抖阴社区

7. Looping

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Looping:
Ciclo temporal
infinito; no qual
não existe uma
linha temporal.

[...]

[03:18 - Rosie]
Seu olho melhorou?

Eu encaro a tela do celular em minha mão com um sentimento de confusão sobre o que responder. Algo dentro de mim se revira em desaprovação sobre mentir para as minhas únicas amigas, mas não tenho o que fazer senão seguir as instruções de Jennie.

O barulho em meu estômago me faz lembrar de que estou faminta e não me arrisquei a comer nada desde que acordei, há dois dias.

Jogo as pernas para fora do colchão e trilho meu caminho até a cozinha, apenas para ligar a cafeteira. A luz da lua invade minha casa, como de costume. A essa altura, a casa já é praticamente dela também. 

As palavras de Jennie ressoam dentro da minha mente como uma ameaça sombria.

Experimente ficar dois dias sem devorar ninguém.

Eu engulo em seco; minha mão trêmula graças à hipoglicemia aperta o botão de ligar da cafeteira e eu me direciono à sacada. Preciso de ar fresco.

Jogo os braços em cima do mármore frio da mureta da sacada e abaixo a cabeça com a dor que dispara próxima à minha têmpora. Sem que eu me dê conta, estou respirando mais rápido do que gostaria e preciso me forçar a desacelerar meu corpo.

O frio impetuoso do início do inverno parece não incomodar minha pele exposta pela regata folgada e isso me assusta um pouco.

Para ser sincera, ainda não assumi nada para mim. Não tenho coragem.

Embora eu saiba que algo esteja diferente, não consigo averiguar a situação. Como um enfermo que teme pelo seu diagnóstico com alguma doença terminal.

Eu simplesmente não quero encarar a realidade como ela é.

Ergo a cabeça e sinto seu olhar sobre mim, como todas as madrugadas. Quando viro o rosto, Jennie está lá, com seu olhar atento me analisando do seu jeito costumeiro.

Ela nada diz e eu também me recuso a dizer qualquer coisa.

Quando Jennie entra em casa e some do meu campo de visão, sei que é a deixa para que eu destranque a porta e é exatamente o que faço.

Assim que ela aparece, eu deixo o peso do meu corpo desabar sobre ela. A consciência de que ela é menor que eu parece sumir, e honestamente Jennie é muito mais forte do que parece, porque sustenta meu corpo com facilidade.

Nós duas ainda estamos em silêncio, parece que qualquer palavra que possamos proferir tem a capacidade de romper nossa familiaridade presente nesses encontros da madrugada. Principalmente nesse momento em que me sinto desmanchando em cima dela.

Ela me conduz para o sofá e eu me aconchego entre as suas pernas desnudas graças à camisola de linho preta.

— Você comeu alguma coisa, Lisa? — sua voz baixa acaricia meu rosto e eu escondo a minha face em sua blusa, na esperança de que ela não leia meus olhos. — Lisa. — ela segura meu rosto e o ergue. — Seus olhos estão fundos. Você precisa comer.

— Jennie... — eu viro o rosto, evitando seus olhos.

— Lisa, eu estou falando sério. Você precisa comer.

— Eu não vou, eu estou bem.

— Lisa... — algo na forma que ela o sussurra arrepia todos os pêlos do meu corpo e meu instinto é erguer o tronco e deixar nossas faces paralelas.

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