(Heitor)
Haviam se passado dias desde o que aconteceu entre Renan e eu. E desde daquele dia eu não o vi mas, primeiro notei sua ausência na academia, da qual deixou de frequentar. Ainda o esperei na porta do seu prédio, mas ele nunca chegava. Ao que parece ele tinha me excluído de sua vida, e queria se esquecer de mim.
Era tudo tão estranho, afinal agora sinto que isso me causava uma profunda agonia. Esses dias não foram fáceis, minha avó e o Adamastor se viam com frequência, o trabalho estava consumindo demais de minhas energias.
Faz algum tempo, que venho me planejando para começar a estudar, sempre sonhei em cursar direito, nunca pude antes, mas agora posso. Agora não vejo motivo para não fazer isso acontecer. Salvar vidas é legal, mas é muito cansativo.
Eu estava em um daqueles momentos em que nada fazia sentido, eu olhava para todos os lados e tudo parecia monótono melancólico e sem graça. Eu não conseguia parar nem um segundo de pensar no bailarino. Ainda podia ouvir seu gemido baixinho no meu ouvido.
Onze dias, há onze dias não nos falávamos. Nem nos víamos. Muito tempo, muito tempo mesmo. Até que finalmente o vi, eu estava sentado em uma lanchonete, em uma daquela que os acentos ficam na calçada, quando ele passou e me viu. Pensei que me ignoraria, mas isso não aconteceu.
— Oi —. Falou sorrindo
— Oi —. Respondo.
— Posso me sentar? —.
— Pode.—.
— Coincidência? —.
— Talvez, ou quem sabe você estava me seguindo —. Brinco com ele.
— Haha, nem morto, o que está fazendo aqui? Não deveria estar trabalhando? —.
— Pois é, estou de folga —.
— Hum —.
— E você? —.
— Estava indo comprar uma mala —.
— Vai viajar? —.
— Vou, depois de amanhã, para Manaus —. Explicou, fiquei preocupado pensando em quanto tempo ele passaria longe.
— Saiu da academia? —.
— Pois é, com essa peça nova, agora tenho que me dedicar bastante aos ensaios, sem falar que não posso forçar demais meus músculos como eu estava fazendo —.
— Por isso não te vejo por lá —.
— Sentiu minha falta? —. Perguntou com um sorriso bobo no rosto, tirando sarro da minha cara.
— Por que eu sentiria? —
— Não sei, talvez pelo fato de que há alguns dias termos transado —. Fico em silêncio por um tempo, apenas observando a forma como ele batia seus dedos na mesa.
— Você gostou? —. Indaguei.
— Uhum —.
— Que bom, eu também —.
— O que são esses papéis? —. Perguntou pelos papéis que viu sob a mesa.
— Umas coisas minhas —.
— Não quer me contar? Você ama um mistério não é?—.
— Coisas de uma faculdade que pretendo fazer —.
— Que curso? —.
— Direito —.
— Você tem cara de advogado, ou talvez de juiz —.
— E você de bailarino —.
— Bem, sei que não posso fazer muita coisa por você, mas te desejo boa sorte —.
— Obrigado —.
Ficamos em silêncio por um tempo, Renan estava bonito, com uma camisa Polo amarela, o cabelo jogado para trás. Mas agora ele usava um óculos.
— Quanto tempo vai passar fora? —.
— Uma semana, e nada mais —. Ele disse e logo em seguida tocou minha mão. Olho para aquilo um pouco surpreso.
— Que foi? —. Pergunto e sorrio.
— Nada, só estou lembrando da sua pele —. Eu estava feliz por vê-lo novamente depois de tantos dias, mas infelizmente hoje eu estava ocupado.
— Acho que tenho que ir —. Olhei no relógio e vi que estava quase na hora da Universidade abrir.
— Vai bater em retirada? —.
— Até parece, acha que me assusta? —.
— Um pouco —.
— Depois nos falamos, tudo bem? —. Infelizmente eu tinha mesmo que sair.
— Me dá seu número, cara medroso —.
O bom daquela conversa, é que soube que ele não estava tentando fugir de mim, apenas estava ocupado com o ballet.
— Te vejo por aí —.
(Renan)
— Não, não, você está fazendo tudo errado, saia da academia — Minha mãe falava enquanto me servia um pouco de chá — Você tem que fazer exercícios leves, caminhadas e nada mais —.
— Por isso que ultimamente me sinto um pouco cansado —. Eu a visitava com pouco frequência, geralmente porque nessas visitas ela sempre me dava um sermão.
Lembre do Heitor, vestindo aquela blusa listrada com uma jaqueta marrom. Ele estava tão bonito.
— Pensando no quê? —.
— Na minha ida a Manaus —.
— Não vai pensar demais, tem que ensaiar pra agradar o pessoal do ballet —. Ela continuou falando por um dois minutos, eu fingia que ouvia, mas pensava no Heitor. Ao que parece, o ballet não era mais o objeto central da minha mente. Pois durante horas do meu dia eu pensava naquele bombeiro.
Nosso breve encontro naquele café, só me fez pensar e pensar ainda mais, pude agita saber um pouco mais sobre ele. Seu objetivo era cursar direito, algo tão inesperado quanto o que aconteceu entre nós.
Nesses próximos dias, nossos encontros seriam quase impossíveis, já que ambos éramos ocupados. E creio que depois que ele entrasse nessa faculdade tudo seria ainda pior.
Agora eu tinha seu número, era apenas mandar uma mensagem, que ele certamente responderia. Só me faltava coragem.
Pode parecer bobagem mas não é fácil agir normalmente perto daquele bombeiro. Somente aquele seu olhar já era suficiente para me desconcertar.
Mais tarde fui para o ballet, ensaiei um pouco, foi difícil se concentrar com ele invadindo minha mente constantemente. Mas nada que tenha me prejudicado. Eu sabia muito bem conviver com isso.
Eu o conhecia a pouco mais de um mês, e mesmo assim não consigo mais tirá-lo da minha cabeça, foi como uma doença incurável. Desde a primeira vez que o vi me encantei, mesmo enfurecido por ele ter me derrubado.
Seria ele a pessoa a quem eu deveria entregar meu coração? Como em todas aquelas histórias absurdas de amor, daqueles livros que leio. Confesso que nossa transa foi a maior aventura que fiz na minha vida. E também a mais prazerosa.
Enfim algumas coisas apenas o tempo pode responder, e somente com tempo para algumas coisas acontecerem.
CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.