A semana tinha passado rápido, mas para Nat parecia que o tempo corria num relógio estranho, às vezes acelerado, às vezes parando de vez. Depois daquele beijo nos fundos da locadora e a saída com o grupo de Steve, Robin, Nancy e Jonathan, ela tinha se permitido uma trégua emocional. Mas só uma trégua.
Agora, de pé na porta da casa dos Wheeler, ela respirou fundo antes de bater. A ideia era chamar Nancy para sair, talvez um cinema ou até só bater perna pela cidade. Não esperava encontrar o grupo de amigos de Mike todo reunido.
Assim que Robin abriu a porta, deu aquele sorrisinho cúmplice.
— Ei, você! Chegou cedo.
— Ficar parada na locadora é que eu não ia — respondeu Nat, entrando.
Assim que atravessou a sala, viu de canto de olho Max sentada numa poltrona, os joelhos encolhidos no peito, olhando meio de lado, e Lucas sentado no braço do sofá, os olhos estreitos. Dustin e Mike estavam mais ao fundo, conversando sobre alguma coisa que envolvia D&D, mas pararam ao perceber a tensão.
Nancy apareceu pela cozinha, limpando as mãos no pano de prato.
— Nat! Tá querendo fazer o quê hoje?
— Vim te sequestrar, se estiver de bobeira — respondeu Nat, com aquele sorriso provocador.
Nancy riu, mas antes que pudesse responder, Lucas se levantou, cruzando os braços.
— Dá pra saber qual é a sua?
Nat arqueou a sobrancelha, inclinando levemente a cabeça.
— Como assim?
— Você sabe muito bem — Lucas respondeu, já com a voz mais alta do que precisava.
Max encolheu-se um pouco mais na poltrona, o olhar fixo no tapete.
Robin, que vinha logo atrás de Nancy, parou e olhou de uma pra outra, percebendo o que estava para acontecer, mas preferiu não intervir de cara.
— Relaxe, Sinclair — provocou Nat, cruzando os braços também, sustentando o olhar dele. — Não tenho culpa se você que é o namorado não sabe fazer certo...
Fez uma pausa, se inclinou ligeiramente na direção dele, com o sorriso de canto e os olhos frios.
— ...ce é que me entende.
Foi como jogar gasolina na fogueira.
Lucas perdeu o controle num segundo, empurrou Nat com força, a fazendo bater contra a parede.
— Desgraçada!
Dustin e Mike pularam do sofá, correndo pra segurá-lo antes que fosse pra cima dela de novo.
— Lucas, para! — gritava Mike, tentando segurá-lo pelos braços.
— CALMA, CARA! — Dustin ecoou, mas Lucas estava transtornado.
Nat ficou ali, parada, o corpo pressionado contra a parede, o lábio cortado e um filete fino de sangue escorrendo até o queixo.
Mas não se mexeu.
Não defendeu.
Não revidou.
Só ficou ali, sorrindo. Frio. Quase debochado.
O sangue deixando os dentes manchados, enquanto o olhar cravava direto em Max, que continuava muda, encolhida no canto.
E aí, sem desviar os olhos dela, Nat soltou:
— Sério isso?
A frase caiu como uma bomba no ambiente já saturado.
E então, simplesmente se virou e saiu da casa, deixando Lucas ainda sendo contido pelos amigos.
— Caralho... — murmurou Dustin, olhando a porta bater.
— QUE PORRA FOI ESSA? — explodiu Nancy, indo atrás, seguida de Robin.
As duas alcançaram Nat já na calçada, andando rápido, esfregando o lábio com as costas da mão.
— QUE PORRA FOI AQUILO?! — repetiu Nancy, segurando o braço dela.
Nat parou, olhou pra Nancy, depois pra Robin, que só cruzou os braços e fez um "eu avisei" com a expressão.
— Só... coisas mal resolvidas — disse Nat, como se aquilo explicasse tudo.
— Mal resolvidas? Ele quase te quebrou na porrada! — Nancy exclamou, olhando o sangue secar no canto da boca de Nat.
Robin puxou a camiseta de Nat e deu uma olhada rápida.
— Vai precisar de gelo. E talvez uns pontos.
— Nem fodendo.
— Vem cá — disse Nancy, puxando Nat pelo braço com firmeza, a levando de volta pra dentro, mas não pela porta da frente — deram a volta pela lateral, evitando passar pela sala com o caos.
Chegaram até o quarto de Nancy. Ela pegou a caixinha de primeiros socorros enquanto Robin sentava na escrivaninha, mexendo em umas fitas cassete aleatórias.
— Você podia, sei lá... parar de provocar todo mundo, né? — sugeriu Robin, pegando uma fita e lendo o título. — "The Breakfast Club"? Boa escolha.
Nat soltou um riso abafado enquanto Nancy limpava o corte com algodão e álcool.
— Aiiih!
— Fica quieta, você pediu — respondeu Nancy, focada.
Robin gargalhou. — Doeu?
— Vai se ferrar.
Nancy sorriu de canto e, enquanto passava um curativo no corte, perguntou:
— Por que... você cutucou ele assim?
Nat deu de ombros, olhando pro teto.
— Porque ele me irrita. Porque ele tá comigo desde o começo e nunca entendeu merda nenhuma...
Nancy trocou um olhar com Robin, que só ergueu as sobrancelhas, do tipo "ah, tá explicado".
— Ele tá confuso... — murmurou Nancy.
Nat bufou. — Não me interessa.
Ficou em silêncio, olhando o curativo.
Robin se levantou, pegou uma latinha de refrigerante da mesa e jogou pra Nat.
— Toma, ajuda a desinchar.
— Valeu.
Ficaram ali, um tempo, o quarto silencioso, só o som da fita cassete girando.
— Você vai falar com ela? — perguntou Nancy, quebrando o silêncio.
Nat não respondeu de imediato.
— Não sei. Não sei se consigo.
Nancy colocou a mão no ombro dela, apertando de leve.
— Quando quiser... a gente tá aqui, tá?
Robin assentiu e puxou a mão de Nat, apertando-a.
— Só não arranja mais briga.
Nat riu, fraco.
— Sem promessas.
E ficaram ali, as três, em silêncio confortável.
Mas dentro de Nat, o caos ainda fervia, como sempre.

VOC? EST? LENDO
cicatrizes em movimento- max mayfield and nat rothschild
FanfictionEm uma cidade marcada por segredos e reencontros, duas garotas precisam enfrentar o passado, descobrir quem realmente s?o e, quem sabe, encontrar o amor onde menos esperavam.