抖阴社区

2. Talassofobia

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Talassofobia
Do grego thalassa (mar) + fobia;
medo persistente e intenso de
corpos d'água profundos
e da sensação de imensidão e
profundidade causada pela água.

[...]

Tenho trabalhado no turno da noite há alguns dias, o que significa que meu relógio biológico invertido finalmente está sendo útil para mim.

E embora meu sono esteja regulado, ainda que de forma inversa ao que é comum, algo tem me atrapalhado em minhas folgas: pesadelos.

Eu não sou de ter muitos, muito pelo contrário. Tenho inclusive sonhos lúcidos com frequência. Mas desde que assumi o turno noturno na cafeteria, tenho tido uma quantidade anormal de pesadelos.

Eles não possuem um padrão inicial, mas sempre terminam da mesma forma: comigo submersa, afundando no mais profundo e escuro mar, como se toneladas de pedras me puxassem para baixo sem que eu pudesse voltar à superfície.

Então acordo de súbito, ofegante e com uma poça de suor manchando meus lençóis, assustada com a sensação de ter sido abraçada pelo abismo marinho.

Hoje aconteceu a mesma coisa, e é por isso que eu estou bocejando a cada dois segundos aqui no trabalho, e Roseanne está me encarando fixamente com uma cara terrível de preocupação.

Me sinto exposta sob seu olhar, como se ela conseguisse encontrar minha alma escondida debaixo das minhas camadas de discrição e quietude. Seus olhos castanhos escuros me evidenciam num holofote de verdade nua e crua; eu não conseguiria mentir para ela nem se tentasse.

— Eu sei... — reclamei enquanto passava um pano úmido em cima do balcão.

— Minha linda, você tá com uma cara de fudida. — ela comenta ao amarrar o cabelo loiro e ressecado num coque.

Até tento segurar minha amargura, mas uma risada nasal e irônica irrompe de mim sem meu consentimento.

E o seu cabelo está precisando de uma hidratação profunda!

— Você acha que eu não sei? — reviro os olhos e me aproximo dela. — Eu não paro de ter pesadelos.

Seus olhos me analisam com cautela. Ela gentilmente pega o pano da minha mão e o coloca no balcão.

— Que tipo de pesadelos? — ela está mordendo o interior da bochecha em clara preocupação. Não consigo evitar de me sentir culpada por enchê-la com meus problemas.

— Não é nada demais. — me afasto rapidamente para organizar os copos embaixo do balcão. — Não precisamos falar sobre isso.

— Lisa. — ela me repreende, segurando meu pulso.

Me sinto obrigada a erguer o olhar para ela e é quase como se Rosé invadisse minha mente com tanta intensidade.

Eu puxo a mão gentilmente e respiro fundo. Olho ao redor primeiro para me certificar de que estamos sozinhas porque não quero soar vulnerável e emocional para nenhum estranho.

E realmente estávamos, a cafeteria estava vazia exceto por nós duas.

— Nós crescemos juntas e eu sei tudo sobre você. Não vai me sobrecarregar com uma informaçãozinha a mais. — Rosé tenta me tranquilizar mas estou ocupada demais reparando no botão quase solto no meu uniforme. — Lisa.

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