A sala de briefing da Red Bull era um cubo de vidro com vista para o caos organizado do paddock. Ali dentro, o ar era filtrado, o ruído lá fora virava um zumbido abafado, e os olhares se mantinham quase sempre voltados para as telas, onde dados e cronogramas piscavam em tempo real. O ar-condicionado soprava com precisão cirúrgica, o suficiente para enganar o calor impiedoso do Bahrein — mas não a tensão que pairava sobre aquela mesa de reuniões.
Isa entrou dois minutos antes do horário. Os cabelos presos de forma impecável, o blazer leve nos ombros, e a pasta de couro dobrada sob o braço com a precisão de quem sabe exatamente o tempo que leva para retomar o controle de uma sala. Luke e Maya vieram logo atrás, os tablets carregados de gráficos, estatísticas e sugestões de pauta. Nenhum dos dois ousou falar. Era como entrar em território conhecido, mas ainda assim minado.
Max já estava lá, jogado no canto mais afastado da sala. As pernas esticadas sob a mesa como se estivesse em casa, os braços cruzados sobre o peito e os olhos fixos no teto, examinando as luminárias com um desinteresse quase performático — como se estivesse contando os parafusos apenas para não ser obrigado a interagir.
Checo chegou pontualmente, como sempre. Sorridente, com um copo de café na mão e aquele carisma fácil que deixava tudo um pouco mais leve — ou pelo menos tentava.
— Ele já tá resmungando ou ainda não começou? — disse, num tom de brincadeira, apontando com o queixo para Max, que não se mexeu.
— Ainda tô aquecendo — respondeu Max, seco, sem desviar os olhos do teto.
Checo riu e se jogou na cadeira, cruzando as pernas com um suspiro confortável. O clima era familiar, quase ensaiado: Max, o cínico; Checo, o conciliador; Isa, a general. E todos sabiam os papéis.
Isa se posicionou à frente da tela, conectando o tablet ao monitor principal com um gesto rápido. Os gráficos se projetaram no vidro como um painel de controle de lançamento. Tópicos da coletiva, tópicos de risco, instruções de linguagem — tudo em ordem. Tudo sob controle.
Ela não perdeu tempo.
— Vamos ser diretos. Coletiva às 17h30. Max e Checo fecham a ordem. As perguntas mais prováveis envolvem expectativas para a temporada, mudanças internas da equipe, patrocinadores e — claro — resquícios de Abu Dhabi.
Sua voz cortava o ar como um bisturi. Clara, firme, irrefutável.
Deslizou para o próximo slide com a precisão de quem domina o conteúdo e a autoridade.
— Evitem expressões como "não me importo" ou "isso não muda nada pra mim". E, por tudo o que é mais sagrado na Fórmula 1, nada de respostas começando com "sinceramente" — disse ela, sem alterar o tom, mas com os olhos voltados diretamente para Max.
Ele nem disfarçou o sorriso enviesado antes de responder:
— Eu começo com "sinceramente" quando quero encurtar o tempo da entrevista — disse, a voz carregada de deboche. — É uma gentileza. Eles deviam me agradecer.
Checo soltou uma gargalhada abafada, afundando-se ainda mais na cadeira, enquanto Luke, do outro lado da sala, soltava um suspiro resignado, como quem já previa o desgaste da próxima coletiva.
— Talvez um "estou feliz em estar aqui" da próxima vez? Só pra variar? — arriscou Luke, numa tentativa diplomática de contornar a tensão.
— Aí sim eu seria hipócrita — Max retrucou, erguendo uma sobrancelha com falsa inocência, como se tivesse acabado de proferir uma verdade inofensiva.
Isa não piscou.
— E se você tentasse só ser... profissional? — rebateu, ainda firme, sem elevar a voz. Era uma pergunta, mas soava como uma ordem envernizada.

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The Hating Game | Max Verstappen
FanfictionApós a temporada mais controversa da Fórmula 1 moderna, Max Verstappen carrega mais do que um título mundial: carrega uma reputa??o em frangalhos. Entre vaias em eventos, manchetes maldosas e o peso de uma trai??o pública, Max fecha ainda mais o pou...