A piada dos Cosmos

Daniel sentou do meu lado e começamos a conversar, sobre tudo e sobre nada, como fazíamos antes. Claro que de vez em quando ele me cutucava com alguma indireta.

Eu não sei se vocês já passaram por algo assim, mas não era só fogo de palha sabe? Não era só porque meu relacionamento estava ruim. Nós dois tínhamos uma conexão que era difícil de ser evitada. E voltou tudo a tona ali, naquela noite. Incontrolável.

Ele pegou na minha mão e eu mal respirava, minha mão sempre foi muito gelada e a dele estava quente, a noite bem fria. Aquilo pra mim parecia uma espécie de conforto. Passamos o resto do aniversário numa bolha! Isolados de todo mundo.

- Eu sei que é errado eu estar aqui fazendo isso com você. Mas não consigo evitar! - ele falou me olhando como quem pede desculpas.
- É, eu to me sentindo muito culpada por isso. Eu nem devia estar aqui falando com você! - já estava desesperada com o conflito dentro de mim. - Não vou ficar com você, não da. Eu to namorando...
- Não, tudo bem. Só... A gente pode conversar! Não estamos fazendo nada de errado. É só uma conversa!
- Com você pegando na minha mão assim? - falei olhando pras nossas mãos que no momento estavam entrelaçadas.
- Você quer que eu solte? - aí ele fez questão de olhar dentro dos meus olhos, e tudo aumentou, a conexão e a culpa, mas a conexão falou mais alto.
- Não. Pior que não.

No geral, ficamos nisso aí até 5h da manhã. Conversando sobre várias coisas, constatando que o Cosmos só podia estar brincando com a gente, que éramos meros fantoches de seres maiores e mais poderosos, e cruéis. Seres que estariam observando e dando risada do sofrimento alheio.
Porque veja bem, eu sei que alguns vão pensar "ah mas é só ficar e depois você resolve com o Hugo", alguns vão me entender e concordar que fiz certo em não ceder e não ficar com o Daniel naquele dia. E foi difícil pra mim, tudo que eu sentia pelo Hugo começou a ser abalado ali, mas eu ainda estava apaixonada. Porém não conseguia, nem se eu quisesse, esconder a ligação e um sentimento que até hoje não sei descrever, com o Daniel. Me vi no meio de uma sinuca de bico.

Quando deu 5h minha prima me chamou pra ir embora, e vocês acham que o Daniel simplesmente foi embora também? Não. Levou a gente pra casa.
Quando chegamos no meu portão ele me parou, pensei até que nos 45 do segundo tempo ele ia ignorar o que eu pedi e acabar me puxando e me beijando. Mas não.
- Não tenho mais seu telefone.
- Nem eu o seu... Mas não vou te passar o meu. Meninas que namoram não passam seus telefones. - brinquei.
- Então eu te passo o meu! - e a anta aqui anotou mesmo o telefone dele.