O decorrer da semana que marcava o meio do mês de setembro foi, surpreendentemente, mais tranquilo do que achei que seria.
Yuxian, por incrível que pareça, não me importunou mais. Eu ao menos obtive notícias dele após sua visita ao museu, o que me fez agradecer internamente por tal acontecimento, já que ele me deu a oportunidade de ficar em paz durante os últimos 2 dias.
Minha relação com Yamaguchi estava fluindo bem, evoluindo um pouco mais a cada dia. Pela primeira vez em muitos anos, dormi até depois do meio-dia, devido a insistência do garoto para que eu continuasse na cama e aproveitasse ali o começo daquela segunda-feira chuvosa, marcando a proximidade do fim do verão e a chegada do outono no Japão.
Por fim, a terça-feira logo chegou, dando início a semana de exposições tecnológicas no museu onde eu trabalhava.
— Hey, Kei! — Ouvi a voz de Saori soar perto de mim, em seguida, me virei para trás, avistando a mulher de cabelos pretos que carregava um sorriso de empolgação em seu rosto. — Como as coisas estão indo?
— Por enquanto, tudo está indo bem.
— Veio mais gente do que eu imaginava... — Falou ao começar a caminhar lentamente ao meu lado.
— Asuna disse que a contagem de visitantes está sendo quase o triplo de um dia normal.
— Aah! Estou tão feliz que tudo está dando certo!! — A mulher falou de forma animada, contendo um pequeno grito de felicidade.
— Sim, isso é ótim-
— Eu vou enfiar o relatório de controle de visitantes no cu do presidente de tecnologia que disse que essa exposição iria ser uma perda de tempo! — Murmurou de modo ameaçador.
— Não precisa agredir o velho...
— Você sabe que estou apenas brincando! Enfim, fico orgulhosa em saber que nós estamos conseguindo!
— "Nós"? Eu não fiz nada, ninguém fez. — Iniciei, atraindo a atenção da mulher que interrompeu sua caminhada perto do corredor de entrada e se virou novamente na minha direção. — Você fez um bom trabalho, Saori.
Seu rosto se iluminou diante o sorriso formado, denunciando que ela estaria orgulhosa de si mesmo naquele exato momento.
— Muito obrigado! — Falou ao se curvar educadamente.
Mas, antes que eu pudesse inclinar meu corpo para acompanhar o gesto, ouvi a voz soar não muito longe de mim:
— Xiao Kei! — O timbre irritante de Yuxian me deixou extremamente tenso.
— Tsukki-niisan! — A voz alegre da criança me acalmou de imediato.
Virei-me para trás, avistei Kousuke no colo do chinês e Yamaguchi andando ao lado de ambos. Os dois homens ali usavam blusas de mangas cumpridas e diminuíram a quantidade de piercings que normalmente usavam. Por fim, Saori tratou de quebrar o silêncio constrangedor que começava a se estabelecer desde o momento que os três pararam ao nosso lado.
— Sejam muito bem-vindos ao Museu de História Natural! É um prazer recebê-los aqui!
— Obrigado... — Yamaguchi agradeceu timidamente.
— Você se lembra de mim? Eu estive aqui na semana passada! — Yuxian diz para Saori.
— Sim, eu me lembro. Fico feliz que tenha voltado e, além disso, que tenha trazido mais visitantes com você!
— Este aqui em meu colo é meu sobrinho, Yamazaki Kousuke!
— Moça, você tem cheiro de morango. — A criança diz.
— Oh, muito obrigada! — Ela fica visivelmente envergonhada. — Meu deus, você é muito fofo!
— E este ao meu lado é meu melhor amigo, Yamaguchi Tadashi! — Yuxian continua.
— O-Olá...! — O de sardas pronunciou juntamente de uma exagerada reverência.
Virei meu rosto na direção de Yamaguchi e nos encaramos em silêncio durante um curto momento. Foi então que eu notei o quanto ele estava envergonhado para se dirigir a mim ou a mulher ao meu lado. Fiquei um pouco preocupado, pois ele parecia estar bem nervoso, entretanto, não consegui conter um pequeno sorriso ao vê-lo agindo de modo tão tímido.
— Eu sou Wabashiki Saori, uma dos diretores do Museu. Espero que aproveitem as novas exposições!
— Eu vou vê-las com o Kou-chan agora mesmo! — Yuxian avisa. — Xiao Kei, você ficará bem apenas na presença da sua ex ficante e de seu atual namorado?
Permaneci inerte no lugar, em completo estado de choque diante a última frase do homem, ainda sem acreditar que ele havia revelado tal coisa em voz alta, para que nós três pudéssemos ouvir.
— Cê realmente não presta, tio Yuxian. — Kousuke murmura.
— O tio tem seus motivos. — O chinês fala de si mesmo, antes de se virar e começar a andar.
O silêncio constrangedor se instalou entre nós três assim que ambos deixaram completamente o ambiente.
— O-Olá! F-Fico feliz de finalmente podermos conversar direito. — Saori tenta uma iniciativa de diálogo.
O de sardas divide seu olhar entre a mulher e eu, em seguida, se encolhe um pouco no lugar e pronuncia:
— Você é mais bonita do que eu pensei que fosse...
— O-Obrigado! Você também é muito bonito! Isso significa que o Kei tem muito bom gosto para escolher com quem está se relacionando, não é? — Falou, tentando rir casualmente ao final de sua frase.
— Saori!! — A repreendi, já que essa não era exatamente a melhor forma de melhorar o clima.
— Vocês se tratam pelo primeiro nome...? — Yamaguchi questionou lentamente.
A mulher e eu travamos diante a pergunta alheia. Eu temia ter piorado ainda mais a situação, torcia para que o corredor da entrada – tal se encontrava momentaneamente vazio – ficasse cheio de pessoas novamente, para que eu tivesse uma desculpa para encerrar essa conversa.
— D-Desculpe, estou apenas surpreso do Tsukki ser tão próximo de alguém desta forma. — O de sardas volta a falar.
— Não faça esta expressão... — Pedi em baixo tom, visto que ele estava tentando esconder suas reais emoções atrás de um sorriso tranquilizador.
— Eu o obriguei!! — Saori exclama. — Eu o obriguei a adotar um tratamento mais informal comigo!
— Está tudo bem. — Yamaguchi tentou acalmar a situação. — Não precisa inventar desculpas.
— Saori não está inventando. — Afirmei, pois ela realmente havia me obrigado a chamá-la pelo primeiro nome, quando começamos a sair juntos. — Ela me obrigou e eu acabei me acostumando.
O de sardas deu um pequeno sorriso, em uma tentativa falha de transparecer um pouco de confiança, mas era notável o desconforto que ele ainda sentia.
— O-Olha... — Saori dá um curto passo para frente, se aproximando de Yamaguchi. — Não sei dizer se isso é sua timidez ou insegurança, mas não há necessidade de se sentir desta forma. Eu quero que saiba que o Kei e eu somos apenas amigos! Eu até o ajudo a esconder as marcas de chupões que você deixa nele.
— Oh! O-Okay... — Yamaguchi parece mais tranquilo e, aparentemente, mais envergonhado após a última fala da mulher.
— Você realmente vai ficar paralisado aí, sem dizer nada? — Saori se vira para mim. — Não reclame caso alguma criança te confunda com uma das exposições!
— E-Eu não estou paralisado! — Afirmei em minha defesa. — O que você quer que eu diga?! Não consigo pensar em nada além de socar Yuxian por nos deixar nessa situação!
— A culpa não é completamente de Yuxian. — O garoto diz. — Ele disse que conheceu a pessoa com quem você havia se envolvido e eu pedi para que ele me mostrasse quem é.
— Ele poderia ter feito isso de outra forma! — Retruquei.
— Você está certo. Mas, conhecendo-o do jeito que conheço, ele certamente deve ter algum motivo para isso.
— Ele fez isso para o seu próprio divertimento!
— Yuxian não me deixaria constrangido a custo de nada!
— Gente, o que tá rolando aqui? — Saori parece perdida em meio ao diálogo.
— Por qual motivo, então? — Questionei.
— Bem... — Yamaguchi desvia o olhar por um breve momento, antes de se voltar para mim novamente e explicar: — Tenho quase certeza que ele usou esta situação para te colocar contra a parede. Pois, se você ainda estivesse mantendo algum relacionamento com ela, eu certamente descobriria.
— Isso não faz sentido. Eu já disse para ele que Saori e eu não estamos mais juntos!
— Tenha em mente que, apesar de parecer gostar um pouco mais de você, Yuxian não confia em você.
— Gente, quem é esse "Xiuxen"? — Saori pronuncia.
— Aah, ainda não me acostumei com o jeito que você ignora todas as merdas que ele faz. — Falei.
— Não estou ignorando. Vou repreendê-lo assim que sairmos do museu!
— Estou ansioso para ver isso.
— Você deveria tentar conversar com ele. Vai descobrir que, na verdade, ele é uma pessoa incrível. — Yamaguchi me olha carinhosamente.
— Oh, claro! Que pessoa incrível ele está se mostrando... — Ironizei.
— Você acha que ele foi delicado comigo desde o início? Eu tive que ouvir muitas verdades sobre mim que eu não aceitava...
— Acredite ou não, sei bem como é isso...
— Alô, desculpa atrapalhar a conversa aí em cima. — Saori volta a se pronunciar. — Mas não me tratem como um ser invisível só porque tenho 1,78 de altura, o tamanho de um ser humano normal.
— Desculpe. — Falei.
— Sentimos muito, Wabashiki-san! — Yamaguchi se inclina educadamente.
— Então, voltando ao assunto entendível, Kei não falou de mim pra você? Quanta ingratidão! — Ela diz.
— Ele não entrou em detalhes, mas obrigado por tê-lo ajudado a entender seus sentimentos. — O de sardas agradece.
— Sim, fiz isso na base da ameaça e agressão.
— Você me parece ser uma pessoa muito legal! — O garoto ri do comentário alheio. — Tsukki também fazia um barulho engraçado quando você beijava o pescoço dele?
— Sim! Era muito fofo! — Ela concorda. — Ele muda completamente por causa do tesão, não é?
— Ei! Eu ainda estou aqui!! — Tratei de intervir.
— Você nem imagina! Ele parece ser outra pessoa. — Yamaguchi se vira para ela, parecendo verdadeiramente animado com a conversa. — E, quando o tesão passa, ele fica com vergonha!
— Parece um tomate de óculos.
— Saori, não deveríamos estar trabalhando agora...?! — Tentei cortar o assunto, não obtendo muito sucesso nisso.
— Cê acredita que ele já disse seu nome enquanto estávamos nas preliminares? — Saori voltou a falar.
— Não vou ficar aqui ouvindo esse tipo de coisa. — Avisei antes de simplesmente me virar e sair dali.
Andei por pouco tempo, entrei no salão principal e comecei a circular pelo ambiente, mas logo avistei o rosto conhecido do chinês não muito longe de onde eu estava. Ele caminhava ao lado de Kousuke, que segurava a mão do homem. Yuxian parecia falar bastante, mostrando as exposições para a criança que correspondia de forma animada.
De repente, minha mente recordou as palavras que Yamaguchi havia me dito anteriormente. Ponderei por pouco tempo sobre a situação e não demorei muito para tomar uma decisão.
Comecei a andar na direção de ambos, decidido a executar minha primeira tentativa de construir um diálogo amigável com esse cara.
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