas para msmyoui@gmail.com.

— Deve ter alguma coisa errada com esse lugar.
— Olha, Chae, é um baita negócio…
— Esquece, Tzuyu.

Essa última parte saiu um pouco mais firme do que eu pretendia, mas não muito. Embora eu precisasse da ajuda dela, meu constrangimento por estar em tal situação fazia com que aceitar essa ajuda fosse difícil. Tzuyu tinha boas intenções, mas sua insistência em se envolver em tudo estava me dando nos nervos.

Em defesa de Tzuyu – minha amiga mais antiga, que havia muito se acostumara com o meu mau humor em momentos de estresse –, ela não disse mais nada. Apenas cruzou os braços e ficou me esperando falar alguma coisa.
Eu só precisei de um instante para me recompor e começar a me sentir mal por ter perdido a paciência com ela.

— Desculpa. – murmurei baixo. – Sei que você só está tentando ajudar.
— Tudo bem. — disse ela, compreensiva. – Você está num momento conturbado. Mas pode se permitir acreditar que as coisas vão melhorar.

Eu não tinha motivo para acreditar que as coisas iam melhorar, mas não era hora de entrar nesse assunto. Só suspirei e voltei a me concentrar no anúncio aberto no meu laptop.

— Qualquer coisa que pareça boa demais pra ser verdade em geral é mesmo.

Atrás de mim, Tzuyu olhou para a tela.

— Nem sempre. E você tem que admitir que o apartamento parece incrível.

Parecia mesmo. Quanto àquilo ela tinha razão. Mas…

— São só duzentos dólares por mês, Tzu.
— E daí? É um preço ótimo.
Fiquei olhando para ela.
— É, se a gente estivesse em 1978. Se alguém só está pedindo duzentos dólares por mês hoje, provavelmente é porque tem cadáveres no porão.
— Não inventa.

Tzuyu passou uma das mãos pelo cabelo castanho, no momento, bagunçado. Mexer no cabelo era uma das coisas mais óbvias que ela fazia quando estava tentando enrolar alguém. Pelo menos desde o sexto ano, quando Tzuyu tentara convencer a professora de que não tinha sido eu quem desenhara flores rosadas por toda a parede do banheiro das meninas. Ela não havia conseguido enganar a sra. Baker na época – eu tinha mesmo desenhado aquela paisagem bucólica em um tom neon agressivo – e não ia me enganar agora.

Como ela ia ser advogada blefando tão mal?

— Talvez a pessoa não fique muito em casa e só precise de alguém no apartamento por questões de segurança, e não pelo dinheiro. – sugeriu Tzuyu. – Talvez seja meio trouxa e não tenha ideia do quanto poderia pedir.

Eu continuava cética. Vinha revirando sites de anúncios e o Facebook já fazia duas semanas, desde que me deparara com o aviso de despejo na minha porta da frente por falta de pagamento do aluguel. Não havia nada disponível por menos de mil, assim tão perto do centro financeiro da cidade. Em Lincoln Park, os valores ficavam até mais próximos de mil e quinhentos.