O dia estava abafado, a vitrine da Roth's Rewind meio embaçada pela diferença de temperatura, e Nat estava no balcão, separando algumas fitas que acabaram de chegar, quando o sino da porta tocou.
Ela ergueu os olhos, despreocupada, esperando ver Dustin ou algum cliente novo... mas parou no meio do movimento.
Max.
Ali, parada, com a mochila jogada no ombro, o cabelo preso meio de qualquer jeito, como sempre fazia quando estava nervosa.
Elas ficaram paradas se encarando por um segundo que pareceu longo demais.
— Oi — disse Max, baixinho, mexendo nos dedos.
Nat não respondeu de imediato, o peito apertando tanto que mal conseguia respirar direito.
Cat apareceu atrás dela, vindo da parte dos fundos da locadora, segurando uma caixa com algumas fitas de terror para organizar na prateleira.
— Ei, Nat, essas aqui vão pra seção nova? — perguntou, sem perceber a presença de Max.
Só quando se virou e viu a garota parada ali, na porta, meio deslocada, que percebeu.
Max ficou visivelmente desconfortável, seus olhos indo e voltando entre Nat e Cat, como se estivesse tentando encaixar as peças e não gostasse do que começava a perceber.
— Acho... acho que a gente precisa conversar — disse Max, olhando direto pra Nat.
Cat olhou para as duas, entendeu na hora o clima e só soltou um "vou... organizar isso lá atrás" antes de sumir pelos corredores da locadora.
Nat respirou fundo, passando a mão pelos fios bagunçados do cabelo e soltou:
— Vamos pros fundos.
Max assentiu, seguindo Nat em silêncio, os passos das duas ecoando no chão de madeira antiga, até a pequena salinha que Nat usava pra guardar as fitas que ainda não tinham sido organizadas.
Assim que fechou a porta, Max se encostou na parede, os braços cruzados, como se quisesse se proteger.
Nat ficou de frente pra ela, a prateleira atrás, o cheiro de plástico velho e poeira misturado ao perfume leve de Max, o mesmo que ainda parecia impregnar algumas memórias.
— Então... — começou Max, mas não conseguiu terminar.
Nat arqueou uma sobrancelha, o tom mais frio do que gostaria:
— Então o quê? Vai sumir de novo? Ou só veio me lembrar que tá namorando agora?
Max franziu o cenho, já se irritando:
— Eu vim... eu não sei por que eu vim, Nat! Eu só...
— Só o quê? — cortou Nat, dando um passo à frente, os olhos ardendo. — Sumiu do nada. Me deixou com uma carta, sem explicação direito de pra onde ia, por quê, sem sequer dizer se... se a gente podia tentar!
Max fechou os olhos, respirando fundo, como quem tenta manter a compostura.
— Não ia dar certo... — disse, num tom quase de desculpa. — A gente tava a quilômetros de distância... era melhor assim.
Nat riu, mas foi um riso amargo.
— Melhor pra quem, Max? Pra você? Porque pra mim... — a voz falhou e ela engoliu em seco. — Pra mim foi um inferno.
Max desviou o olhar, mordendo o lábio, se sentindo culpada, mas sem conseguir recuar.
— E, olha... — Max continuou, com um sorriso sem humor — pelo menos agora você tá com uma namoradinha, né?
Nat sentiu o peito apertar, o sangue ferver.
— Não fala assim da Cat — respondeu, ríspida. — Ela foi a única pessoa que ficou comigo quando... — e parou, segurando a frase antes de ir longe demais.
Max soltou um suspiro pesado e ironizou:
— Não posso falar? Mas você pode insinuar coisas do meu namoro com o Lucas?
Nat deu um passo mais perto, a voz saindo firme, carregada:
— Seu namoradinho sabe que você veio atrás da ex?
Max arregalou os olhos e, por um segundo, o silêncio ficou denso, sufocante, como se o ar tivesse sido sugado da pequena sala.
— Isso... isso não tem nada a ver — disse Max, mas soou fraco, como quem não acreditava nem nas próprias palavras.
Nat soltou um riso sem humor e virou o rosto, respirando fundo.
— Você sumiu, Max... — disse, mais baixo agora, a raiva começando a ser engolida pela mágoa. — No dia que você foi embora... meu pai morreu.
Max arregalou os olhos, surpresa, a culpa pesando como um tijolo no peito.
— O... o quê?
Nat assentiu, cruzando os braços, como quem se abraça pra não desmontar.
— Foi naquele mesmo dia.
Max ficou ali parada, sem saber o que dizer, a cabeça girando.
Ela deu um passo à frente, como se quisesse encurtar a distância, mas Nat recuou, mantendo o muro invisível entre as duas.
— Por que você não me contou? — perguntou Max, a voz saindo fraca.
Nat só deu de ombros.
— Você já tinha ido embora.
Max franziu o rosto, apertando as mãos, e então soltou, meio num suspiro frustrado:
— Eu não sabia...
— Pois é... — respondeu Nat, seca, antes de abrir a porta, sinalizando o fim da conversa.
Max hesitou, mas não aguentou o peso daquilo e saiu, atravessando a locadora meio perdida, meio estressada e... destruída.
Cat estava perto do balcão, colocando algumas fitas no lugar, quando viu Max sair daquele jeito.
Ela olhou de relance pra Nat, que apareceu logo depois, se apoiando no balcão, os olhos fixos no chão, as mãos apertando as bordas de madeira como se precisasse de algo sólido pra não desabar.
Cat soltou um meio sorriso e, sem sarcasmo, apenas constatou:
— Parece que foi intenso, hein?
Nat não respondeu. Só ficou ali, calada, segurando o choro, os olhos cheios d'água, mas mantendo-se firme, como sempre fazia.
Cat largou o que tava fazendo, deu a volta no balcão e a abraçou por trás, envolvendo Nat num abraço apertado, encaixando o queixo no ombro dela.
Nat soltou um suspiro trêmulo, relaxando só um pouco naquele abraço, enquanto Cat fazia um carinho leve no braço dela.
— Tá tudo bem... — sussurrou Cat, mesmo sabendo que, naquele momento, não estava.
Mas era o tipo de mentira que precisava ser dita.
Nat não respondeu, só fechou os olhos e se permitiu, só por um segundo, encostar a cabeça no ombro de Cat, respirando fundo, tentando, em vão, segurar o choro.
E, mais uma vez, ficou claro: mesmo "separadas romanticamente", elas ainda tinham uma conexão grande demais pra ser ignorada.

VOC? EST? LENDO
cicatrizes em movimento- max mayfield and nat rothschild
FanfictionEm uma cidade marcada por segredos e reencontros, duas garotas precisam enfrentar o passado, descobrir quem realmente s?o e, quem sabe, encontrar o amor onde menos esperavam.