Lara estava terminando de preencher o prontuário de uma paciente com lúpus quando ouviu batidas rápidas na porta da sala dos residentes. Nem precisou levantar os olhos para saber quem era.
— Diniz — chamou David, com aquele tom leve demais para significar coisa boa.
Ela levantou a cabeça devagar.
— Sim, doutor?
— Preciso de você por uma hora agora. Vem comigo.
— É plantão? Emergência?
— Simulação.
Ela piscou, confusa.
— Simulação de...?
David sorriu como quem sabia exatamente o que estava fazendo.
— Cirurgia cardíaca.
Lara quase deixou a caneta cair.
— O quê?
— Ouviu bem.
— Mas... eu sou reumato. Primeiro ano.
— Eu sei exatamente quem você é, Diniz.
— Então por que—
— Porque ontem você me deu motivo pra acreditar que tem mais potencial do que imagina. Quero te ver em outro cenário. Já que entende os conceitos, quero ver como se sai na prática.
Ela sentiu o rosto esquentar.
— Eu... não acho que seja uma boa ideia. Eu não me preparei pra isso, nunca nem encostei num simulador cirúrgico, eu—
— Justamente por isso — interrompeu ele. — O simulador é seguro. É feito pra isso. E você não vai fazer sozinha. Eu vou te orientar. Mas eu quero que simule desde a preparação até o fim da cirurgia. Colocação dos campos, assepsia, manejo do instrumental, a incisão, a correção e a sutura. Tudo.
Ela arregalou os olhos.
— Isso é uma piada?
— Eu tenho cara de quem faz pegadinhas?
Ela ficou em silêncio por dois segundos.
— Tá... mas por quê eu? Tem gente que sonha com isso aqui desde o primeiro ano da faculdade.
— E talvez eles só repitam o que decoraram. Quero ver alguém que pensa. Você é metódica, detalhista e calma sob pressão.
— Calma?
— Ou você teria desmaiado ontem depois do sermão do Dr. Viana. A maioria teria.
Lara corou, desviando o olhar.
— Ele vai estar lá? — perguntou, quase num sussurro.
David hesitou por um segundo.
— Vai.
Ela respirou fundo.
— Doutor, eu... realmente acho que não sou a pessoa certa pra isso.
Ele sorriu, mas com firmeza nos olhos.
— Por isso mesmo você vai fazer. Vai se surpreender com você mesma.
O centro de simulação cirúrgica era frio e silencioso, iluminado por luzes brancas demais e forrado de vidros que deixavam qualquer erro visível de todos os ângulos. A mesa de cirurgia estava no centro, com o manequim infantil conectado a monitores que imitavam em tempo real os sinais vitais. Ao lado, um carrinho com instrumentais cirúrgicos, materiais estéreis e um campo cirúrgico pronto para ser montado.
VOC? EST? LENDO
Fora De Escala
RomanceAos 24 anos, Lara est¨¢ no seu primeiro ano de resid¨ºncia em reumatologia. Jovem, determinada e com uma mente anal¨ªtica afiada, ela aprendeu a sobreviver num ambiente dominado por egos e hierarquias. Mas nada a prepara para o impacto de cruzar caminh...
