A chuva castigava o circuito de Ímola, transformando a pista em um palco de tensão e imprevisibilidade. O céu cinzento pesava sobre os boxes, e os mecânicos corriam de um lado para o outro ajustando pneus e calculando estratégias para um dos desafios mais complicados da temporada até agora.
No paddock, Camille ajustou a credencial no pescoço e puxou o capuz do casaco para proteger-se do vento frio que cortava o ar. Ela estava posicionada na área reservada à imprensa, observando os preparativos para a largada. Seu olhar vagava entre as equipes se organizando e os pilotos já em seus carros, concentrados.
Os telões exibiam imagens dos boxes, do grid de largada e das câmeras onboard. Em questão de minutos, tudo estaria em movimento.
Max Verstappen largava em terceiro, atrás de Lewis Hamilton e Sergio Pérez. O asfalto úmido e traiçoeiro prometia uma corrida imprevisível, e Camille sabia que aquela seria uma prova onde cada detalhe contaria.
O barulho dos motores aumentou, e seu corpo automaticamente entrou no modo de trabalho. Pegou o bloco de anotações, mesmo sabendo que boa parte da cobertura ficaria no tablet e no computador depois. Ainda assim, gostava de escrever à mão algumas impressões em tempo real.
O grid se formou, os carros alinharam-se, e, então, as luzes vermelhas se apagaram.
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O impacto da largada foi imediato. Max teve uma saída perfeita, assumindo a liderança antes mesmo da primeira curva. Camille se inclinou um pouco para frente, surpresa com a precisão do holandês.
Hamilton, por outro lado, perdeu tempo e caiu para segundo, pressionado por Lando Norris e Charles Leclerc. A pista estava escorregadia, os carros levantando nuvens de spray conforme aceleravam pelo traçado estreito de Ímola.
As primeiras voltas foram um verdadeiro espetáculo de controle e risco. Enquanto Max consolidava sua liderança, a corrida teve momentos de pura tensão—incluindo um erro de Hamilton na volta 31. O britânico tentou ultrapassar um retardatário, mas saiu da pista e bateu levemente no muro de proteção.
Camille franziu a testa enquanto assistia ao replay na tela ao seu lado. Hamilton conseguiu voltar à corrida, mas caiu para a nona posição.
E então, apenas uma volta depois, um acidente interrompeu tudo.
O carro de Valtteri Bottas e George Russell colidiu violentamente na reta principal, espalhando destroços pela pista e forçando a direção de prova a acionar a bandeira vermelha.
Camille soltou um suspiro, fechando brevemente os olhos. O caos de uma corrida sempre a deixava alerta, mas, por algum motivo, naquela tarde chuvosa em Ímola, ela sentia um peso diferente no ar.
E parte disso vinha do homem que liderava a prova.
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Quando a corrida foi reiniciada, Hamilton começou a escalar o grid novamente, mas Max manteve a liderança com uma direção impecável. Camille observava atentamente, registrando cada detalhe—desde os rádios nervosos das equipes até a forma como Max parecia inabalável.
Quando ele cruzou a linha de chegada, garantindo sua primeira vitória da temporada, o paddock explodiu em reações. Os mecânicos da Red Bull comemoravam, a equipe vibrava, e o próprio Max, mesmo dentro do carro, socou o ar com força antes de receber os cumprimentos pelo rádio.
Camille não sabia dizer por que aquilo mexeu com ela.
Talvez fosse a forma como ele segurava o volante ou o tom rouco de sua voz ao responder à equipe. Talvez fosse apenas o fato de que, pela primeira vez, ela via Max Verstappen como algo além de um piloto competitivo e provocador.
Mas, assim que esse pensamento passou por sua mente, Camille o afastou com força.
Ela não estava ali para se distrair.
Quando ele saiu do carro, molhado da chuva e visivelmente exausto, o olhar dele cruzou o dela, mesmo em meio à multidão.
E Camille, sem entender o porquê, não desviou os olhos.
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Depois de cumprir suas obrigações na coletiva de imprensa e enviar suas primeiras anotações para a matéria, Camille finalmente encontrou Sophie e Alberto no café do paddock.
Sophie, como sempre, estava animada, mesmo depois de um dia longo. Seu trabalho como assessora de imprensa envolvia lidar diretamente com os pilotos e equipes, controlando narrativas e protegendo a imagem de seus clientes. Ela adorava o desafio, e Camille sabia que, se alguém podia lidar com o caos da Fórmula 1, era Sophie.
— Então, Dumas — Sophie brincou, mexendo o café com a colher. — Alguma análise filosófica sobre a corrida de hoje?
Camille revirou os olhos.
— Apenas o óbvio: pista molhada, nervos à flor da pele e um holandês irritante no topo do pódio.
Alberto riu, balançando a cabeça.
— Você fala como se ele tivesse roubado a vitória de alguém.
— Não, ele mereceu — Camille admitiu, surpreendendo até a si mesma.
Sophie levantou as sobrancelhas, interessada.
— E isso foi fácil de admitir?
Camille desviou o olhar, bebendo um gole do café.
— Eu sou profissional, Sophie. Não tenho favoritos.
Sophie abriu a boca para responder, mas foi interrompida pela chegada de um novo integrante à mesa.
— Bom, se a conversa é sobre a corrida, achei que poderia participar.
Camille ergueu os olhos e viu Lando Norris puxando uma cadeira para sentar ao lado deles, um sorriso despreocupado no rosto.
— Você sempre se convida para as conversas dos outros? — Camille provocou.
Lando apenas deu de ombros.
— Apenas quando estou interessado no assunto.
Sophie e Alberto trocaram um olhar cúmplice.
Camille, por outro lado, sentiu o celular vibrar no bolso e pegou o aparelho sem pensar.
Uma nova notificação.
Max Verstappen:
Então, hoje eu finalmente fiz algo que você aprovou?
Ela piscou, surpresa, e rapidamente bloqueou a tela antes que alguém notasse sua reação.
Mas Sophie era rápida.
— Mensagem importante?
Camille deu um sorriso forçado.
— Nada que valha a pena compartilhar.
Mas, enquanto a conversa continuava ao redor da mesa, ela não conseguia tirar os olhos do celular.
Porque, contra qualquer lógica, parte dela queria responder.
E ela odiava isso.
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Alguém acompanhando a história?