Vértice
Na geometria, o vértice é o ponto onde duas linhas se encontram. Um cruzamento, uma interseção. Não importa o ângulo, sempre será um lugar de contato. Um lugar onde algo começa a mudar de direção.
Na astrologia, o vértice é chamado de "o ponto do destino". Dizem que ele revela encontros inevitáveis, conexões que desafiam o tempo e a lógica. Como se o universo deixasse ali um aviso nas entrelinhas: você vai sentir isso, de um jeito ou de outro.
Rosé sentia uma sensação estranha reinar no seu peito enquanto atravessava o jardim da casa onde ocorria a festa, nem sequer se lembrava mais do nome do dono da festa, estava lá mais para tentar convencer Jennie que ela não tinha virado um zumbi.
Porém deixando as metáforas cadavéricas de lado, Roseanne usava um uniforme velho das líderes de torcida que estava jogado em sua gaveta já fazia um tempo, estilizou ele um pouco para que desse um ar mais sombrio, e de zumbi.
Fez uma mordida no braço esquerdo, que não ficou lá essas coisas já que sua mão dominante não é exatamente a direita, e Jennie estava ocupada demais tentando escolher a cor da calcinha que usaria. Olheiras profundas e a maquiagem perfeitamente feita para que desse um ar de magreza extrema, como se realmente estivesse em pele e osso.
Seus passos eram curtos e cuidadosos, mais por desconforto do que por charme. A grama úmida do jardim grudava nos tênis branco da Puma que ela tinha colocado por impulso, só pra "combinar" com a vibe morta-viva que inventara em cima da hora.
Por dentro, no entanto, Rosé se sentia tudo, menos viva. O peso de suas atitudes ainda martelavam em seu crânio.
Se formos mais precisos, parecia mais como uma pistola de pregos.
Sentia os olhos serem atraídos pelos flashes de luz laranja, os gritos abafados de adolescentes bêbados demais, fantasias que variavam entre o ridículo, o sexy e o absolutamente perturbador. Ela não queria estar ali. Mas estar em outro lugar, ainda por cima sozinha, parecia pior.
Enquanto passava por um grupo de anjos góticos fumando na entrada, uma das garotas a cumprimentou com um aceno simpático. Rosé retribuiu com um sorriso apático. Não sabia se estava sendo vista ou apenas confundida com mais uma fantasia genérica de zumbi de colegial.
Talvez as duas opções fossem igualmente válidas.
Subiu os dois degraus da varanda da casa e respirou fundo antes de adentrar pela porta escancarada. O som da música a envolveu de imediato, uma batida eletrônica misturada com gritos e cheiro de suor, álcool barato e perfume adocicado demais, o que dava vontade de sair correndo ou simplemente vomitar.
Jennie já devia estar lá dentro, provavelmente cercada por meia dúzia de gente querendo atenção. E também procurando pela namorada, a dita cuja que a mais velha ficava perguntando para a mais alta a cada cinco segundos sobre a cor de calcinha que deveria usar, chegou em um ponto que Rosé queria mesmo é que ela só fosse pelada, aparentava no momento ser a única opção plausível para que Jennie parasse de falar sobre lingeries rosas com preto ou roxas com azul escuro.
Rosé entrou. Mas antes mesmo que pudesse se adaptar à luz baixa e às coloridas piscando, sentiu algo estranho, como se, por um segundo, todos os seus sentidos tivessem sido puxados em direção a algum ponto específico da sala.
Como se estivesse prestes a colidir com algo inevitável.
Como se tivesse acabado de pisar no vértice.
Ela não queria olhar, vai que fosse Ryan ou alguém bem mais desagradável de se ver naquele momento. Por um momento hesitou antes de andar mais alguns curtos passos até que esbarrou em alguém de perfume cítrico e marcante, o tipo de perfume masculino que queima os pelos do nariz.

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Beneath The Surface - Chaelisa G!P
RomanceEm um colégio na pequena cidade de Yellowknife localizada no Canadá, Roseanne Park, a capit? das líderes de torcida, apesar do sorriso radiante, carrega o peso de um segredo doloroso. Sua vida vira de cabe?a para baixo quando decide ir em busca de r...