O dormitório estava lotado de lobisomens. A matilha de Enid ocupava cada canto do quarto, jogando cartas, debatendo trivialidades e, claro, espalhando aquela energia barulhenta e inquieta.
— Então, vocês viram o novo professor de alquimia? Total cara de vilão de novela — comentava um deles, pendurado no teto, rindo.
O clima foi interrompido pelo som da porta se abrindo com força. Todos se viraram.
Wednesday estava na porta.
Ou melhor... o que restou de Wednesday.
Pálida. Mais do que o normal. Respirando pesado. As olheiras tão profundas que pareciam ter dobrado de tamanho. Braços e pescoço cheios de manchas avermelhadas, como se tivesse sido atacada por um enxame... ou por uma overdose visual de glitter.
— Wednesday?! — Enid pulou em pé, horrorizada. — Mas o que... meu Deus!
Wednesday largou a mala no chão, tropeçando até a cama. — Rosa... — arfou, quase desfalecendo. — Muito rosa...
— O QUÊ?! — A matilha inteira se levantou.
— URGENTE. — Enid ergueu as mãos, ativando instantaneamente o modo comando. — TODO MUNDO FORA. AGORA!
— Mas—
— AGORA, EU DISSE! — rosnou, com as unhas meio saindo.
Os lobisomens, assustados, saíram correndo porta afora, tropeçando uns nos outros.
Assim que a porta bateu, Enid correu até Wednesday, segurando ela pelos ombros. — Meu Deus... Wed... o que aconteceu?
Wednesday caiu na cama, abraçando um travesseiro preto como quem abraça um bote salva-vidas no oceano do inferno. — A... a casa... — arfou. — A casa da Laurel Gates...
— Aquela... aquela casa cor-de-rosa que parece ter sido projetada pela Barbie depois de tomar energético? — Enid piscou, horrorizada.
Wednesday apenas assentiu, quase desmaiando. — Minha família... está alojada lá temporariamente. — Sua voz soava derrotada, algo raro, quase inédito. — Fui exposta... a quantidades tóxicas de rosa, flores, rendas... e... — engasgou, segurando o próprio pulso, onde manchas vermelhas começavam a pipocar — ...almofadas em formato de coração.
— MEU DEUS! — Enid levou as mãos à boca. — É mais grave do que eu pensei! Você tá tendo... uma reação alérgica às cores!
Wednesday respirava rápido, as mãos tremendo.
— Minha mãe disse... que era uma alergia psicossomática. Ansiedade aguda... desencadeada por estímulos visuais... excessivamente vibrantes...
— Ok. Ok. Respira. Eu cuido de você. — Enid pegou um cobertor preto, jogou em cima dela, fechou todas as cortinas e ligou o difusor com cheiro de madeira queimada. — Esquece que o rosa existe. Você tá em um ambiente seguro. Aqui é território livre de glitter.
Correu até a cômoda, pegou um pano úmido e começou a passar, cuidadosamente, nos braços de Wednesday, tentando aliviar a vermelhidão.
— Tá gelado, tá? Mas vai ajudar.
— Aceitável... — murmurou Wednesday, apertando os olhos. — Ainda é humilhante... ser salva por uma lobisomem fluorescente...
Enid riu, passando mais o pano. — É, mas sou sua lobisomem fluorescente, lembra?
— Infelizmente. — A voz de Wednesday era mais fraca, mas com aquele mesmo tom ácido, o que pra Enid era um sinal de que ela estava voltando ao normal.
Enid segurou sua mão, apertando de leve. — Relaxa, tá? Amanhã você já vai estar bem. E se eu ver mais uma almofada de coração perto de você, eu... eu mordo ela até virar espuma.
Wednesday respirou fundo, finalmente começando a se acalmar. — Gratificante.
— E não se preocupa... a matilha não volta aqui até você melhorar. — Fez uma pausa, ajeitando o cobertor nela. — Eles ficaram meio assustados, confesso. Acho que nunca viram uma pessoa ter uma crise alérgica... a decoração.
Wednesday fechou os olhos, respirando fundo. — É um mal... que poucos compreendem.
— Mas eu entendo. E... eu cuido de você, tá? — Enid apertou sua mão mais uma vez, com um sorriso doce.
E naquele silêncio confortável, com o cheiro de madeira e o som do vento lá fora, Wednesday finalmente conseguiu dormir — livre do rosa.

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Processiones ? OneShot's Wenclair.
FanfictionWednesday em suas férias escolares, estuda a fundo os rituais dos lobisomens para realizar um cortejo digno de Sinclair.