抖阴社区

Capítulo 51

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MEDO DO DESCONHECIDO

O lugar estava mais calmo agora. Cecília e Mariana tinham se ajeitado debaixo da coberta, dividindo o tecido tentando encontrar um pouco de conforto. Mariana, mesmo assim, não parava de se mexer, puxando a coberta para cima, enquanto Cecília apenas suspirava, parecendo cansada demais para se importar.

Arthur estava por perto, como sempre. Ele parecia relaxado de longe, com os ombros levemente caídos e as mãos no bolso, mas eu sabia que era só aparência. Seus olhos varriam o ambiente de tempos em tempos, atentos a qualquer sinal de perigo, como se não confiasse que a calmaria pudesse durar. Eu mesma não confiava.

Vitória estava ao lado deles, de pé, como uma estátua. O jeito dela de cruzar os braços e observar tudo com aquela expressão séria sempre me fazia pensar que ela estava pronta para pular no meio de uma briga, mesmo que não houvesse nenhuma.

Minha mãe estava em um canto, conversando baixinho com Matheus. Os dois estavam abraçados, como se aquele gesto pudesse afastar o frio que suas roupas não conseguiam combater. O calor do corpo do outro era o único consolo que tinham para enfrentar aquele frio que parecia penetrar até os ossos.

O murmúrio das vozes deles era baixo, quase inaudível, mas a proximidade falava mais do que qualquer palavra. Não importava o quanto o mundo lá fora estivesse desmoronando, naquele instante eles tinham um ao outro. E isso era mais do que muitos de nós podíamos dizer.

Olhei para eles por mais um momento, sentindo uma pontada de alívio ao perceber que, pelo menos, minha mãe tinha alguém com quem pudesse compartilhar aquilo, mesmo que a pessoa fosse Matheus.
Era um alívio egoísta, mas verdadeiro.

Paulo e Elizângela não ficavam para trás. Eles estavam juntos, também enrolados em uma coberta grossa, dividindo o calor. Elizângela mantinha o olhar atento, mas havia um traço de serenidade em seu rosto enquanto conversava baixinho com Paulo, como se o simples fato de estarem ali, juntos, fosse o suficiente para afastar o desconforto da noite fria.

Minha vó, por outro lado, estava sozinha, mais afastada, próxima à porta. Ela olhava com uma calma quase contemplativa para a chuva que caía lá fora, seus olhos fixos nas gotas que escorriam pelo vidro embaçado da janela quebrada.

Ela sempre amou a chuva, e mesmo agora, em meio a todo o horror e incerteza, parecia encontrar uma certa paz naquele momento. O cheiro de terra molhada que entrava junto com o ar gelado provavelmente a lembrava de tempos mais simples, quando tudo era mais fácil e o som da chuva significava apenas uma tarde tranquila em casa, não um prenúncio de perigo.

Ela continuava olhando para a chuva, como se aquilo fosse tudo o que existisse. A luz era tão fraca que eu mal conseguia ver seu rosto, mas dava para perceber o jeito sereno que ela mantinha, quase como se o mundo lá fora não estivesse desmoronando.

Eu me perguntei o que ela estava pensando. Será que lembrava de alguma coisa boa?, de como era antes de tudo isso?, ou só estava deixando a mente vagar, como eu fazia às vezes, tentando fugir da realidade por um momento?.
O frio da noite parecia se intensificar, mas ela nem se mexia, nem reclamava. Apenas ficava ali, como se aquilo fosse suficiente para acalmar algo dentro dela.

Tentei entender o que ela via na escuridão lá fora, mas meus olhos não alcançavam muito. Só sombras e o reflexo de água acumulada no chão. Ainda assim, o jeito que ela encarava aquilo, tão tranquila, quase me fez esquecer, por um segundo, que o mundo não era mais seguro, que não podíamos abaixar a guarda nem por um instante.

O vento continuava a uivar lá fora, o som se arrastando pelas paredes de concreto do posto como se estivesse tentando entrar ainda mais. O espaço apertado parecia amplificar tudo, o barulho da brisa gelada, o silêncio entre nós, até mesmo minha própria respiração. Eu puxei as mangas das roupas novas, tentando me sentir mais aquecida, mas ainda era como se o frio conseguisse se infiltrar.

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