抖阴社区

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Pk Narrando

Sexta-Feira 01:38
13/10/2023

A madrugada batia seca no vidro da janela da salinha. A brisa era fria, mas ali dentro... o clima era outro. Tenso, denso.

Tava eu, Bigu e Neto. Cada um focado no que tinha que fazer. Ninguém tava com papo, não. Era noite de fechamento.

Amanhã era o baile principal do mês. Ia subir geral do asfalto. A mercadoria tinha que tá na régua, sem erro.

Encostado na cadeira de couro preta, perna cruzada, cigarro na mão esquerda e o rádio do lado direito, eu só observava os moleques trampando. Meu olhar ia de um pro outro, atento, sem perder detalhe.

Bigu, calado como sempre, tava no canto da mesa, contando os papelotes de coca com uma precisão cirúrgica.

Bigu: Setecentos, oitenta, noventa, oitocentos... Fechou.

Ele empacotava, passava a fita, e jogava pra dentro da mochila preta. Ao lado dele, duas caixas — uma de lança e outra de balinha — Todas divididas por cores, cilindros e dosagem. O cara era uma máquina. Nenhum erro.

Eu: Aí, Bigu... confere depois as 500 de maconha, que tão na térmica. — Falei, sem tirar o olho da câmera do portão principal no monitor.

Bigu: Já tá no grau, Pk... até a etiquetagem eu fiz. — Respondeu ele com aquela voz baixa, mas firme.

Neto, do outro lado, terminava de separar as paradas por lote. Ele era o responsável de levar tudo pro galpão do baile — Que ficava quase no coração da favela, escondido numa entrada falsa de borracharia.

Neto: Kole Pk, tu queres a separação por tipo de droga ou por vendedor? — Perguntou ele, levantando os olhos pra mim, mas sem parar de embalar os kits

Eu: Faz por vendedor, mas põe as paradas de destaque na caixa preta. Cês sabem que os boy tão vindo buscar essa porra antes das nove. Quero tudo no esquema.

Assenti com a cabeça, puxei a seda, o fumo e a ganja, e comecei a bolar um. O cheiro do bagulho foi se espalhando enquanto a música baixa do Racionais tocava no fundo.

Parei por uns segundos.

A mente viajou, parando mais uma vez na droga da Gabriela....

Naquela maldita noite.

Na forma como ela me olhou antes de sair do meu quarto... Com raiva, com dor, com orgulho.

E eu ali... calado, travado. Sem saber como agir. Porque se eu falasse, eu me perdia. E se eu calasse, eu feria. Perdi de todo jeito.

Acendi o baseado e dei a primeira tragada longa, segurando no peito. O gosto queimou na garganta, mas pareceu aliviar a pressão na nuca.

Peguei o celular e disquei direto pro PP.

Chamou duas vezes.

Pp: Fala, patrão. — Atendeu ele, com aquele jeito de sempre.

Eu: Baile amanhã, tu já tá ligado. Quero tu na linha de frente, sem errar. Câmera, contenção, vapores, caixa, tudo contigo. Eu só vou aparecer depois das onze, mas quero geral posicionado às dez. Entendeu?!

Pp: Tá suave, patrão. Pode deixar comigo, tudo sob controle.

Eu: Tô contando contigo, Pires — O chamei pelo sobrenome. Quando eu fazia isso, ele sabia que era papo sério.

Pp: Visão patrão, responsa maxima. Tamo junto.

Desliguei.

Traguei de novo, dessa vez mais fundo. A fumaça saiu devagar enquanto meu olhar se perdia na câmera da rua de trás.

No Complexo do Alem?oOnde histórias criam vida. Descubra agora