Joong entrou no prédio como se estivesse invadindo o território de outro alfa.
O terno já estava suado. A gravata tinha sumido no caminho — ele disse que “tentou caçar, mas ela fugiu”.
Na recepção, a moça do crachá olhou para ele como quem encara um leão no zoológico sem grade.— Bom dia. Nome?
Joong estufou o peito.
— Joong. Macho. Vim fazer o trambolho.
A recepcionista hesitou.
— A entrevista?
— Isso. Isso mesmo. Trambolho pra pegar moedas. Pra cuidar da minha fêmea grávida.
Ela sorriu nervosa e apontou pra porta da sala de entrevistas.
— É… ali. Boa… sorte.
Joong entrou na sala como se fosse caçar.
Literalmente cheirando o ar.
O gerente, um híbrido de flamingo com cara de quem só queria chegar vivo até o almoço, travou quando viu dois metros de pantera musculoso invadindo sua salinha de vidro com carpete bege.— É… senhor Joong?
— Isso. Sou eu. Pantera. Vim trambolhar.
— Certo… pode se sentar.
Joong olhou pra cadeira. Giratória. Rodinhas.
Desconfiada.
Sentou devagar, com o mesmo cuidado de quem se equilibra em um galho suspeito. A cadeira rangeu. O gerente suou.
— Então… por que deseja essa vaga?
Joong puxou a ficha amassada que Dunk escreveu, abriu e leu com dificuldade.
— Minha fêmea está prenha. Três filhotes. Preciso moedas. Geladeira com pudim. Também berço. E amor. Quero dar amor.
— Isso é… fofo. E… você tem experiência com… tarefas administrativas?
— Se isso for passar aspirador, já fiz. Mas só se o aspirador não tentar morder primeiro.
— …ok. Você tem habilidades com tecnologia? Planilhas? Computador?
Joong pensou.
— Já vi um notebook. Ele me viu de volta. Estamos em paz.
— Certo. E... você lida bem com pessoas?
Joong sorriu.
Aquele sorriso. O das presas.
O gerente arregalou os olhos.
— Digo... você costuma manter a calma?
— Só se ninguém olhar pro meu coelhinho.
— Perdão?
— Minha fêmea. Pequena. Orelhuda. Olhou, eu rosno. Instinto.
O gerente respirou fundo.
— Ok. Senhor Joong. Vamos… fazer uma simulação. Imagine que um cliente ligou irritado porque a encomenda atrasou. O que você faria?
Joong pensou. Muito. Franziu o cenho. Depois respondeu:
— Eu localizaria o território do cliente.
— Certo...
— Me aproximaria sem ser visto.
— Hm...
— E quando ele menos esperasse... ATAQUE SILENCIOSO. PELA TRÁS. PÁ. Fim do problema.
O gerente travou.
— Isso não é exatamente... resolução pacífica de conflitos.
— Mas é rápida.
Silêncio.
Joong olhou em volta.
— Onde vocês escondem o ninho aqui?
— O quê?
— O ninho. Onde os machos mais velhos fazem seus ronrons e escondem seus filhotes enquanto trambolham.
— Ah… você quer dizer a sala de descanso?
— Talvez.
O gerente engoliu em seco.
— Senhor Joong… talvez essa vaga não seja… o ideal pra você.
Joong se levantou, desapontado, mas com dignidade.
— Entendo. Não sou bom em trambolho de escritório. Mas sou bom em fazer café. E manter ninhos quentinhos. E fazer fêmeas sorrirem.
— Tenho certeza que sim.
Joong estendeu a mão.
— Se mudar de ideia… pode me chamar. Ou seguir meu cheiro. É forte. Difícil de esquecer.
O gerente hesitou, depois apertou a mão, tenso como uma presa.
Joong saiu da sala com a cabeça erguida.
O terno estava torto. O orgulho intacto.
E o celular vibrando com uma mensagem do Dunk:
“Amor, conseguiu? Tô com desejo de pudim.”
Joong sorriu.
Aquele sorriso felino, selvagem e apaixonado.
— Não consegui moedas. Mas vou caçar um mercado. E conseguir pudim. Com ou sem senha.
E lá foi ele.
Pantera desempregada. Mas dedicada.

VOC? EST? LENDO
Joong, Manual de Uso Proibido
Fanfiction"Joong, Manual de Uso Proibido" ?Um guia n?o autorizado de coelhos desesperados? Quando Dunk, um híbrido de coelho apaixonado por regras, livros e ambientes controlados, viaja até a Amaz?nia para uma pesquisa acadêmica, ele n?o esperava voltar para...