O ambiente do meu quarto parecia mais apertado do que nunca. As paredes estavam sufocantes, os móveis pareciam observar minha inquietação, e a ausência da mulher estava começando a me enlouquecer mais do que a sua presença.
Então decidi que precisava fazer algo. Partir para a ação! Saí do apartamento e, sem um plano muito claro, fui parar em uma biblioteca.
Minutos depois, me vi carregando uma pilha de livros estranhíssima. Assuntos como espíritos, óvnis, portais, fantasmas e sociedades secretas enchiam os títulos das capas, enquanto o bibliotecário me lançava olhares que iam de curiosidade a preocupação silenciosa.
Quando cheguei em casa, transformei meu quarto em um laboratório de batalha espiritual. Espalhei os livros, abri canetas e papeizinhos para anotar "dicas importantes" e logo me vi segurando um exemplar chamado: "Como Atrair o Sobrenatural — Guia Prático". Era isso. Era agora. Chega dessa confusão!
Li o capítulo inteiro sobre evocações e decidi experimentar. Apaguei as luzes, deixei uma vela tremulando no canto da escrivaninha, sentei-me no chão com as pernas cruzadas feito um episódio de algum reality show esotérico, e comecei:
— Espírito livre, espírito apareça! Espírito, você está aqui?
Eco. Nada além de eco e silêncio desconfortável. Esperei alguns segundos, abrindo um olho, depois o outro.
— Espírito, é sério... eu tô falando com você, não me deixe passando vergonha na minha própria casa!
Nada.
Suspirei, frustrada. Peguei a vela e ajeitei pertinho de um criado-mudo. Fui folhear outro livro, mas algo brilhante me ocorreu. Se ela não queria ser chamada por métodos espirituais convencionais, talvez, apenas talvez...
Peguei uma caneca de café quente (essencialmente combustível da alma) e, segurando-a no ar, comecei meu monólogo mais épico e provocador:
— Nossa, olha só como essa caneca tá cheinha de café quente... tão quentinha que até tá suando. Dá até para ver a marquinha d'água nela. — Falei em voz alta, gesticulando dramaticamente como se estivesse numa premiação de teatro amador.
E então, segurando-a perigosamente perto do criado-mudo, continuei:
— E este daqui, ah, este belo criado-mudo reluzente... Não é demais? E se, vejamos só, eu colocar essa caneca aqui... SEM... PORTA... COPOS?!
No exato momento em que comecei a abaixar a mão, como se estivesse ameaçando de forma mortal aquele pedaço de móvel, ela apareceu.
— NÃO FAÇA ISSO! — A voz dela ecoou pelo quarto, quase me fazendo derrubar a caneca (mas, ei, para minha honra, não derrubei).
Lá estava ela, com os olhos arregalados, as mãos esticadas como se realmente estivesse prestes a mergulhar e salvar a alma inocente do pobre criado mudo.
— Ninguém coloca uma caneca suada direto no móvel! Você ficou maluca?! Nem com espírito ou sem espírito se faz isso nesta casa! — gritou, ofendida como uma diva escandalizada.
Eu soltei a caneca no ar por reflexo (essa, sim, caiu no chão). Olhei para ela incrédula, segurando uma risada que estava tão à beira de escapar quanto o café na caneca agora arruinada no tapete.
— Você... você apareceu?! Eu sabia! Sabia que tinha te ferrado agora, obsessiva compulsiva do além! — falei, apontando para ela com alegria misturada a desespero.
Ela cruzou os braços, ainda bufando.
— E com razão! Quem diabos ameaça um criado-mudo indefeso assim? Cadê o porta-copos? Era só um porta-copos, pelo amor de tudo que é sagrado! — Ela lançou um olhar de desaprovação tão genuíno que precisei segurar o riso pela segunda vez, porque mesmo fantasma ela estava irritada com decorações funcionais.

VOC? EST? LENDO
E Se Fosse Verdade - ViewMim / MilkLove
FanfictionE se fosse verdade... em uma nova vers?o sáfica? Prepare-se para se apaixonar por esta releitura incrível do filme, onde o romance ganha uma nova perspectiva! Nesta fanfic, as adoradas View e Mim assumem os papéis principais, levando você a uma hist...