A VINGAN?A DE DOM

"A vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à redenção pelo sofrimento..."

Papai saiu e me deixou ali, caída sobre o chão. Eu caminhei até onde a caixinha estava jogada, a puxei para o meu corpo, era uma sensação de conforto, como se ela minha mãe, estivesse ali confortando toda minha dor.

Talvez fosse pelo efeito do remédio, eu adormeci em meio ao choro.

- Droga Dom- O segurança me empurra para longe dali- Quer morrer? Quer nos matar?

Eu queria mata-lo.
Ele a levou, ele a levou para longe de mim.

- Tudo foi como o planejado, não era para ele a pegar mais cedo, mas quem se importa? Ele já sabe o risco que está correndo.

Eu não conseguia respirar, Arqueei meu corpo sobre o banco do carro, era de couro, sentia todo o suor escorrendo sobre minha testa, meus batimentos cardíacos acelerados.

Porque eu estava assim? Eu havia conseguido lhe machucar, e isso me condenava por dentro.
Eu a queria perto de mim, eu queria deitar ao seu lado, prometer que tudo ficaria bem.

- Merda, merda- Soquei o banco em minha frente- Não era para ser assim, não deveria...

- Ela está machucada, o pai dela está refém, não fará nada contra nós...

Eu o encarei, a palavra machucada me doeu... Saber que ela sentia dor, como ela estaria nesse momento? Dentro daquela masmorra.

- Gosta dela- Ele me encarou assustado.
Não nos conhecíamos, um novo soldado, como ele poderia concluir algo assim?

- Está falando demais- Rosnei.

- Isso não pode dar certo, sabe disso... Você odeia o pai daquela menina, você a machucou. Ela já esta quase na idade, logo o pai dela encontrará alguém, um aliado e a casará.

Imaginar outro homem ao seu lado, um homem a tocando, um homem que não seria eu.

- Não vai acontecer- Soquei o banco do carro- Não vai.

- Aline, Emanuele... Eu não sei o nome dela- Balançou a cabeça- Ela é tão importante, pode ter a mulher que quiser Dom, tem o poder para isso.

- Julia, o nome dela é Julia- Corrigi.

Ele suspirou, balançou a cabeça.

- Eu não me importo quem seja o seu pai, não me importo com o seu sobrenome, eu só a quero, quero ela do meu lado- Era uma afirmação.

A vida havia me dado uma nova chance, talvez...
A filha do meu inimigo, o quão clichê isso poderia ser?

Eu liguei o carro, dirigi novamente até o galpão.
Todos os homens estavam prontos e armados, ambos se afastaram com a minha chegada.

Adentrei a sala, o retrato de Sara, minha pequena garotinha.

"— Sua última chance- A frase ecoou como um flash back em meio aos pensamentos."

Uma comunicação com o além, eu poderia estar ficando louco?

E se fosse verdade?

Em meio a lugares diferentes, Julia Vladimir enfrentava seu próprio inferno. Com o resto de forças que lhe restava, se levantou ancorando sobre a parede, o corpo estava dolorido.
Olhou em volta, o quarto bagunçado, destruído.

Precisava sair dali, ela sabia.

Pegou uma mochila, colocou algumas roupas, a caixinha de jóias.

Sem dinheiro, ela sabia que não poderia ir tão longe, só precisava se afastar dali.