Redenção.
Em seu sentido mais puro, redenção refere-se à libertação de uma carga, de uma dor ou até mesmo de uma falha, em busca de algo maior que restaure o que foi perdido. Redimir-se é, muitas vezes, encontrar um novo caminho, um meio de consertar erros ou aliviar o peso das feridas do passado. Em momentos em que a alma parece presa em correntes invisíveis de dor e arrependimento, a redenção surge como uma promessa silenciosa de cura e transformação.
Nem sempre a redenção é um processo grandioso ou dramático; às vezes, ela se manifesta em pequenos gestos, no simples desejo de sentir-se limpo, leve, digno. A redenção, para alguns, é um pedido mudo de alívio, uma chance de deixar para trás aquilo que pesa, o perdão que se concede a si mesmo ou o conforto encontrado na companhia de alguém que não pede nada em troca, apenas oferece presença. Ela é uma força interior que nos empurra a enfrentar as sombras mais profundas, como uma vela solitária que ilumina um caminho incerto.
A redenção não exige ser compreendida, mas sentida; é uma caminhada solitária em direção a algo que faz o coração bater mais forte, um olhar para dentro na esperança de enxergar uma faísca, uma fagulha que nos faça crer que é possível superar, renascer e, quem sabe, encontrar o verdadeiro valor da paz.
Redenção, ela pensava, deveria ser algo grandioso. Algo que se sentisse no fundo do peito, como um suspiro profundo de alívio, como um remédio para a alma. Mas no lugar da esperança que ela tanto ansiava, havia um peso crescente, uma sensação de sufocamento. A ideia de redenção, nesse instante, era como um eco distante, algo intangível que pairava em sua mente e a fazia se perguntar se algum dia seria realmente alcançada.
Roseanne sentia que, a cada minuto que passava desde a última madrugada, uma parte dela se perdia mais e mais. Não em um lugar físico, mas em algo que não conseguia tocar, algo inalcançável. Ela estava à procura de uma saída, de algo que fizesse com que todo aquele vazio dentro dela fosse de alguma forma preenchido. Talvez fosse a culpa, ou talvez fosse o pavor de que a vida que ela conhecia já não fosse suficiente. Cada pensamento era um espinho, cada silêncio uma ferida que se abria e se rasgava cada vez mais. Cada vírgula mantida em reticência era como se estivesse cravando um machado em seu coração e o arrebentando sem dó nem piedade.
A redenção, ela sabia, não seria uma fuga tranquila, mas uma luta que começava a nascer dentro dela, tortuosa e solitária. Ela não queria as drogas - pelo menos, ainda não queria. Mas não podia negar que havia algo irresistível na ideia de um refúgio onde sua mente pudesse se calar, onde ela pudesse descansar do peso insuportável que carregava, então talvez, as drogas poderia ser uma ótima válvula de escape. Ela não sabia o que procurava exatamente. Se era um modo de escapar do olhar atento e pesado de David, ou um modo de fugir de si mesma, do grito mudo que reverberava em sua cabeça, sem nunca ser dito em voz alta, sem nunca ter tido a coragem para gritar aos quatro ventos o que ronda sua mente em círculos. Ela passava noites em claro, imaginando uma forma de se libertar desse ciclo, mas cada caminho parecia embaçado, enevoado. Ela não sabia o que era pior: a ideia de encarar sua dor ou a possibilidade de simplesmente afundar-se em algo que a fizesse esquecer de tudo. Os pensamentos vinham como uma avalanche, rápidos e pesados, e ela mal conseguia segui-los.
Então talvez os entorpecentes a livrariam disso.
Era por volta das sete horas da manhã e Roseanne estava apoiada na cabeceira da cama, abraçada em suas pernas, com o queixo apoiado no joelho, sobre os travesseiros macios de sua cama de casal. A garota não dormira naquela madrugada, teve talvez três ou quatro horas de sono, até que sentiu o lado da sua cama afundar e sua boca ser tampada, enquanto um 'shhh' abafado, como uma ordem, soava dos lábios do homem. A única fonte de luz sendo a da lua que vinha de fora da janela rebatia no rosto do homem, mostrando suas feições horrendas. Ela arregalou seus olhos, e essa hora ela já sabia o que estava por vir. Algo que ela pensou que tinha passado - ainda com as provocações e indiretas, ela imaginava que o homem tinha desistido da rotina que criara contra a menina - estava de volta; aquilo que ela mais temia dentro de sua própria casa: os abusos.

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Beneath The Surface - Chaelisa G!P
RomanceEm um colégio na pequena cidade de Yellowknife localizada no Canadá, Roseanne Park, a capit? das líderes de torcida, apesar do sorriso radiante, carrega o peso de um segredo doloroso. Sua vida vira de cabe?a para baixo quando decide ir em busca de r...